Amores comentem por favor
O consigliere é um amigo próximo de confiança e confidente, a versão plebe de um estadista. Ele é desprovido de ambição e distribui conselhos desinteressados.
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Felicith
Eu abri lentamente os olhos, percebendo a luz suave que penetrava o ambiente. Onde eu estava? A cama era extremamente macia, com lençóis que pareciam ser de seda e um edredom acolhedor. Tentei me mover, mas algo manteve minha mão parada. Desviando o olhar para o lado, vi Alonzo Draco sentado em uma cadeira, e ele estava segurando minha mão. Eu perguntei quem ele era assim que peguei o troféu no concurso, e foi ele quem me tirou do inferno, quem me salvou.
Seus olhos, normalmente tão penetrantes e duros, agora refletiam uma preocupação profunda, mas aliviados por me ver acordar. O quarto em si era exuberante. Paredes pintadas de um azul profundo, molduras douradas e um lustre pendendo, reluzindo com a luz.
— Onde... onde estou? — A minha voz soou mais fraca do que eu gostaria.
Ele apertou minha mão, um gesto reconfortante. — Você está na minha casa. Está segura aqui.
Tentei lembrar como tinha chegado ali, mas minha memória estava fragmentada. Sabia que ele tinha me tirado de lá. — A última coisa que recordo é...
— Eu sei. — Sua voz tinha um toque de suavidade que nunca imaginei ouvir. — Mas isso acabou. Eles não vão mais te machucar.
Uma sensação de alívio inundou o meu corpo, mas algo me incomodava, algo que me levou imediatamente ao total desespero.
— E minha mãe? — perguntei, temendo a resposta.
Houve uma pausa. A expressão de Draco mudou, seu olhar tornou-se mais distante, mais pesado. — Vamos conversar sobre isso depois. Agora, você precisa descansar.
Sentindo um nó na garganta, as lágrimas começaram a se formar. Eu não precisava de uma resposta verbal, a expressão dele já dizia tudo.
Ele se inclinou e beijou a minha testa. — Estarei aqui, com você, durante todo o tempo.
As lágrimas escorriam por meu rosto, mas eu estava fraca demais para limpar. — Alonzo, eu... — minha voz tremia.
Ele levantou um dedo, pedindo que eu ficasse em silêncio, e limpou as minhas lágrimas com as costas da mão. De um bolso interno de seu terno, ele retirou uma pequena garrafa de vidro. No interior, um líquido claro e sem cor. Ele abriu a garrafa e despejou o conteúdo em uma colher.
— Isso vai ajudar você a descansar, Felicity. — Ele disse suavemente.
Eu hesitei, observando a colher em sua mão. — O que é isso?
— Um remédio para ajudá-la a dormir. Ou poção polissuco, fica a seu critério. — Ele respondeu calmamente. — Depois de tudo o que aconteceu, o seu corpo e mente precisam de repouso.
Meu olhar voltou para seus olhos, buscando algum sinal de desconfiança, mas tudo o que encontrei foi genuína preocupação. Lentamente, assenti.
Com cuidado, ele colocou a colher em minha boca, e o líquido desceu suavemente pela minha garganta. Um sabor adocicado que fez os meus olhos pesarem quase que instantaneamente.
— Durma, Felicity. — Ele sussurrou, afastando uma mecha de cabelo do meu rosto. — Quando você acordar, estarei aqui.
Draco
Assim que a minha pequena Felicity entrou em sono profundo, fui até o meu escritório, querendo pegar alguns livros para a minha vigília ao seu lado. Chegando lá, meu refúgio estava mais cheio do que eu imaginava, Marco, Edgar, Lilith e Lais, a secretária trovão, estavam lá me esperando.
Entrei com cara de: "Por favor, não me encham o saco". Porém, não adiantou muito; eles não leem mentes!
— O que vocês querem? — Perguntei.
Lais foi a primeira criatura insolente a falar.
— Quantos anos a menina tem? 12?
Eu respirei fundo e peguei o livro. Primeiro, eu não queria manchar o meu tapete persa de sangue; segundo, é que tenho uma ética contra bater em mulher; e terceiro, Laís foi o único ser no mundo a ficar do meu lado quando meus pais morreram, roubaram todo o meu dinheiro e colocaram meus irmãos em uma instituição para menores. Foi ela que me tirou do inferno e me ajudou a ser o homem que sou hoje. Laís era mais uma consigliere do que uma secretária. Laís era uma mulher de 65 anos, chata, rabugenta e que tem todos os meus passos em suas mãos.
— Felicity não é da conta de nenhum de vocês. Agora, vão para suas casas.
— Bom, eu vi como vocês dois se olharam no recital, mas como diz Claudinho e Bochecha, irmão, ela só tem metade da sua ilusão. Na verdade, você tem o triplo da ilusão dela.
— Ihhh, lá vai o grande King Draco, o terror da mulherada, rendido por uma ninfeta. - Edgar fala, rindo debochado.
Marco só observava a cena por trás de seus óculos enquanto lia Dostoiévski.
— Eu não tenho que dar satisfação para vocês. Mas essa menina é minha responsabilidade. Se tivéssemos pegado aqueles motoqueiros, ela ainda teria uma família. E outra, sei que ela é muito nova para mim. Não irei tocá-la, só acho que devo cuidar e protegê-la.
— Olhando para ela como você estava olhando segundos atrás? - Laís questiona.
— Você quer que eu faça o quê com ela? "Oi, me desculpe, eu sou um i****a" e a mande para uma instituição? - falei de forma ríspida. Marco parou de ler e respirou fundo. Quando nossos pais morreram e levaram Marco, Edgar e Lilith para uma instituição, ele tinha apenas 14 anos, Edgar 10 e Lilith 5. Marco passou por coisas que transformaram meu irmão; uma criança feliz e alegre saiu de lá aos 15 anos como alguém quebrado, uma pessoa que vive em seu próprio mundo. Já Edgar, que já fazia experiências com pequenos animais, começou a gostar de animais maiores para suas brincadeiras. A única que não foi afetada pelo orfanato foi Lilith. Se ela não tem um pingo de juízo e essa sede de sangue, é dela mesma, deve ser algo de família. Mas resumindo, o orfanato pegou fogo uma semana depois que eu e Laís tiramos meus irmãos de lá. Sem falar que o diretor do orfanato morreu degolado dois meses antes. A morte sempre foi um mistério.
Marco disse em voz alta — A menina não vai para uma instituição. Laís pode cuidar dela, se ela não tiver outra pessoa no mundo. Laís é boa para cuidar de crianças.
Laís resmunga — Acho que não. Criei um piromaníaco, um psicopata, uma sanguinária s*******o que anda por aí com um taco de beisebol como objeto de apego, e um egocêntrico que se auto-proclama rei. Eu sou o máximo.
Lilith ri - Viu? Fez um ótimo trabalho!
— Ela pode ficar aqui comigo — Eu disse, e todos riram.
— É como deixar a chapeuzinho na casa do bicho papão - Edgar comenta.
Laís diz séria:
— Sem falar que ela vai estar muito traumatizada. Ela precisa ter certeza do que sente, colocar a cabeça no lugar, se reconstruir e...
— Fazer 18 anos, no mínimo - Lilith interrompe e eu retruco:
— Tudo bem, mas ela vai ficar aqui, debaixo da minha asa, na casa da piscina, morando com Laís, e nada de garotos ou festinhas ou...
— Primeiro, vamos descobrir quem a encomendou antes de fazer planos? - Marco sugere.
— Como assim, encomendou? - perguntei.
— Acho que a proximidade com essa menina te deixou burro, irmão. Os motociclistas mataram os homens e levaram as mulheres. Mataram a mãe da menina e profanaram seu corpo, mas não tocaram em Lilith. Por quê?
Ele tinha razão. Por que não tocaram na minha menina?
— Parece que não é só você que está louco pela garota de cachinhos ruivos, ursão - Lilith comenta, rindo.