Capítulo Dois

1870 Words
“Um olhar nunca é só um olhar” Roger Stankewski Segunda-feira — 09:30 am   Eu havia passado o resto do dia de ontem agradecendo a minha melhor amiga, até que ela se cansasse de toda minha gratidão e decidisse ir atrás do Nate. Dizer que eu estava nervosa era um eufemismo, eu m*l havia conseguido dormir. Felizmente aprendi truques os suficientes de maquiagem para disfarçar as olheiras. Me levantei antes do despertador tocar e tomei um café simples antes de me arrumar. Optei por um vestido tubinho preto e um salto na mesma cor, prendi o cabelo em um r**o de cavalo alto. Eu parecia apresentável, mas sabia que se saísse na rua iria encontra pelo menos dez garotas iguais a mim a cada metro quadrado. Fiz um último retoque na maquiagem antes de pegar minha bolsa da Jimmy Choo também na cor preta, tinha gastado quase mil dólares naquela bolsa, e essa parece a ocasião perfeita para usar e causar uma boa impressão.   Sai um pouco mais cedo de casa para não correr o risco de chegar atrasada, o caminho até Upper East Side não era muito longo, mas vezes o trânsito não ajudava. Eu preferir ir de táxi e evitar chegar toda amassada depois de sair do metrô.   Eu sabia apenas o básico sobre o Christopher Harris, a maioria eram coisas que costumavam sair nos sites de fofoca que a Shay adorava acompanhar. Fora isso já tinha visto uma ou duas fotos dele, ele parecia ter saído direto de um daqueles filmes de espionagem produzidos em Hollywood. A fama dele era de a de um empresário frio, calculista e pronto para demitir qualquer um que cometesse o mínimo erro.   Quando saí do táxi em frete aquele arranha-céu precisei respirar fundo para me acalmar, aquele prédio já era imponente e intimidante por si só. A fachada era feita em um vidro fumê e toda a sua arquitetura tinha formas diferenciadas, como se fosse uma bandeira ondulando ao vento. Brilhando em letras bem desenhadas o nome Harris Enterprises se destacava de todos os outros na rua.   Arrumei meu vestido, ajeitei a postura e subi as escadarias que levavam ao interior do prédio. A porta de vidro foi aberta por um simpático porteiro e um uniforme impecável. Se por fora era imponente por dentro fazia parecer que eu estava pisando diretamente em montes de notas de cem dólares, quase podia ver a careta de Benjamin Franklin sob os meus saltos. O piso era feito no que parecia ser mármore na cor preta, eu quase podia ver meu reflexo em detalhes no chão. As paredes tinham um tom de azul-marinho e um enorme lustre de cristal, que deveria ser mais caro do que um carro de luxo, pendia do teto alto. Aquele lugar esbanjava seriedade.   Caminhei o mais confiante que consegui até um enorme balcão onde pelo menos oito recepcionistas atendiam as pessoas que chegavam. O relógio na parede marca nove e cinquenta.   — Bom dia, tenho uma entrevista com o senhor Harris marcada para às dez.   — Seu nome por favor — ela pediu m*l erguendo os olhos que parecia ser castanhos do computador enquanto digitava algo.   — Laurel Douglas.   — Okay — murmurou ela voltando a digitar. — A senhorita Michaels vai acompanhá-la até a sala do senhor Harris.   Uma garota loira de olhos verdes e com um sorriso que parecia congelado no rosto surgiu de algum canto daquele prédio exatamente ao meu lado esquerdo, usando um vestido cinza de corte alinhado assim como o da recepcionista, e logo me guiando até um elevador. Eu olhava para os números dos andares subindo e tentando manter a calma. Eu realmente precisava de um emprego e terminar a faculdade e arranjar algo assim de cara seria como achar o pote de ouro no fim do arco-íris.   Quando as portas se abriram revelando a cobertura precisei conter uma exclamação de surpresa ao ver tudo aquilo. Parecia dez vezes mais luxuoso do que o térreo e tinha cheiro de perfume francês. Duas das paredes eram de vidro tinham a visão de boa parte de cidade, o piso também era escuro. Havia uma mesa de madeira nobre com um computador que parecia ser o modelo mais recente da Apple. Havia um sofá de três lugares e duas poltronas, todos feitos de veludo azul-marinho como o resto da decoração.   A garota que me acompanhou pegou o telefone sobre a mesa nos anunciando para logo em seguida me acompanhar até a porta do escritório do senhor Harris. Ela bateu na porta duas vezes e adentrou a sala enquanto eu a seguia. A ouvi me apresentar e assim que ergui o olhar me deparei com os olhos profundamente azuis de Christopher Harris e constatei que eles pareciam ainda mais intimidantes vistos de perto. Quase não contive o arrepio que cruzou minha espinha quando ele se ergueu da cadeira exibindo seu porte alto e atlético enquanto deslizava os dedos entre os fios escuros do cabelo. Ele ajeitou o terno cinza chumbo e caminhou até nos duas com passadas largas e seguras, o cheiro amadeirado do perfume que ele usava se espalhou por todo o ambiente. Logo ele me estendeu a mão direita em um cumprimento enquanto um sorriso sútil e educado tomava conta dos seus lábios carnudos e bem desenhados contornados por uma barba bem aparada.   Estendi a mão aceitando o cumprimento e deixando que seus dedos logos apertassem a minha mão que parecia minúscula perto da dele. Foi como uma corrente elétrica percorrendo meu corpo e arrepiando-o instantaneamente.   — Obrigado, senhorita Michaels pode ir. — A voz dele era grave e firme, exalava poder e virilidade. — Senhorita Douglas, vi seu currículo e fiquei levemente impressionado. A melhor aluna da sua turma da New York University.   — Nada de extraordinário senhor Harris, apenas fiz o meu trabalho.   — Por favor — murmurou indicando que eu me sentasse em uma das cadeiras em frente a sua mesa.   Me sentei cruzando as pernas e deixando minha bolsa na cadeira vaga ao meu lado esquerdo. Ele se acomodou no seu lugar habitual deixando os cotovelos apoiados sobre a mesa enquanto me lançava um olhar analítico ao qual precisei me esforçar muito para não me mover desconfortável sob aquela imensidão azul.   — Você foi muito bem recomendada quando entrei em contato com a NYU. Isso contou bons pontos a seu favor, assim como todos os cursos que fez. — Ele fez uma pausa deixando suas costas se apoiaram contra a cadeira. — Tenho apenas duas exigências, primeira; o que acontece na empresa fica na empresa, nada de comentários fora daqui inclusive precisa assinar um termo de confidencialidade. Segunda; organização e pontualidade, nada de papéis espalhados ou coisa do tipo e você precisa estar aqui sempre às oito em ponto. Será que consegue?   O jeito que ele me olhou e o tom de voz grave fez outro daqueles arrepios cruzar a minha coluna, tudo naquele homem parecia magnético. Cada gesto e movimento chamava a atenção. Correspondi o seu olhar, ou pelo menos tentei, e movi a cabeça em afirmação antes de responder.   — Sim senhor — murmurei mesmo sentindo a garganta seca.   Ele pareceu sorrir suavemente antes de deslizar os dedos pela barba escura e espessa, voltando a apoiar os cotovelos sobre a mesa ele desviou o olhar brevemente para pegar uma pasta em uma gaveta a direita. Deixou-a na minha frente e com um ligeiro movimento de cabeça indicou que eu deveria ver o conteúdo e assim o fiz, era o termo de confidencialidade a qual ele havia falado e um pouco depois um contrato de trabalho.   — Tire o restante do dia para ler o contrato e se aceitar todos os termos, volte amanhã com ele assinado e estará contratada.   Shay havia me dito que eu estava praticamente contratada e que precisava apenas da aprovação do senhor Harris, só não esperava que a aprovação fosse tão rápida, quer dizer, se eu estava com aquele contrato em mãos quer dizer que havia sido aprovada, não?   — Parece uma boa proposta para mim.   Ele se levantou e eu imitei seu gesto pegando a pasta com os documentos e a minha bolsa. Me acompanhando até a porta ele abriu a mesma e eu o lancei um olhar agradecido.     — Te vejo amanhã, senhorita Douglas.     Ele sorriu e fechou a porta voltando para o interior do escritório e eu podia sentir meu corpo tremer levemente em puro nervosismo. Respirei fundo me recuperando e segui em direção ao mesmo elevador que havia usado mais cedo apertando o botão do térreo o mais tranquila que consegui. Caminhei para fora daquele prédio sentido a euforia começar a se espalhar pelo meu corpo a medida em que meu cérebro assimilava que eu estava a um passo de trabalhar como secretária de Christopher Harris.     Deus do céu.     Decidi que valia a pena caminhar um pouco para aquietar as loucuras que eram os pensamentos que surgiam na minha cabeça a cada segundo, avistei uma cafeteria a poucos metros e não hesitei antes de entrar e pedir um café gelado. O dia fora do confortável ar-condicionado da empresa estava quente, a temperatura deveria estar por volta dos trinta graus.     Enquanto esperava o meu pedido ocupei uma das mesas vazias em um canto mais tranquilo, abri aquela pasta lançando um olhar para o termo de confidencialidade que deveria assinar. Ele parecia complexo, mas sabia que Shay poderia me ajudar a entender todos aqueles termos jurídicos. Quanto ao meu contrato de trabalho iniciei a leitura das cláusulas, mas meu pedido havia sido chamado. Peguei meu café e tomei um gole antes de voltar a leitura e quase o cuspi em surpresa ao ver o salário inicial. Eram mil e quinhentos dólares por mês. p**a merda. Melhor ainda, havia uma clausula dizendo que lele seria aumentado conforme a experiência que eu fosse adquirindo.     Aquilo não era nada se comparado ao porte da Harris Enterprises. A empresa tinha diversas vertentes desde metalurgia, segurança até medicamentos. Eles eram uma potência do país e Christopher Harris era um homem multimilionário antes dos trinta anos. Mas para a garota do interior de Utah, do Condado de Beaver e da cidade de Beaver que m*l chega aos oito mil habitantes aquilo era muita coisa. Meu pai é marceneiro, um dos cinco que tem na cidade e minha mão trabalhava em uma lanchonete até o ano passado quando foi demitida por ser “velha demais” mesmo m*l tendo chegado aos quarenta e cinco anos.     Eramos a típica família de Beaver, exceto por sermos protestantes e não mórmons como a maioria da cidade, mas quase nunca frequentávamos a igreja então não fazia a mínima diferença se tínhamos religião ou não. Meus pais tinha se casado quando a minha mãe tinha só dezoito anos e o meu pai vinte e dois, e eu nasci dois anos depois. Vivíamos nunca casa simples e eu passei a vida toda frequentando a escola a duas quadras de casa enquanto meu pai trabalhava na oficina dele que era também a nossa garagem e a lanchonete onde minha mãe trabalhava fosse duas ruas a baixo. Minha vida provavelmente teria seguido o mesmo padrão se eu não tivesse decidido entrar para uma universidade em Nova Iorque.      
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