“ O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente.”
Mahatma Gandhi
Quando saí daquela cafeteria fui direto para casa, dessa vez de metrô. Não podia ficar esbanjando dinheiro e pagando táxis sempre que tivesse vontade, mesmo que estivesse a um passo de um ótimo emprego. Sentada no banco do metrô mandei uma mensagem para Shay e ela que ela respondeu quase no mesmo minuto, como se já estivesse esperando algo assim, dizendo que estava indo para o meu apartamento.
Eu quase podia sentir uma corrente elétrica e animadora percorrendo meu corpo, m*l conseguia me manter parada. Desci na estação perto de casa e caminhei três minutos até subir um lance de escadas até enfim estar em casa, abri a porta brigando com a maçaneta mais uma vez, mas nem me dei ao trabalho de fechar direito, Shay deveria chegar em instantes. Deixei meus saltos ao lado da porta e a bolsa sobre o sofá, soltei o cabelo e caminhei até a cozinha em busca de algo para mastigar. Ficar ansiosa era despertar o gatilho da garota esfomeada que havia em mim. Abri a geladeira e fui direto atrás do que sobrou da torta de ontem, nem me preocupei em pegar um prato. Abri a gaveta mais próxima e peguei uma colher antes de pegar uma boa colherada daquela delícia. Quase gemi em satisfação, ainda pude ouvir o barulho de Shay resmungando algo antes de abrir a porta.
— Quero saber de tudo nos mínimos detalhes — disse já ocupando o lugar ao meu lado logo após imitar o meu ato e pegar uma colher. — Pessoalmente ele é tudo o que dizem?
— Eu não faço ideia do que dizem a respeito dele, mas aquele homem é uma força da natureza.
— Isso por quê você não viu a esposa dele, eu daria a vida por uma noite com aquela mulher, mas enfim, e o contrato que falou?
— Salário inicial de mil e quinhentos dólares, fora os outros benefícios oferecidos pela empresa.
— Tô feliz por você, de verdade.
Passamos horas conversando e Shay me ajudou com o termo e de acordo com ela não tinha nada de mais, eu apenas não deveria falar e caso algo vazasse teria que pagar uma multa, exorbitante diga-se de passagem. Assinei todos aqueles papéis sabendo que aquela era a oportunidade de ouro.
(…)
Acordei mais uma vez antes do despertador, demorei algum tempo me arrumando porque queria parecer boa o suficiente para todo aquele luxo. Uma saia lápis e uma camisa social branca. Fiz uma maquiagem básica, prendi o cabelo em um r**o de cavalo alto e escolhi um salto não muito alto na cor preta. Satisfeita com a minha aparência saí de casa pouco antes das sete e meia. Dessa vez resolvi ir de metrô, felizmente o dia estava com o clima agradável diferente do calor infernal de ontem.
A caminhada da estação de metrô até a Harris Entreprises era de cerca de três minutos, subi aquelas escadarias como se estivesse a caminho da realeza. Cumprimentei o porteiro e segui a até a recepção e mais uma vez a senhorita Michaels estava encarregada de me acompanhar até a cobertura.
Dessa vez eu não estava tão nervosa, pelo menos não até ver aquele homem sair da sala dele sem o paletó e com as mangas da camisa dobradas até a altura dos cotovelos. Um relógio dourado enfeitava seu pulso esquerdo enquanto no direito havia apenas uma pulseira de ouro fina e discreta. Ele sorriu suavemente enfiando as mãos nos bolsos das calças de cor preta que usava enquanto a camisa azul-bebê bem ajustada exibia seus músculos.
— Bom dia, senhor Harris.
— Bom dia. Sabia que iria voltar senhorita Douglas. Pode entregar os documentos a senhorita Michaels e no final do dia você pode passar no RH para ajeitar os últimos detalhes.
Fiz o que foi dito e agradeci a senhorita Michaels, eu realmente precisava saber qual o nome dela. Harris me olhava e logo sinalizou que eu ocupasse a mesa em frente a sua sala e assim o fiz.
— A minha antiga secretária se aposentou e saiu antes do esperado, mas antes ela deixou todas as instruções nessa agenda então não há com o que s preocupar. Se tiver alguma dúvida basta me perguntar.
— Sim, senhor.
Ele pareceu satisfeito com a minha resposta e logo se afastou indo em direção a sala da presidência. Respirando fundo eu peguei a agenda e achei todas as instruções o mais detalhadas possíveis. O que significava muito detalhadas, quer dizer, havia até mesmo a que lado do Harris eu deveria me posicionar em caso de uma reunião do conselho. Por Deus, aquele homem realmente era tão perfeccionista assim?
Liguei o computador enquanto passava os olhos sobre aquelas anotações absorvendo o máximo possível do conteúdo, voltei minha atenção para a agenda do dia dele e não havia nada além de uma reunião às quatro da tarde.
Me foquei nas anotações, por um instante e ao que parecer ele é extremamente metódico. Os documentos têm que ser entregues sempre em pastas azuis, planilhas em pardas e contratos não assinados em brancas. Sempre pedia café expresso duplo, da cafeteria da rua, por volta das três. Não costumava lembrar as datas comemorativas e sempre precisava ser lembrado dois dias antes para ter tempo de comprar um presente. E sempre fazia hora extra pelo menos duas vezes por semana.
Logo um rapaz chegou ao andar me entregando alguns documentos vindos do jurídico, os organizei na pasta azul e fui entregá-los. Bastou duas breves batidas na porta para que eu ouvisse um “pode entrar”.
Apenas o som dos meus saltos sobre o chão eram ouvidos enquanto eu caminhava até a mesa dele, que parecia concentrado na leitura de um documento.
— O jurídico acabou de enviar esses documentos.
Ele ergueu aqueles olhos azuis para mim me fitando por alguns segundos antes de estender a mão esquerda onde a aliança dourada brilhava.
— Parece que Mary deixou tudo muito bem especificado — murmurou ele ao lançar um olhar para a pasta.
— Sim, senhor. Inclusive há uma reunião com o diretor do financeiro.
— Okay. Marca um jantar para seis no Four Seasons na sexta às oito.
— Sim, senhor. Mais alguma coisa?
— Por hora é só, obrigado.
— Com licença.
Saí daquela sala sentindo meu corpo levemente trêmulo, talvez eu demorasse um pouco para me acostumar a presença dele.
(…)
Até aquele momento o dia havia sido incrivelmente calmo, já eram quase quatro e eu já havia avisado a ele sobre a próxima reunião quando um homem de terno cinza e barriga levemente proeminente adentrou o hall.
— Boa tarde, tenho uma reunião marcada com o senhor Harris. Simon Smith.
— Boa tarde, um instante já vou anunciá-lo.
Um instante depois eu o acompanhava até a sala do Harris. Com um sorriso sutil e um obrigado ele me dispensou. Enquanto a reunião acontecia eu aproveitava o tempo para organizar os documentos que havia chegado e cada hora chegava uma pilha de papel, mas nada que eu não pudesse lidar.
Já eram quase cinco e meia da tarde quando o Harris saiu acompanhado o diretor do financeiro. Ele também parecia pronto para deixar a empresa, estava usando terno completo e tinha uma maleta na mão esquerda. Ele se despediu do senhor Smith e se aproximou da mesa onde eu terminava de organizar a última pasta.
— Está liberada por hoje senhorita Douglas. Lembre-se de passar no RH — disse a última frase antes de se encaminhar até o elevador.
Quando a porta do elevador se fechou eu soltei o ar que nem lembrava ter prendido. Desliguei o compitador e deixei as pastas empilhadas em um canto da mesa, peguei a agenda com as instruções e guardei na minha bolsa antes de seguir para o elevador. Felizmente havia aproveitado a minha pausa para o almoço para conhecer alguns lugares do prédio e não precisar pedir informação a cada cinco minutos.
O RH ficava no terceiro andar, bastaram de minutos para toda a papelada estar resolvida e eu ter o crachá da empresa e um boton dourado com o meu nome e o meu cargo. Estava saindo da sala quando quase trombei com alguém, mas felizmente consegui evitar.
— Tudo bem com a senhorita? — indagou aquela voz masculina.
— Ah, sim — respondi erguendo o olhar para o homem. Ele era bonito, olhos e cabelos castanhos e o rosto livre de barba.
— Certeza? — perguntou parecendo preocupado, mas neguei. — Certo, bem… Eu sou o James Carter.
Ele me estendeu a mão direita e eu imitei seu gesto sentindo o toque suave dele.
— Laurel Douglas.
— A nova secretária do senhor Harris — disse com um sorrisinho.
— Sim — murmurei apesar de que aquilo não havia sido uma pergunta e seu tom era sugestivo. — Bem, eu preciso ir agora.
— Claro, a gente se ver por aì.
Apenas movi a cabeça em afirmação e fui em direção a saída, a essa altura se demorasse acabaria tendo que esperar mais meia hora para pegar o metrô.