“O desejo do homem é pela mulher, mas o desejo da mulher é pelo desejo do homem.”
Madame de Staël
Foram exatos vinte dias até que eu estivesse completamente adaptada aos hábitos do senhor Harris. Ele era bem rígido em relação à organização, ouvi ele resmungar uma dezena de frases irritadas sobre isso quando o rapaz que entregava as correspondências entregou os convites para uma exposição de artes poucas horas antes da mesma. A bronca foi tão grande que me encolhi no lugar atrás da minha mesa ouvindo o tom irritado na voz dele, embora aquele tom me causasse um arrepio distinto.
Ele realmente fazia hora extra duas vezes por semana e sempre me dispensava no mesmo horário às cinco e meia da tarde. Durante esses dias o havia acompanhado em dois almoços de negócios para ficar fazendo anotações e ajudar um dos empresários que era do México e tinha um nível de inglês muito baixo.
Na noite após o terceiro dia de trabalho eu liguei para os meus pais e dei a notícia de que havia conseguindo um bom emprego e a minha mãe ficou emocionada e deve ter passado uns dez minutos chorando enquanto meu pai conversava comigo no telefone parecendo bastante orgulhoso por isso, tenho certeza que depois que desliguei ele deve ter se reunido com o grupo de pesca dele para contar a novidade e se gabar de algo que eu havia feito. Era sempre assim, eu fazia algo minimamente interessante ele ia exibir dizendo que eu era uma garota inteligente, eu achava fofo apesar de que eu não tinha essa genialidade toda. Quer dizer, eu sempre fui uma boa aluna e tinha me dedicado o máximo ao colégio, queria uma vida diferente daquela rotina de cidade pequena e cheia de mórmons.
Nesse meio tempo Shay tinha terminado o que quer que ela tivesse com Nate e vivia saindo para festas, ela dizia que era o jeito dela de superar as coisas, e sempre tentava me arrastar para alguma dessas festas, mas eu sempre negava o que eu menos precisava depois de um dia de trabalho era um lugar lotado de gente suada com bafo de bebida e música alta. Nossa noção de diversão é muito diferente e a última vez que fui a uma festa desse tipo acabei com uma tatuagem no lado esquerdo do quadril, felizmente o tatuador era bom o suficiente para trabalhar mesmo estando chapado e fez um ótimo trabalho. E assim eu consegui uma bela tatuagem sem pagar um mísero dólar.
Era segunda e eu acordei com o toque irritante do despertador, a ansiedade que me fazia acordar cedo demais havia felizmente ido embora. Me arrumei sem pressa, vestido cinza, coque e maquiagem leve. Catei meus óculos que estavam jogados sobre a mesa de cabeceira e coloquei antes de olhar minha imagem refletida no espelho. Precisaria usar óculos por alguns dias já que a minha lente havia rasgado e deixado meu olho irritado, o que me fez passar a tarde de sábado no oftalmologista.
Cheguei a sede pouco antes das oito e fui direto para a cobertura, estranhamente Harris ainda não havia chegado e ele sempre era uma das primeiras pessoas a chegar pontualmente as sete e meia todos os dias. Assim que eu chegava ia cumprimentá-lo, era sempre uma pequena parada cardíaca diferente quando eu o via, seja sentado confortavelmente naquela cadeira ou parado olhando para a vista da cidade, sempre que o via assim esperava um instante para contemplar aquelas costas musculosas a b***a bem desenhada e as pernas torneadas. Precisava todos os dias me lembrar da nota mental que havia feito no segundo dia de trabalho: “Ele é casado. CA-SA-DO.”
Ocupei o meu lugar e fui organizar algumas planilhas que deveriam ser usadas na próxima reunião do conselho que seria em dois dias. Haviam passado apenas dez minutos quando ele saiu do elevador e cruzou o hall a passos rápidos e largos.
— Bom dia senhorita Douglas — murmurou dois segundos antes de entrar no escritório.
Eu não tive tempo de responder o baque da porta foi ouvido antes. Seja lá o que tenha acontecido ele não parecia nada feliz e eu não seria louca de ir enfrentar a ira dele. Fora apenas dez minutos até que uma mulher surgisse do mesmo elevador e também não parecia muito feliz.
— Senhora… — chamo, mas sou ignorada. Tento impedi-la de passar e ela me lança um olhar que me fez recuar brevemente. — A senhora… não pode entrar aqui desse jeito.
— Posso e vou, aquele i****a lá dentro é o meu marido.
Eu não travo, sem saber o que dizer e me afasto. Não havia muito que eu pudesse fazer e logo ela desviou o olhar para o escritório antes de seguir até lá como se estivesse andando em uma passarela com aqueles saltos enormes. Naquele instante entendi o porquê de Shay achar aquela mulher tão atraente. Ela tinha traços latinos, os olhos tão escuros quantos os longos cabelos. O vestido vinho que ela usava parecia ter sido feito sob medida para se ajustar no corpo daquele jeito.
Eu já caminhava de volta para minha mesa quando os gritos de ambos irromperam, não dava para entender nada do que diziam já que os dois falavam ao mesmo. Me perguntando se deveria interromper quando ela saiu de lá igual a um furacão.
— Hijo de la p**a, te voy a sacar hasta el ultimo centavo* — resmungou e saiu tão rápido quanto chegou.
— Senhorita Douglas, ligue para o meu advogado e mande ele vir até aqui o mais rápido possível — grunhiu ele com um olhar irritado e mais uma vez bateu a porta.
— Mas que diabos acabou de acontecer aqui? — murmurei mesmo sabendo que não teria respostas.
Voltei para minha mesa e fiz a ligação que ele havia pedido, ainda estava um pouco receosa, mas precisava fazer o meu trabalho. Bati na porta do escritório e ele logo grunhiu permitindo a minha passagem. Ele estava de costas para a porta, olhando atentamente para os inúmeros prédios da paisagem. A mão direita dele estava apoiada no vidro e livre de aliança, embora a marca da joia fosse evidente, a mão esquerda estava no bolso das calças de cor cinza. Hoje ele havia decidido usar um terno completo e aquele colete agarrado ao seu troco parecia acentuar ainda mais aquele corpo atlético digno de um deus grego.
— O doutor Collins estará aqui em cerca de uma hora.
— Desmarque todos os compromissos que estavam marcados para hoje e dispense qualquer um que tente falar comigo — murmurou em um tom baixo e grave.
— Sim senhor.
Assim que ouviu minha resposta ele me olhou sobre o ombro esquerdo e eu quase teria caído se não tivesse apoiado minhas mãos na mesa a minha frente. Aqueles olhos azuis estavam em um tom mais escuro que o normal a mão que estava apoiada no vidro se fechou com força e ele voltou a desviar o olhar para a paisagem, seu tronco se contraiu quando ele respirou fundo.
— Por enquanto é só, senhorita Douglas.
Eu sai daquele escritório o mais rápido que consegui e soltando a respiração, e eu nem lembrava de tê-la prendido.
(…)
Terminei a última planilha e salvei o arquivo antes de imprimi-lo. A impressora começava a fazer barulho quando o senhor Harris saiu do escritório, os olhos dele ainda tinham aquele tom escuro que havia me feito tremer. Diferente do habitual ele se aproximava devagar com as mãos nos bolsos o olhar dele se fixou no meu e agradeci por estar sentada ou meus joelhos teriam fraquejado no mesmo instante.
— Senhorita Douglas — murmurou devagar como se saboreasse as palavras.
— Precisa… de alguma co-coisa senhor? — indaguei ou ao menos tentei, meu cérebro parecia ter parado de funcionar.
O meio sorriso que ele exibiu fez um arrepio cruzar minha espinha e eu precisei cruzar as minhas pernas quando sentir algo pulsar. Ele acompanhou o meu movimento enquanto apoiava os punhos cerrados na mesa se inclinando na minha direção e fazendo aquele cheiro de perfume masculino invadir todos os meus sentidos.
— Parece nervosa.
— É apenas impressão sua.
Ele meneou a cabeça não parecendo satisfeito com a minha resposta e desviou da mesa vindo em minha direção, mas parando atrás da cadeira. Prendi a respiração quando senti as mãos dele sobre os meus ombros e seus polegares iniciarem uma massagem na musculatura tensa. O toque firme me fez morder o lábio para conter um gemido de satisfação e aquilo fez ele soltar uma risadinha maliciosa e gutural me fazendo estremecer mais uma vez enquanto fechava os olhos.
Senti seu hálito quente contra meu pescoço e precisei conter mais um gemido.
— Está tudo bem, pode relaxar.
A barba dele roçou o meu pescoço pouco antes dele beijar logo atrás da orelha e dessa vez eu não contive o gemido, as mãos dele ainda trabalhavam nos meus ombros em um toque firme.
Eu sentia cada centímetro do meu corpo em alerta, a minha calcinha estava ficando em um estado deplorável. Minha pele parecia queimar de desejo por aquele homem, eu só queria, não eu precisava que ele me tocasse de verdade. Que ele pressionasse cada centímetro do corpo dele contra o meu.
Quase protestei em desaprovação quando ele se afastou, mas não tive tempo. No instante seguinte ele estava ajoelhado na minha frente, as mãos dele apertaram minhas coxas antes de subir a barra do meu vestido. Os nós dos meus dedos estavam brancos de tanto apertar os braços da cadeira como se a minha vida dependesse disso.
Eu senti o meu centro pulsar no instante em que ele sorriu, mas não qualquer sorriso. Era um sorriso incrivelmente malicioso enquanto me puxava para a borda da cadeira. Ele deixou uma sequência de beijo nas minhas coxas me fazendo arquejar enquanto se aproximava do meu sexo.
Abri os olhos, sentido o suor cobrir o meu corpo e a respiração ofegante enquanto um enorme desconforto estava entre as minhas pernas. Voltei a fechar os olhos soltando um grunhido frustrado depois de perceber que tudo aquilo não havia passado da merda de um sonho. Olhei para o relógio e faltavam cerca de dez minutos para o despertador tocar então me levantei e fui direto para o banheiro tomar m banho gelado.
* Filho da p**a, vou tirar cada centavo de você