A Chance - A Organização - Livro 2

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Gabrielli

Magalhães está nervoso.

Em raras ocasiões pede para falar por videochamada como agora, estou preocupada com ele, é um homem completamente sensato e calmo, algo que admiro nele é como nada parece abalar suas estruturas. Hoje em particular sinto que isso mudou, como queria estar com ele para apoiá-lo como fez por mim.

— É Mirela de novo?

— Sim, parece que meu único problema é ela. Nem mesmo meus negócios me causam tanta dor de cabeça como minha irmã, tudo seria mais fácil se ela aceitasse voltar para casa do Magalhães junto com Lucas, mas não. Mirela quer insistir em um homem que não a ama e mandou detetives para ir atrás de Irma, você sabia disso?

— Fiquei sabendo hoje.Juan, deveria deixar sua irmã decidir o que quer, isso não é uma questão sua, mas sim dela. Sabe bem como é minha opinião sobre esse assunto, tudo é muito confuso, sei que acredita nela apesar de vários furos na história que conta.Mas peço que deixe sua irmã decidir, ela não é nenhuma garotinha, ouso dizer que até seja mais esperta e sagaz que nós dois juntos.

Quando amamos alguém podemos ficar cegos e não vermos a verdade na nossa frente, acreditava que Hugo veria tudo que fiz, me colocaria ao seu lado não só em casa como uma esposa troféu, mas sim sua companheira em todos os aspectos da sua vida, com o passar dos dias percebi que estava cega e iludida, que jamais seria alguém diferente do que fui projetada para ser.

— Você não acredita nela?

— Juan, você é meu amigo e por isso vou ser sincera: Mirela não é tão vítima, assim como Maurílio não é tão vilão como parece, amar nos torna cego para algumas circunstâncias principalmente quando se trata de quem amamos.

— Gabi, Hugo sabe onde está, inclusive pode estar chegando no Brasil a qualquer momento. Como vai lidar com isso?

Não tinha como evitar, na verdade, é estranho depois de assinar o divórcio querer vir atrás de mim. O que me faz pensar, o que Hugo quer realmente comigo?

— Lidando. Não sou mais a garota desprotegida que conheceu naquele jantar, se ele quer tanto encenar um homem traído ou um pai e tio preocupado com seu filho e sobrinha que faça o seu show. Meu pai já conversou com o senhor Assis, com certeza meu sogro não vai conseguir evitar, no entanto, a cópia do divórcio foi enviada para ele como também para todos os líderes da família, exceto Maurílio, esse sempre me odiou, portanto não seria interessante. Quero fazer um pedido, posso?

Juan sorriu dizendo que poderia fazer o pedido que quisesse, sei bem o que vou pedir.

— Hugo vai querer me humilhar, forçar as situações deploráveis até que volte a ser a Gabrielli de antes, à mercê dele e do medo que tinha de que o Hugo monstruoso e c***l que me violentou fizesse m*l para mim novamente, peço que esteja comigo, sei que detesta Hugo e por isso quero você perto de mim. Dance comigo nas festas que ele fará questão de me exibir, converse comigo sobre tabaco e métodos de transporte, sorria para mim quando todos estiverem me julgando por não ser quem fui criada para ser e me faça sentir que sou especial e importante como só você sabe, meu amigo.

— Gabrielli, não vou permitir que ele subjugue você, Hugo não tem esse direito, sou seu amigo e vou fazer o que tiver ao meu alcance para protegê-la. Se não fosse como eu, sabe que faria de você minha esposa.

Lembro de como Juan ficou surpreso ao saber o que eu era, sua expressão de susto foi muito engraçada, mas depois fizemos muitas trocas sobre o assunto, tivemos conversas leves e descontraídas sobre ser dominador. Juan também é como eu, nada o engatilhou para ser assim apenas o prazer de controlar e comandar alguém.

— Não duraria nem um dia sendo sua esposa, mas enfim, vou descansar, ver se as crianças estão bem, se está tudo bem com Marcele. Fica com Deus, meu amigo.

Desliguei a videochamada indo até o quarto dos meus filhos, meu pai reforçou a segurança, mas sei que Hugo conseguia entrar aqui sem muita dificuldades, foi o meu pai que o treinou, portanto, não seria problema neutralizar qualquer proteção que meu pai tenha colocado.

Vou em direção ao quarto dos meus filhos quando vejo Amália de mãos dadas com Hugo como se já tivesse o conhecido de uma vida inteira, ele se abaixa para dizer algo a ela. Estou totalmente paralisada enquanto minha filhinha acenava e sorria em minha direção, ela vai correndo até seu quarto, forço minhas pernas a se moverem, quando consigo me aproximar, Hugo entra na minha frente, não consegui fugir do seu domínio, ele segurou minha nuca injetando algo no meu pescoço, minha visão foi ficando embaçada até perder totalmente a consciência.

Hugo

Estou ansioso, mas animado.

Apesar de ter saído de madrugada com alguns homens sabia do risco que estava correndo saindo escondido de todos. Maurílio saiu sem avisar ninguém de sua família depois da encenação feita na frente dos homens da Organização e da sua família, a sorte que não demoramos para chegar no Brasil, com a ajuda do investigador enviado pelo meu primo não foi difícil entrar no condomínio.

Gregório está ao meu lado como nos velhos tempos, percebo como esses últimos anos mudaram meu irmão, está mais magro, desleixado, fumando e bebendo até quando devemos estar concentrados, a casa delas é bonita e aconchegante com um belo jardim na entrada, há um pequeno parquinho infantil, senti a dor no peito por pensar que perdi as melhores fases da vida do meu filho.

Meu irmão parou na frente de uma casinha de bonecas, o nome de Rute está escrito na faixada junto com o nome de Amália, a filha de Gabrielli, a bastarda maldita que a traidora colocou no meu caminho, já tenho um plano para sumir com essa criança, esse será o castigo de Gabrielli por ter fugido e tirado meu filho de mim como também ter me privado de viver com ela.

A casa estava toda trancada e tivemos dificuldade para abrir, quando finalmente conseguimos entrar notamos que o lugar por dentro ainda é mais bonito, repleto de porta-retratos e uma decoração atrativa além de uma vista perfeita para o mar, elas tiveram um bom gosto em cada detalhe do lugar que foi feito para abrigar uma família. Gregório solta a fumava do seu cigarro de maconha observando a foto de Marcele com Rute, elas estão sorrindo em frente de um bolo, provavelmente um registro de aniversário.

— Eu perdi tantos aniversários, não vi Rute aprender a andar, não a ensinei sobre nossa família ou a coloquei para dormir. Ela se parece tanto com Marcele, mas consigo ver tanto de mim nela.

Maurílio ficou ao lado de Gregório, é visível que meu irmão não está bem, vou ajudá-lo a se recuperar e sei que estando com Marcele e Rute terá um motivo extra para sair desse abismo que sua vida se tornou, imaginei que a casa estaria mais segura, com certeza o desgraçado do meu sogro contou algo para elas sobre o investigador que foi encontrado por ele, porém a casa não está segura ou está, e como conhecemos todos os métodos de Gusmão não difícil entrar.

É como se ela estivesse esperando minha chegada, pode até ser loucura, mas tudo está muito fácil.Meus homens ficam na sala enquanto subo para a parte superior da casa, os quartos das crianças estão com as portas abertas e os seus nomes na frente, entro no quarto de Jorginho, sinto falta dele como se fosse meu filho, durante muito tempo convivemos apesar de tudo que houve. Está dormindo como um anjo, beijo sua testa observando cada detalhe dele, Jorginho já é um rapaz.

Saio do quarto sem fazer barulho, vou para o cômodo do lado, é o quarto do meu Davi, está cheio de pôsteres de jogadores de futebol,bolas de todas as formas espalhadas pelo quarto de maneira organizada como também fotografias dele com a prima, o tio e Amália, ele parece tanto comigo, Gabrielli está sorrindo enquanto segura Davi com um troféu na mão registrando em uma foto provavelmente algum campeonato que ele competiu.Perdi os melhores momentos da vida do meu filho e o pior é que não sei o motivo desse afastamento, Davi dorme segurando uma bola de pelúcia.

—Papai voltou, meu filho, e nunca mais vou ficar longe de você.

Aproximei-me dele passando a mão nos seus cabelos negros como os meus, beijo seu rosto com cuidado, não quero acordá-lo, vou devagar para o quarto da minha sobrinha, o lugar é repleto de bonecas em várias estantes embutidas na parede, Gregório apareceu atrás de mim, com uma garrafa na mão.

—Irmão, quer que sua filha o veja chapado? Pare pelo menos um pouco, precisa de foco.

—Preciso me enfiar no meio das pernas de Marcele até esquecer esses cinco anos de merda que vivi por causa dela.

Empurrei Gregório para o lado de fora do quarto quando percebi que Rute começou a se mexer enquanto dormia.

—Não fará nada com ela nesse estado, entendeu? Pare de beber e fumar, p***a! Chapado desse jeito não vai conseguir raciocinar direito, preciso de você focado aqui, entendeu?Vai lá para baixo e fique com Maurílio, aqui em cima você só vai atrapalhar ou fazer alguma merda.

Gregório desceu contra a sua vontade, do jeito que está com certeza iria atrapalhar meus planos, vou em direção do próximo quarto, ao entrar percebo que a menina está acordada brincando no escuro, assim que percebe minha presença, ela sorri, Amália é o fruto da traição de Gabrielli, se parece com a mãe em tudo, até o sorriso encantador, ela não parece ter medo quando me aproximo.

—Oi, meu nome é Amália, qual o seu nome?

— Hugo.Você não deveria estar dormindo? Está tarde para ainda estar acordada, garota.

Amália sorriu me chamando com o dedo indicador para ficar junto com ela na cama.

—Mamãe vem contar história, por isso ainda não dormi. Jorginho, meu irmão e a Rutinha não conseguem esperar, mas eu espero a mamãe,quer esperar a mamãe comigo?

—Não. Onde está seu pai?

De repente, Amália ficou triste como se falar dele fosse um assunto delicado para ela.

—A mamãe não gosta de falar, acho que ela sente saudades do papai, eu ouvi mamãe falar com a titia que ela se sente m*l de lembrar.Será que o papai era m*l? Davi não lembra dele, Jorginho também não, eu e a Rutinha não temos papai, onde está seu papai, Hugo?

Queria odiá-la por representar tudo que me afasta da sua mãe de alguma forma, mas o seu jeito doce e inocente derrubou minhas barreiras, não posso criá-la, seria humilhação demais conviver com o resultado da traição da mulher que mais amei na vida, infelizmente Amália não poderá ficar conosco.

—Meu pai está em casa agora. Amália, onde fica o quarto da sua mamãe?

—No final do corredor ao lado do quarto da titia Fadinha, eu levo você lá.

Ela se levantou em um pulo segurando minha mão enquanto me guiava até o quarto da mãe. Como uma providência do destino, Gabrielli apareceu na minha frente, percebi que se assustou ao ver Amália ao meu lado sorrindo como se me conhecesse a vida inteira. Me abaixei para ficar na altura da garotinha que acenou para mãe ainda sorrindo.

—Tenho algumas pendências para resolver com a sua mamãe,pode esperar no quarto que daqui a pouco ela vai lá contar uma historinha bem bonita para você.

Ela foi sorrindo até o seu quarto acenando para mãe, Gabrielli tentou ir atrás dela, mas a impedi, peguei a seringa do bolso enquanto segurava sua nuca aplicando o sonífero,Gabrielli tentou se esquivar sem sucesso, agora ela está sob meu domínio de novo e não vou mais deixar que fuja.