A Chance - A Organização - Livro 2

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Gabrielli

Duas semanas depois

Os dias que se seguiram foram de muita agitação, as crianças conheceram o avô aproveitando da companhia dele em almoços e passeios, até jogaram bola juntos, senhor Assis estava tão feliz, sei que o engano que cometeu mudou as nossas vidas, qualquer outra no meu lugar cultivaria ódio e mágoa, eu escolhi ao invés de guardar ressentimento, perdoar e não deixar que tudo que foi feito levasse só o pior de mim.

Quis permanecer com minha casa aqui no Brasil, aqui vivi os melhores anos da minha vida, onde pude criar meus filhos vivendo momentos felizes que jamais vou esquecer, Marcele está nostálgica olhando seu quarto como também cada canto do lugar, minha irmã amadureceu, não é mais a garotinha de antes.

— Fadinha, as malas já estão no carro, está pronta?

— Estou! Só precisava me despedir do meu lar, é bom saber que se tudo der errado tenho um lugar para voltar. Aqui é e sempre será minha linda casa, foi aqui que crMinha ilha e cresci como mulher, vou sentir saudades!

Fui até ela segurando sua mão, minha irmã colocou sua cabeça em meu ombro entendo perfeitamente sua emoção, também sentirei saudades daqui e como minha irmã, compreendo que aqui sempre será o meu lar. As portas dos cômodos já estavam fechadas, guardei as chaves no meu bolso, mas antes de sair fecho meus olhos rezando como fiz quando cheguei aqui. Agradeço a Nossa Senhora de Guadalupe por ter curado meu coração e alma enquanto vivi aqui, Marcele se uniu a mim junto com as crianças, existe apenas o sentimento de gratidão, amor e esperança.

— Amém! Agora estamos prontos, o vovô Assis deve estar morrendo de ansiedade pela nossa demora.

As crianças aceitaram bem as mudanças, principalmente pela curiosidade de conhecer a vovó Margarida que conversou bastante com eles nesses últimos dias. Marcele ajudou as crianças a entrarem na van, Irma vai voltar conosco, parece que o casamento entre ela e meu pai é sério, por isso está voltando, além disso, senhor Assis garantiu que Maurílio não vai mais perturbá-la. Edgard apareceu ao meu lado, está observando como sempre com um sorriso zombador nos lábios.

— Aposto que em menos de três meses vai estar trepando com seu ex-marido como uma fera no cio e depois vocês vão voltar como se nada tivesse acontecido.

— Sou uma mulher solteira, desimpedida e disponível, estou enferrujada admito, só que não sou nenhuma celibatária. Se eu quiser e ele também, por que não?

Comecei a rir imaginando como será minha recepção quando souberem por qual motivo retornei, tenho certeza de que será bem engraçado. Lembro como Hugo e Gregório odiavam ser supervisionados por Teodoro e meu pai, por isso, já imagino como será complicado no início principalmente pelas exigências que fizemos.

— Jacó Ibrahim. O judeu do território neutro?

— Sim, senhor Assis, eu e Gabi confiamos nele sem medo. Entendemos sobre documentos e a interpretar termos legais e até ilegais, mas Jacó tem experiência, tenho certeza de que não vai negar nosso pedido. Ele não deve ser hostilizado, devem tratá-lo como um m****o importante frequentando as reuniões, dando conselhos e direcionamentos, é lógico que será excelente ter alguém como ele com negócios tão bem-sucedidos na comissão.

Meu ex-sogro não criou oposições, ao contrário, ele pessoalmente ligou para Jacó que ao ouvir que o pedido veio das irmãs Gusmão não pensou duas vezes ao responder que estaria conosco. Ele me telefonou depois por videochamada com uma garrafa de vinho na mão comemorando e dizendo que já está pronto para chutar a b***a de Hugo como não pode fazer antes.

Claro que ri de toda comemoração sabendo que ele estava brincando, meu amigo é assim, bem-humorado e piadista. Jacó nunca quis estar nos territórios das cinco famílias, ama cuidar do território neutro e graças a ele o lugar se tornou um ambiente acolhedor, somente aceitou pois o convite veio de nós. Edgard foi até a van junto comigo se despedindo das crianças, de Marcele e por fim de mim com um forte abraço.

— Seja feliz, la senhorita!

— Desejo o mesmo a você, meu amigo.

Mais uma vez minha vida está mudando, diferente das outras vezes, não me sinto acuada e com medo. Existe uma segurança e firmeza que não havia nas outras circunstâncias, que foram cercadas de medo e tristeza. Agora como Gabrielli Gusmão terei o desafio de lidar com Hugo e tudo que ele ainda significa para mim, o que me consola é que não estarei sozinha.

Hugo

Gregório está olhando para o nada como se estivesse pensando muito mais do que gostaria de revelar. Ele sofreu com a abstinência, deu um certo trabalho para os funcionários da clínica e para o médico, no final meu irmão aceitou o tratamento, Gregório que sempre foi de conversar muito está calado e pensativo.

— Avisou Marie que estou internado?

— Não consegui falar com ela, lamento, irmão.

A verdade é que ela não quis atender, sabia bem que Marie não gostava do meu irmão, e sim da mordomia que ele proporcionava para ela. Acredito que meu irmão também apenas usufruiu da vida devassa daquela garota, ele não pareceu triste, somente conformado por não ter conseguido avisar.

— Tem notícias da minha esposa?

— Não. Gregório, ela não é sua esposa mais, é duro, mas precisamos aceitar, você precisa melhorar para cuidarmos do legado da nossa família.

O legado da nossa família foi o que nos restou, antes tinha fé que poderia ser o líder que fui criado para ser junto com minha Gabrielli, não pensava no erro cometido e que não pagaria por todo m*l que fiz. Tudo que houve foi para entender que não mereço a felicidade, devo arcar com as consequências dos meus atos.

— Tem razão, Hugo. A vontade de beber e usar está diminuindo, só não sei se será permanente. Quero muito que seja, talvez possa tentar conversar com Marcele e pedir perdão pelo meu comportamento i****a com ela e com nossa filha. Eu estive perdido, irmão, agora estou me encontrando, mas chega de falar de mim, como está Maurílio?

Meu primo está silencioso, nos reunimos na semana passada e ele não tocou no assunto apenas focando nos negócios, sei que isso é faixada, Maurílio em silencio é sinal de tempestade à vista.

— Tramando em silêncio. Conheço o nosso primo, ao contrário de nós, quando Maurílio fica calmo pode se esperar uma terceira guerra mundial, ele não aceitou bem perder nossa meia-irmã justo para Gusmão. Estou o mantendo perto, tenho medo do que pode fazer pois tenho certeza que nosso ex-sogro fará questão de esfregar na cara de Maurílio que venceu apesar de tudo que fez com Irma no passado.

Acredito que a minha irmã quis se livrar de Maurílio e viu em uma união com Gusmão a oportunidade de estar totalmente indisponível para Maurílio, talvez tenha sido por isso que ela tenha escolhido um homem como Gusmão, meu ex-sogro com certeza vai dar a ela a proteção necessária contra Maurílio. Meu primo pode ser bem complicado quando não tem o que quer, durante esses 5 anos ele me procurou todos os dias para saber do paradeiro de Irma como também reclamar da falta de apoio que teve em relação a tudo o que fez por nós.

Mas penso que Maurílio apenas matou seu pai para que ele não revelasse o que aconteceu, no final das contas além de ter perdido minha irmã ele ainda terá que lidar com Mirela pelo resto da vida e a sua traição. Se Maurílio simplesmente tivesse dito a verdade desde o começo muito seria evitado, Mirela seria excluída da família e ele poderia estar com Irma, mas ele não quis fazer isso, preferiu deixar sua honra limpa do que estar com a minha irmã. De qualquer forma, Maurílio também não era um bom homem para a Irma, ele batia nela e a ameaçava.

— Maurílio é uma bomba-relógio prestes a explodir, faz bem em mantê-lo perto. Como está mamãe e Naná? Nosso pai voltou?

Meu pai estendeu sua visita ao Brasil para 2 semanas, ele não quis dar muitos detalhes do porquê, imagino que conhecendo o meu pai como conheço ele queria ter contato com os meus filhos, com minha sobrinha e com o Jorginho e até mesmo com Gabriele e Marcele, ele gosta muito delas.

— Mamãe está bem e Naná também, estão animadas com o jantar, você acha que vai conseguir ir? Nosso pai já deve estar se preparando para voltar, ele não me deu muitos detalhes, prefiro que seja assim.

— Vou sim. Sobre nosso pai, ele liga todos os dias perguntando como estou e se estou fazendo o tratamento direito, é bom saber que tenho apoio da minha família, mamãe mandou os pastéis assados que tanto gosto e Naná fez o bolo de milho.

Meu irmão sorriu, como se o homem que admirava por ser bom e alegre estivesse voltando.

— Eu estou limpo. Os resultados dos exames saíram ontem, esperava uma sífilis ou herpes até mesmo HIV, não era o homem mais prevenido do mundo, a única doença que tenho é uma anemia por conta da alimentação péssima, de resto, não tenho nada. Irmão, eu sinto falta da vida antes de tudo que fizemos, de como era bom admirar Marcele imaginando uma vida com ela, uma casa bonita e vários filhos ao nosso redor.

— Não pense nisso, Gregório. Nós vamos seguir daqui para frente, Marcele e Gabrielli como também as crianças merecem toda felicidade que não foi possível ter estando conosco. Venho pensando que não era para ser, insistimos tanto para no final acabar tão rapidamente, li uma vez que o amor é liberdade e não um sentimento que aprisiona e maltrata.

Amo Gabrielli com todas as minhas forças, nada mudou durante cinco anos e acredito que nunca vai mudar, só que entendi depois de tudo que cada um deve seguir seu caminho por mais doloroso que seja, Gabrielli nunca poderá ser minha.