Yoongi saiu sorrindo e Jimin subiu as escadas até seu quarto, mas antes de entrar parou na porta em frente à sua. Ele deu alguns passos, colocou a mão na fechadura, até a girou, mas não abriu. Respirou fundo e entrou em seu quarto. Mas não conseguiu dormir. Ansioso pelo dia seguinte.
¤
- Porque você tá com esse sorriso no rosto? - o senhor Min disse enquanto Yoongi arrumava sua cama improvisada no sofá.
- Por nada.
- Tem a ver com o encontro?
- Eu não tive nenhum encontro.
- Sei...
- Pai, dorme logo que quanto antes chegar amanhã antes o senhor sai daqui.
- m*l criado.
Yoongi sorriu e foi assim que pegou no sono.
No outro dia logo cedo o senhor Min recebeu alta, com recomendações e remédios, e uma próxima consulta dali um mês.
- Mas esse carro não é do senhor Park? - o senhor Min disse quando chegou até o estacionamento.
Yoongi arregalou os olhos - Ele me emprestou já que eu tinha ido embora com ele.
- Mas e o seu carro onde tá?
- O Hobi buscou aqui, já deixou lá em casa.
- Mas...
- Pai, só entra, por favor.
O mais velho entrou no carro com um sorriso zombeteiro no rosto - Não vejo a hora de voltar a trabalhar amanhã.
- Eu vou conversar com o Jimin pra o senhor pegar leve, não pode ficar se esforçando tanto.
- Você vai ficar velho um dia também meu filho, e vai sentir o quanto essas palavras machucam.
- Desculpe pai, mas essa é a realidade.
Ele deixou o senhor Min na casa deles, dando recomendações e dizendo para ligar se algo acontecesse, então rumou a mansão do senhor Park. O coração batendo acelerado no peito. Ele queria muito ve-lo de novo.
Ele subiu as escadas nem passando pela cozinha como costumava fazer, entrando no escritório para encontrar Jimin com uma calça jeans escura e uma camisa branca dentro da calça. Ele se virou e deu um meio sorriso quando o viu.
- Bom dia.
Yoongi fechou a boca que nem reparou que tinha deixado escancarada - Bom dia.
- Estava te esperando para comer. - Ele apontou para a mesa arrumada no canto.
- Ótimo, porque eu to morrendo de fome. - disse se sentando na cadeira e Jimin o acompanhando. Yoongi olhou de relance para a janela - Parece um jardim muito bonito.
- E é. Você pode conhecer se quiser.
- Você podia me levar pra conhecer.
Jimin riu nervoso - Não não...
- Ah qual é Jimin, nada melhor que o dono para fazer uma tour, a gente não vai fazer nada hoje mesmo, me leva lá.
- Hoje nao.
- Quando então? Amanhã? Amanhaaaa???? Diz que sim.
Jimin sorriu - Tá bom, amanhã.
- Promete?
- Prometo.
Yoongi sorriu, voltando a olhar para a janela.
Eles passaram o dia assim, conversando sobre música, ouvindo os vinis, ficando em silêncio quando a música tocava. Era uma paz palpável.
- Você fica pra jantar? - Jimin perguntou quando já era próximo as 18 horas.
Yoongi fez uma careta - Não posso, combinei com um amigo hoje. - Jimin fez um bico e Yoongi riu - Não fica assim, amanhã eu to de volta, e... - Ele disse se aproximando - A gente pode dançar pra fechar o dia.
Jimin o analisou com o olhar, então se afastou indo até a imensa parede de discos, pegou um e colocou na vitrola. Logo a voz de Lionel Richie começou a cantar.
Yoongi deu uma longa risada até se aproximar de Jimin, colocando os braços em seus ombros, colando seus corpos. Dessa vez eles dançaram com os olhos fixos um no outro, a cada frase cantada na música.
"Eu posso ver em seus olhos
Posso ver em seu sorriso
Você é tudo que eu sempre quis, e meus braços estão abertos"
Yoongi engoliu em seco. Jimin tinha escolhido aquela música, será que queria dizer algo com ela?
"E te dizer de novo e de novo o quanto eu me importo
Algumas vezes eu sinto como se meu coração fosse transbordar
Olá, eu só preciso fazer com que você saiba"
Tudo estava muito confuso dentro da sua cabeça, mas então Jimin sussurrou a última frase da música.
"Me diga como ganhar seu coração
Pois eu não faço a menor ideia"
Então Yoongi não resistiu, ele diminuiu a distância entre eles colando seus lábios aos de Jimin num selar curto, logo se afastando com medo do mais velho. - Me desculpe eu f... - mas ele não teve tempo de terminar pois os lábios de Jimin se apoderaram aos seus, pedindo passagem com língua que Yoongi prontamente cedeu. Era como se seu corpo tivesse entrado em ebulição. Tudo aquilo que ele mais tinha imaginado nos últimos dias estava realmente acontecendo. Ele estava beijando o senhor Park. E Meu Deus que beijo! Ele sentia uma mão de Jimin em sua cintura, a outra subiu envolvendo sua nuca com força, mantendo seu rosto perto enquanto ele chupava o lábio inferior de Yoongi e entrava de novo com a língua em sua boca.
Jimin nem sabia como raciocinava mais, ele só queria se entregar naquele beijo o máximo que conseguisse, porque ali, naquele beijo, ele esqueceu de tudo, de toda perda, trauma, dor. Ali ele encontrou seu lugar de novo.
Depois de alguns minutos eles se afastaram sem fôlego. Yoongi passou as mãos no rosto de Jimin levemente - Até amanhã?
Jimin sorriu - Até amanhã.
E naquele momento, pela primeira vez, o que ele mais queria era que o amanhã chegasse.
¤
- Eu não acredito que você esqueceu que a viagem é amanhã Yoongi! - Hoseok gritou em cima da música alta do bar onde eles estavam.
- Esqueci ué, nem arrumei minha mala.
- A gente vai pra sua casa depois daqui e arruma. A gente ta planejando essa viagem a meses, eu não acredito que você esqueceu, como que você ficou tão distraído.
Mas Yoongi sabia muito bem a causa da sua distração. E Seus lábios ainda sentiam o beijo de Jimin, ele sorriu, tomando um gole da sua cerveja.
Os outros amigos chegaram, eles ficaram bebendo juntos até as 2 da manhã, coisa que fez ele chegar em casa e desmaiar.
Acordou com Hoseok em cima dele - Yoongi! O avião sai daqui uma hora, pelo amor de Deus.
- O que? - Yoongi acordou assustado correndo pro banheiro enquanto o amigo jogava roupas em sua mala, ele se arrumou em segundos, saindo correndo pela casa pegando tudo o que via pelo caminho.
Então vou o seu pai com o uniforme de mordomo no meio da sala.
- Droga. PAI! Por favor avisa o Jimin que eu viajei e esqueci de avisar ele, merda eu esqueci completamente da viagem.... diz pra ele que eu pedi milhões de desculpas, não vai dar pra eu passar lá, mas diz pra ele, diz ...
- Tá bom. - Ele disse calçando o tênis - Qualquer coisa me liga que eu volto na hora. - disse dando um beijo na bochecha do pai.
- Se divirta meu filho.
- Tchau! - Ele saiu gritando com Hoseok atrás entrando no táxi em direção ao aeroporto.
No outro lado da cidade Jimin sorria olhando o jardim, ansioso pelo amanhã que finalmente tinha chegado.
Jimin andava pelo jardim naquela manhã de sábado. O sol tinha saído brevemente e ele aproveitou para pegar um pouco de sua vitamina. Eram muito raros momentos assim ali, com sol. A cidadezinha era encoberta por uma neblina quase 24 horas.
Ele estava andando pelas flores que Dahyun gostava tanto de cuidar. A esposa amava natureza, amava o Ar livre, amava se sentir livre. Odiava morar ali, na "cidade sem luz" como ela própria dizia. O acordo era esperarem o bebê nascer e então se mudarem para um lugar mais aconchegante e ensolarado.
Foi entre uma flor e outra que Jimin o viu. Saindo do carro com uma mochila nas costas, um garoto bem branco, com uma touca na cabeça que deixava escapar seus fios escuros, ele parecia novo, muito novo, recém saído da adolescência.
Escondido através dos arbustos de dentro perto do portão, Jimin sentiu seus pelos arrepiarem. O garoto, apesar de novo, era lindo. Ele conversou com o porteiro/segurança e esperou.
Jimin respirava fundo, observando cada detalhe.
- É o Min Yoongi. - Ele ouviu a voz de Dahyun atrás de si, se virando de supetão para ver a esposa em um vestido rosa floral acariciando a barriga avantajada. - Filho do senhor Min.
- Não sabia que o senhor Min tinha um filho...
Dahyun bufou - Claro que sabia, nao se faça de sonso. - ela analisou os olhos do marido observando o garoto - Achou ele bonito?
- Dahyun...
- O que? Como se fosse segredo pra mim que você gosta de homens.
- Dahyun!
Ela soltou uma risada longa - Jimin! Até parece que esqueceu o motivo da gente ter se casado.
- Nos casamos por que eu te amo e você tava grávida do Jong.
Ela se aproximou, colocando os braços por volta da cintura de Jimin - Nos amamos sim, nós sabemos, e temos um filho e mais um a caminho, mas isso não impede do seu corpo querer o que quer. - Jimin suspirou ao ouvir - Jimin... nós nos amamos, você é tudo na minha vida, você é o pai dos meus filhos, nós somos uma família feliz. Mas sempre soubemos os segredos um do outro.
- Não sei porque estamos tendo essa conversa.
- Estamos tendo essa conversa por que você achou o filho do senhor Min um gato. - ela riu quando Jimin bufou - Quem sabe um dia mais pra frente você não tenta alguma coisa?
- Dahyun! - Ela riu ao ouvir e se afastou voltando para a casa, e Jimin continuou ali parado, pensando nas palavras que a esposa tinha lhe dito.
¤
Jimin estava sentado na poltrona de frente pra janela. Olhava o jardim, jardim que precensiara tantos momentos de sua vida. Tinha uma vontade enorme de ir embora, mas algo o prendia ali.
Já passava das 14 horas, e ele continuava ali, respirando fundo, uma dor sem controle preenchendo seu coração, como os vidros do carro daquele dia entrando em sua pele, rasgando a derme e o fazendo sangrar. Era assim que ele se sentia.
Suas narinas se alargavam a cada respirada funda que ele dava tentando controlar seus olhos de se encheram de lágrimas. Eram lembranças demais, coisas demais, sentimentos demais. E tudo tinha piorado depois do beijo.
Jimin nem conseguiu dormir naquela noite sentindo ainda a pressão do sábios de Yoongi contra os seus, o sabor da língua que tinha um leve gosto do bolo de chocolate que tinham comido antes, misturado com um gosto próprio de Yoongi. Ele fechou os olhos com força, sentindo seus músculos arderem ao estica-lo, e um arrepio percorreu por seu corpo, o fazendo ter calafrios.
Ele nunca foi uma pessoa muito sociável. Nunca tinha tido muitos amigos, na verdade, por ter um pai muito rico na Coreia, ele sentia que todo mundo se aproximava por causa do dinheiro.
Tinha sido diferente com Dahyun, o pai dela também era muito rico no Japão, eles viraram amigos instantaneamente, e a vida que emanava de Dahyun deixava Jimin sem fôlego. Foi com ela que ele deu o primeiro beijo aos 14 anos, com ela que ele escalou cachoeiras aos 15, com ela que ele visitou os Estados Unidos aos 16, com ela que pulou de paraquedas aos 17, e também foi com ela que transou pela primeira vez, também aos 17.
Ela o acompanhou em quase todas as fases de sua vida, seus recitais de piano, sua ingressos ao faculdade, suas descobertas sexuais. Foi Dahyun que o motivou a ficar com um homem pela primeira vez quando tinham 18 anos, em uma festa que eles foram escondidos para comemorar o aniversário de Jimin. Eles tinham uma relação de confiança mútua e forte. E ele a amava do fundo do coração.
Entre as brincadeiras, os beijos roubados, as noites que passavam juntos quando os hormônios já estavam a flor da pele, aos 19 anos, Dahyun engravidou.
Primeiro ela ficou em choque. Chorou por quase 4 horas seguidas no ombro de Jimin com o teste na mão. Depois as famílias ficaram sabendo e ficaram eufóricos. Seria uma boa junção das empresas, eles tinham produtoras na Coreia e no Japão, o lucro seria completamente multiplicado.
Então eles se casaram. E eram felizes, de verdade. O pequeno Jonghyun nasceu, trazendo algo a Jimin que ele jamais pensou que aconteceria, seu coração parecia que tinha sido triplicado de tamanho, e ele chorou mais que o bebê quando o segurou pela primeira vez.
Assim como seu amor por Dahyun que tinha aumentado de tamanho depois do filho ter nascido.
E isso fez com que os desejos mais secretos de Jimin fossem encobertos. Ele não tinha sentido atração por mais nenhum homem desde então. Não até aquele dia do jardim.
O homem que, finalmente, 5 anos depois, ele beijou.
E que o abandonou sem explicação.
Tinha sido muito difícil para Jimin se abrir da forma que ele tinha se aberto a Yoongi. Ele de pouco em pouco sentia que o mais novo removia cada tijolo que ele tinha colocado no muro que tinha construído em volta de si.
E nem o tinha avisado sobre a viagem.
Seu choque foi tão grande quando o senhor Min o avisou que ele não teve reação nenhuma. Apenas se sentou na poltrona e ficou ali, onde estava naquele momento.
- Senhor Park, posso trazer seu bolo agora? Já passam das 15. - O senhor Min entrou no escritório, mas só o que recebeu foi o silêncio.
Quando ele já estava se preparando para sair do aposentado ele escutou - Senhor Min? - a voz baixa de Jimin chamou.
- Sim senhor?
Jimin se virou brevemente para olha-lo - Arrume suas coisas e não apareça mais. Você está demitido.
¤
Yoongi bufou, depois de longas 12 horas dentro do avião, enquanto Hoseok tinha um sorriso enorme no rosto de empolgação.
Não tinha conseguido pregar o olho o caminho todo, pensando em Jimin, querendo que o celular tivesse sinal para ligar e conseguir falar com ele. Seu corpo estava em Nova York, mas seu coração continuava na Coreia.
Foi quando recebeu uma mensagem.
[ Pai 16:47 p.m. ]
Me avise quando chegar filho.
Espero que tenha sido um bom voo.
Yoongi franziu a testa.
- O que foi? - Hoseok perguntou enquanto esperavam a mala no aeroporto.
- Meu pai me mandou uma mensagem no horário de serviço, aconteceu alguma coisa.
- Que neura Yoongi, talvez ele só estivesse preocupado.
- Não, meu pai nunca pega no celular em horário de serviço, nem quando eu estava doente.
- Olha, é só ligar pra ele e perguntar, tenho certeza que foi só preocupação.
Yoongi olhou o relógio - É de madrugada lá agora, vou ter que ligar só mais tarde.
Yoongi acentiu, mas não conseguiu afastar o aperto que sentiu dentro do coração.
Alguma coisa estava errada, ele sabia disso.
E a vontade era volta no mesmo avião que veio.
- Eu só queria saber o que ta acontecendo pai! - Yoongi disse ao telefone quando se falavam, fazia três dias que ele tinha chegado em Nova York, e o pai havia lhe dado poucas informações sobre o senhor Park. Ele estava bem. Era só isso que falava.
Mas Yoongi sabia o que aquilo significava. Jimin certamente não estava bem. E certamente tinha feito algo.
Do pouco que tinha tido a oportunidade de conhecer o patrão do pai, viu o quanto sua vida era escura. Ele ainda não sabia os motivos daquilo, mas sabia que devia ser algo muito forte para te-lo deixado daquele jeito.
Cruel. Implacável.
- Ele fez algo contra o senhor? - Yoongi sussurrou ao telefone. Por Deus se Jimin tivesse feito algo ele não responderia por si...
O senhor Min riu em reposta - Claro que não, ele nunca faria algo.
- Certo.
- Vá se divertir garoto, depois nos falamos.
Yoongi guardou o celular e bufou, Hoseok se aproximou com dois copos de café e um sorriso no rosto.
- Vamos turistar! - Ele disse tomando um gole do seu copo e dando o outro a Yoongi, que não conseguiu não deixar de sorrir com aquela visão, o amigo empolgado para conhecer Nova York.
- Vamos. - disse sorrindo e eles foram até o carro que tinham alugado. Logo Yoongi mexeu na rádio, procurando uma antiga. E então começou a cantar com a voz de David Bowie em Starman.
"There's a starman waiting in the sky
He'd like to come and meet us
But he thinks he'd blow our minds
There's a starman waiting in the sky
He's told us not to blow it
Cause he knows it's all worthwhile
He told me:
Let the children lose it
Let the children use it
Let all the children boogie"
Yoongi cantava com o rádio, sentindo o vento bater em seus cabelos pelos vidros abertos do carro, Hoseok riu.
- Só você gosta dessas músicas antigas.
Yoongi suspirou - Não sou só eu.
Seu coração se apertou, estava com saudade do senhor Park. Faziam 3 dias que não conseguia falar com ele. E como que um sinal, seu celular apitou.
[ Rose ]
Ola viajante
Como anda tudo aí?
[ Yoongi ]
Rose a flor mais linda
Tudo bem
E por aí?
[ Rose ]
Comigo tudo bem, mas a casa fica estranha sem os Mins.
[ Yoongi ]
Como assim sem os Mins?
Meu pai está indo trabalhar?
[ Rose ]
Ué Yoon... achei que você soubesse...
O senhor Park demitiu seu pai tem uns 3 dias...
Yoongi respirou fundo e travou o celular. Sua barriga ficou gelada assim como seu sangue em suas veias. Ele não podia acreditar que isso tinha acontecido. Tanto do pai não ter contado, quando de Jimin ter feito algo assim.
- Hobi, volta pro hotel.
- O que?
- Volta pro hotel. Eu preciso voltar pra Coreia.
¤
- Eu ainda não processei os papéis, tem certeza disso?
Jimin fechou os olhos, nao, ele não tinha certeza. Seu coração estava doendo no peito desde o momento em que demitiu o senhor Min.
- Droga - Ele disse para si mesmo no telefone.
"Você precisa parar de tomar decisões precipitadas Minnie - Ele escutou a voz de Dahyun lhe dizer, como sempre dizia - Não pode sair fazendo o que dá na cabeça no calor do momento, você fere as pessoas, e há consequências, precisa aprender a se controlar."
Jimin fechou os olhos - Tudo bem, nao preencha os papéis.
- Eu sabia que ia desistir. O senhor Min é essencial na sua vida senhor Park.
- Eu sei. Vou mandar uma mensagem pra ele. Obrigado pelo serviço senhor Kim.
Jimin desligou a chamada e foi até às mensagens. Ainda eram 14 horas da tarde. Uma tarde fria e nebulosa, como sempre.
[ Jimin ]
Amanhã fará mais frio que hoje
Espero que minhas flores sobrevivam
[ Min Yoonsung ]
Elas sobreviverão senhor
Darei o meu melhor
Jimin assentiu para o celular, entao o travou e jogou num canto do quarto. Respirou fundo e saiu do aposento, dando de cara com o quarto a frente. Olhou para os lados no corredor deserto, girou a maçaneta e abriu a porta.
Tudo o que ele queria esquecer estava ali. Os brinquedos espalhados no chão, uma cama pequena num canto e um berço no outro, todo decorado com balões e ursinhos. Jimin se aproximou a passos lentos, adentrando o quarto, passou a mão pela cômoda, abriu a primeira gaveta que ainda estava cheia de roupinhas, depois pegou o porta retrato em cima, uma foto dele com Jonghyun no colo e Dahyun grávida ao seu lado, todos sorrindo, todos sem imaginar que dali a alguns dias tudo ia acabar.
Ele nem percebeu que estava chorando até sentir suas pernas tremerem e ele cair no chão do quarto, abraçado ao porta retrato.
E de tanto chorar, ele acabou dormindo ali mesmo, no chão do quarto dos filhos.
¤
- Park Junghyun para de correr, eu não tenho como te alcançar! - Dahyun gritou no jardim, estava nos últimos dias da gravidez, poderia ser a qualquer momento. Jimin ajeitou o óculos de sol no rosto, deixou o celular de lado e saiu correndo atrás de Jonghyun, que gritou logo após ser pegou pelos braços de Jimin e jogado pra cima. Dahyun riu em meio a uma careta de dor.
- Tá tudo bem? - Jimin perguntou se aproximando.
- Tá, eu só... aaaaahhh - Ele se curvou, uma mão apoiada no braço de Jimin e outra na barriga, ela respirava rápido e então ergueu a cabeça, sorrindo - Minha bolsa estourou.
Jimin arregalou os olhos - Vamos pro carro.
- Calma Jimin, já fizemos isso antes.
- Eu sei, mas não me deixa mais tranquilo.
Dahyun se aproximou, beijando os lábios do marido - Eu te amo, vamos ser oficialmente 4 agora.
- Eu m*l posso esperar. - Ele disse sorrindo e os 4 foram até o carro, que já estava arrumado com as roupas e utensílios que eles precisariam levar para o hospital caso acontecesse algo de última hora, como agora.
Jimin dirigia, com Dahyun a seu lado e Junghyun sentado na cadeirinha atrás de Dahyun. As vezes a esposa gritava de dor, mas logo passava. O celular de Jimin não parava de tocar.
- Atende logo isso Jimin.
- Pode esperar.
- É seu pai, atende logo.
Jimin bufou e atendeu, nao viu que saiu da BR e atravessou um sinal vermelho, só sentiu o carro ser jogado longe, acertando em cheio o lado em que Dahyun e Jonghyun estavam.
E então ele acordou no hospital.
Yoongi chegou na Coreia quando já passava das 18 horas do dia seguinte, entre conexões e aeroportos, tudo o que ele queria era um bom banho, uma cama confortável e uma noite de sono. Mas sua mente dizia algo diferente do que seu corpo pedia.
Confronto.
Nenhum dos empregados habituais estariam na mansão, o que o deixou mais aliviado, porque a cena que pretendia fazer não era digna de audiência.
Ele estava muito magoado, pensando qual motivo teria levado Jimin a demitir seu pai, e na sua cabeça era impossível ser por justa causa, visto que o senhor Min vivia e respirava o patrão.
Seu corpo entrava em conflito com sua mente, ao mesmo tempo que seus olhos enchiam de lágrimas, não queria ver Jimin dessa maneira: uma pessoa sem coração agindo por impulso. O certo seria conversar com seu pai antes, mas Yoongi sabia que ele contornaria a situação e o faria desistir de qualquer coisa que pretendia fazer.
Por isso lá estava ele, parado em frente à mandar as 19:47 na noite de uma quarta feira comum. Os seguranças o reconheceram e permitiram sua entrada sem problemas, o que Yoongi achou confuso. Pensou que talvez sua entrada tivesse sido proibida, já que seu pai tinha sido demitido.
A verdade era que uma parte dele bloqueava a questão de que o motivo da demissão teria sido ele mesmo. Talvez Jimin tivesse se irritado por ele ter sumido do nada sem avisar, e descontou na primeira pessoa que o ligava a ele. Yoongi nao queria acreditar nisso, por isso deixou a possibilidade escondida num cantinho da mente.
Porque aquele beijo... se tivesse mexido com Jimin pelo menos a metade do que tinha mexido com Yoongi, ele também estaria se sentindo abandonado. Yoongi já tinha tido sua quota de beijos na vida, sempre foi uma pessoa muito aberta e livre, já tinha tido beijos intensos e beijos ruins. Mas nenhum que tivesse se fixado tanto em sua cabeça e fizesse seu coração acelerar toda vez que lembrava como aquele que trocaram cerca de uma semana atrás.
Tudo estava acontecendo muito rápido, Yoongi nem entendia nada daquilo, mas não podia controlar seu coração.
E tudo isso acabou o acalmando quando ele entrava lentamente na mansão. Tudo estava como ele se lembrava, as coisas no lugar, limpo, o cheiro de madeira que fez seu coração sentir uma nostalgia estranha e ao mesmo tempo reconfortante.
Estava tudo escuro, a não ser pelos abajures que deixavam cada cômodo a meia luz, ele sai andando pela casa, pelos cômodos que ainda não conhecia, ainda não estava preparado para enfrentar o senhor Park.
Ele poderia ser acusado de invasão, isso era verdade, entrando de fininho na casa dos outros, abrindo portas, descobrindo segredos.
Mas foi então que ele realmente entrou em um escritório na ala Norte, todo decorado de maneira mais simples, com cores claras e calmas, um sofá bege com uma estante cheia de livros e fotos. Muitas fotos.
Yoongi se aproximou, olhando os quadros, logo reconheceu Jimin neles. Novo, quase saindo da adolescência, abraçado a uma garota que ele não sabia quem era. Depois mais uma dos dois em frente à um prédio da faculdade. Outra com ela em um vestido de noiva e ele abraçado a ela, sorrindo. Yoongi sentiu a respiração falhar ao ver a próxima foto. Jimin agaixado beijando a barriga saliente da mulher, e logo depois outra dos dois com um bebê no colo.
Yoongi sentiu calafrios inesperados, deu alguns passos para trás e então parou suas costas bateram na mesa branca, ele se virou, e outro porta retrato gritou pra ele de cima: na foto um Jimin mais velho, um pouco parecido com o que ele conhecia, tinha um garoto no colo, e a mulher outra vez apresentava uma barriga de gravidez.
- O que aconteceu aqui? - Yoongi sussurrou.
- Era minha esposa - a voz o fez pular em seu lugar, o fazendo-o colocar a mão no coração pelo susto, depois deixar o porta retrato onde ele pertencia. - O segurança me avisou que você tinha entrado.
Yoongi ainda o olhava sem desviar, percebeu as linhas roxas ao redor de seus olhos, o rosto cansado, os braços cruzados enquanto ele estava encostado no batente da porta. Yoongi quis sair correndo e se aconchegar naqueles braços, nem percebeu o quanto tinha sentido falta da presença do senhor Park até realmente estar na presença dele. Ele abriu a boca pra falar diversas vezes mas nada saiu. Ele até tinha esquecido o motivo da sua vinda.
- Jimin eu...
- Vem, vamos conversar em outro lugar, por favor.
Yoongi assentiu e o seguiu, andou alguns passos atrás, observando suas costas delineadas se mexerem enquanto caminhavam, ele vestia uma camiseta branca, simples, os cabelos agora completamente loiros novamente estavam jogados casualmente para trás, e Yoongi se sentiu destruído, vestido com uma dança jeans rasgada, uma camisa xadrez vermelha jogada nos ombros, um tênis velho e puxando sua mala de rodinha pelos corredores da mansão.
Eles pararam em frente à uma porta e Jimin a abriu. Yoongi nunca tinha estado naquela ala do lugar, e logo percebeu que ali era um quarto. Sóbrio, simples, uma cama, um guarda roupa, um banheiro, abajur e uma estante com alguns pertences. Era o quarto de Jimin.
- Você quer tomar um banho antes? Comer algo?
- Não. - Yoongi disse olhando em volta e então parando no rosto de Jimin, e pela primeira vez seus olhares se encontraram. Yoongi deu uma curta risada irônica, apertando a alça da mala com força.
Jimin suspirou - Você voltou antes. Seu pai disse que ia ficar 1 mês fora.
- Porque você demitiu meu pai?
- Ah - Jimin sorriu e sentou na cama - Foi por isso que voltou.
- Claro, preciso de uma explicação! Meu pai nunca faria nada contra você!
- Eu sei, foi por isso que já chamei ele de volta. Foi só um momento de raiva. Eu entendi que seu pai nada tinha a ver.
- Tinha a ver com o que?
- Com eu ser insuficiente pra você. - Jimin disse abaixando a cabeça.
- Por que você tá falando isso? - Yoongi se aproximou alguns passos.
- Você não... Voce nem me falou nada, eu achei que tinha se arrependido.
Yoongi o olhou confuso, mas então sua face mudou para reconhecimento, ele andou mais alguns passos e parou em frente à Jimin, ajoelhou no meio de suas pernas e pegou seu rosto com as mãos. - Me perdoe, eu realmente não tinha me lembrado que a viagem era naquele dia. Eu fiquei tão desnorteado com o beijo que esqueci se tudo... Eu jamais me arrependeria, ficou grudado na minha cabeca todo esse tempo.
- Sério?
- Sim.
- Bom, me perdoe também, eu já pedi perdão para seu pai, espero que possa me perdoar... e eu te fiz perder a viagem ainda...
- Tá tudo bem, não tinha outro lugar que eu preferia estar do que aqui com você.
Jimin suspirou e dessa vez foi a ele a colar os lábios nos de Yoongi, um selar intenso e cheio de saudade, mas também cheio de dúvidas. Yoongi brincava com a nuca de Jimin levando o mais velho a se arrepiar inteiro e pedir passagem com a língua, que Yoongi prontamente aceitou. Quando as bocas começaram a reconhecer uma a outra parecia que nada tinha acontecido, que nenhum tempo tinha passado desde o último beijo e esse.