No outro dia Yoongi já estava um pouco mais animado que no dia anterior. Sentia que o dia ia ser diferente, suas células gritavam isso.
Após sair do hospital, passar em casa para tomar seu banho e arrumar a mochila, rumou para a mansão do senhor Park.
O caminho todo guiado pela voz de Elvis Presley, enchendo o carro com seu rock anos 50, que Yoongi amava.
Ele entrou dando bom dia, com um sorriso no rosto.
- Bom Dia Yoongi - Rose o recebeu - Já tomou café? Deixei uns pães de queijo separados pra você.
Yoongi colocou a mão no coração - Assim você me conquista Rose. - deixando a cozinheira vermelha.
- Hoje preciso fazer um trabalho pra entregar semana que vem, acha que o senhor Park vai se incomodar?
- Ele parece de bom humor hoje, pode ser que sim.
- Bom humor?
- Ele está no escritório, arrumando as coisas, não gritou, não quebrou nada. Esse é o nosso bom humor.
- Então é seguro subir?
Rose riu - É sim.
Yoongi deu uma piscadela para a loira e subiu as escadas, batendo duas vezes na porta antes de entrar.
- Bom dia senhor Park.
- Elvis. - Jimin disse segurando um disco. Se virou e colocou na vitrola e se sentou logo depois.
Yoongi se sentou no mesmo lugar que tinha ficado no outro dia - Que coincidência, eu vim escutando ele no caminho pra cá.
Silêncio. Apenas a voz melodiosa do senhor Presley enchia o ambiente. Após algumas músicas, Yoongi perguntou - O senhor se importa se eu fizer um trabalho da faculdade aqui? É rapidinho, é o ultimo trabalho do semestre, preciso entregar até o fim de semana. - Jimin o olhou e olhou para a vitrola tocando a música - Não não, a música não incomoda, até ajuda. - Jimin acentiu e Yoongi pegou o notebook de dentro da mochila.
Começou a digitar e depois pegou um livro também da mochila, achou o que procurava e começou a fazer o trabalho.
Yoongi cantarolava a música que tocava, baixinho, e Jimin o observava.
Era inexplicável a sensação de paz que a presença do garoto trazia ao Park. Uma paz que há muito tempo ele não sentia. Tudo nele era fascinante e ao mesmo tempo que não queria se aproximar queria descobrir tudo o que se passava na cabeça do Min. Sua personalidade o desafiava.
- Como você conhece essas músicas antigas? - a voz de Jimin encheu o ambiente deixando Yoongi meio atordoado.
- E-eu - pigarreou - Faço faculdade de música. Último semestre. Minha mãe escutava muita música antiga com meu pai, acabei pegando gosto.
Jimin movimentou a cabeça afirmativamente como se entendesse.
- E você? Porque gosta de músicas antigas? - Yoongi perguntou.
- Qualidade.
- Concordo.
- Posso ver esse livro que você tá usando?
Yoongi se levantou e entregou o livro nas mãos de Jimin no mesmo momento em que Rose aparecia com o almoço do patrão.
O Min desceu junto com Rose e eles almoçaram na cozinha.
- Ele te tratou m*l?
- Não - disse de boca cheia, terminando de mastigar para continuar a falar - Até conversamos.
- Conversaram? - Rose perguntou perplexa.
- Sim, ele perguntou porque eu gostava de música antiga.
- Você gosta?
- Bastante. Eu escuto contemporâneas, mas sou mais ligado nas antigas, sabe como é né... - Rose sorriu, trazendo um pedaço de pudim para sobremesa de Yoongi- Caramba, como vou sobreviver sem suas mãos de fada quando sair daqui Rose?
- É só vir me visitar, ou eu te visito é só...
Um barulho interrompeu a conversa dos dois, era um grito, seguido de uma coisa se quebrando.
- Tava demorando... - Minho, um dos jardineiros disse.
Yoongi subiu as escadas correndo e Jimin estava parado no meio do escritório com as mãos na cabeça.
A mochila de Yoongi estava no chão, com todos seus utensílios espalhados.
- Eu fui guardar o livro e acabei derrubando tudo.
- Ta tudo bem... - Yoongi disse de agachando e recolhendo as coisas.
- Me desculpe...
Yoongi o olhou assustado mas completamente satisfeito, abriu um sorriso genuíno de gengivas e tudo - Eu desculpo.
Voltou sua atenção na mochila, guardando os cabos, a carteira, os cadernos de música...
- O que é isso ai? - Jimin perguntou apontando para um tubo verde na mão de Yoongi.
- Tinta pra cabelo.
- Tinta?
- Sim, eu gosto de mudar as vezes, é ela sai depois de algumas lavadas. Tava pensando em pintar de verde esse fim de semana.
- Mas tem uma laranja aí também...
Então Yoongi se levantou com as duas tintas na mão - Você quer tentar?
- Tentar o que?
- Pintar, se não gostar ela sai mesmo.
- Não não...
- Qual é, vai ser divertido.. Qual você quer?
Jimin estava se contagiando com a animação do mais novo e nem pensou quando respondeu - Laranja.
- Ótimo, senta aí.
Jimin sentou e Yoongi desceu até a cozinha, pedindo toalhas e uma vasilha com água para Rose, que entregou desconfiada.
Voltando, Yoongi encontrou Jimin sentado no mesmo local em que o deixou, mas agora sem o paletó. Ele estava com uma camisa branca de botões enfiada dentro da calça jeans. A camisa era justa o suficiente para ele ver a cintura fina do mais velho e seu coração começou a bater forte.
Jimin estava confiando nele, ia deixar ele pintar seus cabelos.
Yoongi se aproximou - Vou colocar isso nos seus ombros ok? Pra não manchar sua camisa - Jimin acentiu e sentiu a toalha ficar em suas costas e pescoço.
O Min dava graças a Deus que não havia um espelho a sua frente pois o Park com certeza conseguiria ver suas mãos tremendo.
Ele tocou levemente nos fios descoloridos e macios, sentindo a textura. Teve vontade de enfiar a mão por completo e iniciar um carinho mas logo se repreendeu por isso.
Aos poucos, Yoongi começou a passar a tinta nos cabelos de Jimin.
- Pronto. Agora só aguardar a tinta pegar.
- Você também.
- O que? Eu?
- Sim, você disse que queria o verde.
- Ok... Eu preciso de um espelho pra pintar...
Jimin apontou para uma porta na lateral do escritório, era um banheiro que ele nem tinha reparado que existia.
Ele respirava fundo, as mãos ainda temendo quando começou a passar a tinta verde em seus cabelos.
Quando voltou, Jimin já escutava outro disco na vitrola e Yoongi voltou para o seu trabalho.
A hora de ação do produto chegou e Yoongi disse que ele podia lavar o cabelo.
Os dois secaram os cabelos levemente, e se olharam no espelho, um do lado do outro.
Yoongi sorriu grande ao ver o Park com aquela coloração. - Ficou muito bom, gostou?
Jimin se observava no espelho - Gostei. O seu também ficou bom.
- Obrigado senhor Park.
- Jimin. - Ele encontrou os olhos de Yoongi pelo espelho. - Meu nome é Jimin.
- Não to acreditando nisso! - o senhor Park ria quando Yoongi mostrava as fotos de Jimin com o cabelo laranja. O filho tinha ido direto pro hospital depois do trabalho naquele dia, doido pra contar ao pai o que tinha feito - Ele sabe que você tirou essas fotos dele? - o mais velho disse recolocado a máscara que fazia inalação.
- Claro que não - Yoongi disse rindo, passando as fotos no celular - tirei quando ele tava distraído. Eu tenho amor pela minha vida.
- Eu não estou conseguindo acreditar que isso aconteceu. Vocês parecem estar se dando bem.
Yoongi bufou - Não trocamos mais que dez palavras por dia, mas ele não gritando comigo tá de boa.
- Eu fico feliz meu filho, o senhor Park é uma ótima pessoa, quem sabe vocês não pode ser amigos.
- É, quem sabe. - Yoongi guardou o celular - O que o médico disse?
- Amanhã termina a medicação e já posso ir embora.
- Que bom, não aguento mais ver o senhor nesse lugar.
- Meu filho, eu já estou velho, vai ter que se acostumar comigo aqui.
- Não vou nao, vou fazer um quarto especial na nossa casa assim que eu arranjar um emprego digno.
- Todo emprego é digno Yoongi.
- Eu sei pai, não foi isso que eu quis dizer. Falando nisso, no que o Jimin trabalha pra manter tudo aquilo?
O senhor Min o olhou - Jimin? Como sabe o nome dele?
Yoongi sorriu presunçoso - Ele me disse.
- Você não tem ideia mesmo do que tá fazendo não é meu filho?
Yoongi foi embora do hospital com aquelas palavras na cabeça. Pra ele era tudo tão natural que não parecia tão surpreendente quanto seu pai fazia parecer.
Ele sempre gostou de desafios, nunca teve medo de muitas coisas, sempre enfrentou tudo com um sorriso, sabendo que a vida é assim mesmo, uma montanha russa de altos e baixos. Mas talvez sua realidade não fosse parecida com a de Jimin.
Jimin.
- Jimin - ele disse testando o som em sua boca. Era um nome gostoso de dizer.
Ele abriu o notebook em seu quarto w clicou na área de pesquisas. Escreveu Park Jimin no quadrado e estava prestes a dar enter quando seu celular começou a tocar.
Talvez o destino não quisesse que ele soubesse daquilo agora.
O nome de Hoseok brilhou na tela e ele atendeu sorrindo.
- Fala bro.
"O que tem pra hoje bro?"
- Nada, tenho que terminar um trabalho.
"Vem pra cá, vamos comer alguma coisa, tomar uma cerveja"
- Não posso Hobi, preciso terminar o trabalho e voltar pro meu hospital.
"Ah é, tinha me esquecido do seu pai, como ele está?"
- Melhorando...
"Ta certo, fala comigo depois? Eu to com saudade"
- Tudo bem Hobi, me desculpe, só ando todo enrolado...
"Você sempre é enrolado Yoongi..."
Yoongi riu - Você me conhece tão bem...
"Vá a merda. Tchau"
- Tchau.
Yoongi desligou o celular e voltou ao notebook, desistiu de fazer a pesquisa. Sentiu o coração melhor ao fazê-lo. Se tivesse que saber de algo iria ser pela boca de Jimin. E ele ia fazer de tudo para conquistar essa confiança.
°
No outro dia lá estava Yoongi de novo no escritório. Ele sorriu ao ver a cor laranja viva ainda nos cabelos de Jimin. Sinal de que ele tinha gostado e nao tinha tentado tirar com água. Ele remexia na grande estante coberta de vinis, e então parou. Estava com uma calça social preta e uma camiseta preta enfiada por dentro da calça, e Yoongi pode ver como sua cintura Era fina. Jimin cruzou os braços, revelando os músculos na camiseta de manga curta e Yoongi engoliu em seco. O que era isso que estava sentindo? Estava sendo atraído pelo patrão de seu pai?
Ele não podia negar o quando Jimin exalava masculinidade e sensualidade. Seus lábios cheios, seu olhar profundo, seu corpo proporcional, e ele daria tudo pra saber se não tinha uma academia escondida na mansão porque só isso pra explicar as coxas grossas e definidas do senhor Park.
Yoongi balançou a cabeça tentando tirar esses pensamentos de si. Ele não tinha problema nenhum com sua sexualidade. Ele não tratava as pessoas como gênero na hora de se relacionar, bastava sentir atração que rolava. Mas ele não tinha ideia de qual era o tipo de Jimin... na verdade ele sabia muito pouco sobre o Park.
- Escolhe. - a voz de Jimin o tirou de seus devaneios e ele viu o mais velho apontar para a grande estante.
Ele estava sonhando? Ia poder escolher o que eles iriam ouvir? Yoongi se levantou animado da cadeira e parou ao lado dele. Naquele momento conseguiu reparar que eles tinham o mesmo tamanho, e ele virou o rosto para olhar para Jimin, que retribuiu o olhar.
Yoongi nao soube dizer por quanto tempo ficaram com os olhares fixos um no outro, mas ele sabe que sentiu algo quente entrar em sua corrente sanguínea, e foi ele a cortar o olhar, sentindo sua face pegar fogo.
Ele se concentrou a estante a sua frente, tentando tirar da mente os olhos de Jimin o olhando com curiosidade. Ele sentiu quando o Park saiu de trás dele e sentou na cadeira ao lado da vitrola, e então, Yoongi achou o que estava procurando: Beatles.
Sorrindo, ele se virou com o vinil na mão e colocou na vitrola, logo a voz de John e Paul inundavam o ambiente.
- Meu pai costumava cantar Hey Jude pra mim quando eu era pequeno. Eu tenho uma tatuagem com essa frase.
- Tatuagem?
- Sim, olha. - Yoongi puxou a camiseta preta de manga comprida que estava vestindo, revelando seu antebraço branquinho marcado pelas palavras "take a sad song and make it better". - É como se fosse um ditado, nós somos os responsáveis pelos nossos sentimentos e nós podemos escolher o que fazer quanto a isso.
Jimin estendeu a mão, tocando as letras na pele de Yoongi, que sentiu um arrepio involuntário em seu corpo.
- Você parece ser uma pessoa muito feliz Min.
- Eu tento, não tenho tempo pra ficar me martirizando por coisas que não tenho controle.
Jimin recolheu a mão e fechou o semblante. Yoongi se arrependeu na hora das palavras que disse, não era sua intenção servir como indireta, mas pareceu exatamente isso. Ele achou melhor fingir que não tinha reparado no que tinha falado, então só voltou para sua cadeira apreciando a música.
Jimin não falou mais nada, e depois da hora do almoço disse que ia para seu quarto.
- Pra onde fica o quarto do senhor Park? - Yoongi perguntou a Rose enquanto eles comiam.
- Na ala Norte.
Yoongi acentiu, após comer, aproveitou para andar pela casa. Encontrou quartos e mais quartos, salas para conversas, e mais para o sul achou uma sala com outro piano
- Caramba. - Ele disse entrando na sala escura. Parecia uma sala de recital, o piano em cima de um pequeno palco, com várias cadeiras a sua frente.
Tudo estava muito limpo, mas completamente abandonado. Doeu o coração de Yoongi ver um instrumento tão incrível deixando de canto assim.
- Quanto tempo ninguém toca em você hein amigo? - Yoongi disse se sentando no banco. Ele abriu a tábua protetora das teclas lentamente, fazendo soar um rangido da ação, a acústica da sala era maravilhosa.
Seus dedos passaram lentamente pelas teclas e ele sentiu seu coração gelar numa expectativa enorme.
Ele apertou um dó oitavado fazendo o som preencher o ambiente. Logo outra nota foi acrescentada. E mais outra.
E então Yoongi começou a tocar uma melodia completa. Os dedos dançando nas teclas, o olhos fechados sentindo o som inundar suas veias e dar vida a aquela sala.
Ele tocou uma, duas, três vezes.
No meio da terceira, ouviu um grito e uma coisa se quebrar.
- PARE PARE AGORA, AGORA!!!
E então seu corpo encontrou o chão só o que ele conseguia ver era um borrão laranja chacoalhar seus ombros.
- QUEM TE DEU O DIREITO DE ENTRAR AQUI?
O senhor Park apertava seus ombros, Yoongi estava assustado mas quando olhou nos olhos de Jimin, em cima dele no chão ao lado do piano, viu que o olhos dele estavam pior.
- PORQUE FEZ ISSO???
- Me desculpe - Yoongi disse olhando para Jimin.
- VA EMBORA VA EMBORA AGORA!!!!
Jimin dizia mas o aperto de suas mãos nos ombros de Yoongi ficavam cada vez mais fortes. O mais novo sentiu uma lágrima cair em seu rosto e estendeu a mão para limpar a bochecha do mais velho.
O Park inflou as narinas e deu um grito mais forte, caindo em cima de Yoongi, o corpo inteiro em seu peito, o cabeça em seu pescoço, as pernas enroscadas uma a outra, e então começou a chorar. Um choro duro, que quebrou o coração de Yoongi, que passou os braços em suas costas, acariciando pra cima e pra baixo como que tentando o acalmar de alguma forma.
- Todos vão embora.
Yoongi apenas continuou o abraçando, ele não sabia o que aquilo significava, mas de uma coisa ele tinha certeza, uma parte dele já estava completamente envolvida pelo senhor Park.
E se tinha uma coisa que ele não faria, era ir embora.
- Não to acreditando nisso! - o senhor Park ria quando Yoongi mostrava as fotos de Jimin com o cabelo laranja. O filho tinha ido direto pro hospital depois do trabalho naquele dia, doido pra contar ao pai o que tinha feito - Ele sabe que você tirou essas fotos dele? - o mais velho disse recolocado a máscara que fazia inalação.
- Claro que não - Yoongi disse rindo, passando as fotos no celular - tirei quando ele tava distraído. Eu tenho amor pela minha vida.
- Eu não estou conseguindo acreditar que isso aconteceu. Vocês parecem estar se dando bem.
Yoongi bufou - Não trocamos mais que dez palavras por dia, mas ele não gritando comigo tá de boa.
- Eu fico feliz meu filho, o senhor Park é uma ótima pessoa, quem sabe vocês não pode ser amigos.
- É, quem sabe. - Yoongi guardou o celular - O que o médico disse?
- Amanhã termina a medicação e já posso ir embora.
- Que bom, não aguento mais ver o senhor nesse lugar.
- Meu filho, eu já estou velho, vai ter que se acostumar comigo aqui.
- Não vou nao, vou fazer um quarto especial na nossa casa assim que eu arranjar um emprego digno.
- Todo emprego é digno Yoongi.
- Eu sei pai, não foi isso que eu quis dizer. Falando nisso, no que o Jimin trabalha pra manter tudo aquilo?
O senhor Min o olhou - Jimin? Como sabe o nome dele?
Yoongi sorriu presunçoso - Ele me disse.
- Você não tem ideia mesmo do que tá fazendo não é meu filho?
Yoongi foi embora do hospital com aquelas palavras na cabeça. Pra ele era tudo tão natural que não parecia tão surpreendente quanto seu pai fazia parecer.
Ele sempre gostou de desafios, nunca teve medo de muitas coisas, sempre enfrentou tudo com um sorriso, sabendo que a vida é assim mesmo, uma montanha russa de altos e baixos. Mas talvez sua realidade não fosse parecida com a de Jimin.
Jimin.
- Jimin - ele disse testando o som em sua boca. Era um nome gostoso de dizer.
Ele abriu o notebook em seu quarto w clicou na área de pesquisas. Escreveu Park Jimin no quadrado e estava prestes a dar enter quando seu celular começou a tocar.
Talvez o destino não quisesse que ele soubesse daquilo agora.
O nome de Hoseok brilhou na tela e ele atendeu sorrindo.
- Fala bro.
"O que tem pra hoje bro?"
- Nada, tenho que terminar um trabalho.
"Vem pra cá, vamos comer alguma coisa, tomar uma cerveja"
- Não posso Hobi, preciso terminar o trabalho e voltar pro meu hospital.
"Ah é, tinha me esquecido do seu pai, como ele está?"
- Melhorando...
"Ta certo, fala comigo depois? Eu to com saudade"
- Tudo bem Hobi, me desculpe, só ando todo enrolado...
"Você sempre é enrolado Yoongi..."
Yoongi riu - Você me conhece tão bem...
"Vá a merda. Tchau"
- Tchau.
Yoongi desligou o celular e voltou ao notebook, desistiu de fazer a pesquisa. Sentiu o coração melhor ao fazê-lo. Se tivesse que saber de algo iria ser pela boca de Jimin. E ele ia fazer de tudo para conquistar essa confiança.
°
No outro dia lá estava Yoongi de novo no escritório. Ele sorriu ao ver a cor laranja viva ainda nos cabelos de Jimin. Sinal de que ele tinha gostado e nao tinha tentado tirar com água. Ele remexia na grande estante coberta de vinis, e então parou. Estava com uma calça social preta e uma camiseta preta enfiada por dentro da calça, e Yoongi pode ver como sua cintura Era fina. Jimin cruzou os braços, revelando os músculos na camiseta de manga curta e Yoongi engoliu em seco. O que era isso que estava sentindo? Estava sendo atraído pelo patrão de seu pai?
Ele não podia negar o quando Jimin exalava masculinidade e sensualidade. Seus lábios cheios, seu olhar profundo, seu corpo proporcional, e ele daria tudo pra saber se não tinha uma academia escondida na mansão porque só isso pra explicar as coxas grossas e definidas do senhor Park.
Yoongi balançou a cabeça tentando tirar esses pensamentos de si. Ele não tinha problema nenhum com sua sexualidade. Ele não tratava as pessoas como gênero na hora de se relacionar, bastava sentir atração que rolava. Mas ele não tinha ideia de qual era o tipo de Jimin... na verdade ele sabia muito pouco sobre o Park.
- Escolhe. - a voz de Jimin o tirou de seus devaneios e ele viu o mais velho apontar para a grande estante.
Ele estava sonhando? Ia poder escolher o que eles iriam ouvir? Yoongi se levantou animado da cadeira e parou ao lado dele. Naquele momento conseguiu reparar que eles tinham o mesmo tamanho, e ele virou o rosto para olhar para Jimin, que retribuiu o olhar.
Yoongi nao soube dizer por quanto tempo ficaram com os olhares fixos um no outro, mas ele sabe que sentiu algo quente entrar em sua corrente sanguínea, e foi ele a cortar o olhar, sentindo sua face pegar fogo.
Ele se concentrou a estante a sua frente, tentando tirar da mente os olhos de Jimin o olhando com curiosidade. Ele sentiu quando o Park saiu de trás dele e sentou na cadeira ao lado da vitrola, e então, Yoongi achou o que estava procurando: Beatles.
Sorrindo, ele se virou com o vinil na mão e colocou na vitrola, logo a voz de John e Paul inundavam o ambiente.
- Meu pai costumava cantar Hey Jude pra mim quando eu era pequeno. Eu tenho uma tatuagem com essa frase.
- Tatuagem?
- Sim, olha. - Yoongi puxou a camiseta preta de manga comprida que estava vestindo, revelando seu antebraço branquinho marcado pelas palavras "take a sad song and make it better". - É como se fosse um ditado, nós somos os responsáveis pelos nossos sentimentos e nós podemos escolher o que fazer quanto a isso.
Jimin estendeu a mão, tocando as letras na pele de Yoongi, que sentiu um arrepio involuntário em seu corpo.
- Você parece ser uma pessoa muito feliz Min.
- Eu tento, não tenho tempo pra ficar me martirizando por coisas que não tenho controle.
Jimin recolheu a mão e fechou o semblante. Yoongi se arrependeu na hora das palavras que disse, não era sua intenção servir como indireta, mas pareceu exatamente isso. Ele achou melhor fingir que não tinha reparado no que tinha falado, então só voltou para sua cadeira apreciando a música.
Jimin não falou mais nada, e depois da hora do almoço disse que ia para seu quarto.
- Pra onde fica o quarto do senhor Park? - Yoongi perguntou a Rose enquanto eles comiam.
- Na ala Norte.
Yoongi acentiu, após comer, aproveitou para andar pela casa. Encontrou quartos e mais quartos, salas para conversas, e mais para o sul achou uma sala com outro piano
- Caramba. - Ele disse entrando na sala escura. Parecia uma sala de recital, o piano em cima de um pequeno palco, com várias cadeiras a sua frente.
Tudo estava muito limpo, mas completamente abandonado. Doeu o coração de Yoongi ver um instrumento tão incrível deixando de canto assim.
- Quanto tempo ninguém toca em você hein amigo? - Yoongi disse se sentando no banco. Ele abriu a tábua protetora das teclas lentamente, fazendo soar um rangido da ação, a acústica da sala era maravilhosa.
Seus dedos passaram lentamente pelas teclas e ele sentiu seu coração gelar numa expectativa enorme.
Ele apertou um dó oitavado fazendo o som preencher o ambiente. Logo outra nota foi acrescentada. E mais outra.
E então Yoongi começou a tocar uma melodia completa. Os dedos dançando nas teclas, o olhos fechados sentindo o som inundar suas veias e dar vida a aquela sala.
Ele tocou uma, duas, três vezes.
No meio da terceira, ouviu um grito e uma coisa se quebrar.
- PARE PARE AGORA, AGORA!!!
E então seu corpo encontrou o chão só o que ele conseguia ver era um borrão laranja chacoalhar seus ombros.
- QUEM TE DEU O DIREITO DE ENTRAR AQUI?
O senhor Park apertava seus ombros, Yoongi estava assustado mas quando olhou nos olhos de Jimin, em cima dele no chão ao lado do piano, viu que o olhos dele estavam pior.
- PORQUE FEZ ISSO???
- Me desculpe - Yoongi disse olhando para Jimin.
- VA EMBORA VA EMBORA AGORA!!!!
Jimin dizia mas o aperto de suas mãos nos ombros de Yoongi ficavam cada vez mais fortes. O mais novo sentiu uma lágrima cair em seu rosto e estendeu a mão para limpar a bochecha do mais velho.
O Park inflou as narinas e deu um grito mais forte, caindo em cima de Yoongi, o corpo inteiro em seu peito, o cabeça em seu pescoço, as pernas enroscadas uma a outra, e então começou a chorar. Um choro duro, que quebrou o coração de Yoongi, que passou os braços em suas costas, acariciando pra cima e pra baixo como que tentando o acalmar de alguma forma.
- Todos vão embora.
Yoongi apenas continuou o abraçando, ele não sabia o que aquilo significava, mas de uma coisa ele tinha certeza, uma parte dele já estava completamente envolvida pelo senhor Park.
E se tinha uma coisa que ele não faria, era ir embora.
Jimin estava inquieto na cadeira de seu quarto. Batia os pés no chão e as mãos nas coxas, os olhos fixos num ponto específico. Eles respirava fundo. Inalando e exalando. Uma. Duas. Três vezes.
Então fechou os olhos. Se lembrou de mãos macias tocando seu rosto. Da voz melódica soando ao seus ouvidos. Da barriga saliente que já se mexia com o ser dentro. E do som da música tocada no piano.
Se ele se concentrasse bem podia jurar que estava escutando agora mesmo. Mas não era a música que costumava ouvir.
Ele abriu os olhos e apurou os ouvidos. A música vinha de dentro da casa.
O Park saiu como um trovão de dentro do quarto, esbarrando nos móveis, quebrando os vasos de plantas no caminho. O som ficando mais próximo e mais alto a partir do que ele se aproximava.
Então a música mudou, uma música completamente desconhecida dessa vez, o som maia alto, mais claro, e quando ele abriu a porta num rompante só viu a cabeleira verde de olhos fechados concentrado no som.
Ele nem viu a hora que pulou em cima de Yoongi, jogando-o no chão, se agarrando a ele. Não conseguia entender a multidão de sentimentos que passavam pela sua cabeça.
Yoongi trazia de volta tudo aquilo que ele queria esquecer. Mas ao mesmo tempo vinha uma paz sem explicação apenas com a presença do garoto.
Ele chorou no ombro de Yoongi por longos minutos, até se levantar e se recompor. Ele olhou o piano branco e olhou para Yoongi, que agora estava sentado no chão.
- Me desculpe senhor Park, invadi sua casa e sua privacidade. Mas eu não via um piano há muito tempo, achei que ele gostaria de ser tocado...
Jimin fechou os olhos e acentiu - Tem outro piano na sala de música na ala Oeste. Não consigo escutar se você tocar lá.
Então virou as costas e saiu, voltando ao quarto. Ele tomou um banho demorado, vendo a tinta laranja correr pelo seu corpo enquanto lavava os cabelos.
A presença de Yoongi estava mexendo com o mais profundo dele. Ele não sabia o que era, mas sabia que tinha algo nele que não o deixava bloquear. Era como se Yoongi aos poucos fosse quebrando todas os muros que ele tinha construído em volta de si.
O garoto estava sempre sorrindo, sempre insistindo, puxando os mais diversos assuntos na esperança de Jimin compartilhar algo. E naquela tarde ele prometeu que não iria embora. Jimin podia dar algo em troca, não podia?
Ele se vestiu com uma calça jeans e uma camiseta branca, secou com uma toalha os cabelos que agora só tinha algumas manchas laranjadas, e saiu do quarto.
Ainda era 16 horas, Yoongi não teria ido embora.
Ele desceu as escadas da mansão e foi de encontro com a vozes e risadas que saiam da cozinha.
Yoongi, Rose e Minho conversavam e riam, nem parecia que o Min tinha presenciado a fúria de Jimin momentos atrás.
Foi quando Rose parou de rir e olhou com os olhos esbugalhados para a entrada da porta que todos se viraram juntos. Minho se levantando e fazendo uma pequena reverência.
Yoongi engoliu em seco. Jimin estava irresistível. A camiseta branca marcando seu corpo, os cabelos levemente úmidos, a calça colada. Será que ele sabia o impacto que tinha.
- Yoongi. - Jimin disse e o Min se arrepiou, era a primeira vez que ouvia ele falar seu nome.
O mais novo se levantou, indo em direção a Jimin. - Sim? Tá precisando de alguma coisa?
- Você fica, pra jantar, amanhã?
Yoongi sorriu e quem se arrepiou dessa vez foi Jimin. - Claro.
Jimin acentiu e saiu, subindo as escadas de novo e entrando no quarto.
Sentou na cadeira que estava mais cedo, mas dessa vez só o que ele conseguia sentir era as mãos de Yoongi afagando suas costas enquanto ele chorava e seu ombro na sala do piano. Ele ouvia sua risada chegar em seus ouvidos. E o som da música que saia de seus dedos.
Ele não entendia nada. Mas, por incrível que pareça, sorriu.