Jéssica
Eu o observo, preocupada. Jason está pálido, suando frio, e parece mais frágil do que jamais imaginei. Quando ele termina de beber toda a água, me estende o copo.
— Obrigado.
— Você não acha bom chamar sua irmã?
— Não, claro que não! — Ele se apressa em responder, sua voz firme, mas as palavras soam quase como uma súplica.
Seu rosto está sério, mas há algo em seus olhos que sugere uma batalha interna que ele não quer compartilhar. Eu apenas assinto, sem insistir, mas a preocupação não diminui.
Ele ergue o braço e começa a massagear os ombros e o pescoço, como se tentasse aliviar uma tensão profunda. Meu olhar o segue, e, por um momento, fico paralisada.
A cena à minha frente é tão familiar que me sinto golpeada. Um arrepio percorre minha espinha, minhas pernas ficam fracas, como se fossem feitas de geleia, e meu coração se aperta no peito.
Jake. Quantas vezes assisti Jake fazer exatamente esse mesmo gesto?
Com passos incertos, caminho até o sofá e me deixo cair, tentando me recompor. Tento convencer a mim mesma de que é apenas uma coincidência, mas a sensação de déjà-vu é avassaladora. Enquanto Jason respira fundo, os olhos fechados, alheio ao meu estado, o peso da semelhança entre os dois irmãos desaba sobre mim.
Por que só agora percebo isso? Por que parece tão impossível ignorar?
Jake era como água límpida, transparente, calma, capaz de saciar qualquer sede de segurança. Jason, por outro lado, é como vinho: intenso, tempestuoso, enigmático. Onde Jake era serenidade, Jason é turbulência. Onde Jake acalmava, Jason perturba.
Quando ele abre os olhos, seus lindos olhos negros procuram os meus, prendendo-me em uma conexão que eu não estava pronta para enfrentar.
— Já estou melhor. Acho que foi o calor — ele diz, sorrindo, como se quisesse tranquilizar o ambiente.
Mas aquele sorriso...
Um calor inesperado percorre meu corpo, desarmando-me completamente. É difícil encará-lo. Meu coração acelera, pulsando com uma intensidade que não posso controlar.
Sempre amei esse sorriso. Era o sorriso de Jake que me fazia sentir segura, amada, como se nada pudesse nos separar. Mas agora, vejo esse mesmo sorriso em Jason, e nele há algo diferente — algo mais profundo, mais desconcertante. É um sorriso que parece carregar promessas que não entendo, mas que me prendem.
Por um momento, o mundo ao nosso redor parece parar. Fico olhando para ele, incapaz de desviar o olhar, como se estivesse presa em uma corrente que me puxa para algo inevitável.
O que está acontecendo comigo?
Minha mente luta, mas está turvada pela visão dele. Cada traço daquele sorriso, cada movimento de Jason, carrega um peso insuportável. Não é apenas a lembrança de Jake. É ele, Jason, ali, tão presente, tão real, tão diferente e tão parecido ao mesmo tempo.
Minha respiração falha. O ar parece mais denso, difícil de absorver. É como se o tempo tivesse parado, como se não houvesse mais nada além dele e o som acelerado do meu coração.
E então vem essa onda. Uma onda de desejo. Crua, avassaladora, incompreensível. É algo que não faz sentido, que não deveria estar ali, mas que toma conta de mim.
Tento recobrar a razão, mas minha mente está sendo submersa por sensações que não consigo controlar. Por que ele me afeta tanto? Por que esse sorriso parece tão impossível de ignorar?
Jason não é Jake. Mas, neste momento, a linha que os separa parece tênue demais, quase inexistente.
Jason
Ela me olha com uma expressão que não consigo decifrar. É mistura de algo entre confusão e repulsa. Eu a assustei. Tenho certeza disso.
Caminho até ela, tentando suavizar a distância que parece se abrir entre nós. Mas quando me sento ao seu lado no sofá, ela reage como se tivesse levado um choque e se levanta abruptamente.
Isso me incomoda.
— Vou buscar suas malas. Me dê as chaves do carro. — Sua voz soa firme, mandona.
Na mesma hora, me levanto, determinado.
— Eu vou com você. — Digo, sério e firme, minha postura tensa.
— Você acabou de passar m*l. — Ela responde com raiva, o tom afiado, enquanto tenta me empurrar de volta para o sofá.
Fixo meus pés no chão, resistindo ao empurrão, mas o movimento dela é mais forte do que esperava, e quase perco o equilíbrio. Algo dentro de mim ferve. Estendo a mão e seguro seu pulso, apertando de leve, mas o suficiente para detê-la.
— Não faça isso! — Minha voz sai cortante, cheia de frustração que m*l consigo conter. — Eu já disse que estou bem!
Com um puxão firme, trago-a para mais perto, o suficiente para que nossos corpos quase se toquem. Seus olhos estão arregalados, queimando com raiva, mas também com algo que não consigo identificar. Sinto o calor dela contra mim, e é impossível ignorar o prazer desconcertante dessa proximidade. Meus olhos, involuntariamente, descem para seus lábios entreabertos, que tremem com o que imagino ser uma mistura de susto e indignação.
— Me solta! — Ela exige, a voz carregada de fúria.
Eu a encaro com firmeza, meu peito ainda pulsando com a confusão e o desconforto que sua presença parece despertar em mim. Não consigo evitar o sorriso insolente que curva meus lábios, uma resposta quase automática à intensidade do momento.
— Não. Não até que você entenda uma coisa! — murmuro, minha voz baixa e áspera, como um aviso.
Dentro de mim, a irritação cresce, uma tempestade que não consigo compreender nem controlar. Respiro fundo, tentando domar o redemoinho furioso de sentimentos, enquanto mantenho meus olhos fixos nos dela, que agora brilham com desafio.
— Eu não sou o Jake. Meu nome é Jason. — Minha voz sai firme, quase cortante. — Se você estava acostumada a dar ordens para ele por causa da... natureza dele mais submissa, pode tirar seu cavalinho da chuva. Comigo, isso não vai funcionar.
As palavras saem antes que eu possa detê-las, carregadas de frustração e algo mais profundo que não consigo explicar. Mas assim que as digo, vejo a mudança no rosto dela. Seus olhos se arregalam, e algo entre surpresa e mágoa atravessa seu olhar. Meu peito aperta instantaneamente.
Merda. O que diabos me deu na cabeça para ser tão bruto?
Ela é tão vítima quanto eu nesse jogo c***l do destino. A culpa me atinge como um soco, fria e cortante, enquanto o silêncio pesado se instala entre nós.
— Perdoe-me. — Digo rapidamente, minha voz agora cheia de arrependimento.
Mas ela não parece disposta a me ouvir. Seus olhos verdes, que até agora me desarmavam, estão brilhando com uma fúria que parece queimar qualquer ponte entre nós.
— Mas é claro que você não é o Jake! — Ela dispara, sua voz carregada de veneno, cortante como uma lâmina. — E que coisa h******l de se dizer! Jake não era submisso!