Jéssica nunca esqueceu Jake. Não é fácil lidar com a cópia dele.

1053 Words
Jason Na manhã seguinte, o rangido suave da porta do chalé me desperta, trazendo com ele o aroma inconfundível de café fresco. O cheiro preenche o espaço e acende algo em mim — uma centelha de esperança que não deveria estar lá, mas que insiste em surgir. Jéssica. Meu coração acelera com a ideia de que poderia ser ela. Rapidamente ajeito o cabelo, respiro fundo e caminho até a sala, cada passo carregado de expectativa. Mas, assim que vejo Ester parada ali, a esperança se desfaz como fumaça. Ela sorri, um sorriso suave, quase ensaiado, enquanto segura uma bandeja impecavelmente arrumada. Há xícaras, pães frescos e frutas, tudo apresentado com um cuidado que deveria ser reconfortante. Mas a gentileza nos gestos de Ester só serve para reforçar a ausência de quem eu realmente queria ver. — Bom dia, Jason — diz ela, sua voz tão delicada que quase se perde no ar. — Bom dia, Ester. — Minha resposta sai automática, vazia, desprovida de qualquer entusiasmo. A decepção escapa antes que eu consiga escondê-la, e sinto o peso dela pairando entre nós. Ester caminha até a mesa e coloca a bandeja com uma precisão que parece excessiva, como se buscasse evitar qualquer erro. Cada movimento é um lembrete c***l de que aquela manhã não é como eu imaginei. Por um momento, ela permanece ali, como se esperasse algo de mim — talvez uma conversa, uma palavra de gratidão mais sincera. Mas as palavras ficam presas na minha garganta, incapazes de se formar. — Jéssica não pôde trazer o café hoje? — pergunto, incapaz de disfarçar o tom frustrado. Ester hesita. É um instante breve, mas carregado de significado. Seus olhos vacilam por uma fração de segundo antes de encontrarem os meus. Há algo ali, um peso que ela parece relutar em dividir comigo. — Não. Jéssica está... ocupada. Ela achou que talvez você quisesse um pouco de espaço. Espaço. A palavra reverbera na minha mente como uma desculpa cuidadosamente construída. Não soa como a verdade, mas como um muro que Jéssica está tentando erguer entre nós. E isso me incomoda mais do que deveria. — Obrigado. Está tudo ótimo. — Minha voz soa mecânica, desprovida de emoção. É como se eu estivesse apenas recitando uma linha ensaiada. Ester dá um leve sorriso, mas seus olhos denunciam outra coisa. Há tristeza ali, misturada com algo que parece ser preocupação. — Dê tempo a ela, Jason. — A voz dela quebra o silêncio com uma firmeza inesperada. — Jéssica nunca esqueceu Jake. Não é fácil lidar com a cópia dele... e muito pior é ver que, dia após dia, você está cada vez mais parecido com ele. Até no jeito de falar. As palavras dela me atingem como um golpe. Tento não demonstrar, mas sinto o impacto em cada fibra do meu corpo. Parecido com Jake. Essa frase ecoa na minha mente como uma acusação e uma verdade que não pedi para carregar. Respiro fundo, forçando meu peito a encontrar algum ritmo de calma, e aceno em silêncio para Ester. É a única resposta que consigo dar. Ela sorri novamente, mas dessa vez o sorriso é triste, resignado. Um gesto que carrega mais do que palavras poderiam expressar. E então ela se vai, fechando a porta atrás de si. O silêncio que retorna é pesado, sufocante, como se o próprio chalé entendesse o peso do que ficou não dito. Fico ali, imóvel, encarando a bandeja com seu café quente e pães frescos. O cheiro, que antes parecia promissor, agora só me lembra da ausência que preenche cada canto deste lugar. Jéssica. Sua ausência se tornou um vazio que nem mesmo o melhor café do mundo poderia preencher. 🌞🌞🌞🌞🌞🌞🌞 Depois de longos minutos encarando o vazio, decido que não posso mais ficar aqui. O chalé parece pequeno demais para conter minha inquietação. Preciso de ar, de espaço. Troco de roupa, calço os tênis, e meus passos me levam automaticamente em direção ao lago. O sol já está alto no céu, e a brisa carrega o aroma da água e da grama recém-cortada. Cada passo sobre o chão irregular me traz uma sensação estranha de liberdade, como se cada movimento me afastasse um pouco mais do peso das paredes do chalé. Quando chego ao deque, o lago se abre diante de mim, sua superfície calma refletindo o azul do céu como um espelho perfeito. É quase impossível não se sentir pequeno diante de tamanha serenidade. Me sento à beira do deque, deixando meus pés mergulharem na água fria. A sensação é revigorante, quase como se o lago tentasse lavar de mim tudo o que me consome. O som das pequenas ondas quebrando contra as pedras e a brisa acariciando meu rosto são um bálsamo para meus pensamentos caóticos. Por alguns instantes, sou apenas um homem olhando para a vastidão de algo que não pode controlar. Mas mesmo aqui, na aparente tranquilidade, há uma inquietação que não me abandona. É como se algo estivesse prestes a acontecer, algo que me observa nas sombras da minha mente. Não sei explicar o que é, mas sinto que tem a ver com ela. Com Jéssica. Jéssica Da janela do chalé, meus olhos encontram Jason. Ele está lá, no deque, sentado à beira do lago. De longe, parece calmo, quase em paz. Mas eu sei que isso é apenas uma ilusão. Algo em sua postura, na maneira como seus ombros se curvam ligeiramente para frente, me diz que ele está tão inquieto por dentro quanto eu. Minha mão toca o vidro frio, um gesto involuntário, como se eu quisesse atravessar a distância que nos separa. Não sei o que ele está procurando, mas posso sentir o peso de sua busca. Jason carrega uma ausência que não sei como preencher. E talvez seja melhor assim. Ele não me vê. Talvez nem saiba que estou aqui, observando-o. E mesmo que soubesse, o que mudaria? Há um muro entre nós, feito de tudo o que ele não lembra e de tudo o que eu não consigo esquecer. A presença dele é um eco de algo que perdi, uma lembrança dolorosa de tudo o que jamais poderei recuperar. Jason permanece ali, imóvel, olhando para o lago como se esperasse respostas. E eu fico aqui, presa à janela, esperando por algo que nunca terei coragem de buscar
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