Eric XI

1929 Words
Os dias que podemos passar um tempo com Olivia no orfanato são sempre os mais esperados por todos. Mas a hora da despedida parte nossos corações. Em duas semanas Olivia já está apegada a mamãe, que sempre lhe arrumar os cabelos antes de dormir, está sempre rindo de alguma brincadeira do papai e sempre me espera com um caderno e um lápis para desenharmos. Ainda não disse uma palavra, mas papai e mamãe estão certos de que ela vai falar quando estiver em casa conosco. _ Quanto tempo mais vai durar isso? – Mamãe pergunta quando estamos no carro a caminho do restaurante onde meus tios, Andy e Mia nos esperam. – Não aguento mais ter que despedir. Ela sempre fica com olhinhos de choro quando temos que ir embora. – Diz com a voz embargada. _ Calma, meu bem. – Papai fala pegando a sua mão e trazendo até os lábios depositando um beijo delicado. – O advogado disse que ainda essa semana vamos receber a visita do assistente social para fazer a entrevista e avaliar se a casa é segura para a nossa Olivia e não demora a teremos junto conosco. – Ele me olha pelo retrovisor me pedindo apoio. _ É, mãe. – Digo colocando uma mão em seu ombro. – Vai ver que logo recebemos uma ligação do advogado avisando que ganhamos a guarda provisória da Liv e que podemos tirar ela daquele orfanato. _ Vocês tem razão. – Vejo pelo retrovisor quando abre um meio sorriso. – Obrigada pela força, meninos. _ Família é para isso. – Papai diz aproveitando o sinal vermelho para trocar um beijo rápido com mamãe. _ Não sei o que faria sem vocês. – Ela fala esticando o braço para tocar meu joelho em um rápido carinho. Quando o sinal volta a ficar verde papai nos coloca novamente em movimento. O trânsito está um pouco intenso e demoramos um pouco mais que o esperado para chegar ao restaurante. Tio Logan nos acena de uma mesa um pouco mais afastada da multidão assim que entramos no estabelecimento. Depois da pequena sessão de cumprimentos e pedidos de desculpas nos acomodamos em torno da mesa. Acabo me sentando ao lado de Mia, que não parece estar feliz ou a vontade com a situação. Pedimos a comida e enquanto esperamos conversamos sobre assuntos leves. Como de costume Mia só fala quando é questionada o que é bem estranho considerando que esse jantar se trata de uma comemoração a sua conquista. Ela deveria ser a mais falante da mesa, mas passa a maior parte do tempo olhando para as mãos e depois quando nossos pedidos chegam sua atenção é completamente voltada para a comida. _ Gostaria de fazer um brinde a Mia. – Tio Logan fala erguendo o seu copo com suco. – Pelo esforço em se recuperar e pela conquista de poder jogar na equipe de futebol do colégio. – Diz cheio de orgulho e tocamos nossos copos. _ Mas depois do show que ela deu em campo a treinadora não tinha outra opção a não ser a aceitar no time. – Digo pousando meu copo novamente na mesa. _ Você assistiu, filho? – Mamãe pergunta com o cenho franzido. – Pensei que tinha treino na hora do teste. _ O treinador liberou os reservas para treinar apenas com a equipe titular. Aí aproveitei para assistir a Jane e a Mia jogando. – Minto para evitar uma avalanche de perguntas. – E ainda bem que fiz isso. A Mia joga muito e com certeza vai arrasar no estadual. _ Não exagera. – Ela pede claramente incomodada com os elogios. _ Só estou falando a verdade e eles vão poder comprovar quando forem te ver jogar. – Falo dando de ombros. O jantar segue por mais uma hora até que pedimos a conta e voltamos para casa. Depois de um banho visto uma roupa confortável para dormir e me jogo na cama apagando quase que instantaneamente. Acordo com o som gritante do despertados em meu ouvido. Me arrasto para fora da cama e repito o meu ritual matinal antes de descer para encontrar com meus pais na mesa do café da manhã. Depois do dejejum vou chamar Mia em sua casa, vamos para a escola e seguimos nossa rotina. No sábado o dia começa bastante agitado. Mamãe está nervosa e quando fica assim o seu passatempo é limpar e organizar a casa. Papai tenta se fazer de forte para a acalmar e não me deixar nervoso, mas no fundo ele também está uma pilha de nervos com a visita desse assistente social. Essa avaliação dele é muito importante para o processo de adoção. Já passa da uma da tarde quando a campainha finalmente toca. Todos prendemos a respiração por um segundo antes de papai tomar coragem para atender a porta. _ Boa tarde. – Papai cumprimenta o homem usando suéter e óculos redondos que são um pouco grandes para o seu rosto fino. _ Kevin Fisher? – Questiona olhando de relance a pasta que tem nas mãos. _ Sim. – Papai responde abrindo espaço para que entre. – Essa é minha esposa Lina e meu filho Eric. – Nos apresenta quando param de frente para nós. O cumprimentamos com um aperto de mãos breve. _ Certo. Já que estão todos aqui acho que podemos começar. – Ele diz fazendo uma varredura na sala. – O que acham de mostrarem a casa e depois sentamos para fazermos a entrevista? _ Pode ser. – Mamãe responde enlaçando seus braços com o de papai. O tour é lento e meio silencioso. O assistente social fazia anotações em seu bloquinho a cada ambiente visitado, mas não esboçava nenhuma expressão eu nos ajudasse a identificar o eu ele estava achando da casa. Nem mesmo quando paramos no quarto de Olivia. Quando terminamos de mostrar tudo nós voltamos para a sala. Sento junto com meus pais no sofá maior e deixarmos o sofá de dois lugares para ele. Então começaram as perguntas sobre trabalho, parentes, etc. _ Agora a última pergunta. – Fala pousando as mãos sobre o bloco de notas. – Por que decidiram adotar? E por que a menor Olivia? _ Posso responder? – Peço e o homem confirma com um movimento de cabeça. – Decidimos adotar porque sentíamos que faltava algo na nossa família. Faltava mais alguém aqui conosco. Quando chegamos ao orfanato não sabíamos quem era esse alguém até nos encontrarmos com Olivia. – Sorrio ao lembrar do nosso primeiro encontro. – Foi uma conexão à primeira vista. _ Não sente ciúmes? – Pergunta diretamente para mim. _ Não. Eu amo aquela garotinha como a irmã que sempre sonhei ter. _ Acho que isso é tudo. – Ele diz guardando suas coisas em sua pasta. – Farei o meu relatório e encaminharei para o juizado. O seu advogado será notificado quanto ao resultado. _ Obrigado, senhor. – Papai fala ao leva-lo até a porta. – Agora só nos resta esperar. – Ele diz depois de trancar a porta. Na manhã seguinte saio bem cedo para correr mesmo o clima estando bastante frio e a chuva ameaçando cair a qualquer momento. m*l pude dormir a noite pensando no relatório do juizado. Acho que estou mais ansioso para isso do que estava para a visita, mas sei que preciso me acalmar ou vou acabar doente e não quero que meus pais se preocupem comigo e sim que sua atenção esteja focada no processo de Olivia. Encontro com Mia no meio do percurso, mas não conversamos. Primeiro porque sei que ela não vai querer falar comigo enquanto estiver se exercitando e segundo porque tenho que me concentrar no exercício de respiração para não ter uma crise na frente dela. _ Milagres realmente acontecem. – Ela fala quando caminhamos lado a lado em direção as nossas casas. – Acho que nunca vi você passar tanto tempo em silêncio. – Comenta em um ar brincalhão. _ E eu ainda não tinha te visto de bom humor e brincando. – Devolvo no mesmo tom quando sinto que a respiração voltar ao ritmo regular. – Qual o motivo desse milagre? Você se resolveu com o tio Logan? _ Não tem nada haver com ele. – Fala fechando a cara ao sentar nos degraus da sua varanda. _ Eu não entendo porque você tem tanta raiva do tio. – Falo sentando ao seu lado. – Sei que tem toda aquela questão dos anos que viveram longe, mas não acha que está perdendo a oportunidade de tentar recuperar as coisas. _ Não é só pelos anos que ele ficou longe. – Ela diz com o olhar perdido no horizonte. – É sobre o que aconteceu nesses dez anos que ele esteve longe. _ E o que aconteceu? _ O Bill aconteceu. – Diz torcendo os dedos no espaço entre as pernas. _ Quem é Bill? _ O homem que dizia amar a minha mãe, mas que tudo o que fez foi sugar a sua vida até a última gota. – Fala em uma espécie de transe. – O monstro que matou a minha mãe e que atormenta os meus sonhos todas a noites. O projeto de ser humano que me tirou tudo. – Ela pisca e uma lágrima escorre por sua bochecha. – Você me pergunta porque sinto tanta raiva do Logan? Sinto raiva porque ele teve a chance de nos salvar e não fez por puro orgulho masculino ferido. – Diz com a voz trêmula. – Sempre sonhei que um dia ele voltaria e acabaria com aquela tormenta que era viver com Bill. _ Ele matou a sua mãe? – Pergunto na esperança de ter ouvido errado. _ Sim. – Conta com o olhar perdido em lembranças. – Antes da minha mãe morrer consegui falar com ela. Ela estava fraca porque tinha acabado de passar por uma cirurgia e ter perdido muito sangue, mas conseguiu dizer que ele tinha enlouquecido e que eu precisava ir embora e procurar pelo meu pai. _ Ela conseguiu dizer o motivo dele ter sido tão violento? _ Não. Mas qualquer coisa era motivo para suas explosões. Quando eu chorava ou se ficava doente. Quando me ouviu pedir a minha mãe para irmos embora. Quando deixei escapar meus planos de leva-la comigo quando fosse para a faculdade. Se chegava um minuto atrasada para o jantar. _ Foi ele quem machucou a sua perna? _ Não diretamente. Tinha um jogo naquele dia e a partida terminou mais tarde do que o previsto. Precisava correr ou iria perder o horário do jantar e sofreria as consequências. Como não queria arriscar que ele me machucasse e ter que ficar sem jogar, como já aconteceu algumas vezes, eu corri para casa. Com o excesso de exercícios comecei a sentir a coxa e pensei em parar, mas então vi o tumulto na frente da minha casa e apenas corri para saber o que tinha acontecendo e isso resultou na minha lesão. _ Você chegou a contar tudo isso para o seu pai? _ Não. E não vou contar porque não quero a pena dele. – Diz secando o rosto com mais força do que o necessário o deixando ainda mais vermelho. _ Mas não se trata de pena, Mia. – Falo firme. – Esse Bill é perigoso e o seu pai precisa saber disso para te proteger. _ Do que eu preciso saber? – Tio Logan pergunta atrás de nós e levantamos num salto. – Do que preciso te proteger, filha? – Questiona olhando diretamente para Mia que está tão pálida quanto um fantasma.
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