Eric XX

2725 Words
O pequeno brilho de surpresa nos olhos de Mia quando nos viu todos aqui faz meu coração se aquecer e gosto dessa sensação. Acho engraçado como ela não sabe reagir em meio a tenta atenção e praticamente corre para longe na primeira oportunidade que surge. A nossa pequena caravana segue para as arquibancadas em busca de um bom lugar para assistir a partida. Olivia ainda está com a mãozinha presa a minha, mas parece estar mais relaxada com a presença de Andy. Ele dá total atenção para ela e faz de tudo para conseguir entender as formas da minha irmãzinha se expressar Quando encontramos um bom lugar perto o suficiente para não perder nenhum lance Dylan surge com o rosto vermelho e o cabelo mais bagunçado que o comum. _ O que faz aqui? – Pergunto enquanto trocamos um rápido toque de mãos. _ Vim torcer pelas nossas amigas e seguir o seu conselho de conversar com Jane. – Comenta arfando. _ E como foi a conversa? _ Esclarecedora. – Comenta apoiando as mãos na cintura ao observar o campo. _ Devo ficar preocupado? _ Não. – Garante voltando os olhos para mim. – Onde está a sua garota? _ Cala a boca, Dylan. – Peço entredentes olhando em volta para ter certeza de que ninguém ouviu o comentário fora de hora do meu amigo s*******o. – Ninguém sabe que estou afim de Mia. Fora o meu pai, você e ela mesma. E não quero que mais ninguém fique sabendo antes que role alguma coisa entre a gente. Não quero assustar ela. _ Se não quer que ninguém desconfie que está gostando dela é melhor parar de sorrir igual um i****a só porque está olhando para ela. – Abro a boca para protestar, mas o som do narrador comunicando o inicio da partida interrompe nossa conversa. O time adversário que começa com a bola e não entendo muito bem as regras do jogo, mas fico impressionado a cada lance feito pelas garotas. Volta e meia meus olhos recaem sobre os cabelos cor de cobre de Mia. Ela, ao contrário das suas colegas de time, não gesticula ou grita instruções para as suas colegas. Fica apenas observando tudo. O primeiro tempo encerra com um empate de 0x0. Os dois times se reúnem nas laterais do campo para uma conversa com seus treinadores na hora do intervalo, que dura apenas 15min. Quando o tempo de intervalo acaba o juiz vai para o seu lugar no centro do campo e aos poucos as jogadoras ocupam suas posições. O time visitante fez duas substituições para o início do segundo tempo enquanto o nosso time permanece com as mesmas garotas em campo. A partida recomeça e em menos de 4 minutos de jogo levamos o primeiro gol da partida. Todos conseguimos ouvir os gritos da treinadora na lateral do campo pedindo mais atenção de todas, mas de nada adianta porque 3 minutos após o primeiro vem o segundo gol. A torcida dos visitantes comemora enquanto a torcida de North High xinga o juiz e pedem revisão em alguns lances. Toda a gritaria assusta Olivia que busca refugio nos braços de papai que a abraça apertado e sussurra algo em seu ouvi que aos poucos a tranquilizam. Depois de quase levarmos o terceiro gol vejo a treinadora conversando algo com sua assistente e então faz um sinal para Mia. Meu coração parece parar por um momento e então explode de felicidade. Ela vai ter a sua oportunidade de entrar em campo e mostrar o quanto é boa. _ Ela vai entrar. – Ouço a voz emocionada de tio Logan em algum lugar perto de mim, mas não consigo desviar a atenção dela. Mia conversa com a treinadora na lateral do campo antes de seguir para o ajudante do juiz de falar algo em seu ouvido. Ele faz um sinal ao seu colega, que, por sua vez, para o jogo para que haja a substituição. Ela entra em campo depois de cumprimentar sua companheira e então corre para a sua posição perto de Jane. As duas conversam por meios de sinais antes da bola voltar a rolar. O outro time tenta furar a nossa defesa mais uma vez só que Izzy consegue roubar a bola e passa para Jane, que desvia de duas e passa para Mia um pouco mais a frente. Ela arruma a bola no ombro, coloca no chão e chuta direto para o gol. O movimento inesperado resulta em um lindo gol que faz toda a torcida vibrar e as garotas correm para abraça-la. Quando se desvencilha do abraço em grupo seus olhos vagueia por toda arquibancada até que nos encontra vibrando por seu recente feito. Um meio sorriso brota em seus lábios quando nossos olhares se cruzam e retribuo como o bobo que Dylan pediu que não fosse. Mas não consigo evitar. Nosso contato é interrompido quando o jogo reinicia. O time adversário segue tentando passar para aumentar a vantagem eu ainda tem sobre nós, mas as Panthers não abrem espaço e logo Jane marca o nosso segundo gol com uma assistência de Mia empatando a partida e fazendo a torcida ficar ainda mais agitada com a possibilidade de vitória. Falta pouco mais de cinco minutos para a partida terminar quando em meio a um lance de ataque uma jogadora do outro time vai com tudo para cima de Mia e a derruba quando está perto da área do gol. Fico apreensivo com a possibilidade de que ela tenha se machucado outra vez, mas me tranquilizo quando a vejo se levantar sem qualquer problema. _ É desse jeito que não quer que ninguém note que gosta dela? – Dylan comenta ao meu lado. – Disfarça pelo menos um pouco. Está dando muita bandeira. _ Cala a boca. – Rebato concentrado no que parece ser o último lance do jogo. A última chance de as Panthers conseguirem ganhar a partida. _ Só estou tentando fazer o papel de um bom amigo. – O ouço se defender. – Quem será que vai bater? – Pergunta e percebo pelo seu tom de voz que também está tenso. _ Não faço ideia. – Respondo observando o pequeno debate entre Mia, Jane e Izzy próximo ao lugar onde aconteceu a falta enquanto o juiz organiza a barreira e marca o lugar onde a bola deve ficar parada para que seja chutada. O debate acaba quando está tudo organizado. A goleira do outro time caminha de uma barra a outra fazendo os últimos ajustes da defesa. As três garotas se preparam para bater continuando com o suspense. Quando a juíza apita elas correm ao mesmo tempo, mas Mia passa direto correndo pela esquerda, Jane corre para a direita e Izzy chuta a bola encurva para a direita. Jane está a poucos centímetros do gol sendo marcada por uma garota um pouco mais alta que ela. Assim que recebe a bola consegue desviar da marcação e chuta direto para Mia que está completamente sozinha e não encontra nenhuma dificuldade em chutar direto para o gol. A torcida explode em gritos e assovios de comemoração pela virada no placar no último minuto. Então o juiz finalmente faz soar o apito final e tudo se encerra. As meninas se abraçam, comemoram entre si e cumprimentam suas adversárias dessa tarde antes de deixarem o campo. Pelo canto do olho vejo tio Logan descer as arquibancadas correndo para abraçar a filha. Noto que o gesto inesperado do pai faz Mia paralisar por um momento, mas logo retribui. Todos nós também descemos para cumprimenta-la e a parabenizar pela bela partida. Espero que todos a abracem para só depois o fazer. _ Fez uma ótima partida. – Digo quando ainda estamos abraçados. Sei que não devia ser um abraço tão demorado, mas gosto de ter ela em meus braços. – Você arrasou. – Comento quando me obrigo a soltá-la. – E a Jane também. _ O que tem a Jane? – Ela pergunta se aproximando de onde estamos com a sua avó. Dona Abby nos sorri e acena de forma doce. _ Arrasou no jogo. Não foi, Dylan? – Cutuco meu amigo que está parado como uma estátua a encarando. _ Claro. – Pigarreia limpando a garganta. – Mas não esperava menos das nossas amigas. – Diz com um sorriso de lado dando uma ênfase a mais na palavra amigas. – Então. Vai rolar festinha para comemorar a vitória? Sou a favor de uma lanchonete com karaokê. _ Sou a favor de um banho e depois ir para casa. – Mia comenta encarando as roupas sujas com a lama do gramado. _ Podemos comemorar a vitória de vocês lá em casa. – Tia Chloe dá a ideia animada. – Pedimos pizza, hamburgueres, refrigerantes e fazemos a nossa festa. Assim vocês podem tomar um banho e trocar de roupa. _ E deixamos a lanchonete e o karaokê para outro dia. – Emendo e recebo o apoio de Dylan que assente com um movimento de cabeça. _ Não sei se vai dar. Vovó passou toda a tarde sentada nesse banco desconfortável e deve estar cansada. – Jane diz coçando levemente o canto da boca. _ Não venha com isso. Estou velha, mas nem tanto. – Rebate dona Abby. – Tenho força o bastante para comemorar a sua vitória com os seus amigos. _ Mas vovó. _ Eu vou com ou sem você. – A senhora fala decidida. _ É assim que se fala, vovó Abby. – Dylan diz passando o braço sobre os ombros dela. – Vamos comemorar com muito refrigerante e limonada e depois deixo vocês em casa. _ Já que está tudo resolvido acho que podemos ir. – Falo enfiando as mãos nos bolsos para reprimir o impulso que tenho de segurar a mão de Mia para seguirmos juntos para fora do gramado. Vendo que não tem como fugir dessa reunião improvisada as meninas apenas pegam suas mochilas e caminhamos em uma pequena multidão rumo ao estacionamento. Nos dividimos em três carros. Mia vai com sua família. Eu vou com a minha e Dylan leva Jane e sua avó. Parece que realmente está tudo resolvido entre eles e fico feliz que nossa amizade não corre mais riscos. Chegamos todos ao mesmo tempo. As garotas sobem para tomar seu banho e nós seguimos para o quintal enquanto mamãe e tia Chloe se ocupam de pedir o eu vamos comer. Tio Logan e papai cuidam da bebida e logo estamos todos com um copo de limonada nas mãos. Quando as meninas vem nos encontrar estão impecáveis. Nem parece que estavam cobertas de grama e lama a alguns minutos atrás. Engatamos uma conversa agradável regada de muito riso. O tempo corre que nem percebemos e quando vamos embora já passa um pouco das nove. Papai carrega Oli até seu quarto e a coloca na cama. Me despeço dos dois no corredor antes de seguir para o meu quarto. Tomo um banho rápido, visto o meu pijama preferido e me deito completamente exausto do dia que tive, mas também muito feliz por Mia. Tive vontade de conversar com ela e perguntar como se sentiu quando esteve em campo para uma partida de verdade depois de tudo o que passou, mas não tivemos muito espaço para ficarmos sozinhos sem chamar atenção e tenho certeza de que não ficaria muito à vontade para conversar sobre isso na frente dos outros. Penso se já está dormindo ou se está acordada ainda eufórica pelo dia que teve hoje. Se não está sentindo dor depois das muitas vezes que caiu em campo. Essa possibilidade me deixa ainda mais agitado e em um impulso mando uma mensagem para o seu celular perguntando se está tudo bem. Encaro o visor do celular ansioso por uma resposta que vem dois minutos depois. Mia: Estou bem. Eric: Como se sente depois do grande jogo? Mia: Estranha. Pensei na última vez que estive em campo e no que aconteceu depois do jogo. Fiquei meio triste e até angustiada. Mas depois passou e quase pude me sentir como uma garota comum. Eric: Ter uma torcida organizada ajudou. Mia: Sim. Verdade. E preciso te agradecer por isso. Sei que foi você que os convenceu a ir ao meu jogo hoje. Eric: Não convenci ninguém. Eles iriam de qualquer maneira porque se tratava de você e eles queriam estar lá para te apoiar. Mia: Talvez tenha razão. Eric: Um dia vai ver que tenho razão. Mia: Convencido. Eric: Confiante é o termo certo. O que vai fazer amanhã? Mia: Ficar trancada no meu quarto tentando entender o assunto de geometria. Eric: Que chato. O que acha de passar a tarde comigo? Garanto que sou melhor companheiro que a matemática. Um minuto, dois minutos, três minutos e nenhuma resposta. Minha mente cria vários cenários para tentar explicar o que deve ter acontecido para que ela tenha sumido de repente e começo a ficar aflito. Estou a ponto de mandar uma nova mensagem pedindo que ela desconsidere a mensagem anterior quando a sua resposta finalmente chega. Mia: Aceito. Eric: Passo na sua casa às 13hrs. Mia: Ok. Preciso me segurar para não gritar de alegria e acordar a casa inteira. m*l consigo acreditar que ela topou passar uma tarde inteira comigo. Leio e releio as nossas últimas mensagens trocadas antes de deixar o aparelho de lado para começar a planejar uma tarde perfeita com ela. Estou tão eufórico que só consigo dormir quando já passa das duas da manhã. Quando acordo já são quase 11hrs e a casa está a todo vapor. Papai está tentando brincar de boneca com Oli, que apenas balança o seu brinquedo enquanto ele tenta fazer vozes femininas e é a cena mais engraçada que já vi em toda a minha vida. Mamãe está na cozinha colocando a lasanha no forno e sorri quando me vê entrando. _ Bom dia, dorminhoco. – Diz vindo me beijar o rosto. – Estava quase indo lá em cima para saber se estava bem. Achei estranho que não tivesse acordado até agora para assistir desenho com a sua irmã. _ Bom dia. – Respondo pegando uma maçã da fruteira. – Foi m*l. Fiquei acordado até tarde ontem fazendo umas coisas e acabei passando direto. Será que a Oli ficou chateada comigo? _ Lógico que não. – Sorri enquanto limpa uma poeira imaginária em minha camiseta. – Ela assistiu o desenho com a mamãe e depois foi brincar com o papai. Ficou tudo sob controle enquanto você dormia. – Se afasta e vai até a geladeira, pega a garrafa de suco de laranja e me serve um pouco. – Mas me conta. O que tirou o seu sono? É um novo projeto? _ Pode-se dizer que sim. – O projeto de conquistar Mia, completo mentalmente sem conseguir evitar um sorriso. _ Que sorriso é esse? – Ela pergunta me sondando. _ Não é nada. – Minto tentando não transparecer. – Mãe, pode me emprestar o seu carro essa tarde? – Pergunto antes de levar o copo aos lábios e tomar todo o líquido em um só gole. _ Empresto. Mas para que você quer meu carro? _ Vou levar a Mia para fazer um tour pela cidade. – Conto o que não dá para esconder. – Ela só conhece a escola, a clínica de fisioterapia, o buffet e o shopping até agora. E como o tio e a tia estão sempre ocupados me ofereci para ser o guia turístico. _ É uma boa ideia. Só tenha cuidado. Nada de correr e quero que chegue antes da hora do jantar. _ Pode deixar. – Garanto. Fico um tempo brincando com Oli e papai na sala antes do almoço estar finalmente pronto. Depois de comer vou tomar um banho e me arrumar. Preparo uma mochila com lanche e também me certifico de que minha bicicleta e a antiga bicicleta da minha mãe estão em bom estado antes de prendê-las a parte traseira do carro. Ouço mais algumas recomendações de mamãe antes de finalmente poder sair para encontrar com Mia. Dessa vez não toco a campainha porque ela está sentada na varanda vestindo uma calça jeans clara, uma camiseta cinza com a frase Girl Power estampada em letras garrafas e calça um tênis preto. Os cabelos estão soltos e tudo nela exala simplicidade. Mas, ainda assim, faz meu coração bater mais forte.
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