Eric XVIII

2869 Words
Passei todo o domingo pensando na conversa que tive com Mia e no compromisso que assumi de mostra-la a vida e a felicidade na festa de Izzy. Minha mente não parava de pensar em uma maneira de como conseguiria lhe mostrar o quanto que a vida é colorida. Foi quando tive a ideia de fazer a lista e não tinha qualquer pretensão de mostra-la o pedaço de papel com garranchos enumerados, mas quando ela começo a fugir de mim e, claramente, mentiu sobre o que havia sentido a respeito do nosso quase beijo achei que a lista a mostraria que seja lá o que esteja acontecendo entre a gente é mais do que aquele momento. Quando vi o brilho em seus olhos ao ler o que estava escrito naquela lista a realidade sobre o que estou sentindo sobre ela me atingiu em cheio como um gancho de direita no estômago. Estou gostando dela de uma maneira que nunca gostei de outra garota e que sou capaz de realizar qualquer um dos seus mais difíceis desejos para ver essa pequena luz de alegria em seus olhos que só conheciam a tristeza. Enquanto caminhamos de volta para casa, agora em um ritmo mais aceitável para os meus pulmões, penso em qual item da lista vamos fazer primeiro. Por conta do jogo que terão nesse final de semana precisa ser algo leve para não prejudicar seu desempenho em campo ou a machucar. Pensando nisso acho que uma tarde jogando videogame é uma boa opção e para realizar esse pequeno evento peço ajuda a Andy, que topa no mesmo instante. Sei que Mia ainda não fica muito à vontade sozinha comigo mesmo que não sejamos mais estranhos um para o outro. Com o irmão por perto tenho certeza de que ela vai ficar mais solta e também posso incluir Olivia ao nosso cronograma. Assim ela também interage com Andy e fazemos uma troca. Eu ajudo Mia a conhecer a vida de uma adolescente comum e ele ajuda Oli a reaprender a ser uma criança feliz, risonha e tagarela. _ Do que tanto sorri, filho? – Papai pergunta escorado no batente da porta do meu quarto. – Parece até comigo quando me apaixonei pela sua mãe. É isso? Está apaixonado? _ Acho que ainda é cedo para me considerar apaixonado, mas admito que estou gostando de uma garota. – Confesso sem qualquer enrolação já que não posso negar o que deve estar estampado na minha cara. _ Eu conheço ou foi alguém que conheceu na festa? – Questiona afobado me fazendo sorrir. _ Eu já a conhecia antes da festa. _ E quem é ela? _ Mia. – Digo sem nenhum preparo e assisto o seu sorriso sumir aos poucos. _ Você está falando da Mia que é filha do seu tio Logan? – Assinto com um movimento leve de cabeça. – E quando isso aconteceu? Quando começou a pensar que estava gostando dela? _ Não estou pensando que gosto dela. – Digo firme para não deixar dúvidas, mas não altero a voz. – E não sei quando começou de fato. Me senti mexido por ela desde o dia em que fomos apresentados e no começo achei que o que sentia por ela era o mesmo que sento por Andy, mas quando fui a conhecendo percebi que não era a mesma coisa. E tive certeza disso na festa da Izzy quando quase nos beijamos. _ Quase se beijaram na festa? – Questiona ainda tentando organizar todas as informações em sua cabeça e apenas assinto. – Não se beijaram porque ela não sente o mesmo que você? _ Não. Foi porque alguém interrompeu. Mas sei que ela sente algo por mim também. _ E como pode ter tanta certeza? _ Porque vi em seus olhos, pai. – Digo sorrindo de forma involuntária só por lembrar daquele par de olhos que um dia tanto me intrigaram. _ Se está certo do que sente por ela vá fundo. Mas tenha cuidado. Mia não é como as outras e não esqueça que ela é filha do seu tio. _ Sei que ela não é como as outras e não é porque é filha do tio Logan, mas porque ela é única. Ela é uma guerreira. Uma heroína sem um uniforme super elaborado. Mesmo que ela ainda não acredite nisso. Ela passou por muitas coisas na vida e ainda está aqui firme. _ O seu tio comentou comigo sobre as coisas que o padrasto fazia com ela. – Diz sentando na ponta da minha cama e viro a cadeira para ficar de frente para ele. – E a força de Mia é realmente impressionante. Saiba que, por mim, o relacionamento entre vocês está super aprovado e tenho certeza de que a sua mãe vai aprovar também quando souber. _ Sobre isso. – Digo apoiando os cotovelos sobre as pernas para reduzir o espaço entre nós dois. – Quero pedir que essa conversa fique apenas entre nós dois. Sei que não gosta de esconder coisas da mamãe e do tio, mas o que está rolando com a Mia ainda não é nada muito certo. _ Está bem. Pode contar com o meu silêncio. _ Valeu. – Digo deixando meu lugar para abraça-lo. _ Agora que já conversamos e já prometi que essa conversa não vai sair desse quarto. É hora de dormir. – Ele diz se erguendo. – Apague as luzes e vá deitar. Nada de ficar até tarde desenhando. – Fala antes de deixar o quarto. Faço o que ele manda, mas dormir cedo não é para mim e fico apenas rolando de um lado para o outro na cama sem um pingo de sono. Encaro o teto enquanto conto carneirinhos para ver se o sono chega, mas não funciona. Estou muito agitado e ansioso para me tranquilizar dessa maneira. O jeito vai ser apelar para o leite morno com canela como fazia quando era garoto. Jogo as cobertas para o lado e deixo o quarto decidido a ir até a cozinha preparar a bebida. Mas paro no meio do corredor quando ouço algo vindo do quarto de Olivia. Me apresso em entrar achando que ela está tendo algum pesadelo, mas me surpreendo ao vê-la de pé tirando o lençol da cama. _ Qual o problema, Oli? – Pergunto aos sussurros para não assustar meus pais. – O que houve com os lençóis? – Questiono ao notar as cobertas no chão ao seu lado ao me aproximar. Ela abraça ainda mais o seu ursinho de pelúcia enquanto seus olhos seguem até a cama, que agora está metade com e metade sem forro. De perto vejo uma pequena mancha de água no lençol estampado e quando olho para Oli noto que sua roupa também está molhada. Só então me dou conta do que aconteceu. _ Você molhou a cama? – Ela assente cabisbaixa claramente envergonhada. – Tudo bem. – Digo abaixando para ficar da sua altura. – O que acha de tomar um banho e mudar de roupa enquanto cuido dos lençóis. – Sugiro a ela que assente novamente antes de se dirigir ao banheiro. Enquanto ela está no banho me apresso em recolher os lençóis e os coloco na pilha de roupas para lavar. Em seguida, coloco lençóis limpos na cama dela antes de correr para a ajuda a vestir um pijama limpo. _ Pronto. – Digo ajoelhado a sua frente. – Agora que está limpinha e cheirosa vou te colocar de volta na cama. – Ela n**a se agarrando ao meu pescoço. – O que houve? Não quer dormir? – Novamente uma negativa silenciosa. – Está sem sono? – Ela assente se afastando um pouco para me olhar. – Também não estou conseguindo dormir. Estava indo preparar um copo de leite morno com canela. Você quer um copo também? – Ela assente com um meio sorriso. – Então vamos até a cozinha. – Digo a erguendo no colo. Faço um monólogo sussurrado enquanto desço as escadas e seguimos até a cozinha. A coloco sobre a bancada e começo a pegar as coisas necessárias para preparar os nossos copos de leite. Oli fica observando cada um dos meus movimentos e me sorri quando estendo uma xícara para ela. Tomamos o nosso leite. Quando terminamos coloco a louça suja na pia e depois carrego Oli de volta para o quarto dela. Mas assim que entramos ela aperta mais o braço em volta do meu pescoço quase me sufocando. _ Calma, Oli. – Peço sentando com ela no meu colo. – O que houve? – Pergunto acariciando o seu rostinho, mas não tenho nenhuma resposta. – Está com medo de ficar no quarto sozinha, é isso? – Ela assente com o rosto escondido em meu peito. A encaro por um tempo tentando encontrar alguma solução para essa situação. – Que coincidência. Eu também estou com medo de ficar sozinho no meu quarto. – Ela se afasta um pouco para me olhar. – Será que eu posso ficar aqui com você essa noite? Assim eu cuido de você e você cuida de mim. O que me diz? Eu posso dormir com você essa noite? – Ela concorda rapidamente me fazendo sorrir. – Então vamos nos deitar. Afasto as cobertas abrindo espaço para que ela se deite e depois deito seu lado e a puxo para os meus braços. Acaricio suas costas em movimentos circulares para a fazer dormir e me surpreendo quando sinto os seus dedinhos brincando com os meus cabelos. Já está bastante tarde quando finalmente adormecemos. Acordo com a minha mãe me chamando para ir à escola. Procuro me afastar com cuidado para não acordar Oli, mas não adianta muito. Assim que ela percebe que estou tentando sair da cama ela acorda me agarrando ainda sonolenta. Leva alguns minutos até que a gente consiga a convencer de que está tudo bem e que eu preciso ir. Quando desço para tomar o meu café da manhã mamãe está terminando de preparar a lancheira de Oli. Engulo um pouco de cereal apressado por causa da hora. _ Come mais devagar. Desse jeito vai acabar se engasgando, filho. – Mamãe repreende quando enfio mais uma colher cheia na boca. _ Não dá, mãe. – Falo com a boca ainda cheia. – Estou quase atrasado. – Confiro a horas no celular. – Corrigindo. Eu estou atrasado. Preciso ir. – Beijo o topo da cabeça de Oli e aceno para os meus pais em despedida antes de sair correndo. Esbarro em alguém quando caminho apressado para a casa ao lado enquanto luto em arrumar o material na mochila. A pessoa que esbarrei tomba para o lado e por reflexo seguro seu braço impedindo que vá de encontro ao chão. Quando ergo os olhos me deparo com os olhos azuis de Mia a me encarar ainda se recuperando da quase queda. _ Foi m*l. – Digo meio envergonhado. – Parece que já está virando um hábito meu esbarrar em você. – Brinco com um meio sorriso. _ Pelo menos você não me deixa cair. – Devolve no mesmo tom. _ Onde estava indo? – Pergunto soltando seu braço depois de me certificar de que ela não corre mais risco de cair. _ Estava indo até a sua casa para saber se estava tudo bem já deu o horário de irmos para a escola e você não apareceu. _ Estou bem. Só perdi a hora e acabei atrasando. Agora somos dois atrasados para a escola. Desculpa. _ Tudo bem. – Diz dando de ombros. – Mas acho que agora precisamos ir. _ Verdade. Caminhamos lado a lado em um ritmo um pouco mais rápido que o habitual, mas nada que vá me matar ou deixar desconfortável. Conseguimos chegar a tempo de entrar para a primeira aula. O que é um alívio. Não quero manchar o meu currículo escolar e muito menos o de Mia. Durante a aula o professor nos pede para formarmos grupos de até quatro pessoas para realizarmos uma atividade que vai acumular pontos para as avaliações que já estão chegando. A atividade é relativamente tranquila o problema mesmo é o clima esquisito que ainda existe entre Dylan e Jane. Os dois evitam contato visual e qualquer tipo de diálogo. _ Quando vai resolver isso? – Pergunto em tom baixo quando deixamos a sala depois do toque do sinal. _ Não sei do que está falando. – Diz se fazendo de desentendido. _ Claro que sabe. – Rebato parando na sua frente o fazendo parar no meio do corredor obrigando os outros alunos a desviar de nós. – Precisa conversar com Jane sobre o beijo. _ Não preciso não. – Fala desviando de mim para recomeçar a andar e o sigo de perto. – Essa conversa pode estragar o nosso grupo e nossa amizade. _ É o contrário, cara. A falta de conversa está ameaçando a nossa amizade. O clima entre você está estranho desde a festa. Precisam esclarecer as coisas. _ Esclarecer que coisas? _ Que vocês estão, claramente, gostando um do outro. E nem adianta dizer que não porque tá na cara que você ficou balançado com o beijo e que está afim dela. _ Para você é fácil falar, mas duvido que tenha falado a novata que sente alguma coisa por ela. – Acusa quando chegamos próximo ao laboratório. _ Está enganado. Eu falei com Mia e contei que estava gostando dela de verdade. – Confesso o pegando de surpresa. _ Estão namorando? – Pergunta atônito. _ Ainda não, mas tenho esperanças de conseguir namorar com ela algum dia. – Adimito sem me importa que ele me ache um tonto. _ Para dentro, meninos. – Chama o professor interrompendo nossa conversa. Estudar gametas e genes é um pouco confuso e me perco em algumas partes da explicação. Faço anotações dos pontos em que estou com mais dúvidas para perguntar a Jane ou mesmo Mia já que as duas parecem não ter nenhum problema com o assunto. Na hora do almoço tento fazer com que Dylan chame Jane para conversar, mas ele me ignora deliberadamente enquanto conversa sobre as partituras que a professora pediu para a turma estuda depois do ensaio de ontem. A despedida em frente a escola é bastante constrangedora já que, claramente, nenhum dos dois está sabendo lidar com a situação. _ Será que vai ser sempre assim? – Mia pergunta quando os dois se afastam em direções opostas. _ Espero que não. – Digo erguendo levemente os ombros. – Mas vamos deixar aqueles dois um pouco de lado agora. – Falo parando na sua frente. – Quero saber se está preparada. _ Para o quê? – Questiona franzindo o cenho. _ Para a melhor tarde da sua vida. _ Como assim? _ Lembra da lista da felicidade de Mia? – Ela assente de forma lenta. – Bem. Hoje vamos começar a colocar os itens que estão nela. _ E qual deles vai ser o primeiro? _ Vamos começa por um fácil e que não coloque em risco a sua estreia jogando pelo North High. – Garanto a incentivando a começar a caminhar. – Uma tarde jogando videogame junto com as crianças. _ Pensei que tivesse dito que seria algo fácil. – Comenta em tom de brincadeira. – Não sei se lembra, mas não sei nada sobre jogos de videogame. _ Mas nada te impede de aprender. – Rebato. – Vai ser legal. Eu prometo. _ Vai ser humilhante, isso sim. Quando chegamos a sua casa as crianças estão eufóricas. Ou melhor falando. Andy está eufórico e ansioso enquanto Oli está sentada no sofá ao lado de tia Chloe que a entretém com um caderno de colorir. Que larga para vir me dar um abraço apertado e saudoso de boas-vindas. _ Também senti a sua falta. – Digo em seu ouvido quando a pego no colo. – Como foi o seu dia? – Ela dá de ombros em resposta. Como eu queria que ela falasse. Estou ansioso para conhecer a sua voz. Mas fomos instruídos pelo psicólogo a esperar que ela tome o seu tempo. – Se comportou bem com a tia Chloe? _ Ela se comportou como a princesinha que ela é. – Tia Chloe comenta com um sorriso largo. – Mas agora que chegaram vou deixa-los sozinhos. Sei que tem planos de uma tarde de bagunça e diversão. – Diz beijando meu rosto e depois o de Mia. – Vou aproveitar que estão aqui para passar um tempo com a minha amiga e colocar a fofoca em dia já que não podemos fazer isso no trabalho porque nossas chefes não facilitam as coisas. – Brinca me fazendo rir. – Não coloquem fogo na casa. – Fala em tom brincalhão, mas parece se arrepender quando nota que Oli se encolhe em meus braços. – Desculpa, querida. Foi só maneira de falar. – Diz beijando seu rostinho. – Tomem cuidado. _ Relaxa, mãe. Qualquer coisa a gente grita. – Andy fala todo risonho. Acenamos para tia Chloe que sai fechando a porta e coloco Oli de volta no chão para me livrar da mochila e do casaco. _ O que fazemos agora? – Mia pergunta nitidamente perdida. _ Bem. Que os jogos comecem. – Digo com um sorriso de lado.
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