Eric XVI

2605 Words
Olhar para Mia toda arrumada é um pouco chocante. Ela está linda. Não que ela já não seja linda em seu habitual quando usa suas roupas de corrida ou jeans e camiseta que costuma usar para ir ao colégio. Mas agora está diferente. Essa beleza está menos escondida. Desvio os olhos dela quando ela olha em minha direção. Não quero que ela pense que sou um louco. Sei que preciso parar de ficar a encarando a todo momento, mas isso fica difícil quando estamos os dois, lado a lado, no banco de trás enquanto Dylan e Jane discutem qual música será a nossa trilha sonora para a viagem. No final, Dylan se rende e deixa Jane colocar as músicas da sua boyband preferida. O caminho até a casa de Izzy não é tão longo e antes dos garotos de cabelos escorridos e calças caindo completem a sua segunda música chegamos. Encontrar um lugar para estacionar é algo complicado já que os lugares mais próximos da casa já haviam sido ocupados. Só conseguimos uma vaga no final da rua e precisamos caminhar um pouco para chegarmos na festa. _ Vocês vieram! – Izzy comemora nos abraçando na entrada. – Podem entrar e ficar à vontade. Podem beber e comer o que quiserem. Desde que esteja no andar de baixo. Primeiro andar é completamente proibido. – Assentimos em conjunto. – Espero que curtam a festa. – Diz com um largo sorriso antes de ir receber outros convidados que acabam de chegar. Passamos para a sala de estar enorme onde um grupo dança ao som de uma balada eletrônica, um pouco mais a frente um outro grupo se junta a mesa de comidas e bebidas enquanto outra parte dos convidados se concentra em torno da mesa de pebolim onde uma intensa competição está rolando. _ Vamos dançar. – Jane convida Mia que n**a com um movimento contido de cabeça cruzando os braços. – Por que não? Não gosta de dançar? _ Não é isso. – Fala olhando para os próprios pés. – É que não sei dançar. _ Se esse é o problema isso é fácil de resolver. Nosso amigo Eric pode te ensinar. – Diz me empurrando levemente em sua direção. – Não é, Eric? – Questiona com um sorriso malicioso. _ Claro. – Respondo o repreendendo com o olhar, mas ele me ignora por completo. _ Pronto. – Ele diz passando o braço sobre os ombros de Jane. – Vamos na frente preparar a pista para vocês. – Fala antes de sumirem em direção ao grupo que pula entre dois sofás. _ Vamos também. – A chamo lhe estendendo a mão. Ela encara a mesma ainda indecisa. – Prometo que se não se sentir bem nós fazemos outra coisa. – Garanto olhando em seus olhos. Ela assente com um maneio de cabeça antes de segurar em minha mão. Não é a primeira vez que seguro em sua mão só agora esse simples contato me faz sentir algo diferente quando nossas mãos se encaixam perfeitamente. Mas trato de afastar esse pensamento quando a guio até a pista onde Dylan e Jane pulam animados junto com o resto do grupo. _ O que eu faço? – Pergunta um pouco alto para ser ouvida. _ Relaxa e sente a música. – Digo perto do seu ouvido. – Pode pular ou inventar passos. Não tem regras. No começo ela se movimenta pouco e com certa vergonha. Mas aos poucos, com as brincadeiras de Dylan e Jane, ela vai se soltando ao som da batida ao fundo. Fazemos uma pausa rápida para comer e beber alguma coisa. Por alguns minutos perdemos as meninas no meio da festa quando Jane arrasta Mia até o banheiro para retocarem a maquiagem. Quando elas voltam nos aventuramos um pouco no pebolim. Faço dupla com Mia e Dylan com Jane para as coisas ficarem equilibradas. Não começamos muito bem porque Mia precisou de um tempo para entender a logística da mesa, mas a esperança da vitória renasceu quando conseguimos empatar com nossos adversários. Quem chegar a três primeiro ganha o jogo. A partida é acirrada e aos poucos vai atraindo os convidados, que começam a torcer pela dupla que acham que vai ganhar. Chega a ser engraçado eles vibrando de alegria quando Jane marca o gol da vitória encerrando o jogo. _ Perdemos. – Diz erguendo levemente os ombros, mas posso notar que essa derrota não a afeta. _ Acontece. – Respondo enfiando as mãos nos bolsos enquanto damos espaço para que outra dupla ocupa o lugar onde estávamos para jogar contra a nova dupla campeã. – O que quer fazer agora? _ Podemos sentar em um lugar menos barulhento. – Fala fazendo uma linda careta quando as batidas da música aumentam. – A não ser que queira fazer outra coisa. – Fala apressada. _ Acho que um pouco de silêncio vai ser bom. – Digo com um meio sorriso. Olho em volta em busca de um lugar mais tranquilo e vejo que a área da piscina está praticamente vazia. – E até já sei onde vamos ter esse silêncio. – Falo pegando a sua mão a guiando até a saída lateral. A brisa fria da noite nos atinge assim que deixamos o interior da casa, mas não incomoda. Sentamos lado a lado em uma espreguiçadeira deixada próxima a piscina impecavelmente limpa e com uma boia de flamingo vagando por sua extensão. _ Gostando da festa? – Pergunto apoiando o peso do corpo nas mãos para encarar o céu com algumas nuvens pesadas. _ Sim. É como sempre imaginei que fossem as festas de garotas da minha idade. – Conta com ar distraído. _ Por que, como sempre imaginou? – Questiono me endireitando para olhá-la. – Nunca foi a uma festa? _ Já contei como eram as coisas com o meu padrasto. Festas eram terminantemente proibidas para mim. – Conta com pesar na voz. Quero me bater por fazê-la lembrar de algo r**m quando deveria estar feliz e curtindo. Como não pensei nisso. Se o cara era um carrasco que brigava por qualquer motivo e a obrigava a seguir horários rigorosamente para que não houvesse consequências. É obvio que nunca a tenha deixado ir a uma festa. _ Foi m*l. – Falo coçando a nuca. – Foi mancada minha. _ Tudo bem. – Diz dando um pequeno sorriso sem mostrar os dentes. – É natural achar estranho que ainda não tenha feito coisas comuns para garotas da minha idade. _ Além de nunca ter ido a uma festa antes. O que ainda não fez? _ Nunca havia me maquiado até algumas horas atrás, por exemplo. – Fala em um meio sorriso olhando para as mãos. – Também nunca fiz festa do pijama, nem aprendi a andar de bicicleta ou assisti a um filme no cinema comendo pipoca com bastante manteiga. Nunca me ensinaram a nadar. – Seus olhos recaem sobre a piscina. – Essas coisas simples que você deve ter feito desde criança. _ São coisas simples que você ainda pode fazer. – Digo segurando suas mãos entre as minhas para conseguir sua atenção. – E eu posso te ajudar. _ Não precisa. Isso tudo é besteira. – Fala, mas nem ela mesma acredita no que está falando. _ Não é besteira. – Falo olhando em seus olhos. – São pequenas coisas que nos permitem viver e ser feliz. – Uso a ponta dos dedos para afastar uma mecha de cabelo do seu rosto. – Uma vez você me disse que só conhecia o medo e a dor. – Falo segurando seu queixo levemente com o indicador e o polegar. – Eu quero te apresentar a vida e a felicidade. _ Eu não quero incomodar. _ Garanto que não vai ser nenhum incomodo. – Digo apressado. – Me dá a chance de te apresentar a vida e se dá a chance de viver. – Peço novamente. _ Sim. _ Como? – Pergunto ainda sem acreditar no que ouvi. _ Eu disse que sim. – Fala com um sorriso que faz o meu coração bater de um jeito diferente. – Eu quero viver e quero que você me apresente as coisas que ainda não conheço. Acho que já vivi muito tempo morta em vida para continuar desse jeito quando finalmente estou livre para fazer o que quiser. Fico tão empolgado a ouvindo que a abraço em um ato de impulso. Assim que percebo o que acabo de fazer me afasto tão rápido quanto a abracei. O movimento brusco a faz se desequilibrar e tombar para trás e evito a sua queda a segurando pela cintura. O que nos deixa bastante próximos um do outro. Tudo isso acontece em questão de segundos. Estar tão perto dela me provoca uma nova sensação que não consigo explicar. Sinto o coração acelerar e a respiração ficar afetada, mas não é de um jeito r**m como acontece quando estou prestes a ter uma crise. Percebo que o mesmo parece acontecer com ela e imagino que seja pelo susto da quase queda. _ Desculpa. – Digo a ajudando a sentar direito novamente. – Você está bem? Se machucou? _ Estou bem. – Fala ainda apoiando suas mãos sobre meus braços. – Não me machuquei. Ficamos um tempo nos olhando em um tipo de conversa silenciosa. Meus olhos descem até seus lábios delicadamente delineados com gloss claro. Sinto vontade de beijá-la para tentar descobrir a sua textura. Me aproximo um pouco mais de forma lenta para não a assustar, mas o som de alguém se aproximando a faz se afastar e levantar rapidamente quebrando o clima. _ Melhor a gente entrar. – Diz cruzando os braços. _ Certo. – Levanto colocando as mãos nos bolsos da jaqueta. Ela segue na frente em passos apressados. Claramente está fugindo de mim e do momento que vivemos a pouco. Em outras ocasiões teríamos nos beijado e ainda estaríamos nos beijando nesse exato momento. Depois entraríamos para dançar e continuaríamos nos beijando e no final da festa talvez trocássemos o telefone. Mas preciso lembrar que com Mia é diferente. Primeiro porque ela é filha do meu tio e segundo porque acho que estou começando a sentir algo por ela. Assim que entramos os pais de Izzy, que até o momento m*l haviam aparecido na festa, chamam todos para cantar os parabéns. Encontramos com Dylan e Jane quando estamos a caminho da mesa temática. Noto os dois um pouco esquisitos, mas não dá para perguntar o que houve com eles agora. Cantamos os parabéns em um coral nada afinado. Izzy faz um pequeno discurso de agradecimento aos pais e a todos os convidados antes de entregar o primeiro pedaço para o pai, que fica emocionado. Ficamos mais um tempo interagindo com os colegas da escola antes do primeiro convidado deixar a festa e seguirmos logo depois dele. A logística do carro é diferente na volta para casa. Jane pede para ir junto com Mia no banco de trás e acabo indo no banco do carona com um Dylan calado. O que me dá a certeza de que algo realmente aconteceu quando estava lá fora com Mia. A viagem só não é silenciosa porque o rádio está ligado. Quando estacionamos em casa as garotas deixam o carro apressadas como se estivessem fugindo. Mia, eu até entendo que esteja agindo dessa maneira. Mas é estranho que a Jane esteja agindo assim também. _ O que rolou com a Jane? – Pergunto quando saímos do carro e caminhamos para casa. _ Como assim? – Responde com outra pergunta. _ Vocês estavam estranhos. – Pontuo ao fechar a porta de casa com cuidado para não acordar meus pais ou Oli. _ Estranhos? – Novamente responde com uma pergunta o que me faz ter certeza de que alguma coisa aconteceu na festa durante o tempo em que fiquei com Mia perto da piscina. – Impressão sua. – Desconversa alterando um pouco a voz num claro sinal de que está mentindo. _ Sério que vai mentir para o seu melhor amigo? _ Chantagem emocional. – Fala em tom baixo enquanto subimos as escadas e pegamos o corredor para irmos para o quarto. – Você joga muito baixo. _ Apenas uso as armas que tenho. – Devolvo no mesmo tom dando de ombros ao entrar no quarto. – Agora fala. O que rolou? Ele atira a jaqueta sobre a cadeira da minha escrivaninha e senta na cama ao mesmo tempo que resmunga algo que não entendo. _ O que disse? Não entendi nada. _ Disse que Jane e eu nos beijamos. _ Quê?! – Exclamo. _ Não grita. – Ele pede levantando apressado para fechar a porta que ainda estava entreaberta. – Vai acordar a casa toda desse jeito. _ Foi o impacto da notícia. – Falo digerindo o que acabo de ouvir. – Não sabia que rolava alguma coisa entre você e a Jane. Estão sempre se implicando. _ Eu também não sabia que rolava até ver ela toda arrumada hoje na festa e perceber os caras olhando e tentando se aproximar dela depois de desbancarmos todas as duplas no pebolim. – Fala com um ar confuso que chega a ser engraçado. _ O beijo foi bom? – Pergunto sentando ao seu lado. _ Acho que foi o melhor da minha vida. – Confessa e depois se joga para trás com as mãos no rosto. – Não acredito que beijei a Jane. _ Pelo menos você beijou alguém na festa. Eu fiquei no quase beijo com a Mia. _ Por que quase beijo? – Pergunta voltando a sentar. – Ela não quis? _ Não. Alguém chegou e quebrou o clima. – Conto com um suspiro de pesar. _ Mas acha que se não tivesse aparecido ninguém rolaria? _ Não sei dizer. – Conto coçando a nuca. – A Mia é diferente das outras garotas em muitos aspectos. _ Como chegaram ao quase beijo? – Segue com seu interrogatório. _ Depois de perder no pebolim fomos tomar um ar e fugir um pouco do barulho. Começamos a conversar ao lado da piscina, ela quase caiu da espreguiçadeira, eu a segurei e ficamos bem próximos. Só que quando tomei a iniciativa de beijá-la ouvimos um barulho, nos afastamos e voltamos para a festa. – Resumo para ele. – E você e a Jane. Como chegaram no beijo? _ Quando ganhamos da última dupla o carinha que perdeu queria levar a Jane para dançar. Saí senti um negócio esquisito e sei lá. Inventei que tínhamos que encontrar com vocês perto da entrada. Quando chegamos não tinha ninguém. Ela começou a brigar comigo irritada porque eu tinha mentido e foi no meio de toda essa confusão que decidi beijá-la. _ O que ela fez quando se afastaram? _ Estava na hora dos parabéns e ela não fez nada. Mas começou a me evitar. Estou com medo de que isso tenha acabado com a nossa amizade. _ Relaxa. – Digo apoiando a mão no seu ombro. – Ela também deve estar confusa. Deixa as coisas acalmarem e vai ver que tudo vai ficar bem. _ Assim espero. _ Vem. Vamos arrumar a sua cama para podermos dormir. Deixamos o assunto garotas de lado por um tempo e nos concentramos em arrumar o lugar onde ele vai passar a noite. Troco de roupa e empresto uma roupa minha para que também ele se troque. Quando apagamos as luzes e nos deitamos em silêncio meus pensamentos são dominados pelas lembranças do meu tempo com Mia essa noite e as seguintes perguntas rondam minha mente, O que ela estará fazendo agora? Será que também contou a Jane sobre o que quase nos aconteceu?
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD