Cap2

1658 Words
Com o passar dos anos eu meio que deixei de ser tão dependente dos Clarck e eles entendiam meu pensamento, continuei frequentando a casa deles como se realmente fosse a minha, apenas aos domingos eu ia para casa, apesar de tudo meu pai se sentia obrigado a ir comigo para a igreja e almoçar na lanchonete do velho Joe comigo, ele nunca mais havia me batido ou me agredido verbalmente, ele havia passado m*l uns meses atrás por causa do álcool, então ele entrou para a reabilitação e ficou menos agressivo, ele continua distante e frio, ele nunca conversa comigo durante o almoço, ele sempre faz o mesmo pedido desde a morte da minha mãe, e pra mim ele sempre pede a mesma sobremesa, ele nunca me olha nos olhos, nem pergunta os gastos que eu tenho na casa dos Clarck, na verdade eu acho que ele dá algum dinheiro para o pai do James, todo final de mês eu os vejo conversar de manhã e ele sempre entrega um envelope, eu não sei no que se passa na cabeça dele, e na verdade eu prefiro nem saber, assim como falamos brincadeira quando dizemos uma verdade muito dura o álcool aumenta o que realmente sentimos. -Sinto falta dela....- Falo baixo ao olhar para uma pequena assinatura perto dos guardanapos escrito "Eva e Ethan 1998", meu pai tirou os olhos do prato e olhou para onde meus dedos passavam -Era a hora dela...- ele fala e eu o olho mas logo sua face fica rígida -Não quero importunar você, mas eu preciso de dinheiro....pra materiais pra escola...eu acho que uso muito da boa vontade dos Clarck -Eu já os ajudo com seus gastos, não posso dar mais, se quiser dinheiro trabalhe...- ele limpa a boca e chama a garçonete- Linda um pedaço de torta de maça com sorvete de creme ...- ele tira da carteira o valor da refeição e toma um gole de seu suco- Coma, eu tenho que sair...- ele se levanta e sai rapidamente me deixando sozinha na lanchonete Linda vem recolher os restos na mesa e percebo que ela repara em meu rosto, aquela rejeição que meu pai tinha comigo me machucava tanto, as lágrimas eram inevitáveis, e eu me lembrei do porque nunca conversarmos, porque isso acontecia, ele me deixava sozinha.... -Lucy...- Linda me serve um pedaço de torta de limão- eu sei que detesta torta de maça... -era a favorita da minha mãe, acho que ele se confundiu e acha que eu gosto dessa, mas nunca tive coragem para corrigi-lo... -Eu escutei a conversa, me desculpe por isso, mas se quiser estamos precisando de uma balconista...e eu acho que você se daria bem...não paga muito, mas acho que seria bom pra você... -eu preciso de um emprego...eu aceito sem pensar duas vezes- me levanto e abraço Linda- obrigada... -Imagina querida... Na escola eu e James continuávamos inseparáveis, Jamie havia se formado e ido para a Faculdade, sentia muita a falta dela, mas sem ela eu consegui me socializar mais, não tinha amigas, mas eu era respeitada, era uma das melhores alunas da aula de defesa pessoal, nenhum outro menino havia feito o que o Jonny havia feito comigo há 4 anos, eu continuava calada e ninguém mexia comigo, e era isso que eu queria, paz e invisibilidade. Tia Ann não gostou da ideia de eu trabalhar na lanchonete mesmo que não afetasse meu desempenho na escola, mas mesmo meu pai fornecendo uma suposta quantidade de dinheiro para suprir meus gastos eu precisava de coisas que eu não queria ficar pedindo toda hora, as minhas roupas eram quase todas da Jamie que sempre me dava coisas seminovas, eu não me importava, era como se minha irmã estivesse me dando aquilo. Com o passar os anos eu vi mudanças no meu corpo, eu não era mais aquela menina tão magra de r**o de cavalo, meus cabelos ficaram mais escuros quase pretos, e eu gostava deles longos, nunca mais os prendi além das aulas de defesa pessoal, meu padrão de roupas sempre foi jeans, camisa preta ou moletom preto simples e all star, maquiagem não era comigo, mas eu era muito branca e com facilidade meus lábios e bochechas ficavam vermelhas então eu já era maquiada naturalmente. Com o passar dos meses eu comecei a gostar de trabalhar na lanchonete, mesmo não gostando de contato enquanto eu estava lá eu podia ser outra pessoa, eu não era a Lúcia esquisitona da escola, ou a Lucy que precisava de p******o dos Clarck, ou a Ana Lúcia ....essa junção de nomes eu nem reconhecia mais, meus pais me chamavam assim antes da minha mãe morrer, eu nem sabia quem eu era para ser sincera, era como se tudo que era pertencesse a outra pessoa. -Boa tarde...- uma moça me chama ao se aproximar do balcão e me tira do transe  -Boa tarde, bem vinda ao Big Joe, sou a Ana, como posso te ajudar? - eu quero dois milk-shakes um de morango e o outro de chocolate, uma porção de fritas e dois hambúrgueres -ok, deu $25- a menina entrega o dinheiro e vai em direção a mesa -Ana leva o lanche deles pra mim?- Linda pede  -Claro, o movimento está baixo hoje...- enquanto esperava o lanche ficar pronto eu preparei os milk- shakes e levei para a mesa onde a moça estava sozinha- aqui está ...-coloco na mesa -Ok pode sair...Amor...- ela se levanta e vai em direção a um cara, ele estava vestindo uma jaqueta de couro e tinha os cabelos bem negros e a pele bem branca -oi gatinha pediu o lanche? O faminto...- quando ele vai se sentar ele se esbarra em mim- opa desculpa....- eu olho diretamente para seus olhos que eram de um azul intenso e ele sorri -Erro meu...bom apetite...- voltei rapidamente para o caixa e fiquei pensando naquilo, eu sentia como se já tivesse visto aqueles olhos em algum lugar, mas aonde? O final do expediente foi tranquilo, James foi me buscar e fomos andando até em casa, nos sentamos em frente ao quintal da minha casa e olhamos o céu estrelado -As vezes eu queria desaparecer sabia?- solto e ele me encara - Se você desaparecer meu mundo não seria o mesmo, eu não seria feliz sem você Lucy...- James pega em minha mão e eu sinto um frio em minha barriga -Você ficaria m*l por uns dias, não teria ninguém para separar suas balas de goma e brincar com os MeM, mas você ficaria bem, encontraria uma menina bem linda que gostasse de star wars e greys anatomy, e seria feliz com ela, talvez você não me esquecesse e colocasse o nome de uma das suas filhas de Lucy, mas você e sua família viveriam...isso bastaria  -A morte nunca é uma solução... -Eu não me encaixo nesse mundo, eu não me encaixo em nada...eu me sinto perdida, como se nem do meu nome eu fosse dona....eu sonhei com uma mulher...ela me chamava de Ana...minha Ana...e cantava uma música -Seu nome é Ana....não tem nada de errado -Não Jay...ela não me chamava de Ana Lúcia, ou Ana de Ana Lúcia, era como fosse um universo alternativo em que meu nome era outro mas não Ana Lúcia....não me ache maluca  -eu sempre achei - ele ri e me encara, nossos rostos estavam poucos centímetros de distancia e ele se aproximou mais- Lucy...eu- ele paga de me encarar e olha para minha boca, acho que foi a primeira vez que senti borboletas no estomago, quando nossos lábios estavam quase se tocando escutamos Tia Ann gritar -Jantaar crianças, não demorem...- James levantou depressa e esticou as mãos para me ajudar a levantar, eu parei em sua frente e sorri -Eu também...- dei um selinho rápido nele o fazendo ficar vermelho- vou buscar umas coisas na minha casa, já vou jantar...-o vejo entrar devagar em casa e eu entro na minha Precisava buscar algumas roupas de frio no meu quarto e para minha surpresa todas as coisas da minha mãe estavam lá, peguei uma blusa de gola dela e afundei meu rosto nele -Saudades mãe...- pego algumas jaquetas dela e minha e ponho numa bolsa, quando eu estava saindo eu escuto meu pai gritando no telefone e me escondo atrás do sofá -Lorenzo ME DEIXA EM PAZ...O SEU ACORDO FOI COM A EVA NÃO COMIGO, EU NÃO LIGO OK? QUANDO FOR A HORA PODE LEVA-LA, Ela não é minha filha mesmo...Eu não tenho culpa das escolhas dos seus filhos.....tá que seja, eu não me importo, só me de a minha parte do acordo. - ele desliga e eu fico em silêncio até ele entrar no banheiro e se trancar, eu abro a porta em silêncio e saio correndo para casa dos Clarck o mais rápido possível, eu fechei a porta da sala e as lágrimas saíram descontroladamente   -Querida o que aconteceu?- Tia Ann se aproxima de mim com Jade em seu colo -Lucy....- James e tio Andrew se aproximam - o que aconteceu? -Eu fui até a minha casa buscar umas blusas de frio....e escutei meu pai no telefone....eu me escondi...e escutei coisas que não devia..... -O que ele falou?- Tia Ann se abaixa -Eu não sou filha dele....- não queria assusta-los com a outra parte da conversa que eu escutei, quem era esse tal de Lorenzo? e porque eu sinto como se já tivesse escutado esse nome? Que acordo é esse? Acordo que ele fez com a minha mãe? Minha mãe me vendeu...? O que está acontecendo? eu preciso descobrir...quando for a hora ele vai vir me buscar....então eu preciso me preparar para qualquer momento fugir daqui, se ele não se importa isso não deve ser coisa boa, ele nunca se importou, porque se importaria agora? tudo fazia muito sentido...o desprezo, o ódio...talvez minha mãe tivesse contado a verdade quando ela ainda estava internada, eu lembro do jeito que ele bateu a porta horas antes dela falecer, eu preciso resolver isso....talvez fugir...   
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