Capítulo 3

1837 Words
- CPF na nota? – Eu pergunto assim que o cliente para na frente do meu caixa. - Não. – Ele n**a, enquanto começa a colocar as suas compras na esteira. - O senhor é cliente cadastrado? – Pergunto novamente. - Sou. – O homem me responde, então eu mecho no caixa para poder liberar algumas funções. - Por favor, coloque digite o seu CPF, para que o senhor possa ter desconto nos nossos produtos. – Informo colocando a maquininha ao seu alcance. - Agatha, assim que você terminar de passar a compra do senhor, por favor feche o seu caixa. – A minha chefe me pede. - Tudo bem. – Concordo, e coloco a maquininha de volta no lugar, para em seguida começar a passar os produtos. Enquanto estou passando as coisas, dou uma rápida olhada no meu relógio de pulso, e vejo que falta trinta minutos para o meu horário de almoço, mas parece que hoje almoçarei mais cedo, já que o mercado está com pouco movimento. - A compra deu duzentos e dois reais, qual será a forma de pagamento? – Pergunto para o homem. - Cartão de débito. – Ele me responde, e do bolsa da sua calça, ele tira o cartão do banco. - OK. – Eu pego o cartão do dele, e passo na maquininha, para em seguida estender o aparelho na sua direção. – Por gentileza, pode colocar a senha. Assim que o homem digita, eu espero ser aprovado, para em seguida pegar uma nota e colocar no caixa, e depois pegar a segunda nota e pegar a nota da sua compra, e entrego tudo para ele junto com o cartão. - Obrigada por comprar com a gente, tenha uma boa tarde. – Falo educadamente. - Obrigado, e tenha uma boa tarde. – Ele me devolve a educação, uma coisa que é bem difícil de se encontrar hoje em dia, e quando ele sai, eu começo a fechar o meu caixa. E quando termino, faço o mesmo de sempre, pego a minha garrafa de água e a minha bolsinha, mas quando estou indo na direção da sala dos armários, sou impedida pela minha chefe. - Você está sendo chamada no RH. – Ela me informa, e por impulso, os meus olhos vão até o final da loja, onde fica a sala do RH. - Você sabe o que eles querem comigo? – Eu a pergunto, mas como resposta, ela simplesmente n**a com a cabeça. – Tudo bem, eu irei lá. Dando meia volta, eu sigo na direção do corredor que que me leva até o fundo do mercado, e ao chegar lá subo algumas escadinhas, que acaba me levando para a única sala daquele andar, e assim que paro de frente para a porta, eu dou duas batidinhas na mesma. - Pode entrar. – A voz da mulher que trabalha ali, manda. - Boa tarde. – Falo abrindo a porta, e me deparando com Larissa que trabalha no RH, e o Júlio que é o gerente da loja. - Boa tarde, sentasse por favor. – Larissa me indica cadeira de frente para a sua mesa, e prontamente eu me sento. - Boa tarde. – Júlio me cumprimenta de volta, assim que me sento na cadeira ao seu lado. - Por que eu estou aqui? – Pergunto já querendo ir direto ao assunto, pois não quero perder o meu horário de almoço aqui dentro. - Bom, você já deve saber que estamos fazendo alguns ajustes no mercado, e em alguns setores estão passando algumas mudanças e por alguns cortes. – Júlio começa a falar, e eu já me encontro com um pressentimento r**m. – Eu sei que você está fazendo um ótimo trabalho aqui, mas infelizmente você terá que ser desligada do mercado. Desligada? Isso não é o que eu acho que é, é? - Eu estou sendo demitida? – Eu pergunto após passar alguns minutos quieta. - Infelizmente teremos que demitir. – Larissa concorda. – Mas você vai receber todos os seus direitos pelos anos trabalhados aqui, assim como tudo que você vai precisar para dar entrada no seu seguro desemprego. "Será que ela está tentando me consolar? Pois se está, ela com toda certeza está fazendo errado. Eu vou pegar seis messes de seguro desemprego, e depois disso se eu não conseguir um trabalho, me ferrei bonito." - Eu não sei nem o que dizer. – Digo me sentindo anestesiada. – Tem alguma coisa que eu possa fazer, para inverter essa decisão? - Infelizmente não. – Júlio que me responde desta vez. - Esses são os papeis que você deve assinar. – Larissa coloca na minha frente alguns papeis iguais a de contratos, e me estende uma caneta. Eu poderia gritar, jogar essa mesa no chão, manda todo mundo para o inferno, eu poderia surtar legal, mas isso não vai mudar a decisão deles, então tudo o que eu posso fazer no momento é pegar a caneta da mão dela e assinar as folhas, mais obviamente eu fiz questão de ler linha por linha, pois eu quero tudo o que eu tenho por direito, por todos os anos que eu passei neste inferno disfarçado de mercado. - Pode passar na sala é pegar as suas coisas. – Larissa me dá um pequeno sorriso de lado. – Foi um prazer trabalhar com você. - Faço as palavras da Larissa as minhas, foi um prazer trabalhar com você. – Diz Júlio acenando com a cabeça na minha direção. - Igualmente. – Eu digo de volta, enquanto me levanto, e sigo na direção da porta, e como não sou obrigada a dizer tchau, eu saio sem olhar para trás. – Igualmente, foi um prazer trabalhar comigo mesma, neste lugar. Nunca irei dizer que foi um prazer trabalhar com todos que trabalha aqui, uns e outros até vou sentir falta, mas a grande maioria, vou fazer questão de esquecer que existe. Deste lugar tudo o que eu quero no momento, é o que é meu por direito. Faço o meu caminho com passos rápidos na direção da sala dos armários, e ao chegar de frente para o meu, eu o abro e em seguida pego a minha bolsa, e sem mesmo analisar o que tem ali dentro, eu começo a jogar todas as minhas coisas dentro da bolsa, e quando eu chegar em casa vejo se alguma coisa ali, vai ser útil para mim, pois no momento tudo que eu quero é sair daqui. Quando tudo já se encontra guardado, eu simplesmente fecho a porta do armário, e nem faço questão de fechar o cadeado, e só por birra, eu levo a chave comigo. "Aqui é um mercado popular, com toda certeza até amanhã eles terão um cadeado melhor aqui." Assim que eu chego na área onde estão os caixas, a minha chefe é a primeira a parar na minha frente. "Obviamente ela sabia sobre a minha demissão desde o início, e não teve a coragem de me falar, para que eu pudesse me preparar pelo menos um pouco." - Eu sinto muito Agatha. – Ela fala pegando a minha mão vazia. - Eu também. – Eu falo abrindo um pequeno sorriso, mesmo isso não sendo o que eu realmente quero fazer. - Você é nova. – Ela diz sorrindo de volta para mim. – Você vai conseguir um trabalho rapidinho. Não sei se ela está dizendo isso para que eu possa me sentir melhor, ou se é para ela se sentir melhor, mas isso não é verdade. Muitas empresas estão optando por contratar pessoas que já tenha filhos, do que pessoas que não tem, na mente dessas pessoas que dirige essas empresas, acredita que quem tem filho, vai dar mais valor para o trabalho, do que nós jovens. - Claro. – Digo somente isso, e olho para o relógio no meu pulso. – Deixa-me me despedir das outras meninas, porque não posso demorar muito aqui, se não irei perder o meu ônibus. - Certo, vai lá. – Ela me puxa para um rápido abraço. – Venha nos visitar. - Pode deixar. – Concordo balançando a cabeça, e logo em seguida passando por ela. "Pode deixar, que eu nunca mais coloco os meus pés aqui." – Termino a frase mentalmente. Após ter me despedido de todos, eu saio da loja sem olhar para trás, e sigo na direção do ponto de ônibus, e me sento no banco enquanto o meu não chega. Mesmo estando com raiva, eu ainda me sinto bastante preocupada, pois com o dinheiro que irei receber pelos anos trabalhados aqui, será o equivalente a três anos, e ainda vou ter seis parcelas do seguro desemprego, mas depois eu faço o que da minha vida, se eu não conseguir um trabalho? Eu sei que a minha mãe vai conseguir manter a casa sozinha como ela sempre fez, e se reduzirmos os nossos gastos, as coisas podem ficar ainda mais fácil, mas eu não quero isso, eu quero tirar esse peso das costas dela, não colocar mais. As chances de conseguir uma casa própria agora, foi completamente aniquilada. Quando vejo o meu ônibus se aproximando, eu me levanto rapidamente, e dou sinal, e assim que o motorista para, eu subo no veículo, passo pela catraca e sigo para o lugar vago no fundo. Vai ser uma hora daqui até em casa, então não tem problema sentar no fundo. Quando tiro o meu celular de dentro da minha bolsa, vejo que tem uma mensagem do banco. "Evite o cancelamento do seu cartão de credito, parcele a sua dívida em até 12x" – Mais dividas, suspiro saindo da mensagem. Assim que volto para a tela inicial, vejo a foto usada no papel de parede e acabo suspirando. Na foto está a minha mãe, a minha irmã, eu e a Clara, na praia, onde passamos o ano novo. Minha mãe e a minha irmã são as minhas maiores preocupações, agora que sou uma mulher desempregada, e a Clara pode ser a minha solução, ou o meu maior problema. Rapidamente ligo para o número da minha operado, e sem me dar tempo de pensar no que estou fazendo, eu pego credito emprestado, e assim que cai, eu ligo para Clara. - Agatha, oi. – Ela atende no terceiro chamada. - Aquele trabalho, ainda se encontra de pé? – A pergunto indo direto ao assunto. - Sim, você decidiu ir? – Ela me pergunta. - Sim, eu vou trabalhar lá por um tempo, e quando tiver dinheiro o suficiente, eu vou volta para o Brasil. – Falo decidida. - Isso é ótimo. – Posso ouvir a empolgação na sua voz. – Eu vou avisar que você irá junto comigo, e vou hoje à noite na sua casa, para que possamos conversar. - Tudo bem, então até mais tarde. – Falo querendo encerrar a ligação. - Até mais tarde. – Após finalizar a ligação, eu coloco o celular novamente dentro da bolsa, e olho a rua pela janela do ônibus. Está feito, não tem mais como voltar atrás.
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