Capítulo 7

1455 Words
Papai, Desculpe-me por ter mentido para o senhor, mas foi necessário. Quero trazer cores e alegria ao nosso planeta novamente. Então, estou indo procurar a princesa. Não se preocupe comigo, pois como o senhor mesmo diz sou seu bravo guerreiro. Portanto, ficarei bem. Volto logo! Seu bravo guerreiro, Luno. (Trecho do livro Pequeno guerreiro da Lua, grande valente na Terra, de Antonella Bella Valentini). ∞∞∞ Aos poucos minha casa foi desfazendo-se na vista da janela da carruagem. As cinco pessoas mais importantes da minha vida estavam no gramado acenando um adeus conforme nos distanciávamos. Vi minha mãe chorando enquanto Luigi a abraçava e Luca escondia o rosto em sua saia. Ana já tinha saído correndo para dentro de casa e Filomena fora atrás dela. Até aquele momento eu não tinha percebido o quanto eu estava deixando para trás. Minha casa, minha vida, meus amigos e o mais importante: minha família. Eu estava pronta para saltar e voltar pra dentro de casa, mas não fiz isso, pois minha família acreditava em mim. As palavras de minha mãe ainda ecoavam em minha mente: "Ella, quando as coisas ficarem difíceis, e vão ficar, lembre-se do por que do início, o que te fez estar ali. E tudo ficará bem!". Eles acreditavam no meu potencial, assim como meu pai, quando eu mesma duvidei. Não podia deixá-los na mão, precisava ficar firme por eles. Antes de virarmos a esquina vi Luca se soltando das saias de mamãe, correndo em nossa direção, tentando alcançar a carruagem. Ele estava com o queixo trêmulo e os olhos caídos se derretendo em lágrimas. Seu peito descia e subia conforme acompanhava seus rápidos passos. Aquela cena estava me torturando por dentro. Senti-me como se parte de mim tivesse ficado para trás e o que sobrou fossem apenas fragmentos, nunca uma peça completa. Eu estava despedaçada. As gotas que escorriam sobre o meu rosto eram como as águas de um riacho. Lentamente, quente e constante. Romeu me abraçou deixando que eu extravasasse sobre seu ombro. Era o que eu precisava naquele momento, quando meu pulmão já não realizava sua função e meu coração partia-se um pouco mais a cada batida. Um novo capítulo da minha vida estava sendo escrito, e com ele suas surpresas, frustrações e alegrias. Novas experiências e obstáculos. E, mesmo que eu falhasse e caísse me levantaria mil vezes se fosse preciso por aqueles que estavam lutando por mim. Pelas cinco pessoas no gramado esverdeado e ainda por aquele que não estava entre nós: meu pai. ... Algumas horas depois a vista da janela parou. Despertei com o rosto marcado e o cabelo desalinhado por ter adormecido no ombro de Romeu. Tínhamos acabado de chegar à estação de trem. Era como um enorme casarão com pessoas entrando e saindo, muitas malas e cargas. Na placa estava escrito Estação Ferroviária do Norte. Quando entramos no grande salão, Romeu me deixou cuidando de nossas bagagens e foi comprar as passagens. Enquanto o esperava senti como se estivesse sendo observada. Olhei ao redor e só notei a grande aglomeração. O engraçado é que mesmo com tantas pessoas por perto eu nunca havia me sentido tão sozinha, mas a sensação de estar sendo observada ainda permanecia. Então eu notei. Um homem alto estava me encarando. Ele tinha um ar de mistério que se acentuava por usar um chapéu que restringia parte de sua vista. Meus olhos se arregalaram ao perceber que o homem em questão começara a andar em minha direção. Seus passos tornaram-se cada vez mais rápidos. "Socorro" gritava internamente, enquanto minha mão buscava no bolso do vestido o canivete de Luigi. "Eu precisava ouvi-lo mais!". Olhava ao redor girando várias vezes a cabeça procurando alguma forma de escape caso eu precisasse fugir. Porém, por alguma intervenção milagrosa, Romeu chegou, fazendo com que o maluco perseguidor mudasse de percurso, mas não de me fitar. "Era só o que me faltava!" pensava. - O que foi Srta. Ella? - perguntou Romeu. - Hã? - pisquei tentando parar de encarar o louco e focalizar em Romeu - Não é nada, só estava distraída– expliquei - Mas o que o senhor estava dizendo? - Estava lhe dizendo que não foi possível comprar os assentos duplos, sendo assim infelizmente não ficaremos lado a lado - respondeu com um ar de desapontamento - Mas não se preocupe, consegui dois assentos que são separados apenas pelo corredor do vagão. - declarou um pouco mais satisfeito. - Então ficaremos próximos de qualquer maneira, ao menos isso já é bom! - constatei. - Atenção senhores passageiros! - gritou o guarda da estação - O trem das 16h30 está aberto para o embarque! - ele m*l terminara e uma fila extensa já havia se formado na entrada do vagão. Eu entrei enquanto Romeu guardava as malas. Após enfrentar a fila, eu entreguei a passagem ao guarda e segui para dentro do vagão procurando meu assento. A maioria dos passageiros já havia sido acomodada, e o corredor estava mais limpo para circular. "A12, A14, A16, A18" contava na esperança que o assento B11 chegasse logo. Paralisei quando notei no fim do corredor o homem misterioso novamente em minha direção. Oh céus! Não era possível que aquele infeliz tivesse escolhido justamente aquele dia para me perseguir. Qual era o problema dele afinal? Havia milhares de pessoas ali, homens e mulheres de todas as formas e, no entanto, ele cismara justamente comigo. Eu nem estava usando cores fortes, muito menos vestidos extravagantes, pelo contrário, estava pálida e desalinhada. Pensando bem talvez fosse por isso que ele não parava de me encarar, talvez para me advertir quanto a minha aparência. O que eu deveria realmente concordar, pois era algo pouco convidativo e nada atraente. Mas se não fosse isso, então o que seria? Uma tentativa de sequestro? Conforme ele se aproximava pude ver seus traços, caso eu precisasse descrever à polícia, é claro. Ele tinha os cabelos pretos perfeitamente penteado para trás com alguns fios rebeldes sobre a testa. Além disso, o indivíduo tinha olhos de obsidiana, eram escuros e reluziam como um diamante n***o. Nesse momento eu já estava internalizando muitos impropérios que não deveriam nem ser do conhecimento de uma senhorita. Segui quase correndo ao meu lugar e ele pareceu ter a mesma ação, até que paramos frente a frente no corredor ao lado dos assentos. - Algum problema senhor? - ríspida - Não senhorita - disse ele com um ar de divertimento, colocando as mãos sobre o quadril. - O senhor poderia fazer o favor de parar de me seguir ou encarar? - perguntei direta, e aquilo tinha sido o mais próximo de educação que eu havia formulado. - Eu não estou a seguindo. Apenas procurando meu lugar. A senhorita é que está me encarando fazendo perguntas pouco elegantes para uma bela dama. - disse ele parecendo se divertir ainda mais com a minha situação. - Primeiramente senhor, esse é o meu assento. E segundo, que não cabe ao senhor julgar o que uma dama deve dizer. - disse entre os dentes. Ele olhou para o lado ainda com aquela neblina de "tanto faz". - Bom, pode ficar com a janela se quiser, porque um destes bancos também é o meu assento - agora ele estava ainda mais sarcástico. - Bem… Se tenho que ter o "prazer" de sua companhia durante todo o percurso, então prefiro ficar com o assento do corredor, assim eu tenho como correr caso precise. - declarei já me sentando. - Ótimo! Acho que foi a melhor escolha. - passou alguns minutos em silêncio e prosseguiu. - Desculpe, mas qual é o seu nome? "Ele estava mesmo achando aquela situação constrangedora engraçada? Era só o que me faltava ter que aturar um louco." - Prefiro não dizer. Ele deu de ombros. - Tudo bem! Uma hora eu vou descobrir, com a senhorita me contando ou não - constatou satisfeito, com duas covinhas fincadas na bochecha. - Que diferença faz saber o meu nome? Por acaso é para que o senhor possa me perseguir quando tivermos chegado? - Não sei… - cruzou os braços, pensativo. - a senhorita gostaria que eu fizesse isso? Por que eu certamente gostaria! “Ele só podia estar brincando, eu m*l o conhecia e ele estava me tratando como sua igual. Céus, ele era insano mesmo.” O indivíduo irritante ao meu lado parou de falar quando Romeu chegou sentando-se na fileira da direita, onde só um corredor nos separava. Depois disso meu vizinho voltara a sua atenção a uma caderneta, onde ficara escrevendo sem parada. ”Melhor assim”- pensei. Se tivesse que suportar um libertino por sabe-se lá quanto tempo levaria aquela viagem, pelo menos estaria próxima de alguém que eu conhecia.
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