Capítulo 18

1123 Words
Era realmente um ambiente muito acolhedor, as exóticas flores multicoloridas se destacavam em meio às rosas vermelhas. Aquilo carregava o ar com um aroma tão delicado que por vários momentos enquanto esperava por Tomás me peguei pensando em ler algo. Era o ambiente perfeito para leituras acompanhadas por uma bela xícara de chá. Eu tinha que voltar aquele lugar mais vezes, porque era, sobretudo, um ótimo lugar para se acalmar. -Demorei muito? - perguntou Tomás segurando um papel estranho nas mãos. -Não, nem um pouco- declarei o observando ele se sentar. -Ótimo! Veja só isso. - e me estendeu a pequena folha sobre as mãos. Na hora que meus olhos encararam aquilo já me dei conta do que era. Uma fotografia; Uma das coisas que eu sempre quis saber como funcionava. Meus pais tinham apenas uma fotografia da nossa família que fora tirada quando Luca nasceu. Mas aquilo que eu estava segurando retratava uma paisagem. O que era bem difícil de ver, visto que as fotografias eram mais para datas comemorativas como casamentos e mesmo assim não era sempre que se via. - Oh Mio! - exclamei ao ver aquela vista. Não era como quadros, que o observador necessitava da vista do pintor. Aquilo era algo totalmente real, capturada em uma hora exata, de um dia exato e que podia se ver quando quisesse. Como uma lembrança totalmente conservada. - O que acha? - perguntou entusiasmado. - Impressionante! Na fotografia havia uma rua estreita com prédios envoltos por janelas abertas. Alguns pedestres e ciclistas passavam por ela. Muitas lojinhas e vitrines contornavam as calçadas e m*l se podia ver o céu pela proximidade dos prédios. Era uma das vistas mais lindas que eu já havia visto. - Eu já vi algumas fotografias, mas esta é absolutamente incrível. É tão espontânea que nenhum pintor conseguiria retratar. Quase dá pra ver o ciclista segundos antes de parar. Ou a mulher que está prestes a esbarrar em um homem. - É por isso que eu sempre carrego comigo. - disse ele. - Como a conseguiu? - perguntei. - Eu mesmo capturei esta imagem! - ao ver minha indignação ele prosseguiu. - Foi tirada no mesmo momento que eu obtive minha câmera fotográfica. - Está falando sério? Mas como? As câmeras que eu já havia visto eram impossíveis de não notar, caso alguém resolvesse capturar uma imagem da rua. Certamente os pedestres veriam e seus olhares seriam direcionados a ela. Além disso, pelo ângulo da imagem, podia-se ver que a calçada não era plana. Então posicionar o suporte ali não seria seguro. - Bom… Esta câmera em especial é bem pequena, algo totalmente diferente do que eu já vira antes. É muito fácil de transportar e muito leve. Fiquei tão entusiasmado em ver o que aquela peculiaridade era capaz de fazer que m*l esperei sair da loja e já capturei minha primeira fotografia. - seu sorriso demonstrava total satisfação. - Posso imaginar! Eu mesma não seria capaz nem de sair da loja caso visse algo assim. - declarei ainda observando a imagem, como se estivesse no mesmo momento que fora tirado. - A senhorita ainda verá. Assim que tiver uma oportunidade te ensinarei a manusear a câmera e poderá usá-la, se quiser é claro! - comentou. - Está brincando? Eu sempre quis ver como isso funciona. - disse quase explodindo de ansiedade. - A senhorita verá! É muito fácil de manuseá-la, o único empecilho seria para revelar as imagens. Isso demora algumas horas, mas vale a pena. - concluiu entrelaçando os braços como sempre fazia quando estava satisfeito. - E onde o senhor estava? - questionei. - Em Paris. É por isso que gostei tanto de conhecer a França. Talvez nem fosse pelas belas paisagens, mas sim pelos momentos que aquele lugar me trouxe. - concluiu. E depois de alguns segundos se aproximou e apontou para a imagem na minha palma. - Está vendo esta cafeteria? -perguntou apontando para uma loja com mesas e bancos pequenos na calçada. Eu assenti. - Não tinha nenhuma classe ou nobreza. Na verdade era totalmente rústico. E isso era o que deixava o ambiente ainda mais belo e acolhedor. Além disso, aquele pequeno lugar possuía o melhor croissant que eu já provara. Eu passava lá todas as manhãs, lia um bom jornal e degustava do pequeno cardápio deles. Era uma sensação maravilhosa! - ele fez uma pausa e voltou os olhos para mim. - A senhorita teria apreciado. Provavelmente faria assim, - e juntou os dedos e balançou os punhos - muitas vezes. - concluiu. - Eu não tenho dúvidas! – respondi em diversão. Ficamos parados ali sem desemparelhar os olhos. Ele estava exalando felicidade, na verdade eu nunca o vira triste. E isso de alguma forma carregava o ambiente com a sua leveza. Ele começou a piscar e direcionou as órbitas para outro lugar. - Acho que agora quem deve ir sou eu! - declarou. - Hã… mas já. – pigarreei. - Quero dizer, é claro! - me recompus e voltei a encara-lo. - Obrigada por me mostrar sua fotografia. - disse lhe entregando. - Não, por favor! Fique com ela. -respondeu. - Eu não posso aceitar. - Pode sim! Já observei esta imagem por tanto tempo que se fecharem meus olhos consigo descrever exatamente cada detalhe. - disse ele com duas covinhas na bochecha. - Aposto que sim. O senhor tem uma memória excelente. -comentei. - Na verdade minha memória nem é tão boa assim. A sua provavelmente é quase uma relíquia bem conservada, pois a senhorita se lembra até dos cheiros e sabores. Eu apenas lembro-me dos fatos, pois escrevo tudo o que vejo ou acontece. - O senhor escreve tanto assim? - questionei. - Apenas o essencial. Alguns fatos que não devo me esquecer e outros que não devo “nunca” me esquecer. - declarou. - Por isso daquela caderneta no trem, não é? - indaguei. - Sim! - ele me fitou com mais intensidade ainda - Nem pense nisso! - repreendi. - Pensar em quê? - perguntou com ironia. - Nos acontecimentos do trem. - declarei. - Agora que a senhorita lembrou, é quase inevitável não pensar. - comentou com uma risada. Alguns minutos se passaram e continuamos nos encarando, enquanto minha garganta constantemente engolia em seco. - Ugrr. – pigarreou. - Acho melhor eu ir agora, senhorita. - ele se levantou e tirou o chapéu. - Boa – tossi - tarde, Sr. Marks! - Tenha uma ótima tarde, Srta. Bella. - e fez uma breve reverência antes de sair, com um sorriso atrevido pregado sobre os seus lábios. Quando menos percebi eu estava sorrindo, enquanto sonhava acordada encarando o jardim. “Oh não Ella! Lembre-se do plano, não deixe estas obsidianas te cegarem." Internalizei.
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