A minha vontade de trabalhar como diarista era zero, mas dada as circunstâncias eu não podia escolher. Minha mãe me levou até o apartamento da tal mulher e bateu na porta, me impressionei ao ver aquela mulher linda, loira e sorridente..
_Oi Débora_ minha mãe sorriu _ essa é a minha filha a que eu te disse que ia limpar no meu lugar.
_Claro_ disse simpática _ entrem.
Nos sentamos e a minha vontade era de sair dali e acabar com aquele absurdo, eu não estava ralando pra manter minha bolsa na faculdade pra no fim virar empregada eu podia mais que aquilo.
Eu não via m*l em ser doméstica, afinal foi dessa forma que minha mãe me criou, minha questão era que eu ralava muito para pagar as mensalidades da faculdade e todos os custos, queria poder ter uma vida melhor.
_Então Ana, acho que sua mãe já te disse que eu quase não fico em casa, então eu não vou te dar muito trabalho_ disse sorrindo jogando os cabelos loiros pra trás_ acho que duas vezes por semana já é o suficiente.
_Claro, está ótimo e não atrapalha minha faculdade_ falo tentando ser simpática
_Você faz faculdade?_ ela parecia muito surpresa_ isso é ótimo.
Ela parecia legal, mas a surpresa dela ao saber que eu fazia faculdade me incomodou um pouco, podia ser só uma implicância minha, afinal esse era o pensamento da maioria quando o assunto era negros que moravam em comunidades. As pessoas não sabem quantas pessoas talentosas e boas moram na comunidade por sua má fama, é assim desde que o mundo é mundo.
Depois da tal mulher me conhecer foi combinado que eu voltaria no dia seguinte pra trabalhar. Cheguei em casa me arrumei e fui pra faculdade eu não estava muito bem então decidi ficar no meu canto, por incrível que pareça nenhum dos meus amigos ligava pra assistir palestras, mas eu era bolsista então tudo que dava nota era jogo eu não podia correr o risco de perder a minha bolsa, de 50%, já era difícil pagar a metade, imagine a mensalidade inteira.
Eu me sentei no fundo da sala e enquanto a palestra não começava coloquei os fones de ouvido e fiquei pensando no que minha vida tinha se tornado, era deprimente, eu tinha sonhos e sequer tinha chegado perto deles.
_Ana?_ouço alguém me cutucar
Olho pro lado e quase dou um "treco" quando vejo a Cláudia parada na minha frente. A Cláudia era uma das amigas que o Cadu me apresentou, eu sequer acreditei que ela lembrava de mim.
_Oi_ falo com um sorriso amarelo
_Lembra de mim? Cláudia a amigo do...
_Claro que me lembro_ interrompi, eu não queria que o Cadu entrasse no assunto_o que faz aqui?
_Vim dar uma palestra sobre gestão comercial, e você.
_Eu estudo aqui, na verdade vim ver sua palestra_ falo rindo
_Isso é ótimo, minhas palestras são ótimas_ brincou
A conversa estava até boa, mas as pessoas foram chegando e ela tinha que começar.
_Vamos fazer o seguinte, depois da palestra vamos tomar um café e conversamos.
_Ok
Se eu queria conversar com ela? Claro que não, ela ia perguntar como estava a minha vida e o que eu ia dizer? Estou bem trabalhando no ramo da limpeza agora , preferia me m***r ao dizer isso, era óbvio que eu mentiria sem pensar duas vezes.
Não que eu me sentisse bem em mentir, mas depois de ouvir a palestra dela e ver ela falando da empresa que ela montou sozinha e que estava ganhando milhões com ela, seria meio constrangedor contar a verdade.
_E então como está a vida?_ me perguntou exatamente o que eu imaginava
Tomo um gole de café antes de responder tentando pensar em alguma coisa convincente pra falar, mas para o meu azar nada vinha a minha mente.
_Bem_ me limito a isso, era uma resposta idiota
_E o Cadu?_ a segunda pergunta mais temida_ fiquei sabendo que ele ja voltou da Europa, tem visto ele?
tomei mas uma golada do café e sorri tentando disfarçar meu nervosismo, olho pra pulseira dele que eu ainda usava e me pergunto como ele estava.
_Nós meio que nos afastamos_ falo rindo_ não o vi mais.
_Que pena_ ela diz_ a gente até achava que vocês namoravam, vocês se davam muito bem.
_Nós?_ dou um sorriso sem graça_éramos só amigos mesmo.
Eu sabia o que sentia pelo Cadu na época e as vezes eu achava que ele correspondia mas nunca chegamos a ser claros um com o outro, nem tivemos tempo pra isso. A conversa não foi tão r**m quanto eu esperava e até me diverti um pouco, a Cláudia era bem alto astral, até marcamos de sair um outro dia.
Cheguei em casa e nem comi, me deitei e dormi direto. Na manhã seguinte acordei com a minha mãe me batendo..
_Ana levanta, hora de ir! _ minha mãe grita
Me levantei e fui tomar um banho, sai do banheiro arrumada e depois de um longo banho preparada pra enfrentar meu primeiro dia
_ Tô pronta.
_Você vai assim?
Minha mãe falava de uma roupa simples, uma saia jeans de cós alto com uma camiseta cinza e um tênis branco nos pés, coloquei o cabelo de lado e estava pronta.
_Vou_ pego minha bolsa e saio antes que ela diga mais alguma coisa
Peguei o ônibus e fui pensando no meu futuro afinal eu não pretendia ficar muito tempo como empregada. Chego no prédio luxuoso e me apresento ao porteiro...
_Bom Dia _ falo sorrindo
_Você deve ser a Ana_ disse com um olhar simpático
_Como você sabe?
_A dona Débora deixou a chave aqui e disse que uma linda morena viria pegar_ ele disse sorridente_ e ninguém aqui e tão simpático, muito menos de manhã.
_Imagino_ falo olhando em volta_então..você pode me dar a chave?
_Claro, e se precisar de alguma coisa só me chamar, meu nome é Luis.
_Obrigada Luis.
Pego o elevador da frente, eu me recusava a ter que dar uma volta absurda só pra pegar o elevador de serviço. Reparei que a mulher que ja estava no elevador se assustou ao me ver entrar mas como ela estava saindo eu não liguei.
Abri a porta e realmente a casa dela não tinha muito o que fazer, só uma louça pequena e tirar o ** das coisas, mas nada de muito sério.
Terminei de arrumar tudo e me preparei pra ir pra casa até que de repente ela chegou, devia ser algum tipo de teste.
_E então, estava muito bagunçada?_ ela pergunta sorrindo
_Não_ respondo_ na verdade você nem precisa pagar pra fazer isso.
_Eu sei, mas a minha preguiça não deixa.
Dou um sorriso sem graça, me pergunto do por que eu continuava implicando com ela. Débora era legal e me tratava muito bem, mas as vezes o olhar dela me incomodava.
_Bem.. já vou indo então_ falo pegando minha bolsa
_Tudo bem até amanhã_ sorriu
Eu não pretendia trabalhar ali por muito tempo, mas tinha que confessar que mesmo algumas ações dela me incomodando, era bom saber que não tinha muita frescura, nem era uma pessoa grossa, eu tinha problemas com pessoas idiotas.
Cheguei em casa e m*l abri a porta já dei de cara com o meu irmão sentado no sofá, não era uma visita muito desejada, não pra mim. Meu irmão e eu éramos muito diferentes em tudo mas a única coisa em que éramos iguais era que ambos queríamos ser ricos,mas meu irmão escolheu o caminho mais fácil e acabou virando traficante, e ele não era p*u mandado ele era o chefão da favela e por isso todo mundo tinha um certo respeito por ele, menos eu.
Era estranho toda vez que ele decidia visitar minha mãe, por que além de estar sempre armado, também era seguido por um monte de "parceiros" que ficavam parados na porta da nossa casa esperando ele, como se fosse um presidente ou coisa do tipo.
_O que você está fazendo aqui?_ falo séria
Minha mãe era meio b****a quando o assunto era o Pedro Augusto ou melhor PG como era chamado pelos marginais amigos dele, minha mãe não apoiava o fato de ele ser bandido mas ela achava que a qualquer momento podia receber a notícia de que ele havia morrido, e por isso o tratava tão bem quando ele decidia aparecer.
_Sempre agressiva_ ele fala sorrindo enquanto fumava um cigarro
_Apaga essa d***a, esse cheiro h******l ta na casa toda_ falo pegando o cigarro da mão dele jogando fora_ e guarda essas coisa quando vier aqui_ aponto pra arma na cintura dele.
_Sinto muito maninha, mas preciso andar precavido
_Que d***a!_ jogo uma almofada nele _ pelo menos disfarça.
Eu não conseguia ter uma conversa calma com o Pedro, o jeito irônico dele de falar me irritava. Por isso resolvi deixar ele na sala com a minha mãe e ir para o meu quarto me deitar, de o melhor a fazer naquele momento.
Meu irmão era aquele tipo de bandido familia, ele tinha o cuidado de ver como estávamos e até nos ofereceu dinheiro mas graças ao bom Deus minha mãe não aceitou. Meu irmão entrou no meu quarto e se sentou na cama, ele era bem abusado.
_Ana sou seu irmão mais velho, só queria que você fosse mais legal as vezes_ ele disse sério
_Pedro você é só um ano mais velho que eu, e eu não estou com paciência pra suas graças hoje.
_Tudo bem, você não gosta de mim ou não gosta da minha profissão?
_Profissão?_ falo rindo_ você chama isso de profissão? pelo amor né Pedro, você é bandido e roubar os outros não é profissão.
_Ana_ ele respira fundo_Por que você é tão teimosa?
_Me deixa Pedro.
_Já arruou emprego?
_Por que? Quer me oferecer um lugar na boca? Ops, empresa._ falo irônica
_Você tem sorte de ser minha irmã se não ja tinha te matado_ respondeu
_ Não devia ter orgulho disso_ o encaro
_ É preciso manter a ordem_me olhou sério
_Eu não tenho medo de você.
_E não deve, você sabe que jamais faria algo com você.
Meu irmão era bandido e disso eu não tinha dúvida mas ele nitidamente não tinha nascido pra isso. Eu nunca soube os reais motivos que levaram meu irmão a essa vida, mas minha mãe tinha certeza que foi depois que nosso pai saiu de casa. Meu irmão nunca mais foi o mesmo, embora eu achasse isso uma besteira, eu também fui abandonada e nem por isso me revoltei, mesmo assim tentei entender, cada um tinha seu modo de lidar com a dor. Claro que lá no fundo Pedro sabia que aquele meio não era o lugar dele, mesmo assim não parecia querer sair.
Pouco tempo depois do meu irmão ir embora minha amiga e vizinha Alana apareceu, com um sorriso de orelha a orelha, e infelizmente eu já sabia o motivo de tanta alegria..
_Não vai me dizer que encontrou meu irmão ai fora_ falo já sabendo que a reposta era sim
_Ai Ana_ suspirou_ seu irmão é um fofo e...
_Alana_ me viro pra ela séria_ meu irmão é bandido e você não devia se meter com ele.
_Você sabe que sou apaixonada pelo seu irmão desde os meus 11 anos, não custa nada você dar uma forcinha.
_Alana eu nunca vou dar força pra isso , você é uma menina com um lindo futuro pela frente e vai desperdiçar isso com o meu irmão?
A Alana ao contrário de mim já tinha a vida quase resolvida, ela estava fazendo faculdade de psicologia e já tinha conseguido um emprego na empresa do patrão do pai dela, pelo que perecia o cara gostava muito dela e por isso estava disposto a ajuda lá em tudo.
_Eu amo seu irmão.
_Ok, ame o Pedro, mas não conte comigo, não vou te ajudar a destruir a sua própria vida.
A Alana sabia que eu nunca a ajudaria a ficar com meu irmão, e eu sentia que nem meu irmão ficaria com ela. Não por que ele não gostava dela, mas por que eu já tinha dito a ele uma vez que tudo bem ele destruir a vida dele, mas a da Alana já seria demais, ele sabia que a Alana não era igual aquelas meninas que ele pegava.
_Você é tão amarga_ ela sorri_ devia arrumar um namorado
Me sento no sofá, olho pra pulseira que eu carregava e penso que se talvez tivesse alguém, poderia ser o Cadu, mas era idiotice minha ainda achar que ele pensava em mim.