**P. V. Príncipe Lien**
Como era possível? Senti o mesmo magnetismo de quando vi a princesa, aquele frio na barriga. Eu só podia estar louco. Rapidamente, o general me disse que iria dispensá-lo, mas não permiti. Queria ver como ele lutava.
Batalha após batalha, o soldado foi vencendo com movimentos simples e rápidos. Quando chegou à última, sabia que ele não venceria. O soldado com quem lutaria era enorme, e ele aparentemente já estava cansado, mas continuei observando para ver o que ele faria.
Confesso que foi tão rápido que, se tivesse piscado, não teria visto. Houve um silêncio tão grande no campo que se podia ouvir uma mosca voando. Surpreendentemente, o pequeno soldado derrotou o outro com apenas um golpe, um pouco abaixo do pescoço. O seu rival desabou no chão, desacordado. Pude ver ao longe a cara de orgulho do general. Voltei a minha atenção para o soldado e, lentamente, ele se virou, encarando-me com aqueles olhos azuis penetrantes. Antes que eu pudesse tomar qualquer atitude, fomos interrompidos por um mensageiro do castelo; o rei exigia a minha presença.
Durante todo o trajeto de volta, os meus pensamentos não saíam do pequeno soldado no campo. Com certeza, não era algo que se vê todos os dias.
O rei me aguardava na sua biblioteca, que, por sinal, era muito bem abastecida.
— Com licença, rei Elrick. — digo, entrando.
— Entre e sente-se, príncipe. — diz ele, indicando uma poltrona.
— O que posso fazer pelo senhor? — pergunto, encarando-o.
— Não se preocupe, é apenas uma conversa de pai. — diz ele, sorrindo.
— Claro, pode me perguntar o que quiser.
— O que achou da princesa, príncipe Lien? — pergunta ele, encarando-me fixamente.
— Pode me chamar de Lien, rei Elrick. — digo, afinal, se íamos ter essa conversa, era melhor cortar as formalidades. Ele apenas acena com a cabeça. — E, respondendo à sua pergunta, ela é uma jovem muito bonita.
— Sim, puxou à mãe. — diz o rei, sorrindo. — Mas devo dizer que ela tem uma personalidade forte e é muito determinada. Ela é o meu tesouro, o meu bem mais precioso. Por isso, gostaria de saber quais são as suas reais intenções.
O rei foi muito direto na sua conversa, e não reclamo. Se eu tivesse uma filha tão linda, também seria.
— Vou ser sincero, rei Elrick. Não estava nos meus planos casar-me, mas meu pai insistiu muito nisso, e, com todo o respeito que tenho por ele, resolvi vir conhecer a princesa e ver se temos alguma afinidade. — digo o mais sincero possível, pois realmente não pretendia casar-me.
— Entendo e agradeço a sua sinceridade. — diz ele, levantando-se e servindo-me uma taça de vinho. — Sabe, Lien, a minha filha também não deseja casar-se, mas este velho pai preocupa-se com o destino dela. Não quero que a minha filha fique desamparada caso eu me vá. Sei que ela é forte e sábia, mas não a quero sozinha. Quero que ela tenha alguém para onde voltar, alguém que a apoie e cuide dela, de preferência que seja gentil e carinhoso.
Suspiro ao ouvir as suas palavras. Eram as palavras de um pai carinhoso, que ama a sua família e quer cuidar dela. Então, tomei uma decisão que mudaria a minha vida para sempre.
— Rei Elrick, eu assumo essa responsabilidade. A sua filha encantou-me. — digo, levantando-me. — Gostaria, neste momento, de pedir oficialmente a mão da princesa Kiara em casamento.
O rei olha-me com espanto. Acredito que ele achava que eu desistiria, já que não estava nos meus planos.
— Antes de dar a minha resposta, entenda: vários príncipes já vieram pedir a mão de Kiara em casamento, mas eu recusei. Não quero alguém que se deixe levar apenas pela sua beleza. Quero alguém que a ame por quem ela realmente é. — diz ele, por fim, encarando-me. — Não o conheço, jovem, mas o seu pai é um amigo muito querido, e tenho pilhas de mensagens nesta biblioteca onde ele descreve os seus atos e comportamentos. Sei que você é honesto, forte e dedicado, mas, como disse, quero alguém que ame a minha filha e esteja disposto a dar a vida por ela.
Eu entendia o que o rei queria dizer, mas o magnetismo que sinto perto dela não acredito que deva ser ignorado.
— Façamos um trato, rei Elrick. — digo, e ele olha-me com interesse. — Permita-me ficar algum tempo no seu reino e cortejar a princesa. Se o senhor nos observar e perceber que não é o que deseja, eu irei embora, e não haverá constrangimento entre nós. Os nossos reinos continuarão amigos e ajudar-se-ão se necessário.
Pude ver na expressão do rei que ele havia gostado. Então, ele levantou-se e estendeu-me a mão.
— Trato feito, meu jovem. Fique o tempo que achar necessário. — diz ele, sorrindo.
Após a minha conversa com o rei, subi para o meu quarto. Já estava a ficar tarde. Ao chegar lá, os criados haviam trocado a água da banheira, então, imediatamente, entrei e tomei um banho longo e relaxante. Deixei os meus pensamentos vaguearem para aqueles lindos olhos azuis. Com certeza, a princesa era a mais bela criatura que eu já havia visto. Saí da banheira, vesti-me e desci, mas, nesse momento, vi a princesa a subir distraída. Ela estava com um lindo sorriso no rosto enquanto subia as escadas e, sem perceber, esbarrou em mim. Então, eu a segurei para que não caísse.
Deus amado!
Ela tinha um cheiro bom, mesmo visivelmente cansada e suada. O seu cheiro era agradável, o que me fez perguntar o que ela estava a fazer para estar nesse estado. Percebo que ela ficou quieta, então resolvo perguntar se estava bem. Ela diz que sim. Relutante, solto-a, e ela sobe as escadas, deixando apenas a sensação de vazio nos meus braços. Desço e encontro o rei na sala. Sento-me e esperamos servirem o jantar. Depois de um tempo, levantamo-nos e sentamo-nos à mesa, à espera da rainha e da princesa. Não demorou muito, e elas chegaram. Sentámo-nos e mantivemos uma conversa agradável. Quando estávamos a terminar o jantar, o rei pediu à princesa que me mostrasse o jardim. Percebi que ela ficou um pouco desconfortável, mas aceitou.
Levantei-me e ofereci-lhe o braço, que ela aceitou, relutante. De braços dados, saímos para a noite estrelada.
— Está uma noite linda. — disse ela, olhando as estrelas.
— Realmente linda. — digo, olhando para ela. Vejo-a corar e desviar o olhar do meu.
Caminhámos em silêncio pelo jardim e sentámo-nos num balanço cercado por flores.
— Então, diga-me, príncipe Lien, quem é você? — disse ela, com um meio sorriso.
— Pergunta interessante, princesa Kiara. — digo, olhando para ela. — Mas eu poderia fazer-lhe a mesma pergunta.
Ela riu, e fiquei fascinado com a forma como os seus lábios me atraíam. Não entendo o que estava a acontecer comigo.
— Essa é fácil de responder. — diz ela, olhando-me com aqueles olhos azuis penetrantes. — Sou apenas alguém que preza a sua liberdade, que gosta de fazer amigos e ama o seu povo. Não há muito o que dizer sobre mim.
Ela falava de uma maneira tão encantadora que me causava sensações novas, que nunca havia experimentado.
— Desculpe, mas não é assim que a vejo.
— E como vossa alteza me vê? — disse ela, brincalhona. Dou um leve sorriso com a sua maneira de falar.
— Pode chamar-me de Lien, não precisamos de toda essa formalidade. — digo, olhando-a.
— Certo, então como me vê, Lien?
Deus! A forma como ela falava o meu nome era tão sensual. Essa feiticeira estava a encantar-me.
— Vejo uma linda jovem, que ama a vida e a sua família, e, pelo que posso ver nos seus olhos, tem os seus segredos bem guardados. — neste momento, vejo o seu sorriso vacilar. Não sei o que ela esconde, mas vou descobrir.
— Toda mulher tem os seus segredos, Lien. Isso é o que nos faz criaturas intrigantes. — diz ela, inclinando-se na minha direção. — E quais segredos esconde você? — sussurra ela no meu ouvido. Pude sentir um arrepio na minha pele com o som da sua voz. O seu perfume era incrível. Gostaria que o tempo parasse naquele momento, mas, lentamente, ela afastou-se e olhou-me, esperando uma resposta.
— Nenhum. Talvez a única coisa que guardo é essa sensação boa que me dá quando estou na sua presença, princesa. Seria possível sua alteza ser uma feiticeira que brinca com os corações humanos? — vi nos seus olhos um pouco de surpresa com o que eu disse, e uma pitada de travessura.
— Me desculpe, Lien, nunca quis brincar com o seu coração. — disse ela, levantando-se. — Mas acho que toda mulher é um pouco feiticeira.
Ela me dá uma piscada e sai me deixando só na noite escura.
Deus, eu estava perdido.