P.V. Príncipe Lien
Não tinha palavras para descrever a raiva que me dominava toda a vez que lembrava da emboscada. Caímos duas vezes no mesmo golpe. Era vergonhoso.
Lembro-me de que, em determinado ponto, encontramos um homem caído, aparentemente ferido. Quando um dos soldados foi ajudá-lo, foi morto a sangue frio. Tudo virou um caos. Várias pessoas saíram da floresta e nos atacaram. Lutamos muito, mas nossa escolta foi dizimada. Estávamos em menor número, mas não íamos desistir.
Foi então que ele apareceu: o soldado dos olhos azuis. Mais uma vez, ele nos salvou. As suas habilidades em combate eram impressionantes. Ele era feroz, não poupava ninguém no seu caminho. Enquanto lutava contra um dos agressores, percebi algo atrás de mim. Quando me virei, vi o soldado que nos ajudava com uma espada cravada na barriga. Eu esperava tudo, menos o que ele fez. Como se nada tivesse acontecido, ele cravou um punhal no coração do inimigo e, com um movimento rápido, retirou a espada de si mesmo, afastando-se lentamente.
Em nenhum momento ele emitiu um som. Mesmo ferido, não deixou escapar um único gemido. Quando tentei ajudá-lo, ele me deu um chute no peito, derrubando-me no chão. Os outros se prepararam para lutar, mas Solomon me olhou e acenou para deixá-lo ir. Assim, ele foi embora, sem olhar para trás uma única vez.
Depois de algum tempo, chegaram os soldados do rei Alexandre Mandrack. Alguém havia visto a movimentação e chamado ajuda. Quando chegamos ao castelo, o príncipe Dylan nos recebeu e fomos conduzidos para tratar os nossos ferimentos.
Notei o comportamento estranho de Dylan: ele estava aflito e, de tempos em tempos, um guarda o chamava. O quarto dele era vigiado vinte e quatro horas por dia, o que achei suspeito. Quando questionei, ele disse apenas que um amigo havia se ferido e que era um assunto confidencial. Não insisti mais. Após dois dias, partimos. Chegamos em segurança ao meu reino, graças à escolta numerosa cedida pelo príncipe. Tenho uma grande dívida com ele.
Já se passou um mês. Está na hora de retornar. A minha saudade de Kiara é imensa; ela povoava todos os cantos da minha mente.
— Você parece tão distante — disse a minha mãe, aproximando-se.
— E realmente estou, mãe.
— Será que é por causa do reino de uma certa princesa? — perguntou, sorrindo. Retribuí o sorriso.
— Sim, estou com saudades.
— É tão bom ver você feliz, meu filho — disse ela, segurando as minhas mãos. — Sei que passou por muita coisa, mas, se realmente a ama, não deixe ela escapar.
— Não vou, mãe. Ela é incrível e pertence a mim.
— E ela sabe disso?
— Vou dizer a ela.
Vejo o meu pai se aproximando. Os seus olhos estavam voltados para minha mãe. Apesar dos anos, o amor entre eles continuava o mesmo. Era esse tipo de amor que eu queria cultivar com Kiara: um amor que resistisse ao tempo e a tudo.
— Você vai voltar, não é? — perguntou o meu pai.
— Sim, pai. Está na hora de resolver o meu casamento.
— Então vá, resolva tudo e nos avise quando marcarem a data. Confio em você, filho. Pelo que vejo, você a ama muito.
— Sim. Ela me deixa louco com a sua teimosia, mas a amo.
— Está tudo tranquilo por aqui. Vá e aproveite.
— Então amanhã de manhã eu parto.
O meu pai colocou a mão no meu ombro e olhou-me nos olhos.
— Tome muito cuidado na estrada. Leve uma escolta maior desta vez. Não sabemos se a pessoa que o atacou tentará novamente.
— Vou ter mais cuidado — respondi e saí para procurar Rolf. Encontrei-o no pátio do castelo.
— Pronto para voltar?
— Assim que sua alteza ordenar — disse ele, fazendo uma reverência.
— Chame Mário. Partiremos amanhã de manhã.
— Sim, alteza. Levaremos uma escolta maior desta vez.
— Vai demorar mais, mas será mais seguro. Escolha os melhores.
— Farei isso.
Ele afastou-se para organizar o necessário para a viagem.
A minha noite foi inquieta. A minha mente estava cheia de pensamentos sobre Kiara. Aquela malandra não escaparia desta vez.
Acordei cedo no dia seguinte. Tudo já estava pronto para minha partida. Despedi-me de meus pais e parti rumo ao Reino do Norte. A viagem seria longa, de quatro dias, mas necessária.
O primeiro dia foi tranquilo. No segundo, ao entrarmos no território do rei Alexandre Mandrack, tudo ainda estava calmo. Ao entardecer, montamos acampamento para descansar. No terceiro dia, por volta do meio-dia, encontramos uma carruagem na estrada. Ela não tinha nenhum símbolo, e os homens que a acompanhavam também não carregavam estandartes. Ficamos alertas, mas, para nossa surpresa, o príncipe Dylan desceu da carruagem.
— Resolveu retornar, príncipe Lien?
— É bom revê-lo, príncipe Dylan. Preciso ver alguém.
Ele sorriu e se aproximou.
— Talvez eu possa ajudar.
Confuso, segui-o quando fez sinal para acompanhá-lo. Ele abriu a porta da carruagem e, ao olhar para dentro, o meu coração parou.
— Kiara!
— Sentiu saudades? — perguntou ela, sorrindo.
Desmontei do cavalo e a puxei para mim, apertando-a contra o meu corpo. Era tão bom sentir o seu cheiro novamente, envolver os meus braços na sua cintura estreita. Estava tão distraído que não percebi o gemido de dor que escapou dos seus lábios.
— Solte-a — ordenou Dylan, afrouxando meu abraço. Olhei para ele, confuso.
— Ela se machucou semana passada. Ainda não sarou completamente.
Soltei-a e vi o seu rosto pálido. A preocupação tomou conta de mim, e comecei a procurar onde ela estava machucada.
— Onde você se machucou?
— Estou bem. A dor já passou — respondeu ela, sorrindo.
— Onde você se machucou, Kiara?
— Foi no abdômen. Ela caiu do cavalo em cima de uma pedra — explicou Dylan.
Os meus olhos se arregalaram ao imaginar a cena.
— Como isso aconteceu? Por que não deram um cavalo manso para ela?
— Você a conhece tão bem quanto eu, alteza. Sabe que ela só faz o que quer.
— Podem parar, vocês dois. Lien, Dylan cuidou muito bem de mim. Graças a ele, já estou praticamente recuperada.
— Ele cuidou de você? E onde estavam Sofia e Elisa? Esse é o trabalho delas!
— Não se preocupe. Kiara não deu trabalho. Só lamento ter perdido a minha cama — brincou Dylan.
O meu rosto se fechou. Amigo ou não, eu iria socar a cara dele.
— Dylan! — repreendeu Kiara. — Ele está brincando.
Dylan começou a rir da minha expressão. Pelo menos ele estava se divertindo, porque, para mim, aquilo não tinha a menor graça.