Capítulo 8

1201 Words
**P. V. Princesa Kiara** A minha alegria era tanta que eu não cabia em mim. O enorme sorriso no meu rosto provava isso. A manhã era fresca, e um vento suave soprava, jogando os meus cabelos para trás. Andávamos num silêncio confortável, lado a lado, até que tive uma ideia. — O que você acha de uma corrida, alteza? — digo, virando-me e sorrindo para Lien. — Uma corrida? — perguntou ele, divertido. — Não parece muito interessante. Fiz uma careta com a sua resposta. — É só deixarmos divertido — insisti. — O que você sugere? — Que o perdedor conte um segredo. Ah, eu estava curiosa, e é claro que eu ganharia essa. — Me parece bom — disse ele, olhando para mim. — Beleza, vamos correr daqui até aquela pedra grande. Quem chegar primeiro ganha. — Você está muito confiante. — O que posso dizer? Sou boa em montaria. Ah, eu vou ganhar essa. Confiança é tudo, e um pouco de adrenalina também faz bem. — Rolf, venha aqui — chama Lien. O general se aproxima, curioso; acho que ele ouviu a nossa pequena conversa. — Rolf, vamos fazer uma corrida, a princesa e eu. Você fica aqui para dar a largada, e Mário, você espera lá naquela pedra grande para ver quem será o vencedor — diz ele a Mário, que estava ao seu lado. — Como desejar, alteza — diz Mário, com um sorriso divertido, já se afastando. Nós nos posicionamos enquanto Mário vai para seu lugar. Assim que ele chega, faz um aceno com a mão. — Estão prontos? — pergunta Rolf. — Sim! — confirmamos juntos. — Eu vou contar até três. Quando eu disser "já", vocês vão. — Apenas acenamos em concordância. — Um... — Preparada para perder? — diz Lien. — Dois... — Só que não vai ser para você — digo. — Três, já! Com uma pequena cutucada nos flancos de Relâmpago, ele se lança para frente, fazendo com que eu segure as suas rédeas com mais força. Relâmpago era um corredor por natureza; não era preciso incitar muito para que ele corresse. Mas Lien não deixou que eu cantasse vitória. Em alguns segundos, ele já estava ao meu lado, com um largo sorriso no rosto. E que sorriso... Ele era muito lindo. Foco, Kiara, agora não é hora para isso. Apenas sorri de volta para ele, dei outra cutucada em Relâmpago e disparei. Não pude evitar a gargalhada que escapou dos meus lábios. Isso era tão bom! Fazia tempo que não me divertia assim. A sensação de liberdade era enorme. Eu me sentia livre, poderosa enquanto cavalgava. Já estava vendo Mário na chegada. Meu sorriso cresceu ainda mais, mas, quando faltavam uns dez metros, senti um vento passar por mim. Era Lien, me vencendo no meu próprio jogo. O feitiço virou contra o feiticeiro. Droga! Fazer o quê? Agora é se conformar com a derrota. — Achei que alguém tinha dito que não perderia para mim — ele estava muito convencido, e aquele sorriso bobo ainda não havia deixado o seu rosto. — Para tudo tem uma primeira vez — digo, posicionando-me ao seu lado. Pude ver Mário e Rolf com sorrisos contidos ao nosso lado. — Podem rir, não vou mandar vocês para a forca por isso — digo a eles, rindo. — Nos perdoe, alteza, mas foi uma bela corrida — diz Rolf, sorrindo. — Realmente muito interessante — acrescenta Mário. — Bem, apesar de ter perdido, admito que me diverti. E você, príncipe Lien, é um excelente adversário. — Acho que, depois dessa, você pode me chamar apenas de Lien. — Claro! Se você fizer o mesmo e me chamar apenas de Kiara. — Ele acena concordando. Mário e Rolf seguem à frente, nos deixando um pouco atrás para que pudéssemos conversar com mais privacidade. — Então! Agora você me deve um segredo — diz ele, após um longo silêncio. Não sei o que ele poderia querer saber sobre mim. Eu nem era tão interessante assim. Sim, eu era muito bonita, inteligente e teimosa, mas, fora isso, não sei o que o atraía em mim. — Promessa é dívida. O que você gostaria de saber? Não vejo nada que você poderia querer. Vejo a sua testa se enrugar, e o seu sorriso travesso sumir. Então, ele olha fixamente nos meus olhos. — Você é incrível, Kiara. — Meu nome nos seus lábios parecia música. — É difícil me contentar com uma pergunta quando quero saber tudo sobre você. A sua resposta me surpreende, e vejo no seu olhar que é sincera. Isso me intriga. Seguimos em silêncio após a nossa breve conversa. Assim, a manhã passa. Paramos um pouco para comer e dar água aos animais. Os sanduíches de Nana estavam uma delícia. Montamos novamente após umas duas horas de descanso e seguimos o nosso caminho. A tarde chegou e, quando o sol se escondia no horizonte, chegamos a uma pequena vila. Passaríamos a noite ali numa estalagem. Seguimos para a estalagem e deixamos os animais aos cuidados de um funcionário. Eles tinham um estábulo, então os animais estariam seguros e receberiam água e comida. Chegamos à recepção e fomos atendidos por uma senhora idosa. — Boa noite, gostaríamos de quatro quartos, por favor — diz Lien à senhora. — Lamento, meu rapaz, mas só temos dois. Estamos reformando alguns nesta baixa temporada, mas, se quiserem, posso mandar adicionar um colchão extra em cada quarto. Lien me olha, e eu dou um aceno positivo para ele. — Tudo bem, vamos querer. A senhora se vira, pega duas chaves e as entrega a Lien. — Há um banheiro no final do corredor, e daqui a uma hora o jantar será servido. Apenas concordamos e seguimos o nosso caminho. A estalagem era bem arrumada, com dois andares, quartos no andar de cima e uma sala de jantar no térreo. Subimos para os quartos. Lien entrega uma chave a Rolf. — Você e Mário dividem um, e eu divido o outro com Kiara. — Eles concordam e entram nos seus quartos, enquanto nós entramos no nosso. O quarto era simples: uma cama de casal, uma cômoda, e uma mesa com uma cadeira num canto, mas tudo era bem limpo. Pego a minha mochila e vou em direção à porta. — Aonde vai? — pergunta Lien. — Tomar banho, tirar essa poeira do meu corpo. — Qualquer coisa, é só gritar — diz ele. Eu o encaro com um olhar sarcástico. — Não é como se alguém fosse me atacar no banheiro. — Nunca se sabe que tipo de pessoa vamos encontrar nesses lugares. — Sua preocupação comigo é louvável e, um pouco exagerada, mas eu concordo e saio. Entro no banheiro, penduro a minha bolsa e começo a tirar as minhas roupas. Retiro o vestido e o dobro, colocando-o num banquinho. Em seguida, tiro as botas e a calça, ficando apenas com uma camisa de flanela e roupas íntimas. Quando termino de desabotoar a camisa, sinto algo gelado pular nas minhas pernas, e não consigo sufocar o grito de pânico que me atinge. Estou tão desesperada que a próxima coisa que ouço é a porta se abrindo com um estrondo.
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