Aqui estou eu, sentada aguardando o meu esperado futuro marido, o príncipe do Sul. Estou inquieta, balanço a minha perna desajeitadamente, um sinal claro da minha impaciência. Observo com cuidado o salão enquanto aguardo, literalmente, meu príncipe encantado.
Sou uma pessoa de personalidade forte, os meus pais sabem bem disso. Em aparência, sou de altura mediana, 1,60 m, tenho cabelos castanhos claros, bem cacheados, pele clara e um par de olhos azuis que encantam quem me observa — pelo menos é o que me dizem. Isso puxei ao meu pai. Ele é alto, 1,89 m, e, apesar da idade, ainda é forte; percebe-se pela sua musculatura. Tem cabelos castanhos e curtos, ombros largos e o seu rosto está sempre sério, mas ele não resiste quando faço alguma graça para ele. Adoro o seu sorriso.
A minha mãe tem olhos castanhos, cabelos cacheados e negros, pele clara, e é bem esguia. Possui uma postura imponente, como uma rainha deve ter, é claro, e como ela esperava que eu tivesse.
***
Antes de o príncipe chegar...
— O que você acha desse? — pergunta a minha mãe.
— Preciso mesmo fazer isso? — pergunto.
— Mas é claro, Kiara! O príncipe vem especialmente para conhecê-la. Deve estar apresentável como uma verdadeira princesa e herdeira do reino do Norte — diz ela, vindo na minha direção com um lindo vestido azul. Tenho que admitir, é lindo e realça a cor dos meus olhos.
Essa história de casamento me dava calafrios. Qualquer um iria querer conviver com a pessoa antes de casar, mas não no meu caso, e isso era frustrante.
O reino do Norte é lindo, cercado por montanhas e vales, com vários rios e bosques. Era uma área rica em caça e pesca. O nosso castelo fica numa encosta, e posso ver o mar ao longe. Sei que tenho muita sorte por ter essa natureza exuberante à minha volta.
— Kiara! Kiara!! — Saio dos meus devaneios com a minha mãe a me chamar. Ela senta-se ao meu lado da cama, e sei que um discurso vem pela frente.
— Sei que não é o que você queria, filha. Também sei que ama a sua liberdade, mas é pelo bem do reino. Precisamos de aliados, e, quando eles também é família, os laços são mais fortes.
Não posso questionar o que ela disse. Sei que está certa, mas, mesmo assim, fico triste com essa situação. Seria tão bom se as pessoas pensassem menos nelas e mais nos outros.
— Você pode gostar dele — diz ela, sorrindo. — Ouvi dizer que ele é bem bonito — completa, me deixando só com os meus pensamentos.
"Bonito! Sei!"
Se ele realmente fosse bonito, não estaria solteiro aos 28 anos. Por aqui é muito comum arrumarem pretendentes para os filhos quando ainda são crianças. Normalmente, essa união acontece assim que ambos atingem a maioridade, mas, graças a Deus, o meu pai não seguiu esse costume ridículo.
Termino de me arrumar e desço para a sala do trono. Eu amava essa sala. Ela era bem espaçosa, com grandes janelas e enfeites em dourado. Os tronos eram simples, mas transmitiam, de certa forma, uma grande imponência.
Voltamos para o início de onde estávamos.
— Querida, está tudo bem? — pergunta o meu pai, me olhando.
— Claro, papai, apenas digamos... apreensiva.
Ele dá um pequeno sorriso ao me ouvir. Tenho certeza de que ele sabe o que quero dizer.
— Cuidado, Kiara. Você pode cair na sua própria armadilha — diz ele, com um sorriso de lado. Papai me conhecia como ninguém. Ouso dizer que até mais que a minha mãe.
Olho para ele com uma sobrancelha levantada.
— Não sei do que está falando, papai. Estou aguardando pacientemente, como mamãe pediu — digo, olhando nos seus olhos. Ele ia me responder, mas, neste momento, um guarda se aproxima para anunciar os nossos convidados.
— Alteza! Anuncio, neste momento, a chegada do príncipe herdeiro do Sul, sua alteza real, príncipe Lien.
Ao terminar de falar, entra um homem cujo rosto não consigo ver de longe, e a curiosidade me consome. Ele se aproxima com passos suaves e sem pressa, fazendo com que a minha curiosidade aumente. Conforme ele se aproxima, posso perceber que ele é alto, cerca de 1,90 m, ombros largos e fortes. Quando chega diante do trono, faz uma pequena reverência e diz:
— Vossa majestade, é um prazer conhecê-los — diz ele, levantando a cabeça e olhando diretamente para meu pai. Então, posso finalmente ver o seu rosto, que é de tirar o fôlego. Ele possui cabelos pretos e lisos. O seu rosto é másculo, com uma mandíbula bem esculpida, olhos castanhos escuros que chegam a parecer negros, lábios finos, mas com um certo charme, e a sua voz é poderosa, forte, assim como ele. Durante todo o tempo em que o analisava, ele não desviou o olhar do meu pai.
— Imagine, príncipe Lien. Nós é que temos o enorme prazer em recebê-lo. A sua presença era muito esperada — diz o meu pai.
— Agradeço, rei Elrick.
— Permita-me apresentar a minha esposa, a rainha Ismênia — diz o meu pai, apontando para minha mãe, que faz uma pequena reverência.
— Majestade — diz Lien, curvando-se.
— E esta é minha filha, a princesa Kiara, herdeira do reino do Norte.
Quando o meu pai me apresenta, vejo o seu olhar vagar para mim e faço uma pequena reverência. Ao levantar a minha cabeça, percebo que ele me olha com intensidade, até que o meu pai chama a sua atenção.
— Acredito que o príncipe queira descansar desta viagem cansativa. O meu criado de confiança irá mostrar os seus aposentos. Sei que aqueles que o acompanham também devem estar cansados.
— Realmente, rei Elrick, agradeço a sua hospitalidade.
Neste momento, Vítor faz sinal para que o príncipe o acompanhe. Ele se vira e sai da nossa presença, sendo acompanhado por outros membros da sua comitiva.
Finalmente livre, não via a hora de tirar esse vestido e voltar às minhas atividades secretas. Levanto-me e vou saindo, até que a minha mãe me detém.
— Espere, Kiara — diz ela, vindo até mim. Paro e viro na sua direção, já imaginando o sermão que ela daria.
— Já fiz o que precisava, mamãe. Agora pretendo dar uma volta.
— Você deveria ficar aqui, afinal o príncipe pode pedir a sua presença — diz ela, me olhando séria.
— Lamento, mamãe, mas não vou ficar. O príncipe tem o meu pai para fazer-lhe companhia, e, aliás, aposto que não vou gostar da conversa de ambos. Não é mesmo, papai? — digo, olhando para meu pai, que observa a nossa conversa.
— Isso depende, querida, mas precisamos ter essa conversa mais cedo ou mais tarde — diz ele, se aproximando.
— Prefiro que seja mais tarde — digo, sarcástica.
— Tudo bem. Apenas não vá tão longe e nem volte tarde. Quero você à mesa para o jantar — diz o meu pai, me dando um beijo na testa.
— Estarei aqui a tempo. Obrigada, papai — digo, sorrindo, e saio em direção ao meu quarto. Está na hora de um pouco de ação na minha vida.
Entro no meu quarto, vou até o guarda-roupa, retiro a pequena bolsa escondida nele, escolho um vestido simples e saio apressada.
— Aonde vai com tanta pressa, menina? — diz a cozinheira. Passo, dou um beijo nela.
— Vou para a liberdade, Nana! Liberdade!
Saio apressada, pegando uma maçã da mesa. Vou até a estrebaria pegar Relâmpago. Ele é um lindo cavalo n***o, rápido como um raio.
— Olá, garoto, sentiu a minha falta? — digo, acariciando Relâmpago. — O que acha de dar uma volta?
Ele relincha, como se tivesse aprovado a ideia. Rapidamente, coloco a sua sela, monto e saímos disparados. No caminho, encontro várias pessoas que trabalham no castelo e me cumprimentam. Sempre fui o tipo de pessoa que gosta de estar no meio da multidão. Afinal, como posso ajudá-los se não conhecer a sua realidade? O fardo de ser da realeza sempre esteve nos meus ombros, e papai sempre me ensinou que as pessoas que vivem aqui são meu povo, e devo fazer de tudo para dar a elas uma vida digna.
Adentro a floresta procurando um lugar para me trocar, pois, para o que vou fazer, não posso estar de vestido. Encontro um lugar afastado, troco de roupas rapidamente: coloco uma calça, blusa e colete, troco as minhas sapatilhas por botas e, por último, um capuz que deixa apenas os meus olhos à mostra. Esta é minha jornada há anos, e não me canso de fazer. Monto em Relâmpago e cavalgo mais um pouco. Desmonto quando chego ao meu destino: o campo de treinamento dos soldados. Sim, eu fazia algumas loucuras às vezes, e treinar com os soldados era uma delas. Amarro relâmpago numa árvore a uma distância segura da área de treinamento e vou a passos largos para lá.