A Princesa do Norte

Capítulo 41

P. V. Príncipe Lien

Não consigo expressar em palavras o quanto foi gratificante a minha luta com o soldado dos olhos azuis. Finalmente consegui encontrá-lo, mas percebi que ele estava escondendo a sua identidade. Quando cheguei, ouvi ele conversando e brincando com o general Rock, mas, ao me ver, a sua postura mudou completamente. Ficou tenso, não olhava nos meus olhos e mantinha-se de costas para mim, o que demonstrava a sua preocupação com a minha presença naquele lugar.

Quando a luta começou, foi algo diferente. Ele desafiou-me com coragem, enfrentando-me apenas com uma adaga, e as suas habilidades realmente me impressionaram. Notei que, muitas vezes, ele se segurava e evitava ao máximo que eu tocasse no seu corpo. As minhas desconfianças aumentavam a cada dia. Com toda certeza, ele escondia algo, e o rei e o general sabiam. Não fazia sentido alguém sem nome, sem rosto e sem endereço morar em um reino, salvar a realeza e o rei não saber quem é. Só podia imaginar que estavam protegendo-o, mas o que me intrigava era o porquê.

Estava claro que perguntar a eles não adiantaria, pois eu não teria uma resposta. Porém, eu descobriria a verdade. Não permitiria que a vida de Kiara ficasse em risco por descuido meu.

Despeço-me deles e saio do campo de treino acompanhado de Rolf.

— Você percebeu? — pergunta Rolf enquanto voltávamos para o castelo.

— Sim, estão protegendo-o.

— A partir de agora, temos que ter cuidado ao investigar esse cara.

— Me pergunto o porquê de tudo isso.

— Ele não me parece ser um inimigo infiltrado. Sua conversa com o general Rock demonstra camaradagem.

— A voz dele também era diferente. Mais suave, eu acho.

— Sim, era bem suave. Na verdade, praticamente feminina, mas não tenho certeza.

Paro por um instante, pensando no que Rolf disse.

— Rolf? — digo. — Será que ele, na verdade, é uma mulher?

Vejo a surpresa no rosto de Rolf, até a compreensão dominar as suas feições.

— É uma possibilidade. Ele preferiu lutar com espadas a corpo a corpo e, pelo que observei, evitava que você tocasse nele.

— E, por último, a voz dele era mais feminina.

— Sim. Além disso, ele não tinha muita força física, o que explicaria o uso de veneno em batalha.

— Acredito que estamos perto de desvendar esse mistério.

— Mas quem eles estão tentando esconder? Não pode ser qualquer pessoa, para o rei estar acobertando.

— Infelizmente, teremos que descobrir sozinhos — digo pensativo.

— Vai demorar um pouco, alteza. Amanhã voltamos para o reino. Só poderemos resolver esse mistério quando retornarmos para o seu casamento.

— Verdade, tinha me esquecido desse detalhe.

Essa história estava me intrigando cada vez mais.

— E a sua investigação sobre aquela pessoa? — pergunto, observando a sua expressão mudar.

— Ela mordeu a isca, mas ainda não tenho muita coisa. Preciso de mais tempo para investigar.

— Sei que você vai conseguir.

— O comportamento dela não tem sido normal. Um tempo atrás, saí para tomar ar durante a madrugada. Não achei que haveria alguém no pátio, mas, quando a vi, escondi-me. Ela estava conversando com um homem de capuz. Não deu para ver quem era, mas desde então passei a vigiar durante a noite.

— Houve mais algum incidente?

— Sim, mas sempre a mesma coisa. Não consegui descobrir nada.

— Precisamos deixar alguém de confiança cuidando disso.

— Já providenciei. Pode ficar tranquilo.

— Ótimo. Espero ter boas notícias quando voltar.

Voltamos ao castelo e encontramos a minha mãe e a mãe de Kiara imersas nos preparativos do casamento. Tento passar despercebido, mas não consigo escapar.

— Filho! Venha aqui — chama a minha mãe, acenando para mim. — Rápido!

— Do que precisa, mamãe? — digo, sentando-me ao seu lado.

— Da sua opinião. Olhe a lista de convidados — diz, entregando-me um papel. — Veja se faltou alguém.

A lista era enorme. Parecia que ela havia convidado todos os reinos do mundo. "Desespero" era pouco para descrever o que senti ao pegar a lista.

— Mamãe, acho que a lista está um pouco extensa. Lembre-se de que ainda corremos riscos. Não podemos fazer uma cerimônia tão grande. Seria melhor algo pequeno, apenas para os amigos mais íntimos. Depois, poderíamos fazer lembrancinhas para distribuir aos que não chamamos, informando sobre a união dos nossos reinos. Não acho que eles ficarão chateados ao saberem o motivo.

— Realmente, o meu futuro genro é um homem muito sábio — diz a mãe de Kiara, rindo. — Nos empolgamos tanto que nem pensamos nesse detalhe.

— Verdade. Agora teremos que começar tudo de novo — diz a minha mãe, triste.

— Sei que vão conseguir. Com duas lindas rainhas planejando esse evento, nada pode dar errado — digo, levantando-me. Dou um beijo na testa dela e saio.

— Onde vai? — pergunta ela.

— Aproveitar um pouco a minha noiva — respondo sem olhar para trás, ouvindo os seus risos.

Procuro Kiara por todo o castelo, mas não a encontro. Parecia que ela tinha desaparecido.

— Oi, Nana — digo ao entrar na cozinha. — Você viu a Kiara? Não consigo encontrá-la.

— Aquela menina é terrível! — diz Nana, com as mãos na cintura. — Preferiu sair a aproveitar o noivo.

Dou risada com a sua expressão.

— Não fale assim dela, Nana. Você sabe que hoje ela tinha compromisso com o curandeiro — diz Berto, entrando na cozinha com dois patos nas mãos.

— Você sempre a defende, meu velho. Ela vai se casar, precisa ter mais tempo para o noivo dela.

Observo a interação dos dois em silêncio, achando tudo engraçado.

— Eles terão tempo para isso depois que se casarem — responde Berto. — Ela está com o curandeiro, alteza. Deve voltar logo.

— Obrigado, Berto. Só fico preocupado quando ela sai sem me avisar.

— É melhor se acostumar, menino. Aquela danada nunca avisa quando sai. Uma vez, estávamos brincando de esconde-esconde e ela resolveu parar, mas não avisou Sofia e Solomon. Eles passaram a tarde procurando por ela enquanto ela dormia no quarto — diz Nana, rindo.

Não consigo segurar a risada também. Era bom conhecer mais sobre Kiara. Ela era sempre uma surpresa para mim, e eu adorava estar envolto nos seus mistérios.