**P. V. Príncipe Lien**
Demorei a pegar no sono, estava encantado com a princesa Kiara. Ela era muito diferente de tudo que já conheci, era espontânea e sincera, e isso era incrível.
Droga! Ela não sai dos meus pensamentos. Ela era diferente, nem preciso dizer que as outras pretendentes foram um fracasso. Teve uma que até tentou se esgueirar na minha cama à noite. Graças a Deus um soldado viu e a impediu de entrar.
Mas não devo me animar tanto, a vida às vezes é injusta. Levanto-me e me arrumo, precisava conversar com meu general e grande amigo. Ele sempre me acalmava nas minhas noites em claro.
Saio do quarto e desço as escadas, vou sem fazer barulho para não incomodar os outros. Sigo em direção à ala onde está hospedado o meu general. Bato na porta e ele a abre de imediato.
— Príncipe Lien? — diz ele, surpreso. — O que posso fazer por você?
— Precisamos conversar — digo sério. — Teria um minuto?
— Claro, alteza — diz ele, e faço sinal para que me siga.
— Não se preocupe, não é nada urgente — digo. Saímos do castelo e caminhamos em direção ao jardim. — Vou ficar mais um tempo, Rolf — digo por fim.
— Algo não se resolveu, príncipe? — pergunta ele, olhando-me.
— Fiz um trato com o rei Elrick — digo, explicando. — Ele quer observar se a princesa vai me aceitar.
— Entendo, ela é uma jovem muito bonita, mas sei que não é só isso que você procura.
— Você sabe que, se não fosse por meu pai, eu não teria vindo — digo, sorrindo. — Mas estou com a sensação de que ele acertou desta vez. Ela me cativa e, ao mesmo tempo, me atrai. Sinto uma necessidade de estar ao seu lado, não dá para descrever.
Rolf me olha espantado.
— O príncipe está nutrindo sentimentos pela princesa? — pergunta ele.
— Talvez, mas não tenho certeza. Por isso, desejo ficar mais um tempo, conviver melhor com ela. Só assim saberei que não é coisa da minha cabeça — lhe digo.
— Será como desejar, estou à sua disposição — diz ele, curvando-se.
— Obrigado, meu amigo — digo, colocando a mão em seu ombro. — É bom poder contar com você.
— Sempre estarei aqui, alteza.
— Rolf, você nunca pensou em se casar? — pergunto, curioso. Rolf não era um homem velho; ele estava quase na casa dos trinta anos, assim como eu. Nunca entendi por que ele nunca quis se casar.
— Sim, eu penso em me casar, alteza. Ter uma família é algo que estimo muito, mas estou sempre ocupado e viajando. Quando me casar, quero que seja com alguém especial e que eu nutra sentimentos verdadeiros por ela, e não por obrigação — fico impressionado com sua forma de pensar.
— Você está certo, meu amigo. Quem sabe sua dama não está neste reino — digo, sorrindo.
— Pode ser uma possibilidade, mas estou aqui a trabalho e não a lazer.
— Vamos ficar aqui um bom tempo, nada o impede de se aventurar pelo reino.
— Pode ser que o destino seja generoso comigo, mas não estou com pressa. Tudo tem o seu tempo — diz ele por fim.
Estava curioso para desvendar os mistérios de Kiara. Sua beleza não era tudo a respeito dela; sei que ela esconde algo, e eu vou descobrir o que é.
— Príncipe Lien! — me chama um mensageiro. — O rei pede a sua presença. Ele o espera na biblioteca do castelo.
Apenas aceno, peço a Rolf que me espere e sigo o mensageiro até o castelo. Dou uma pequena batida na porta e entro.
— Mandou me chamar, rei Elrick? — pergunto, entrando.
— Claro, sente-se — diz, apontando para uma poltrona.
— Oi, papai — diz Kiara, entrando e dando-lhe um beijo na bochecha. Então, ela percebe a minha presença. — Estou interrompendo algo? — pergunta, olhando-me.
— Não, filha, sente-se. Preciso falar com vocês dois — diz o rei, com um sorriso. Kiara vem e senta ao meu lado, em outra poltrona.
— Bem, tenho alguns assuntos para resolver em outro lugar, por isso vou delegar algumas funções a vocês dois — diz o rei, sentando-se à nossa frente.
— E o que seria? — pergunta Kiara.
— Estamos tendo alguns problemas em uma das nossas aldeias. Está havendo alguns roubos. Gostaria que vocês fossem dar uma olhada. Pode ser que seja alguém agindo de forma errada, mas também pode ser alguém que esteja passando necessidade. Enfim, é melhor verificar antes que a população resolva intervir — conclui o rei.
— Claro, papai. Vou fazer o melhor que puder — diz Kiara, com um sorriso.
— Príncipe Lien, espero que não se importe de acompanhá-la. Preocupo-me em deixá-la ir sozinha.
— Imagina, majestade, será uma honra — digo a ele.
— Vai ser algo simples de se resolver, mas levem ao menos dois soldados com vocês. Afinal, muitas pessoas cruzam o reino, e eu ficaria mais tranquilo — diz ele por fim.
— Claro. Vou escolher dois dos meus melhores soldados. Não precisa se preocupar, protegerei a princesa. Dou-lhe minha palavra — digo a ele. — Quando deseja que partamos?
— Vocês podem ir agora. O caminho é longo; vão chegar à primeira estalagem ao anoitecer — disse o rei, já se levantando.
— Te espero lá nos estábulos em meia hora — digo a Kiara. Ela apenas assente e sai para arrumar as suas coisas. Saio e vou falar com o meu comandante, Rolf. O encontro ainda no jardim onde conversávamos.
— Rolf, escolha um dos nossos soldados, o melhor. Vamos sair em viagem. Você também vem junto. Arrume o necessário e me encontre em meia hora nos estábulos.
— Como desejar, príncipe — diz ele, fazendo uma reverência e saindo.
Vou em direção ao meu quarto, pego duas mudas de roupa limpa, uma toalha e uma pequena manta. Levaria o básico, pois não sabemos quantos dias durarão a viagem. Pego mais alguns itens de higiene e desço, indo em direção aos estábulos. Chego lá, Rolf já me esperava com Mário, o soldado que ele escolheu. Os cavalos já estavam selados; apenas esperávamos Kiara. Não demora muito e ela aparece com duas bolsas nos ombros. Ela havia trocado de roupa. Estava vestindo uma calça, uma camisa e um colete com uma capa sobreposta e uma bota. Ela estava linda.
— Prontos? — perguntou ela, sorrindo. — A Nana fez uma bolsa com comida para a viagem — diz ela, erguendo uma das bolsas nas costas.
— Me lembre de agradecê-la quando voltarmos — digo a ela. Pego a bolsa das suas mãos e a passo para Mário. Era bom dividir o peso para não forçar apenas um cavalo.
Saímos bem cedo. Esperávamos chegar à primeira estalagem ao anoitecer. Não sabia o que esperar desta viagem, mas tinha esperança de que a minha relação com Kiara evoluísse. Ela me cativa de uma forma inesquecível, nos pequenos detalhes, como quando morde os lábios ao se concentrar, ou o seu sorriso tão franco. Ela sempre transparece as suas emoções.
Me aguarde, Kiara, porque vou conquistar o seu coração.