Laura Miller
Assim que fico sozinha com o pequeno traquina, me sinto perdida naquela cozinha enorme, não faço ideia do que fazer para ele e nem onde posso encontrar algo para preparar. O menino olha para mim esperando que resolva fazer algo para lanchar.
Respiro fundo tentando ser prática no que posso fazer para ele, acho que parecia aos olhos dele, como se fosse uma mulher i****a. Meus olhos se fixam no menino que deve estar nesse momento se duvidando se deveria ter mesmo me trago para sua casa.
Afasto da mesa e começo a vascular o que há na geladeira, já havia visto uma cesta com pães sobre o balcão, talvez na geladeira haja algo para colocar entre os pães e um pouco de suco. Graças a Deus estou com sorte e havia queijo e presunto, arrumo um sanduíche para Vittorio e coloco um copo de suco a sua frente.
— Acha que precisa de mim aqui ou posso ir conversar com seu pai? — Pergunto receosa.
Esse menino já aprontou tanto com todas as babás, por que ele não aprontava alguma coisa comigo? Uma desconhecida que ele escolheu para dar trabalho aos seus pais.
— Pode ir, prometo que vou me comportar. — Estreito os olhos em sua direção, não consigo confiar no que ele diz.
Por garantia me sento de frente para ele e fico observando lanchar tranquilamente olhando para mim.
— Você não é daqui! — Ele afirma com muita segurança.
Observo enquanto ele baixa a cabeça e mantém a boca cheia para evitar dizer alguma coisa, mas estou curiosa e quero conhecer melhor o Vittorio assim como todos dessa casa.
— Por que acredita nisso? — Pergunto curiosa.
Seus olhos se abrem ainda mais, aperto meus lábios para esconder o sorriso que começava a se formar, e espero que ele crie coragem para fala o que deseja. O vejo largar o seu lanche e beber um pouco do seu suco, me lança um sorriso tímido em minha direção.
— Sua pele é mais escura que a minha e seus cabelos enroladinhos são muito lindos. — Assim que diz vejo suas bochechas corarem envergonhado.
Começo a rir da forma como ele tentou parecer gentil e galante, sem que me ofendesse com a sua pergunta. Estico a minha mão em sua direção e toco em sua pequena mão.
— Não conheci meus pais, nasci e fui criada em um orfanato, então não faço ideia quem são ou quem foram os meus pais, por isso devo ser dessa cor, parecendo um chocolate. — Digo evitando contar algo muito íntimo.
Até porque não posso criar qualquer vínculo com esse menino, ainda mais que ele deve ter vários truques para me deixar em maus lençóis com seu pais, e se quero realmente conseguir emprego para levantar algum dinheiro e iniciar as minhas investigações, preciso que dê certo a minha estadia aqui.
— Sinto muito. — Os seus olhos ficam tristes.
Suspiro preocupada com o que esse pequeno menino possa estar enfrentando, se estiver certa, ele com a idade que têm já deve estar vendo coisas que nem deveria imaginar. O pensamento conseguem me deixar incomodada. Vittorio é uma criança que ainda não deveria ver o que esses carcamanos fazem com esses negócios sujos deles.
Antes que pudesse dizer algo para melhorar o seu rosto tristonho, noto que o grandão que ainda não conheço acabou de entrar na cozinha e nos olha surpreso, acho que ele não esperava que estivesse tendo uma conversa tranquila com o Vittorio.
— Não ouviu quando Steffano a mandou dar o lanche e ir para o escritório? — Ele me pergunta ainda surpreso.
— Sim, ouvi, mas estou conhecendo primeiro o Vittorio, se não gostar dele então não há necessidade de conhecer o seu patrão. — Digo de queixo erguido.
O vejo trincar os dentes e o seu maxilar ficar rígido, acho que toquei em um ponto fraco naquela relação, é visível que eles são parentes e se estiver mesmo certo, ele deve ser irmão ou um parente próximo.
— Ele é meu irmão, me chamo Enrico, lembro que não nos apresentamos. — Meneio a cabeça e me ergo da cadeira.
— Se comporte, daqui a pouco eu volto. — Digo a Vittorio e viro em direção Enrico.
Ele mantinha a posição intimidadora e o olhar cheio de interesse em minha direção, estou em dúvida se é por minha beleza ou se porque toquei em algo que doeu o seu ego.
— Terceira porta a esquerda, meu irmão te aguarda…
Enrico diz, pego a minha bolsa e vou em direção ao tal escritório, dou uma última olhada para Vittorio que sorri me encorajando. Se ele souber que esse tipo de gente é o meu tipo preferido de matar, eles são mais resistentes.
Começo a olhar a casa com mais cuidado, observando os pontos de fuga, onde pode haver armas escondidas. Chego até as portas duplas e uma delas estava entreaberta, respiro fundo para controlar as minhas feições e não deixar que ele perceba quando contar uma mentira.
Bato na porta três vezes e espero que ele permita que entre.
— Entre. — A voz dominante que Steffano Romano tem, chama a minha atenção.
Passo pelas portas duplas e observo o ambiente com uma decoração clara e sofisticada assim como toda a casa que se revelou ser uma linda mansão por dentro. O vejo sentado em sua cadeira como um rei em seu domínio, observando pelas janelas atrás de sua grande mesa que mais parecia uma obra de arte, com a sua base retorcida e sustentando o tampo de vidro.
De um lado da parede havia um grande quadro com ele sentado em um trono, Vittorio e Enrico cada um de um lado. Viro o corpo em direção a outra parede e observo os diversos livros que haviam ali.
Por algum motivo acreditava que aqueles livos nenhum fosse verdadeiro, talvez escondessem algum cofre ou fosse o dispositivo que abrisse alguma porta para um esconderijo. Italianos são famosos em fazer essas artimanhas para esconderem seus esquemas.
Me aproximo da mesa e seguro a minha bolsa na frente do corpo e espero que ele diga algo, até porque fui arrastada para sua casa.
— Então você foi a escolhida pelo meu filho? — Sua pergunta parecia um tanto irônica.
— Vittorio estava aprontando com a mulher que foi estúpida com ele e o pegou pelo braço. — Começo a relatar o que havia visto do parque.
— Enrico não me disse nada disso. — Ele parece irritado. — Vittorio é um bom menino, mas desde quando perdi a mãe dele, está sempre tentando chamar atenção.
O vejo se ergue detrás da mesa e passar por mim, não deixo de perceber a real altura que ele tem, o perfume másculo que emanava de seu terno, as joias que estava usando em seu pescoço e a grossa aliança que ainda exibia em seu dedo anelar.
Steffano caminha em direção à porta, com passos seguros e uma postura controladora, ele parece um homem bastante confiante, aqueles que matam e perguntam depois. Observamos enquanto ele retorna para o seu lugar atrás daquela mesa.
Em poucos segundos via Vittorio e Enrico entrando atrás dele, sorrio e Vittorio se coloca ao meu lado e segura em minha mão. Comecei a me sentir confiante em estar com ele ao meu lado, ele é um menino lindo com olhos claros, deve ter herdado da mãe já que Steffano tem olhos escuros.
Enrico se põe ao meu lado e olha para o irmão que não parecia muito satisfeito.
— Vittorio o que fez para a sua babá? — O vi olhar para o menino.
E sabia que ele não estava dando brecha para ele mentir, ali ele queria apenas a verdade, o que me irrita. Céus ele é apenas uma criança, fico indignada com a postura dele.
— Ele é apenas uma criança que fez uma traquinagem, não percebe? — Digo preocupada com o que ele possa fazer ao pequeno que estava ao meu lado assustado.
Mantenho os meus olhos fixos no homem que se ergue da cadeira, aparentemente muito irritado com a minha postura, nunca tive medo de bandido e não será desse que terei.
— Corajosa você, mas gostei… — Diz sorrindo e olha para seu irmão. — Resolva a situação daquela babá, já que ela bateu em Vittorio.
— Providenciarei agora mesmo, desculpa se falhei com a segurança do meu sobrinho, não vi quando ela fez algo. — Ele diz e me calo para não colocá-lo em nenhuma confusão.
Afinal não preciso de um inimigo na casa enquanto procuro informações e arrecado um pouco de dinheiro.
— Meu filho parece que se afeiçoou em você, então acredito que podemos fazer um contrato de trabalho inicial por três meses e testar. — Ele diz e Vittorio aperta em minha mão e o vejo sorrir.
— Aceite, gostei de você, prometo que vou me comportar Laura!
Olho para o seu rosto delicado e o desejo de tocar e abraçá-lo me incomoda, não posso criar vínculos com essa criança, preciso ter foco.
Estou aqui pelo dinheiro e conseguir informações, não para me relacionar.
— Okay, eu aceito…
— Ótimo, então providenciarei tudo o que será necessário, recomendo que se mude ainda hoje, meu irmão irá te ajudar com isso. — Olho para Enrico que me olha com um sorriso.
— Não há necessidade, cheguei recentemente e não tenho nenhum pertences, fugi da minha casa com apenas duas mudas de roupas. — Conto a eles a mentira que criei para explicar o meu aparecimento em Verona.
Minha história criada é que vivi em um orfanato, logo me casei e que sofria agressões. Cansei de sofrer e fugi no meio da madrugada. Tipico caso de mulher que precisa de ajuda e acolhimento.
Os vejo se olharem e me calo para Vittorio não ter que ouvir algo e ficar criando imagens em sua mente.
Vejo Steffano trocar um olhar com irmão, provavelmente para descobrir sobre a minha vida.
— Tudo bem, senhorita ou senhora? — Ele pergunta meio incerto.
E fico mais incerta ainda em responder algo sobre do tipo, para o homem que me olhava dos pés a cabeça.
— Senhorita, senhor Romano. — Digo ainda segurando as mãos de Vittorio entre as minhas.
— Então ela poderá ficar papá? — Olho para o meu empregador e espero por sua resposta.
— Bem-vinda a mansão Romano, senhorita Miller…