Laura Miller
— Sinto muito, você não tem qualificação para nenhuma de nossas vagas. — A recrutadora diz com meu curriculum em suas mãos.
Mais uma vez não consigo um emprego sequer para me aproximar. Estou começando a ficar frustrada por não conseguir o que desejo.
Assim que consegui sair da Escócia fui perseguida por vários lugares, precisei trocar de nome e vida. Estava começando a ficar sem muitas opções, o dinheiro que tinha ainda comigo já estava acabando e se não conseguisse nada logo, precisaria a recorrer a meios que não desejava.
Não quero ser uma mercenária, mesmo que deseje o coração daquele filha da p**a com o casaco azul. Engulo a irritação pela negativa da mulher a minha frente, com o desejo de enfiar a minha mão em sua cara e deixar claro o quão sou capacitada para trabalhar no que for que ela tiver separado para aquela seleção.
Continuo irritada com os pensamentos circulando a cada treino que precisei suportar, para vir uma mulherzinha e me dizer que me falta capacitação? Olho para a mulher com um vestido floral deixando o b***o praticamente exposto e com o meu melhor sorriso irônico, se pudesse dizer o quanto fui muito bem instruída, mas percebo que nada daquilo me será de serventia, pelo menos não em um emprego comum.
Sorrio com uma falsa alegria e levanto para sair do prédio simples, onde havia tentando uma oportunidade de emprego para conseguir me aproximar do meu alvo. Seguro a bolsa que estava apenas o meu básico, o pouco de dinheiro que tinha minha nova identidade. Laura Miller, nascida em um orfanato na Sérvia e que com a maioridade não pode continuar morando lá, sem familiares e sem passado, algo simples para não chamar atenção.
Assim que saio do prédio, o sol em Verona estava terrivelmente quente para essa época do ano. Olho ao redor e havia um parque e decido ir espairecer um pouco, caminho em direção ao parque não muito longe de onde é o prédio de recrutamento. Ele é lindo, via os vários casais sentados aproveitando o dia para um momento de lazer.
Naquele momento observando a todos me sinto incompleta, sentia falta de Angela, mesmo que fosse para treinar ou apenas para ver como nunca iriamos aproveitar o tempo como pessoas normais, já que nossa vida foi cercada por armas, treinos, surras, torturas físicas e psicológicas. Deixo mais uma lágrima escorrer ao lembrar de como a minha irmã sempre foi a mais corajosa, por isso ganhou mais destaque e conquistou um cargo.
Sento em um banco um pouco mais afastado, com a vista de uma deslumbrante de uma pequena mansão em tons de azul, com uma árvore na entrada e um garoto recolhendo algo no chão, noto que ele não estava sozinho ali, havia vários seguranças provavelmente para impedir que ele saísse do lugar sem que ninguém percebesse.
— Menino insolente… — Uma mulher surge do nada e o segura pelo braço.
Continuo olhando para a cena que se desenrolava entre a mulher e a criança, fico incomodada como ela estava tratando o menino que olhava assustado. Talvez a mulher seja uma tia ou até mesmo uma madrasta.
Noto que alguns seguranças que olham a cena parece não se importar com o que estava acontecendo. O que faz com que acredite realmente que ela é alguma parente para falar com ele daquela forma. Continuo observando a mulher que continuava puxando o garoto de qualquer jeito em direção à casa, aquela cena começa a me incomodar por algum motivo. Tenho vontade de ir até onde ele estava e tentar protegê-lo daquela situação da mesma forma como Angel sempre me protegeu.
Sorrio quando em um momento de distração daquela mulher ele consegue derrubá-la no chão e sorrio da infelicidade da desconhecida, não consigo evitar e começo a rir da travessura que o menino apronta. Coloco a mão na boca para esconder a risada, olho ao redor e percebo que sou a única interessada no que está acontecendo.
Fico surpresa que em seis meses é a primeira vez que consigo rir de algo tão bobo como um menino que foi mais esperto que uma mulher adulta, que pela sua fisionomia deveria ser mais velha do que sou. Mantenho os olhos filhos naquela mulher que começava a reclamar enquanto se erguia do chão.
Mas minha atenção muda de foco com o barulho alto de uma chamada em meu celular, estranho já que esse número dei apenas para agência de emprego, abro a bolsa e procuro o aparelho escandaloso, assim que consigo pegar o aparelho olho para o visor, mas não reconheço o número. Talvez seja outra tentativa de me aproximar.
Me assusto quando o menino travesso se joga em meu colo, com o impacto de seu corpo contra o meu acabo deixando o meu telefone cair no chão, que se espatifa completamente, olho irritada para o menino que agora estava com um olhar totalmente diferente do que havia visto há poucos segundos.
— Por favor, me ajude, ela é má comigo… — Ele diz assustado.
Antes que ele terminasse, a mulher surge acompanhada de um homem enorme atrás dela.
— Sinto muito, não posso te ajudar. — Digo e observo todo o drama que o menino faz ali na minha frente.
O vejo tentar se esconder atrás de mim, procurando uma forma de se proteger da mulher que vinha com a roupa suja de algo que não faço ideia do que seja, o olhar irritado dela para o menino chega a ser cômico.
Como ela conseguiu deixar que um garoto desse tamanho a driblasse dessa forma, a deixando com cara de i****a. Enquanto ela tenta puxar o menino que estava atrás de mim, sem a interferência daquele homem, de uma forma sutil impedia que ela tocasse no garoto. Por mais que o menino seja travesso, ela como adulta não deve perder a compostura e a paciência com ele.
— Chega me demito! — Ela grita e arremessa o avental que estava usando aos meus pés. — Não suporto mais esse garoto!
Olho para o segurança que esfrega a mão no rosto e se irrita com o menino, que estava sentado agora ao meu lado com os olhar cheio de lágrimas. Por alguma razão sentia que ele estava fingindo toda aquela reação.
Vejo a mulher se afastar e nesse momento fico sem saber o que fazer, durante meus anos de trabalho nunca precisei lidar com uma criança. Respiro fundo e me abaixo para pegar o celular, olho com atenção para a tela completamente trincada.
— Ótimo! — Exclamo irritada.
O pensamento me irrita o suficiente para olhar feio para os dois que estavam me olhando.
Pego o garoto pelo mão, levanto do banco e caminho em direção ao troglodita que estava agora na minha frente.
— Precisa contratar uma tutora melhor e melhorar a segurança da casa, já que ele saiu facilmente. — Digo irritada olhando para aquele homem que me causava um sentimento de autopreservação.
Entrego o garoto para o homem e saio pisando duro, estava extremamente irritada com a situação, m*l tenho dinheiro para viver até o fim da semana, agora sem telefone como conseguirei um emprego e continuar a minha investigação.
A irritação estava me consumindo, ouço uma movimentação acontecendo atrás de mim, alguns chamados e decido não olhar. Agora quero apenas chegar em casa.
O ônibus que passava próximo da pensão onde vinha vivendo, vem se aproximando, acelero os passos e entro no transporte coletivo, pelo menos isso para alegrar um pouco o meu dia. Procuro algumas moedas em minha bolsa e p**o a minha passagem.
— Obrigada. — Digo gentilmente.
Caminho pelo corredor e sinto a freada brusca do transporte coletivo, com o susto olho para todos os lados procurando pelo perigo pela para repentina, acabo me desequilibrado e caio sentada no colo de um desconhecido que abre um sorriso preocupado, noto o seu olhar amedrontado na direção do motorista.
— Desculpa… — Digo e viro o rosto na mesma direção que o desconhecido estava olhando.
O olhar de todos pareciam assustados quando vemos o ônibus ser praticamente invadido por aquele troglodita do parque. Me ergo assim que o olhar dele vai para o coitado do homem que havia caído em seu colo, me aproximo do desconhecido querendo entender o motivo de ter invadido o ônibus.
— O que pensa que está fazendo? — Pergunto alterando a voz.
Baixo o olhar e vejo o menino vindo logo atrás dele com um olhar que parece estar aprontando alguma coisa. Estreito os olhos na sua direção que ri, mostrando os dentinhos perfeitos.
— Não ouviu te chamando? — O homem pergunta indignado.
— Não ouvi e se tivesse ouvido teria ignorado do mesmo modo. — Respondo sentindo uma irritação crescente.
— Preciso de uma babá, como viu a última se demitiu… — Olho para o garoto que parecia ter aprontado tudo aquilo.
E o que isso me importa, olhar para esse homem estava de deixando em alerta, algo não está certo e sei que isso pode ser muito perigoso para mi, ainda mais agora sem ter nenhum apoio.
Fico olhando para toda a situação que estava acontecendo, para o olhar de medo de algumas pessoas que pareciam reconhecer o troglodita a minha frente e principalmente o pavor que todos estavam demonstrando. Estufo o peito e olho em direção ao menino que meneia a cabeça pedindo que aceite a oferta.
O que poderia dar errado? Sei me defender e posso derrubar esse i****a em poucos movimentos e matá-lo, sem contar que tenho certeza que esse menino não irá me dar trabalho.
Talvez seja algum ser superior se compadecendo de mim nesse momento delicado. E esteja me entregando essa oportunidade de trabalho para conseguir algo para continuar a minha investigação aqui em Verona. Fecho os olhos tentando controlar os pensamentos contraditórios e o sentimento de alerta.
Quando os abro, olho diretamente para o troglodita e confirmo com a cabeça aceitando a sua oferta.
— Você me deve um celular! — Digo a primeira coisa que me vem a cabeça.
— Irei providenciar um ainda hoje. — O homem diz. — Afinal como se chama?
Respiro fundo e suavizo o meu rosto para poder contar a mentira.
— Sou Laura Miller…
Ele se aproxima e perto a sua mão, de repente outros dois homens surgem por trás de mim e me conduzem para a saída do ônibus. Nesse momento todos os meus anos de treinamento começam a apitar, gritando que não deveria ir naquela direção, na verdade, deveria ir na direção oposta.
Caminho ao lado do menino que não deve ter mais que seis anos, ele segura em minha mão e o vejo rir por algum motivo. Não estávamos longe da casa azul, passamos pela entrada da casa e ouço o grandalhão que não se apresentou chamando atenção dos seguranças que não estavam nos seus postos, permitindo que o menino saísse da casa tranquilamente e corresse perigo.
A casa é deslumbrante, passamos por uma sala bem decorada com alguns quadros que devem valer alguns milhões, a escadaria de conto de fadas é linda, realmente de retirar o fôlego.
Caminho lentamente observando tudo, sinto o garoto me puxar casa adentro e entramos na cozinha sem dizer uma única palavra, ele senta em uma das banquetas que estavam ali e fica me olhando como se esperasse alguma coisa.
— Estou com fome, quero comer algo. — Olho para a imensa cozinha e me apavoro.
Essa casa não tem cozinheira? Volto a olhar para o garoto e começo a coçar a cabeça sem saber o que fazer.
— Olha só, não sou babá, não tenho qualificação para isso e tão pouco sei cozinhar… — Digo preocupada.
Sei que se mentir estarei bem ferrada, já que tenho uma ligeira impressão quem eles são.
— Me chamo Vittorio Romano, preciso de uma babá. — Ele se apresenta.
— Já entendi, mas… — Tento explicar novamente para o garoto.
Paro de falar assim que começo a ouvir um alvoroço do lado de fora da cozinha, uma voz forte e grossa amaldiçoando a todos os que deixaram Vittorio aprontar mais uma de suas artimanhas, expulsando a segunda babá durante o mês.
Olho para o menino com o olhar de culpado dando de ombros a ouvir tudo o que o homem estava falando.
“Vocês ainda trazem uma desconhecida?” — Gritou ainda mais alto.
A voz dele me causa uma eletricidade desconhecida, é como se houve algo naquela voz que me chamava, me atraísse.
“Ele a exigiu e precisamos de alguém para ficar com ele!” — Ouço o outro dizer.
Mantenho os olhos sobre Vittorio preocupada em como iria trabalhar em algo que não faço ideia por onde começar. Continuo ouvindo as reclamações de quem acredito ser pai desse menino.
— Aceite, farei com que o meu pai lhe contrate, por favor! — Olho para o Vittorio.
Posso estar fazendo a pior escolha em minha vida, mas a atual situação está me obrigando a aceitar o trabalho para me manter aqui em Verona até descobrir quem estava na Rússia. Mas se o que o pai dele está dizendo é verdade, então esse garotinho é o terror de qualquer babá.
— Tudo bem, mas na primeira gracinha vou embora, ouviu bem… — O ameaço.
Ele concorda com a cabeça e a entrada do homem enorme me chama atenção, ele é um homem alto e extremamente charmoso, nossos olhares se conectam, mas existe algo nele que me é familiar.
— Então você é a vítima da vez? — Diz.
Ergo o queixo e olho diretamente para o homem de barba grossa e olhos escuros que me sondavam, ele se aproxima do menino e deixa um carinho sem seus cabelos.
— Conversaremos daqui a pouco Vittorio Romano. — Noto um peso em sua voz.
Ele volta a me olhar, sinto que estava me analisando, não consigo identificar o que ele procurava em mim. Coloco as mãos na frente do meu corpo e tento relaxar na frente dos dois homens que pareciam querer me intimidar.
Se eles soubessem que já fiz muitas coisas com homens como eles, adoraria ver em seus olhos aquele medo novamente. Respiro com calma para diminuir os pensamentos.
— Provavelmente ele será a minha vítima, senhor. — Digo com confiança.
Uma vez que não tenho nenhuma experiência, sinto a necessidade de me mostrar um pouco mais confiante.
O vejo gargalhar e sorrir de canto.
— Prepare algo para ele lanchar e me encontre no escritório para poder lhe conhecer, quero saber quem está com meu filho… — Diz e chama o outro homem para lhe acompanhar.
Confirmo com a cabeça e olho para Vittorio que se empolga.
— Ok, o que farei para você? — Coloco a bolsa no balcão e olho para aquela cozinha luxuosa.