04º

1014 Words
Luiza Guimarães Acordo no meu quarto exausta, levanto indo para o banheiro, escovo os dentes, tomo um banho gostosinho e longo tentando apagar as memórias de ontem da minha cabeça, saio do banheiro enrolada na toalha e vou pro closet, visto uma calcinha de renda branca, uma calça xadrez meio folgada no corpo e um cropped preto. Passo perfume, desodorante e arrumo o meu cabelo num coque bagunçado, calço o meu chinelo e pego o meu celular saindo do quarto, vejo o Ricardo no corredor e o ignoro completamente descendo as escadas, vou para a cozinha e começo a preparar o café todo em silêncio, sinto algumas lágrimas rolando pelo meu rosto e enxugo as mesmas rapidamente, ouço uma cadeira ser puxada e ignoro. Pesadelo: conversa comigo- fala num tom de voz baixo e eu n**o com a cabeça segurando o choro- não foi minha culpa o que aconteceu Luiza- fala e eu ignoro focando a minha atenção no café- p***a fala comigo- fala puto e eu fecho os olhos com força sentindo as lágrimas pelo meu rosto. Flashback Patrícia: vejamos se não é p*****a preferida do Pesadelo- fala me cercando no meio de uma rua com as amiguinhas dela Eu: o que tu quer em Patrícia? Quer brigar? Legal, arranje outra pessoa vai- falo e tento voltar o meu caminho, mas sou impedida por uma das suas amiguinhas entrando no caminho Patrícia: com medo Luiza?- pergunta com um sorriso sínico na boca Eu: de você? Nunca- falo encarando a guria, não tenho outra alternativa a não ser brigar Patrícia: está muito valente para uma mendiga, é isso que você é, mendiga- fala me empurrando e eu já dou uma risada irônica Eu: você acha que eu tenho vergonha de ter morado na rua? Vergonha mesmo é ficar correndo de um cara que não quer nada de você, vergonha é menosprezar outra pessoa para se sentir no poder, vergonha é parir um filho e abandonar ele na rua, vergonha é ser uma pessoa como você Patrícia, um lixo- falo e ela me olha p**a da vida me empurrando, duas das amigas dela me seguram com força e ela me olha com um sorriso sínico Patrícia: você acha que o Pesadelo vai te aguentar por muito tempo na casa dele sua imunda? É só questão de tempo para ele te pôr para fora daquela casa e você vai voltar para a rua, vai voltar para o lixão, nem os seus pais te quiseram, quem dirá o Pesadelo que não é nada teu- fala e me dá um murro na boca do estômago. Murro esse que foi seguido por outro, e outro, e outro, quando eu dou por mim já estou largada no chão com ela e as amigas dela me chutando, os moradores em volta gritando "ARREGAÇA" "BATE MESMO" e coisas do tipo enquanto filmam tudo, tusso sangue e ouço tiros para cima, vejo o Cobra e o Terror chegando para apartar a briga e sinto o chão sumindo debaixo de mim, sinto o perfume do Ricardo e apagou já sem forças. Flashback Pesadelo: já foi Luiza, já passou, calma baby- fala me abraçando enquanto faz carinho na minha cabeça- a essa hora a Patrícia e as amiguinhas dela já viraram cinzas- fala e eu aperto mais ele no abraço. Eu fui humilhada no meio da favela inteira, eu levei uma surra por que? Por simplesmente morar com o homem que ela deseja, legal, eu tenho um crush muito grande no Ricardo, mas ele sabe? Exatamente, não! Ele corresponde ao meu sentimento ou ao meu desejo carnal por ele? Exatamente, não de novo! Então para que isso? Para que fazer isso? Para se sentir a rainha da cocada preta? Muito se engana quem acha que eu tenho vergonha de ter sido moradora de rua, aliás, eu falo que fui moradora de rua com muito orgulho, eu consegui me reerguer e encontrar alguém que realmente se importa comigo, idaí que ele não sabe e não corresponde os meus sentimentos? Só a amizade dele muda tudo, o jeito que ele cuida de mim, ele faz questão de me dar tudo o que eu nunca tive na vida, não estou falando apenas de bens materiais, eu estou falando de amor, carinho, atenção, preocupação. Sem o Ricardo eu acho que eu não seria nada, isso se estivesse viva, o que eu acho muito improvável. Pesadelo: tá melhor?- pergunta e eu confirmo com a cabeça escondendo o meu rosto no peito dele- calma baby, calma- fala e deposita um beijo na minha cabeça. Ele me chama de Baby desde que o conheço, o Ricardo já sofreu na vida e quando me trouxe para casa dele começou a cuidar de mim como uma filha realmente, por isso o baby, por que eu sou o bebê dele. Pelo o que o Ricardo me contou, quando ele era pequeno ele sofria abusos dos pais dele e de alguns amigos dos pais deles, todos drogados e alcoólatras, até que ele chegou ao limite dele e matou todos, entro para boca com um tal de G7, ele disse que tinha esse tal G7 como pai, ele criou o Ricardo até os quatorze anos, quando ele morreu em uma invasão e o Pesadelo assumiu o morro, no ano seguinte eu cheguei na favela e ele me acolheu, o resto da história é o que eu vivi ao lado dele. Pesadelo: eu sabia que tu estava no barracão e na casa do Terror, eu devia ter ido atrás de você, eu sabia que tinha coisa errada- fala me apertando no abraço Eu: chega desse assunto por hoje Ricardo, por favor- peço me soltando dele e ele confirma com a cabeça, ele seca as minhas lágrimas e deposita um beijo no topo da minha cabeça Pesadelo: o que tu acha de fazer uma social aqui de noite? Tu chama as tuas amigas, eu chamo os meninos, só nós mesmo, só para distrair essa tua cabecinha- fala e eu confirmo com a cabeça Eu: pode ser- falo mais calma e sorrio ao sentir o cheirinho gostoso do seu perfume.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD