Capítulo II

2157 Words
A reunião começou logo cedo com nossa equipe de jornalistas, composta por sete pessoas. Elias era responsável por toda a parte de anúncios correspondentes à cada uma das matérias. Lucas era o responsável por matérias de moda. Elena, por matérias de estética. Fabiana, pelas de tendências, como beleza, maquiagem e cortes de cabelos. Beatriz, pelas de artesanato, ou faça você mesmo. Cláudia, pelas de fofocas de famosos e Katarina ficava com a parte de matérias investigativas ou como vivenciar o mundo real. As partes mais lidas de nossa revista eram moda e as matérias de Katarina, que se jogava de cabeça na vida dos outros. Acho que você pode vê-la como a jornalista do filme "Como perder um homem em 10 dias", quem não se lembra dele? Mulheres, na maioria das vezes, se enxergam nas loucuras que Katarina escreve e uma vez por mês ela responde às perguntas das leitoras, isso diverte até nós da parte editorial. Enquanto conversamos sobre o que será ou não publicado na revista do mês, Susana observa a dica da matéria a ser apresentada por Katy e sorri. — Katarina, de onde tirou essa ideia? — Ela pergunta sorrindo discretamente. — Tenho recebido muitas perguntas das leitoras, dizendo que os homens de hoje em dia só querem s**o, e como elas poderiam encontrar um príncipe encantado — Katy explica olhando para as anotações em seu caderno todo decorado. — Essas leitoras sonham demais. Como acha que vai fazer essa matéria ilusória? — Susana a indaga, rindo junto aos outros. — Simples, vou observar um dos únicos homens que conheço e que todos sabem ser um príncipe intocável — responde Katy. — E quem seria esse personagem da Disney? — Susana diz sarcástica. — O Gustavo — responde me olhando, neste momento todos na sala se viram em minha direção e um silêncio se fez, o que me deixa bastante constrangido. — O que te faz pensar que Gustavo é um príncipe? Todo homem tem seu lado r**m e isso é sempre provado pelo tipo incerto de mulher, não acha? — Susana argumenta, com o semblante efetivamente mais sério. — Acho que não é bem assim, ainda existem homens que prezam o caráter por mais que a mulher seja a errada — Katy expõe enfaticamente. — Façamos o seguinte, vou formular algumas perguntas e você fará o mesmo, entregaremos para o Gustavo responder e publicaremos como entrevista. Escolherei alguém que tenha fama de pegador para responder às mesmas perguntas e a matéria se chamará Entre o príncipe e o lobo mau — Susana rebate com um sorriso contido no rosto — No final da matéria você colocará o e-mail da revista pedindo que as leitoras respondam o que preferem, o príncipe ou o lobo mau. Todos fizeram silêncio e eu não palpitei, na verdade, gostei da matéria, isso serviria para que eu me reavaliasse. Terminamos a reunião já era quase meio dia e, enquanto recolhia minhas coisas, Susana fez sinal para que eu esperasse. Assim que ficamos a sós ela me olhou de um jeito curioso. — Você está de acordo com a matéria? Não o vi esboçar nenhuma reação? — Pergunta me pegando de surpresa. — Não acho nada, Susana, não me considero um príncipe. Sou um ser humano e tenho defeitos, principalmente de avaliação, já que nem toda pessoa que imaginei ser digna de meus sentimentos foram. Decepções existem — respondo pensando em minha ex. — Você não é um personagem da Disney, como pode não se questionar? Nunca vi nenhum homem recusar s**o casual e sei o quanto mexo sexualmente com você, mas, no dia que te agarrei em minha casa, você recuou. Isso com certeza tem um motivo, ou você é personagem de conto de fadas ou gosta de fingir ser o que não é. Como contos de fadas não existem, posso dizer que você atua bem, Gustavo — diz com certa raiva no tom de sua voz. — Susana, desculpe te decepcionar, mas não vou ser o que não sou só pra te agradar, posso gozar sozinho, sem ter que machucar outra pessoa ou a mim mesmo — respondo a fazendo corar de ódio. — Vamos ver se é isso mesmo. Veremos ver se está no caminho certo ou só está sendo um i****a hipócrita. Cuidado ao responder às perguntas — fala em tom ameaçador, como se quisesse voar em meu pescoço. — Pense o que quiser, isso não muda o que sou — falo pegando a pasta com meu notebook. — Gustavo — chama, antes que eu saía — eu já tive homens como você e sei o quanto encenavam. Enquanto não enxergar isso em você mesmo e continuar a se intitular príncipe, nunca será valorizado por uma mulher. Pense nisso! — pontua com semblante sério e a corriqueira sobrancelha erguida. Saí da sala pensando no que ela tinha dito e realmente fui assim a vida toda, dei valor demais e no fim sempre era trocado por pessoas que elas imaginavam ser reais. Será que eu demonstro ser falso, ser de mentira? Onde estão os valores, o que aconteceu com o mundo enquanto eu dormia? Vou almoçar e só consigo pensar em como responder às perguntas que serão formuladas por elas. Se eu mentisse, aí sim seria falso, como poderia dizer algo que não faço? Quem sabe, sendo verdadeiro, eu posso chamar a atenção das mulheres para homens como eu, que sofrem por amor e que amam de verdade, que tratam bem e com respeito, que acreditam que s**o é consequência de um bom relacionamento e não combustível para ser pegador. Nunca colecionei paixões, buscava amor, alguém para amar e ser amado, alguém para envelhecer ao meu lado, sentado na varanda de mãos dadas e observando os netos brincarem no jardim. Seria errado sonhar com algo assim? Seria mesmo isso que afastava as mulheres de mim? Precisava responder de maneira verdadeira e, depois da matéria e do feedback dos leitores, reavaliar minha vida. Eu queria f********r com Susana, mas antes precisava conhecê-la melhor, enquanto ela queria t*****r comigo sem ter que se envolver. O pior é que a cada dia que passava eu tinha certeza de que Susana não era assim, ela falava como se estivesse machucada, como se quisesse transparecer o que não sentia, ou afirmar algo para que ela mesma acreditasse. Eu precisava conquistar essa mulher, mostrar que o amor faz bem e que ela precisava dar mais uma chance para si mesma. A semana passa rápido, um calor imenso toma conta dos dias e eu aproveito para acompanhar as sessões de fotos de biquínis num clube privativo. À reunião de sexta, assim que sentei, katy me olha sorrindo. — Gu, minhas perguntas estão prontas — disse ao me entregar uma folha com cinco perguntas digitadas em um papel. Não leio, apenas passo os olhos pelo papel, mas posso observar que suas perguntas não parecem com o que ela quer saber e sim com que Susana quer saber. Neste momento Susana me olha. — Gustavo, aqui estão minhas perguntas e espero que seja sincero ao responder, nada de ser personagem, hein? — Diz Susana me olhando de uma maneira engraçada e quase deixei um sorriso sarcástico sair por meus lábios, mas achei melhor não e, ao invés disso, baixei os olhos. — Não preciso fingir o que não sou, Susana, fique tranquila, vou ser sincero, agora se eu vou parecer personagem de conto de fadas ou não, é com vocês — respondo friamente. Como pode uma mulher me excitar tanto e me irritar ainda mais? Os demais chegam na sala e estranho quando percebo que nosso fotógrafo também entra, afinal, ele nunca participa destas reuniões. Ele se senta e abri um sorriso enorme para as mulheres que estão à mesa, como se jogasse charme. Não posso mentir, o cara é de presença e, pelo que ouço dizer, é o tipo come todas. Ao fim da reunião, antes se levantem, Susana toma a palavra. — Bom, como sabem, a matéria da Katy nos coloca entre um príncipe e um lobo mau. Nosso príncipe é o Gustavo e para responder as mesmas questões será o Cristiano, nosso fotógrafo. Aqui todos o conhecem e imagino que saibam de sua fama de pegador compulsivo, que não é dado a compromissos, que é o famoso "pega e não se apega" — diz sorrindo e piscando para Cristiano. Naquele momento, a minha vontade é voar no cara que pisca de volta para Susana. Percebo que ha algo no ar, como se eles estivessem transando, e o ódio toma conta de mim, tanto que fico de cara f**a para os dois e Susana sorri ao notar. — Vocês precisam responder as perguntas até quinta, pois sexta a revista será impressa para ir para as bancas à noite — Katy fala com a caneta entre os dentes. Assenti com a cabeça e me levantei, estava desconfortável com as constantes trocas de olhares de Susana e Cristiano. Assim que me levantei, Susana me olhou de forma sarcástica e ironicamente sorri. — Se me dão licença, preciso rever algumas coisas em minha sala — digo e saiu antes de ouvir qualquer resposta. Assim que atravesso a antessala de reuniões, chamo o elevador e entro, mas, antes do elevador parar no andar de minha sala, Ana Paula entra e noto que está com os olhos molhados, como se estivesse chorando. Quando ela me viu, ficou constrangida e eu me aproximei. — O que aconteceu Ana? — Pergunto preocupado. — Nada não, senhor Gustavo — responde de cabeça baixa. Me sintosintode ver uma mulher chorar, ainda mais sendo alguém que sempre mexeu comigo assim. Ela é tão meiga e delicada, e isso me trazia a sensação de querer protegê-la. Me aproximo ainda mais, limpo a lágrima que rola de seus olhos, levanto sua cabeça e olho diretamente em seus olhos. — Não fique constrangida, só quero ajuda-la — digo segurando seu rosto, fazendo com que me olhasse. Ela coloca a mão em meu braço e percebo que seu anel de compromisso não estava mais em seu dedo. A porta do elevador se abre e, decido que não deixarei ela sozinha e tão triste, pego em seu braço e a levo até minha sala. Sento no sofá e a puxo, de maneira delicada, para que se sente ao meu lado. Ela senta e passa a mão pelo rosto. — Agora que está um pouco mais calma, desabafa — peço olhando em seus grandes olhos brilhantes. — Terminei meu relacionamento e está muito difícil pra mim, mas o pior foi ver uma foto que me enviaram por w******p agora. Ver ele com outra pessoa, depois de ter namorado ele por oito anos e fazendo apenas quatro dias que rompemos, foi um golpe muito forte para mim — ela diz tudo com muita tristeza. — Eu imagino o que está passando, acredite, já passei por algo parecido, sei exatamente o que está sentindo — falo tentando compartilhar sua dor. — Só de ter falado com você já me fez sentir melhor. Obrigada, Gustavo — agradece passando a mão nos olhos. A voz dela era tão meiga, que tive vontade de beijá-la para confortá-la, mas me contive e só esbocei um sorriso. — Que bom saber que você está mais calma. O que acha de sairmos para jantar, quem sabe assim você distrai? — Proponho, não para tirar proveito de sua situação, só queria fazer ela se sentir melhor e conhecê-la um pouco mais, fora da empresa. — Eu adoraria. Você me transmite uma paz muito grande — ela responde abrindo um lindo sorriso, que faz meu coração quase saltar do peito. — Fico feliz. Posso te pegar as nove? — Pergunto sorrindo. — Sim, pode — ela responde se levantando, vai até minha mesa, pega papel e caneta, escreve algo e volta até mim. — Aqui está meu endereço, eu o aguardo — diz ao me entregar o papel. — Obrigado por confiar em mim Ana, imagino o quanto deve ser difícil falar sobre algo tão particular com alguém do trabalho, ainda mais quando este alguém é homem — digo segurando-lhe a mão, já em pé à sua frente, próximo a porta da sala. Ana me beija no rosto e no mesmo momento eu sinto me corar. Ela se afasta e sai. Eu fico imaginando aquela mulher em minha vida. Como um homem pode deixar uma mulher assim? Enquanto eu espero alguém como ela, outro se desfaz para viver paixões carnais, sem se importar com os sentimentos de alguém com quem dividiu a vida por oito anos. Aquela frase é verdadeira, "Deus dá asa à cobra, que não quer voar, só rasteja". Volto à minha mesa, sento, pego as perguntas de Katy e Susana e começo a ler. — Não é possível? — Solto em voz alta, totalmente perplexo com as perguntas. Eu já imaginava Susana querendo me humilhar na frente de todos, mas estava decidido a não mentir.
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