Capítulo I

2849 Words
O dia estava bastante agitado, pois não esperávamos receber uma das maiores modelos da Europa, mas assim que Susana chamou, ela veio. — Como você conseguiu que ela viesse fotografar? — indaguei Susana, assim que desligou o telefone. — Ela está no Brasil, veio comigo da Itália — falou da forma mais natural. — Vocês são amigas? — Perguntei absurdado. — Somos, sim. Eu a ajudei algumas vezes e acabamos ficando amigas — respondeu sorrindo com certo mistério. — Agora vamos dar um jeito no estúdio, ela odeia atrasos. Nos levantamos e saímos. A tarde passou rápido e Isabela Lavini foi recebida com toda pompa e circunstância por todos da revista. Era fácil perceber a i********e entre ela e Susana, que riam de tudo, recordando momentos que só elas entendiam, enquanto nós boiávamos. No final da tarde voltei para minha sala e meu telefone estava tocando, mas parou quando cheguei perto. Assim que sentei na cadeira meu celular tocou, o peguei no bolso e vi o número de Lorenzo no visor. — Oi Lorenzo. — Gustavo, meu filho, acabei de ligar na sua sala — ele disse impaciente. — Entrei na sala e quando me aproximei para atende-lo, o telefone parou de tocar — expliquei. — Sem problemas, essa revista hoje deve estar uma loucura. Só liguei para avisá-lo que o quero aqui em casa hoje. Teremos um jantar para dar boas-vindas a Susana, você vem? — Perguntou. — Claro, vou sim — respondi sorrindo. — Ótimo, eu o aguardo mais tarde então — disse, desligando em seguida. Não adiantaria muito eu dizer que não iria porque Lorenzo não é de aceitar recusas e, além disso, quase nunca se aproxima de funcionários. Terminei de fazer o que precisava e passei na sala de Susana, que estava de óculos de leitura, focada na tela do computador. Ela conseguia ficar ainda mais sexy de óculos e com o cabelo preso por uma caneta. Assim que me percebeu, ela levantou os olhos por cima dos óculos e fez sinal para que eu entrasse. — Só passei pra me despedir, já estou indo — disse, da porta mesmo, tentando não pensar em s**o. — Ah, claro! Te vejo à noite em casa? — Perguntou sorrindo e me encarando. — Sim — respondi monossilabicamente, pois era tudo que eu conseguia no momento. — Está bem, então, até mais tarde! — Falou mexendo o pescoço, como se estivesse tensa. Se ela soubesse o quanto eu queria fazê-la relaxar. Fiquei vidrado nela, mas assim que ela abriu os olhos, me olhou com curiosidade. — Você não estava indo? — Perguntou. — Ah! Sim, claro — respondi sem jeito e fechando a porta. Essa mulher me descontrola, preciso evitar ficar perto dela. Na volta para minha casa, enquanto pensava nela, quase bati o carro. Assim que chego em casa, tomo um banho gelado, meus testículos doem de vontade de gozar, qualquer homem em meu lugar, ligaria para alguém, pra se aliviar. Qual não tem uma pessoa para s**o hoje em dia? Mas, não sou esse tipo de homem, não coleciono t*****r, prefiro amar e ser amado dia após dia pela mesma mulher. Ainda acredito na conquista e no felizes para sempre, mesmo que seja mais difícil, tanto para o homem quanto para a mulher, encontrar alguém que queira um relacionamento sério. Hoje em dia, está tudo muito estranho, os valores se perderam no passar dos anos, principalmente na grande maioria as mulheres, pois estão cada dia mais difícil, pelo pensamento de acharem que os homens só querem levá-la a para a cama. Algumas nem me atendem mais, outras me usam para s**o e quando veem que eu quero algo a mais deixam de atender. Onde essas mulheres estão com a cabeça? Não pensam mais em formar uma família, hoje é tudo muito extremo, ou não te dão chance de tentar por acharem que estamos só querendo s**o e as outras não dão a oportunidade de nós conhecerem a ponto de pensar em uma família. Depois do banho, peguei um terno preto, uma camisa rosa bem clara e uma gravata cinza, passei perfume e arrumei o cabelo, o que normalmente mais demorava porque comecei a usar um corte mais moderno e dava trabalho fazer o topete, mas ficava bonito. Me olhei no espelho e gostei do que vi. Onde será que eu estava errando? Por que as mulheres não me levavam a sério? Sou bonito, culto e rico, um verdadeiro príncipe, não entendia mesmo. Acho que hoje em dia elas preferem o tal de lobo m*l, que as come, engana, ilude e depois as abandonam por mais uma conquista. Peguei as chaves da minha BMW e saí. Ao chegar na casa dos Camato, logo pude perceber que estava cheio de carros, estacionei e entrei. Lorenzo foi o primeiro a me avistar quando entrei em sua enorme sala. — Gustavo! — gritou contente. — Lorenzo! — disse o correspondendo no abraço cordial. — Vamos lá para o fundo, esta casa hoje está abarrotada de jovens, amigos de Susana que há muito tempo não a viam. — Lorenzo disse sorrindo, nunca o tinha visto tão animado assim. Quando chegamos no grande quintal, estava todo iluminado, com mesas ao redor da piscina e uma tenda com alguns bartenders que estavam fazendo coquetéis e drinks para todos. Era de se esperar que um jantar se tornaria uma festa. — E aí, Gustavo, o que vai querer beber? — Lorenzo perguntou a nos aproximarmos da tenda. — Não posso beber nada alcoólico, estou dirigindo Lorenzo. — Que isso rapaz, se divirta. Qualquer coisa meu motorista te leva, de vez em quando precisamos nos deixar levar — falou como se eu fosse o velho ali. — Tudo bem então, quero um absinto — respondi para o rapaz que esperava para me servir. — Divirta-se! — Ele disse e se afastou em direção a esposa que o chamava. Fiquei sozinho e comecei a observar tudo, não tinha visto Susana ainda, a festa estava animada e um DJ tocava algumas músicas eletrônicas, foi então que senti uma mão em meu ombro e olhei para trás. Quando a vi meus olhos brilharam, ela estava com os cabelos soltos, maquiagem suave e um vestido curto dourado, tudo em sua volta estava iluminado. — Oi certinho — ela disse sorrindo, já demonstrando um pouco de embriaguez. — Oi Susana, linda festa! — tentei ser amável. — Obrigada Gustavo, vê se deixa de ser careta hoje e tenta se divertir — ela falou como se me conhecesse. — Por que acha que sou careta? — Perguntei sem entender, já que não passamos tempo suficiente juntos para ela saber como sou. — Todo mundo que me fala de você passa esse seu lado, até meu pai te acha sério demais — falou sorrindo e o olhar débil. — As pessoas que falaram com você só conhecem meu lado profissional, não vale para descrever minha personalidade — respondi tentando ser mais descolado. — Sei — ela disse me pegando pelo braço — Vem comigo. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, saiu me puxando para a pista de dança e, chegando lá, ela olhou para o DJ, que rapidamente trocou a música que tocava por uma balada dos anos noventa, Via das Nevoas. Ela dançava, sensualizando, me olhando como uma verdadeira predadora. Fui ficando cada vez mais e******o a vendo dançar, mas aguentei firme dançando com ela e nem percebi a pista sendo lotada pelos convidados. — Vem comigo, senhor certinho, vamos ver se realmente sabe se divertir. — Ela falou em meu ouvido e cheguei a sentir meu pênis endurecer. Como se eu estivesse sonhando, ela me levou para um corredor dentro da casa e me beijou de um jeito louco e sensual. Olhei para ela e percebi que era mais uma daquelas que só querem s**o, então me afastei e a encarei. — Por que parou? — Ela questionou me olhando com raiva. — Susana, não sou o tipo de homem que está acostumada, prefiro ser careta mesmo — respondi, dei-lhe as costas e saí da festa. Pra minha sorte, pela quantidade de convidados, consegui passar despercebido, sem interpelado por Lorenzo e a esposa. Quando entrei no carro, não acreditava no que tinha acabado de fazer. Que homem em sã consciência deixa de comer uma mulher daquelas? Meu medo era me apaixonar porque enlouquecido por aquela mulher eu já estava, mas se me apaixonasse, aí sim, ia me f***r. Cheguei em casa e fiquei no cinco contra um, pensando naquela mulher deliciosa. Durante os dois dias que se passaram tentei fugir de Susana, mas não durou muito tempo, já que precisava levar para ela o livro de pré-publicação, como tinha prometido. Se pudesse delegar essa tarefa a alguém, eu o faria, mas o conteúdo não podia ser visto por ninguém, além do editor-chefe e o presidente, que daria ou não o aval para que a publicação fosse feita. — Boa tarde! — Cumprimentei abrindo a porta da sala dela. — Boa tarde, Gustavo, entre — respondeu apontando a cadeira para que eu me sentasse. — Obrigado. Vim trazer o livro para que você veja antes da reunião de amanhã — expliquei entregando em suas mãos. — Pelo visto você faz tudo com esmero. Pelo que meu pai diz sobre você, não me surpreendo com isso — observou folheando as páginas com vários post-t**s que demarcavam as correções e modificações que precisariam ser feitas, até que parou em uma página, franziu a testa e, entortando a boca, acrescentou — Não creio que essa matéria será boa para essa edição. — Qual matéria? — Indaguei sem ter ideia de qual ela falava. — Essa, sobre tendências de maquiagem usando base e ** certo para a pele — indicou batendo o dedo na revista. — Por quê? — Reforcei a pergunta. — Estamos entrando no verão, ** e base são camadas que escorrem, o certo é indicar produtos que segure o suor. O melhor é nem colocar essa matéria agora, deixar para outra estação, e falar sobre maquiagens suaves para o verão, sem ousar na base e ** — expôs com uma certeza inabalável. — Você está certa, são exatamente esses os pontos que discutimos nas reuniões — expliquei a ela, que me olhava de uma maneira diferente agora. — Isso é bom. Se quiser, Gustavo, pode me ajudar a ver essas pequenas mudanças toda quinta-feira, para chegarmos nas reuniões de sexta com tudo certo, o que acha? — Sugeriu com a caneta entre os dentes. — Sem problemas, Susana. Se você acha melhor, eu concordo — respondi observando seu sorriso se abrir. — Podemos começar hoje? — Perguntou com certo brilho nos olhos. — Podemos, sim. Como quer fazer? — Eu quis saber. — Façamos o seguinte, vamos lá pra casa e podemos ver com calma, ou melhor, deixa pra semana que vem. Estou vendo um apartamento para comprar, aí não teremos ninguém tirando nossa atenção, porque lá em casa meu pai e minha mãe estarão sempre perguntando algo e vai nos tirar o foco. — Se quiser, tenho um apartamento aqui perto que uso muito esporadicamente, podemos ficar tranquilos lá, até que providencie o seu — ofereci, mesmo sabendo que poderia ser um erro. — Que ótimo! Então, vamos para o seu apê assim que eu terminar de ver algumas fotos da última sessão, já aproveito para separar algumas para ver o que acha, pode ser? — Perguntou colocando os óculos e voltando seus olhos para a tela do computador. — Sem problema, enquanto isso vou terminar algumas coisas na minha sala. Quando terminar, me ligue e nos encontramos na garagem — respondi saindo em seguida. Eu tinha certeza de que essa de ficarmos sozinhos não seria nada bom, se bem que ela me tratou como profissional, sem mencionar nada do que tinha acontecido em sua casa dois dias atrás. É muito difícil ficar do lado dela, mas precisava me acostumar com essa proximidade, já que trabalharíamos juntos e todos os dias. Sei que é muito cliché essa de ser afim do chefe, mas não quero ser só mais um na vida de ninguém. Leandra e Patrícia sempre dizem que sou uma mulher no corpo de um homem gostoso, que príncipe encantado só é lindo em conto de fadas e que no mundo real nenhuma mulher vai acreditar no que eu digo. Sempre retruco que não sou um príncipe encantado, apenas fui educado de maneira diferente. Desde pequeno, minha mãe me ensinou a respeitar uma mulher, a não usar ninguém para benefício próprio, e sempre me contava a história de minha tia, que se matou por causa de um homem que a usou. Cresci com essa história, e as palavras de minha mãe ecoavam em minha mente sempre que me envolvia com alguém. "Lembre-se de sua tia, meu filho, e não faça ninguém de objeto. Mulheres são sensíveis, ame ou não se aproxime, joguinhos podem levar alguém a tirar a própria vida. Não vai querer esse karma para você, vai?". O pior é que sempre achei que o sensível da história fosse eu, não as mulheres com quem me envolvi. Namorei por anos a mesma pessoa. Conheci Julia no ensino médio e o primeiro beijo, a primeira vez em tudo, foi um com o outro. Ela era linda, cheia de vida e muito falante, tinha gênio forte e uma personalidade marcante, com ela não tinha meio termo, ou a amavam ou a odiavam, e eu a amava muito. No final de minha segunda faculdade, ela foi até mim e disse que queria terminar, justamente na noite em que a pedi em casamento e justificou que queria conhecer outros homens, que não podia casar sem ter vivido outras experiências, que me amava, mas que isso já não bastava, não era suficiente para ela. Nunca mais falei sobre Julia com ninguém, nem tive outras namoradas, e toda vez que tentava me envolver com alguém, era deixado de lado por outro cara que não levava a vida tão a sério. O mais engraçado é que vejo mulheres dizerem nas redes sociais que querem casar, mas quando conhecem alguém que realmente quer construir uma vida, simplesmente trocam o certo pela aventura. Após alguns minutos Susana ligou. — Estou indo para a garagem, está pronto? — Perguntou. — Estou descendo — respondi desligando meu notebook e o colocando dentro da pasta. Entrei no elevador e me deparei com Ana Paula dentro dele, olhei para ela e recebi seu sorriso meigo. Sempre a observei porque era uma pessoa com quem eu namoraria, com certeza – bonita, discreta e meiga, tudo que eu gostava em uma mulher –, mas ela tinha namorado e respeitei isso. — Boa tarde, Ana! — Cumprimentei sorrindo. — Boa tarde, senhor Gustavo! — Respondeu envergonhada, e eu quase podia sentir o calor de seu rosto quente e vermelho. Ana Paula trabalhava no RH da revista, sempre muito solícita e atenciosa com todos, porém, muito fechada e polida com sua vida pessoal, ninguém sabia nada sobre ela, a não ser que namorava, pois usava aliança na mão direita e de vez em quando víamos o namorado buscá-la na empresa. Muito bonita, tinha olhos cor de mel bem claro, pele bem branquinha, a boca desenhada e vermelha, cabelos castanhos e enrolados até o meio das costas, na maioria das vezes, presos em um r**o de cavalo, não era alta, ao contrário, delicada até no tamanho, sempre com saltos altos para disfarçar seu um metro e cinquenta e oito de altura. Quando chegamos na garagem, onde Susana já me aguardava, Ana Paula seguiu para fora do prédio e eu para meu carro. — Demorou, hein! — Susana disse impaciente. — Demorei? Nem percebi — respondi sorrindo. — Vou pegar meu carro e te sigo — ela disse apontando o alarme para seu carro e destravando-o. Dez minutos depois, dei seta e entrei na garagem do meu prédio, dando sinal para que o porteiro soubesse que Susana estava comigo. Estacionei e ela fez o mesmo na vaga ao lado. — Vamos? — Perguntei apertando o alarme de meu carro. — É só mostrar o caminho, estou na sua cola — respondeu sorrindo com a gíria. Chamei o elevador e subimos até o décimo sexto andar, abri a porta e dei espaço para que ela entrasse antes de mim. — Nossa! Seu apartamento é lindo, luxuoso e de muito bom gosto, hein? — Disse, deslumbrada com a decoração, observando tudo ao redor. — Obrigado! — Respondi sorrindo enquanto fechava a porta e jogava a chave no barzinho. — Por que você não mora aqui? — Ela perguntou sentando-se na sala de jantar. — Por causa de meus pais — respondi. — Sei como é, somos filhos únicos, complicado sair de casa assim — ela respondeu como se realmente me entendesse. Abri um vinho para degustar e ficamos ali, revendo pontos do livro e matérias que colocaríamos ou não na edição do mês. Duas horas depois, Susana recebeu um telefonema, se desculpou e saiu apressada. Eu continuei ali, repassando todos os pontos que já havíamos modificado nas matérias.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD