Capítulo V

1117 Words
Assim que chego no escritório, dou de cara com Susana. — Bom dia, Susana! — digo cumprimentando-a. — Bom dia, Gustavo. O que aconteceu? Está com um brilho diferente nos olhos — pergunta intrigada. — Estou? Nem notei — digo sorrindo, me esquivando da pergunta. — Ah, sei! Respondeu às perguntas? — Pergunta curiosa. — Sim, respondi — digo pegando os papéis dentro da pasta e entrego a ela em seguida. Ela passa os olhos pelo papel e continua. — Obrigada — agradece, saindo de perto. Vou para minha sala e antes de focar no meu trabalho, ligo no ramal da Ana Paula. — Rh — alguém diz ao atender. — Ana Paula? — indago. — Sim — responde. — Só queria lhe dar bom dia — falo sem a intenção de continuar. — Bom dia, Gustavo! Um bom dia para você também — fala animada. — Obrigado, minha linda! Nos vemos depois? — Pergunto com esperança. — Com certeza — ela responde me deixando feliz. Em seguida, desligamos e eu começo a me focar no trabalho. No meio da tarde, recebo um telefonema inusitado. — Grande Príncipe! — diz Eduardo, eufórico. Eduardo é meu amigo de infância e eu não o vejo há anos. Todas as garotas do ginásio eram loucas por ele. Alto, moreno claro, olhos azuis como cristais, que brilham constantemente. Aquele sorriso, cheio de dentes muito brancos, arrebatava as menininhas que nos cercavam, mas ele nunca foi do tipo de se apaixonar, sempre foi um boêmio. A frase de efeito dele era "Não me segue, porque não sou novela, prova meu gosto e sonhe depois, sou homem de uma noite só". — Não acredito, cabeça! Onde você estava? Está foragido é? — Pergunto tirando sarro. — O principezinho de meia tigela, o que você anda aprontando? Estou na cidade e preciso falar contigo. Bora beber hoje? — Ele pergunta com sarcasmo. — Bora gay, saio daqui a uma hora. Onde a gente se encontra? — Pergunto sorrindo. — Vou te mostrar o gay. Vou catar uma gostosa na sua frente. Te encontro no bar do Osvaldinho — diz me lembrando de outro amigo. Osvaldinho é o tipo de cara super bacana, mas que não suportava estudar. Depois do colegial, foi trabalhar e não quis saber de faculdade. Já tinha muitos anos que não o via, mas gostava muito dele e, há alguns meses, descobri que tinha se tornado dono de um bar de happy hour. — Tudo bem, te encontro lá então — concordo, desligando em seguida. Fico muito feliz ao ouvir a voz de Edu, ele sempre foi um dos meus melhores amigos, aquele que o tempo e a distância só conseguem aproximar. A hora voa e arrumo minhas coisas, quero ter tempo de ver Ana Paula antes de ir encontrar Edu. Vou para o elevador e, ao entrar, Susana grita para que eu segure a porta. Ela entra e sorri de um jeito sacana, mas não dou muita bola, olho pra baixo e tento não aparentar o quanto ela me deixa desconfortavelmente e******o. "Preciso pensar com a cabeça de cima, sou homem e não um moleque" – Penso, tentando não olhar para aquele corpo escultural. De repente, o elevador se abre e Ana Paula, toda sorridente, entra e se ilumina ao me ver. Ela passq por Susana e fica no fundo, ao meu lado. Susana não se contem e se afasta, ficando ao nosso lado, nos observando como águia. Ana Paula sorri e eu sorrio de volta. Quando saímos do elevador, ela anda ao meu lado e, ao chegar perto do meu carro, paramos. — Vou reencontrar um amigo de infância, quer me acompanhar? — Pergunto fazendo questão de sua companhia. — Faz tempo que não o vê? — Ela pergunta, com a mão entrelaçada à minha. — Ah, sim! Deve ter uns cinco anos ou mais — respondo espontaneamente, enquanto observo Susana se aproximar. — Então vá sozinho, é bom para colocarem a conversa em dia. Numa outra oportunidade eu prometo te acompanhar — diz ela sensata, se aproximando do meu rosto. Não queria beijá-la ali, afinal, não tínhamos nenhum compromisso para ficar tornando público nossas intimidades, mas isso poderia demonstrar que eu a estava usando e não era verdade. Olho nos olhos dela, que se aproxima ainda mais e coloca as mãos em meu pescoço, me dando a deixa para enlaçá-la em meus braços. A beijo, de forma carinhosa, sem me preocupar com mais nada ao meu redor. Percebo que ela está mais atirada, me beijando de um jeito mais sexy e eu gosto, mas não quero passar disso, por enquanto. Nos afastamos e sorrio satisfeito com aquele beijo delicioso. — Pelo jeito você não liga muito de se expor? — Pergunto sorrindo e abraçado a ela. — Não ligo mesmo. Você é muito envolvente, mas, muito diferente de todos os homens que já conheci, é cauteloso e cuidadoso. Acha que fui longe demais em te beijar aqui na garagem? — Pergunta arqueando a sobrancelha. — Não. Você não precisa se preocupar com isso. É que nunca imaginei você assim, mais ousada — explico. — Você está desapontado? Desculpa — Diz saindo de perto de mim, mas vou atrás dela e a pego pelo braço. — Ei! Por que está correndo de mim? — Pergunto sem entender. — Estou com vergonha. A primeira vez que tento ser ousada, não dá certo. Achei que se eu fosse mais ousada, você gostaria de mim. Sempre fui julgada por meu ex, por não ser espontânea e ficar sendo discreta demais, não quero mais perder oportunidade por ser como eu era — explica com os olhos marejados. — Ana, por favor, eu não sou seu ex. Não finja ser o que não é, eu sempre admirei seu jeito discreto e meigo de ser. Se eu quisesse mulheres superficiais eu teria, não quero que mude, seja espontânea, mas sem modificar sua essência. Quero te conhecer melhor, está bem? — Explico olhando em seus olhos e limpando as lágrimas de vergonha que teimavam em rolar pelo rosto dela. Ela balança a cabeça, consentindo, e beijo seu rosto, até chegar a sua boca. — Venha comigo — digo segurando seu braço. — Pra onde? — Ela pergunta curiosa. — Vou te deixar em casa, e depois vou encontrar Edu — respondo abrindo a porta do carro para que ela pudesse entrar. Quando ligo o carro, vejo Susana em pé, de frente a seu carro, me olhando furtivamente, nem mesmo pisca. Deixo Ana Paula em frente de seu prédio e vou ao encontro de Edu, que sorri alegre ao me ver. Sento ao lado dele e, tomando uma cerveja gelada, começamos a relembrar os tempos de colégio.
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