Ayda Liman
Não sinto nada ao ver o meu irmão bem na minha frente. Quer dizer, nada de bom! Sinto apenas uma tensão, porque nada de bom vem dele. O nosso pai o criou para ser bem parecido com ele e conseguiu. Valdrin, não sente nada por ninguém a não ser por ele mesmo.
Me pergunto como a Lediana, sua esposa, vive com ele.
Há tempos não a vejo já que eles não colocam os pés aqui. Principalmente ela. Na última vez que Valdrin veio, estava sem ela. Não vou mentir, ela é uma mulher mais doce e delicada. Ela tem uma personalidade mais branda e felizmente, não sofreu horrores como nós. Ela tem uma enorme paciência com ele e espero muito que ela esteja sendo bem cuidada.
— Não sabia que vinha! — Eu o encaro em confusão. — Chegou agora de madrugada?
— Nesse exato momento. Vi a luz acesa e fiquei curioso. — Apenas aceno. — Não está feliz em me ver?
— Acho que eu não preciso responder a isso. — Ele põe as mãos nos bolsos e continua sério. — Veio apenas para o casamento, ou, veio tramar alguma coisa?
— Vim para o casamento da minha irmã..., o que eu tramaria? — Não vejo nada nele que eu possa confiar.
Olhar para Valdrin, só me faz lembrar de tudo que ele já fez por ele e a mando de nosso pai.
— Me diz você! — Eu largo a faca sob a mesa e começo a retirar as luvas. — Lediana, veio com você?
— Não! Ela não pode viajar..., está precisando de repouso. — Fico sem entender e ele percebe. — Ela está grávida. Fez sete meses agora. — Isso me pega de surpresa.
— Nossa! Ficou tão feliz que não contou a ninguém? — Ele ergue a sobrancelha e entendo bem. — Ah, nosso pai sabe. A única pessoa importante nessa situação.
— É um menino! — Aceno lentamente. — Pelo menos uma notícia boa nisso tudo.
Não sei como Lediana, o suporta. Ele não demonstra nada e age como se fosse um nada. O rüim nisso, é que eu sei que ela sente algo por ele e aposto que com isso, ele se aproveita dela.
Coitada!
Eu fui contra esse casamento desde o começo. Os poucos dias dela aqui antes de se casar, me mostraram bem que ela era diferente e gostei dela. Apesar do risco e tensão, ela também decidiu querer a união e desde que foram embora, eu nunca soube como ela ficava. Bom, se ela está grávida, eu quero pensar e acreditar que esteja bem. Eu nunca conheci a casa em que eles moram, nuca fui convidada e só cogitaria por ela. Apenas por ela.
— Por que está treinando a essa hora? — Ele me observa como se procurasse algo errado.
— Insônia! Você pode ir e se alojar... — Aviso lhe dando as costas. — Eu vou ficar!
— Ansiedade para se casar? — Percebo um tom de deboche em sua voz. — Desde que eu soube, eu fico me perguntando... — Ele chega mais perto. — Quanto tempo será que você vai sobreviver naquela casa, vivendo perto dos Alban’s? — Ele está me provocando. — Afinal, Ilir, quase a matou uma vez e nada o impede de tentar outra vez...
— Se acha que tenho medo dele, está enganado! — Viro-me para o olhar. — Se eu não tenho medo nem de você que morei por anos, ele será apenas um detalhe sem importância. Aprendi a conviver com monstros repugnantes e você está no topo da lista. Não sou mais aquela menina que viu..., posso lutar em extrema igualdade com você.
— O que vejo, é que você aprendeu a afiar a língua! — Ele quer literalmente me ver irritada ao ponto de perder o controle.
— E ela pode cortar mais rápido do que você pensa. — Ele sorrir de canto de boca. — Eu já falei, vá se alojar que eu quero ficar sozinha. — Ele eleva a mão para me tocar, mas eu agarro o seu pulso. — É a última vez que aviso! Vá!
Valdrin, puxa a sua mão de volta e dá meia volta saindo da sala. Respiro mais aliviada de ficar sozinha aqui. A verdade, é que ele aqui é mais um motivo para a minha tensão. Terei que ficar o mais alerta possível já que ele estará com o nosso pai. Tenho que esperar o pior com os dois juntos.
Apesar da raiva, perco a vontade de treinar e vou guardando as coisas.
Eu deveria estar dormindo. Hoje será um dia daqueles com assuntos de casamento. Tenho a prova do vestido, detalhes em organização, escolha do cabelo e toda essa cerimônia. Ainda não me preparei psicologicamente para isso. Cabelos, maquiagem, unhas, depilação e conversas exageradas.
Isso não é para mim.
Com tudo guardado, eu ando em direção à saída, mas o meu celular vibra na minha cintura. Ao pegar, vejo uma mensagem sem detalhe de destinatário, mas o conteúdo já mostra de onde veio.
“Porrä, que saudade de você! Não vejo a hora de te ter na minha cama que será nossa.”
Não escondo o riso e tento me controlar em todos os aspectos. As lembranças de nossos encontros vem com tudo à minha mente e ele é a única pessoa que consegue me fazer ficar assim. Apesar de desejá-lo como nunca, eu não paro de pensar em como será esse casamento.
Será que só nós dois será suficiente?
Tem tantos obstáculos, tem tanta intriga e ódio a nossa volta que fico encurralada. Eu espero muito que ele nunca se torne como o seu pai. Há certas tradições que eu não suportaria e ele me prometeu deixá-las de lado. algumas dela afetaria diretamente a nossa união e claro, o nosso relacionamento a dois.
Quero acreditar que ele irá cumprir com a promessa, porque no final de tudo, é nele que confio agora. Não tenho mais ninguém!
{ . . . }
Como se era de se esperar, Valdrin, está grudado no meu pai e fico intrigada sobre o que tanto conversam. Coisa boa não é! Nesse momento, estou na sala de jantar oficial da mansão e estou aproveitando o café da manhã em paz.
O sol nasceu há pouco tempo e já estou tentando me preparar para as loucuras de uma noiva. Não fui a muitos casamentos, afinal, foram anos de guerra e isso me impossibilitou de conhecer muitas pessoas. Ou seja, muitos pontos da cerimônia eu vou descobrir em breve e depois, fazer na hora.
Ainda estou irritada pela situação de dote. Sério, é tão antiquado e desnecessário. Ultrajante! Já tenho ideia de como isso será feito e imagino que aquelas joias serão usadas com essa finalidade.
— Senhorita? — Uma das funcionárias me chama. — Me desculpe incomodar, mas, vim avisar que elas chegaram para a prova do vestido. — Quase me engasgo agora.
— Mas Já? Tão cedo? — Fico confusa com essa pressa. — Só viriam mais tarde!
— Ordens do senhor Liman! — Meu pai quer me infernizar.
Me levanto de imediato e ando irritada em cada passo.
Espero que isso não demore.