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A Fuga VOL1

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Blurb

A Fama tinha lá seus caprichos, mas quando as coisas ameaçavam dar errado ela precisava fugir. Foi numa dessas fugas dos paparazzis de Hollywood que Millie conheceria um nerd incomum que mexeria com seu coração e provaria que ela não era única pessoa cheia de segredos profundos.

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Eu sempre soube que faria grande sucesso. Que seria capa de revista e famosa. Daquele tipo de garota das quais as outras têm inveja ou raiva, quase sempre as duas coisas ao mesmo tempo. Não que eu seja egocêntrica nem nada do tipo, mas nasci destinada a brilhar. Com pais famosos seria quase impossível não seguir a mesma linha e não reclamo de nada disso já que é sinceramente o meu sonho. O meu maior problema com tudo isso é me envolver com as pessoas erradas. Não sou alguém manipulável, muito menos burra, mas às vezes até mesmo a mais esperta das garotas caem nas mãos de pessoas falsas e com más intenções. Minha história não tem nada de perfeita, apesar de viver uma vida invejável sinto como se ninguém conseguisse me enxergar por trás da grande Millie Bobby Brown, a garota que caiu na internet nua em meio a um escândalo que definitivamente poderia acabar com sua carreira brilhante. -- Finn Eu amei alguém que nunca poderia ter amado. Não o tipo de amor proibido que se lê em histórias clichês e bobas de livros ou se vê nas novelas, por que ninguém teria estômago para aguentar ouvir sobre a minha história. Era errado, um crime na verdade, e definitivamente não era o que as pessoas estavam acostumadas a ouvir falar por aí. Na minha história, o buraco era bem mais embaixo, profundo e n***o e fui engolido por ela, especialmente quando Susan foi capaz de me amar de volta. Não seria uma luta justa, dezesseis anos de diferença na idade infelizmente não se apagam e as pessoas não perdoam. Estive destinado a uma mulher que eu nunca poderia ter.  Eu pagaria o preço desse amor doentio? Não sabia, mas com certeza, estava disposto a descobrir. Millie. -Ei, garota, acorda! -Senti um sacolejo no ombro. -Vamos Millie! Está na hora de levantar! Alguém gritava enquanto tentava me despertar.  Eu sabia que era Lexi, uma das minhas melhores amigas, mas estava tão ferrada no sono que m*l tinha força para abrir os olhos, as lembranças da noite passada não passavam de um borrão m*l desenhado na minha mente.  Uma verdade sobre álcool: ele te transforma quando você bebe e te destrói quando você acorda. -Hmm... Não. -Murmurei cansada, tentando me afastar na cama a fim de fazer com que Lexi desistisse de me acordar. Ouvi um suspiro abafado, mostrando toda a falta de paciência da minha amiga e depois vieram mais sacolejos em meus ombros. -Ja são nove horas Millie, o David está como um louco ligando desde as sete da manhã. Puta que pariu. Abri os olhos de repente sendo convencida instantanemente ao ouvi-la falar sobre meu acessor. Droga, eu estava muito ferrada se por acaso tivesse perdido algo importante devido a noite passada. Lexi me olhou com um sorriso vitorioso quando viu que estava desperta, mas a cara dela não estava exatamente exuberante como me lembrava, os cabelos negros estavam despenteados e ela fedia a ressaca. Eu sabia que eu não estava muito diferente disso então não foi como uma surpresa exatamente. -Que merda! -Murmurei sentindo o latejar incessante na cabeça. -Onde está meu telefone? Lexi levantou da cama e disparou até a mesinha de centro pegando meu celular que estava ali carregando. -Toma. -Me entregou o aparelho. -Mas é melhor não perder tempo ligando, se arrume, pois o David já deve estar chegando aqui. Aquilo me desesperou. Raramente David precisava vir atrás de mim. Eu era responsável com as minhas obrigações apesar de ser uma v***a que gostava muito de diversão, e se ele se deu ao trabalho de ir até onde eu estava, significava que eu de fato estava muito ferrada. Assenti e levantei rumando até o banheiro da minha suite o mais depressa que minhas pernas moles conseguiam me levar. Toda a coisa que dizem por aí de que celebridades são lindas e perfeitas todo o tempo é uma tremenda mentira. Eu estava um caco, pior do que isso na verdade, não havia nada de glamouroso na minha expressão muito menos em todo o conteúdo alcoólico que expeli ao vomitar contra o vaso sanitário. Isso não acontecia muito já que eu tentava manter meu autocontrole e não me permitia passar dos limites, mas acontece que até eu tinha limites e definitivamente havia encontrado com ele. Sou famosa. Talvez a atriz mais famosa na minha idade mesmo tendo feito poucos papéis, eu era idolatrada pela juventude tendo começado minha carreira muito nova em um seriado infantil. Isso foi só o começo, depois vieram as campanhas com as marcas, os filmes, redes sociais e filantropia.  Aos olhos do mundo todo eu era perfeita, não errava, era incapaz de fazer algo decepcionante e tudo o que eu fazia virava notícia. Mas a verdade era que: por trás disso havia uma humana, uma garota nos seus vinte e um anos descobrindo recentemente o prazer da vida, do álcool e das festas. Tudo isso muito escondido dos olofotes, já que a mídia insistia que eu deveria aparentar ser uma menina recatada que vivia apenas para ajudar as pessoas e ser uma excepcional artista. Esse é o preço a se pagar pela fama e pelo sucesso. Você tem que se transformar em alguém cuja vida real não existe, pelo menos a parte feia dela. Todos queriam saber com quem eu estava, que roupa usava, o que eu falava, mas ninguém se importava se eu estava feliz, até por que eu conseguia disfarçar muito bem. E não, eu não era infeliz. Nenhum pouco. Mas viver uma vida dupla era complicado e exaustivo também. Tomei um banho rápido e tentei dar um jeito na minha cara de morta. Quando voltei para o quarto encontrei uma Lexi encolhida na cama sob o olhar ameaçador do meu agente como um pai que repreende uma filha que faz bobagens. No entanto, quando me viu, David logo amenizou a expressão, embora permanecesse firme. -Onde diabos você se meteu ontem a noite? -Foi a primeira pergunta. -Nada de bom dia hoje? Dei um sorriso sarcástico tentando amenizar a tensão. David era sem dúvidas meu melhor amigo, meu protetor e meu fiel escudeiro. Depois de passar por mãos muito menos talentosas que as dele minha vida deu uma guinada ainda maior depois que David passou a me acessoriar. Ele cuidava de mim, da Millie de verdade não só da grande atriz famosa e isso era algo que os outros nunca fizeram. Ele me olhou com os olhos semicerrados, depois respirou fundo como se estivesse cansado. -Acredito que você não tenha entrado na internet hoje. Aquilo não soou como uma repreensão. Tentei me lembrar se eu tinha algo realmente importante para fazer naquele dia que explicasse a pergunta de David, mas não conseguia lembrar de nada.  Eu tinha acabado de terminar de gravar a sequência do filme de romance "olhares impiedosos" que estava sendo produzido em Toronto para estrear no final do ano e a festa de lançamento seria dali a muito tempo e fora isso havia algumas campanhas que faria na semana mas nada realmente me veio na mente para hoje. Observei David me fitando, depois passando os olhos para Lexi que estava estendida na cama com uma cara de tacho. -Nenhuma de vocês viram nada? -Ele perguntou de novo, dessa vez percebendo que de fato não tínhamos nos atentado. -Não vimos, acabamos de acordar. -Falei me aproximando dele. -Você pode me dizer o que quer que eu tenha perdido? A forma como David me olhou demonstrava o quão aquilo era de fato relevante e eu temi meu esquecimento. Ele suspirou e sentou na beirada da cama. -Sente-se. -Apontou para a cadeira da penteadeira. Eu o obedeci sem fazer nenhum comentário apesar de já sentir a apreensão de David. Ele fuçou o bolso da calça de lá tirou o celular desbloqueando-o e passando para mim. -Entre no Google, pesquise seu nome. Ok. Realmente não se tratava de algo que eu havia esquecido. Estremeci ao pegar o aparelho já prevendo alguma coluna social falando algum absurdo que envolvesse meu nome, o que raramente acontecia. Com os dedos nervosos digitei meu nome e fiz a bendita pesquisa. Como se fosse uma brincadeira sem graça com meus nervos a internet não contribuiu para os resultados aparecerem com rapidez e somente depois de alguns segundos a página carregou. O primeiro link era do Wikipedia, onde haviam informações sobre mim e fotos minhas desde quando eu era apenas uma criança. Mas o segundo resultado não foi nada tranquilizador e a medida que descia notei que não se falava outra coisa em todos os sites possíveis e imagináveis. Millie Bobby Brown tem fotos íntimas vazadas. Atriz conhecida por uma serie infantil sai nua em fotos reveladoras. Verdade ou mentira? Confira as fotos vazadas da atriz de seriado infantil e tire sua própria conclusão. Puta merda. Eu estava bem encrencada. Senti meu coração acelerar perigosamente dentro do peito em solavancos que me tiraram o fôlego rapidamente. Eu tinha sido exposta na internet? Nada fazia exatamente sentido e eu precisava clicar em um dos links para ter certeza de que de fato era eu. -É você nas fotos. -David disse, e não era uma pergunta, apenas a mais c***l afirmação. -Não pode ser.. -Sussurrei incrédula e mesmo sem ver as tais fotos uma vergonha densa me invadiu. -Isso é brincadeira não é? -Lexi pareceu despertar da ressaca imediatamente levantando da cama embasbacada. -Millie, o que você fez? O que eu fiz? Me perguntei enquanto ainda parava com o dedo em cima do link sem saber exatamente se deveria clicar ou não para ver com meus próprios olhos. -Antes de mais nada eu preciso saber onde vocês estavam ontem a noite e quando essas fotos foram tiradas. -David interrompeu parecendo conter a frustração. -Não saímos do hotel, ficamos apenas na boate lá em baixo e bebemos um pouco, seja lá que fotos sejam essas não foram tiradas ontem. -Respondi convicta. Lembrava de poucas coisas da noite passada, mas não havia transado com ninguém muito menos tirado fotos ousadas. David ponderou minhas palavras, depois maneou a cabeça. -Melhor você verificar as fotos, tente lembrar se foi você mesma quem tirou. Assenti nervosa e ainda na dúvida se deveria realmente clicar no link, se fosse eu mesmo estaria tão ferrada que nem sabia como lidaria com aquela questão. Cliquei no link e ele me direcionou rapidamente para uma página de fofoca. As primeiras imagens que carregaram me deram um baita susto, de fato era eu, e não havia somente uma, mas dezenas de fotos minhas, de costas, de frente, todas nua embora houvessem tarjas sensurando as partes íntimas e os s***s. Lembrei imediatamente de quando eu as tirei com a ajuda de um tripé ha umas duas semanas. Eram belas fotos, eu tinha achado quando as vi, mas agora tamanha a exposição me senti m*l e invadida apesar de eu mesma ter tirado. -Então Millie?! -David pressionou. Lexi levantou da cama e tomou o celular da minha mão,  levou uma das suas até a boca parecendo horrizada com aquilo. -Sou eu. Tirei há alguns dias mas eu não publiquei nada nem se quer eu as tenho mais no meu celular. -Falei já abrindo minha galeria verificando que realmente havia apagado. David levantou e tirou o celular dele das mãos de Lexi que ainda parecia perplexa. -Ok. -Ele respirou fundo, na sua testa brilhavam as gotas de suor apesar do clima estar fresco. -Você enviou para algum cara? Ele se abaixou ficando na minha altura. Eu levantei da cadeira atônita, aquela pergunta era tão sem sentido que me fez ficar sem fôlego, é óbvio que eu não tinha tirado as fotos apenas para me ver, mas a questão era: pra quem eu tinha enviado? -Não sei, talvez, estou confusa. -Disse movimentando as mãos apreensiva. A vergonha começou a se desfazer dando lugar a uma raiva ferrenha, de mim principalmente por ter deixado que aquilo acontecesse e depois do cara para quem eu havia encaminhado, seja lá para quem tenha sido. Talvez até mais de um. -Millie, tente manter a calma. Nós precisamos ter certeza de quem colocou isso na internet. Já mandei um pedido para que os sites tirem as fotos e até mais tarde não vai  ter mais nenhuma disponível, o problema é que você sabe como as coisas são, as pessoas já tiraram prints, baixaram e com certeza já deve ter alcançado bem mais pessoas agora. -Ele falou se aproximando para alisar meu braço. Que merda, as coisas só pareciam piorar. -Eu até te achei bem gata nas fotos. -Lexi comentou com uma risadinha. Eu sabia que ela queria apenas me tranquilizar, porém aquele comentário não ajudou em nada. Eu sempre fui muito responsável com tudo que dizia respeito a minha imagem, fora ser pega por paparazzis com alguns garotos quando saia, não tinha nada exatamente escandaloso ao meu respeito. Bem, pelo menos antes disso. -Isso não importa agora Lexi. Acho melhor vocês duas saírem daqui o mais depressa possível. -David silenciou minha amiga e chegou mais perto de mim. -Não se preocupe demais com isso está bem? Vou dar um jeito, eu sempre dou,certo? -Ele me abraçou. Estava tão aterrorizada com tudo aquilo que nem se quer conseguia abraça-lo de volta. O desespero tomando seu lugar pouco a pouco dentro de mim. Minha imagem estava interligada diretamente com crianças e jovens, pessoas que confiavam em mim, que se espelhavam em mim... E que agora com certeza já me viram sem nenhuma peça de roupa no corpo e pior, sem vergonha nenhuma. A onda de torpor veio em seguida, quase tão forte a ponto de me fazer vomitar. Me soltei de David e encarei meu acessor com firmeza. -Pelo amor de Deus, Dave. Precisamos fazer alguma coisa, precisamos descobrir quem fez isso. -Falei angustiada. Não seria uma tarefa nada fácil, uma vez que eu nem fazia ideia de para quem tinha enviado as fotos e se tinha realmente feito isso. David se afastou e me olhou temeroso. -Não vai ser fácil, foi publicado em uma rede social desconhecida e o usuário era anônimo, mas com certeza iremos descobrir e colocar o culpado atrás das grades, ou pelo menos conseguir uma boa grana com o precesso. Eu estava me lixando para dinheiro. Só queria que isso fosse um pesadelo e despertar logo de uma vez. David percebeu minha reação e novamente se aproximou de mim. -Escute. -Afastou uma mecha de cabelo para trás. -Vá para a casa dos seus pais, não abra nada na internet nem mesmo as suas redes sociais. Eu já desativei tudo e por enquanto não vamos nos pronunciar. Quando eu tiver algo importante sobre esse caso vou até lá te visitar, mas por favor, mão saia de casa. Entendido? Ele me olhou sério, o que demonstrava que eu não teria opção. Resignada apenas afirmei com a cabeça. -Otimo. -Ele concordou e chegou perto de Lexi. -E você, vá para casa também, não conte para ninguém nem comente nada nas redes sociais se te perguntarem. Você tem muitos seguidores e por serem amigas as pessoas podem te incomodar, o mesmo vale para suas outras amigas. Consegue fazer isso? Ele perguntou olhando sério para Lexi. Minha amiga assentiu sinalizando que havia compreendido. Ela não era atriz, mas tinha milhões de seguidores por ser modelo. -David... -O chamei, mas não consegui terminar meu apelo. Meu acessor se aproximou de mim e colocou ambas as mãos em meu braços. -Vai ficar tudo bem. Eu vou manter tudo sob controle. -Ele disse me lançando um sorriso reconfortante. Eu estava apavorada, mas se tinha alguém em que eu confiava, esse alguém era David, até mesmo bem mais que meus pais. Depois que peguei a pequena mala que estava sobre a cama arrumei um casaco preto com capuz afim de me esconder das pessoas do hotel e desci até a parte de fora onde o carro com meu motorista Samuel estava a minha espera. Ele me levou direto para o condomínio fechado onde ficava minha casa, durante a viagem não pude deixar de perceber que o motorista me olhava vez ou outra através do espelho do carro, obviamente ele também já tinha visto minhas malditas fotos. Entrei em casa passando por alguns empregados e minha única intenção era passar direto para meu quarto, mas da sala ouvi a voz reconhecível do meu pai chamando por mim. Robert Brown era ator também e meu maior orgulho, ele fazia diversos papéis e seu foco principal era na comédia. Entre ele e minha mãe eu sempre preferia conversar com meu pai, já que minha mãe vivia viajando levando a marca de roupas a diversos países para os famosos desfiles organizados por ela. Embora eu amasse meu pai e sentisse sua falta constantemente pois quando eu não estava viajando ele estava, não queria conversar com ninguém, especialmente ele. Ele subiu no limiar do corredor e eu parei antes de chegar a metade da escada. Encarei meu pai, ele estava um pouco sério o que não era muito comum já que na maioria das vezes ele estava sorrindo para o vento. -Venha aqui, Mills. -Ele relaxou a postura e abriu os braços para mim. Eu estava tentando conter as lágrimas, tanto por causa da raiva quanto por causa do constrangimento, mas aquela altura ele provavelmente já sabia tudo o que tinha acontecido. Estremeci com o pensamento de que meu próprio pai teria visto aquilo mas não hesitei em correr e desabar nos braços dele. Assim que o abracei de fato desabei em lágrimas provavelmente manchando toda a camisa branca que ele usava com os restos de maquiagem no meu rosto.  Deus eu estava uma merda. -Ei, querida.-Ele falou levantando meu rosto para que eu o olhasse. Se eu pudesse escolher nunca mais abriria os olhos, nunca mais encararia ninguém. -Esta tudo bem. Não é culpa sua. -Ele insistiu enxugando minhas lágrimas. Eu não publiquei as fotos, tentei ser discreta, mas a culpa ainda era minha por ter tirado-as para começo de conversa, além disso, minha mente estúpida m*l conseguia se lembrar se eu havia enviado para alguém. -Você viu? Eu sou uma vergonha! -Falei com revolta finalmente encarando o rosto rechonchudo do meu pai. Ele estava acima do peso, bastante acima do peso para falar a verdade, mas aquilo era praticamente sua marca e ele não se importava de aparentar assim. -Nah.. isso não é culpa sua. -Ele reiterou com um sorriso. -Você é uma mulher linda e independente, a culpa é do babaca que espalhou as fotos. Ouvir aquilo ao invés de me reconfortar piorou o sentimento de culpa em mim. -Você não está zangado? Eu enviei as fotos para alguém e... -Shii. -Ele me silenciou. -Ninguem pode te julgar, você é livre para fazer o que bem entende querida, de novo, a culpa é do i*****l que divulgou aquilo. Havia um pouco de raiva na expressão do meu pai ainda que ele não deixasse transparecer tanto assim, eu o conhecia bem demais para saber que ele estava revoltado. -Isso pode acabar com a minha carreira. -Me afastei dele, de repente ficando sem ar.  Dei a volta na sala e me sentei no grande sofá de couro preto. Eu quase nunca fazia aquilo, geralmente quando voltava para casa sempre me tracava no quarto e lá ficava e talvez só naquele momento reparei o quanto minha casa era imensa e luxuosa. Meu pai suspirou e caminhou até sentar ao meu lado. Ele segurou uma minha mão. -Millie, escute seu velho. -Ele começou e eu já sabia que viria um grande discurso pela frente, ele nunca me chamava de Millie. -Eu tenho anos nessa estrada e posso dizer que as pessoas sempre vão arranjar algo para falar sobre você. Isso significa que você é importante e que o mundo todo consegue te enxergar. Espremi os lábios, sem saber exatamente onde ele queria chegar. Depois de fazer uma pausa, meu pai continuou. -O que estou querendo dizer também é que a nossa sociedade é uma droga, muita gente vai apontar o dedo na sua cara especialmente por ser uma mulher. Se fosse um cara no seu lugar muito provavelmente nada aconteceria, mas sendo uma garota jovem como você as pessoas não vão perdoar tão cedo. Não sei se ele estava realmente querendo me animar, por que se queria, aquilo não estava adiantando muita coisa. Ao fitar minha expressão ele relaxou, me puxando para seus braços. -Se acharem que você não é boa o suficiente, quer dizer que eles é que vão sair perdendo, o preconceito não leva ninguém a lugar algum e mesmo que as coisas se tornem mais difíceis, você vai superar, encontrar novos trabalhos com gente que tem a mente mais aberta. Ponderei alguns instantes sobre o que ele disse. Algo como uma compreensão me invadiu, embora eu não soubesse explicar o por que. Na verdade apenas me perguntava se realmente as pessoas me condenariam, por algo que eu nem mesmo fiz. -Você sempre tem razão. -Me recostei sobre seu peito suspirando. -So espero que tudo isso acabe logo. -Eu também filha. Eu também. -- Depois de deixar meu pai na sala finalmente subi para meu quarto encontrando a minha bagunça anterior agora completamente contida dentro dos armários. Fitei o canto do closet o mesmo lugar onde eu havia tirado as malditas fotos e me condenei mentalmente por ter feito aquilo. Não resistindo a tentação liguei o computador, obviamente minhas redes sociais estavam desativadas mas eu ainda queria fuçar na internet para ver os comentários. Minha caixa de entrada no e-mail estava lotada, amigos, colegas de trabalho mandando mensagens perguntando como eu estava. O que vocês acham? Fiquei com vontade de responder rudemente a todos ali, mas no fim apaguei a mensagem e fui direto para as colunas de fofoca. Poucos eram os comentários que me apoiavam e que tiravam a culpa das minhas costas, os demais eram tão horríveis que tive que me controlar para não chorar ao ler tudo aquilo. Essa menina nunca me enganou, sempre teve cara de p**a. Minha filha era fã dela, hoje proibi ela de assitir qualquer coisa dessa garota sem vergonha. Agora vai querer processar, deveria ter pensado nisso antes de sair mostrando os p****s na internet. A juventude de hoje está perdida. Millie Bobby Brown é número um de pesquisas em sites eróticos. Contive a imensa vontade de vomitar quando um enjôo frio me afligiu e fechei o laptop como se fosse algo radioativo. Minutos depois meu telefone tocou e reconheci a foto da minha mãe brilhando na tela. Não era o melhor momento para falar com ela, eu sabia, mas não queria ser c***l ao ponto de não atende-la. Assim que o fiz, me arrependi. -Estou decepcionada com você. -Foi a primeira coisa que ela disse do outro lado. Minha mãe costumava ser muito rigida comigo, especialmente quando se tratava da minha carreira portanto aquele comportamento não me surpreendeu. -Oi mãe, estou bem e você? -falei com sarcasmo embora não estivesse com humor para brincadeiras. Ouvi ela bufar do outro lado da linha. -Quantas vezes eu terei que conversar sobre as merdas que você anda fazendo em Millie? Pelo amor de Deus, festas, bebida e agora isso. Espero que você tenha uma boa explicação para esse escândalo. Sabia que estão querendo cancelar o desfile de Boston por causa disso? Ótimo. Agora eu arruinei com a vida da minha mãe também. Eu quis discutir, me defender e me impor, mas sabia que era inútil, só havia uma coisa que ela gostaria de ouvir e eu estava pronta para dizer. -Me desculpe mamãe. Isso é passageiro, David vai dar um jeito. Com aquilo ela fez uma pausa, depois voltou a dizer. -Que seja, eu espero mesmo que ele consiga. Quando estiver em casa vamos ter uma boa conversa mocinha. E então ela desligou.  Soltei uma lufada de ar de repente me sentindo exausta daquilo tudo e joguei o telefone para longe de mim. Logo depois ouvi uma batida na porta e a voz baixinha de Ava soando por trás dela. Minha irmã mais nova. Que provavelmente também já tinha visto as fotos. -Mills, eu sei que está aí. -Ela insistiu batendo na madeira. -Ava, agora não. Por favor. -Grunhi contra o travesseiro. Como eu iria encarar minha irmã depois disso? Obviamente ela não desistiu e reiniciou os socos contra a porta. -Mills! Mills! Mills! Que merda. Levantei da cama bufando e abri a droga da porta. -Eu disse agora não, zAva. Minha irmã me encarou parecendo assustada pelo meu estado e então se afastou da porta. -Desculpa querida. Só... Não estou me sentindo muito bem agora. Ela pestanejou e eu me senti terrivelmente culpada por ver a expressão em seu rosto. -Eu só queria que me levasse para passear com o Muggy. -Ela disse encarando os próprios pés. Quase sorri com aquilo, minha irmã havia insistido em comprarmos um Golden Retrivier na nossa última viagem e apesar de termos muitos empregados ela gostava de passear com o cachorro embora ele fosse muito maior que ela.  -Por que não pede para alguém ir com você? Eu não posso sair. -Me abaixei ficando de joelhos para encara-la. Ela me olhou franzido o pequeno cenho. Seus cabelos loiros iam até a cintura e os dentinhos tortos estavam cobertos por um aparelho odontológico. -Por que não pode sair? -Ela perguntou confusa. Pelo menos ela aparentava não saber de nada ainda então fiquei mais aliviada. -Estou de castigo. -Pisquei o olho para ela. Ava arregalou ainda mais os olhos e rompeu para dentro do meu quarto. -Você acabou de chegar. O que fez de errado em? -Disse erguendo as sobrancelhas dando uma olhada ao redor do meu quarto. Suspirei, jamais contaria a verdade para ela, mas também não poderia mentir. -Coisa de adulto. Nós também ficamos de castigo e fazemos escolhas bem erradas. -Falei gesticulando com as mãos. Ava por um momento pareceu desconfiada, mas depois deu de ombros. -O Muggy pode esperar então. Você quer conversar sobre o que fez de tão errado? -Ela sentou na cama e fez menção para que eu sentasse ao seu lado. As vezes aquela garota parecia muito mais velha do que era, mesmo tendo seus poucos oito anos. Me sentei e puxei uma mecha de seu cabelo começando a trança-lo com os dedos. -Eu fiz uma coisa r**m e agora muita gente vai deixar de gostar de mim. -Murmurei baixinho como se dissesse aquilo mais para mim mesma do que para minha irmã de oito anos. Ava virou o rosto na minha direção e me olhou confusa. -Como podem não gostar de você? Todo mundo te ama Mills. -Ela disse, como se o fato fosse tão claro como cristal. Provavelmente ela voltaria atrás em suas palavras, pois logo ela teria que ir a escola e crianças não são exatamente boazinhas em relação a algumas coisas. O simples fato de pensar em Ava sofrendo bullying ou qualquer coisa de tipo por minha causa só aumentou ainda mais minha culpa. -As pessoas só amam o que a gente é por fora Ava, as vezes o que somos por dentro não é tão interessante assim. Divaguei pensando se ela realmente conseguia entender o meu ponto. Ava pareceu um pouco confusa, mas ao contrário do que pensei ela não fez mais perguntas nem insistiu no assunto, apenas virou e me abraçou repousando a cabeça em meu peito. -Eu amo você Mills. Por dentro e por fora. Ok. Aquilo sim me deixou com o coração na mão. Era como se Ava me entendesse, de uma forma que nem eu mesma entendia. -Eu também querida. -Falei beijando seus cabelos. Somente quando Ava saiu do quarto e eu finalmente fiquei sozinha me deitei sobre a cama e fechei os olhos tentando apagar da minha cabeça a realidade que me aguardava ao acordar.  -Por favor, seja só um pesadelo.

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