Capítulo 4

1714 Words
Eu amanheço com um sorriso no rosto ao lembrar da noite com Bruno. Depois que a gente decidiu voltar a ser amigos, conseguimos conversar e rir bastante. Quase como nos velhos tempos. Claro que estou ignorando toda as vezes que minha mente insiste em lembrar dele dizendo que ainda me ama. Assim como estou ignorando aquela vozinha na minha cabeça que debocha da ideia de que eu o amo apenas como um irmão agora. A voz insiste em dizer que ainda sou apaixonada por Bruno. Eu digo que essa voz é louca porque sou apaixonada apenas pelo meu namorado. Levanto da cama assim que lembro de Thiago. Nós combinamos de nos encontrar antes da aula. Quero ter certeza que tudo está bem entre a gente. Faço toda a higiene matinal e visto o uniforme. Eu me esforço para deixar a roupa da escola um pouco mais agradável. Eu não sou sempre vaidosa, mas gosto de me sentir bem comigo mesma. É ótimo para a auto-estima. O fato de que talvez eu encontre paparazzis lá fora é só um datalhe. Eu não me surpreendo quando não encontro a minha mãe em casa, é claro que ela já foi. Desanimada com a ideia de tomar café da manhã sozinha de novo, acabo saindo sem comer. Lá fora, eu solto uma risadinha quando vejo um paparazzi escondido atrás de uma árvore. Como Bruno pode aguentar isso? Eu espero que esses caras cansem logo. Não é como se tivesse muita coisa para ver por aqui. O meu bom humor matinal morre um pouco quando vejo Thiago. Sei que ele ainda está chateado só de olhá-lo. Tento abrir um sorriso apaziguador quando me aproximo.   —  Oi, meu lindo. —  Oi, Mel. Nada de apelidos carinhosos para mim. É, nós realmente não estamos bem. —  A gente pode conversar sobre isso? Ou você vai apenas ficar de cara fechada? — Não gosto dele. Suspiro.  —  Bruno é meu amigo  — Ele é? No presente? - Nós meio que decidimos dar uma chance a nossa amizade. —  Ele me olha como se eu estivesse louca — Não precisa ter ciúmes. —  Não estou com ciúmes, Mel. Eu só... eu me importo com você. Sorrio. —  É um dos motivos de eu te amar. —  Eu estou falando sério. Lembra como você sofreu quando ele foi embora? Quando eu te conheci, você estava literalmente na m***a. Preciso mesmo te lembrar? —  Não. Você não precisa. Isso não tem nada a ver com ele. —  Ah, não? É claro que não. O tom irônico me irrita. Eu posso entender os sentimentos dele, mas quero que ele entenda os meus também. Bruno não é apenas um ex namorado. Ele foi a minha família. Aliás, por que está sendo tão i****a? Que direito ele tem de mencionar o tal assunto? Eu e ele decidimos que nunca iríamos falar sobre isso de novo. Fecho a cara e me viro. Se ele não quer conversar, então o problema é todo dele. Ouço seu suspiro atrás de mim e sinto sua mão segurar meu braço —  Desculpe. Eu não devia ter falado nisso. —  Não mesmo.  Thiago me puxa para perto e encosta a cabeça na minha testa. —  Confio em você. Se está dizendo que ele é seu amigo, então tudo bem. Só... só me promete que vai tomar cuidado pra não machucar esse coraçãozinho ai, ta? Concordo com a cabeça.  —  você está me dando conselhos sobre outro garoto? O que é você?  Meu namorado ou meu amigo? Ele faz uma careta. —  Não estou te dando conselhos românticos. Estou dando conselhos do tipo: Não deixe esse b****a te iludir porque eu não quero perder minha linda e doce namorada. — Você não vai. Eu prometo para ele e para mim. Ele não responde, mas me puxa para um beijo. Depois, segura minha mão e vamos para a sala de aula. O dia de aula passa voando e Thiago me convida pra ir ao cinema depois. Sei que ele está tentando me agradar por causa da DR de hoje de manhã. Acho fofo e são momentos como esse que me dão tanta certeza de que estar com ele é a coisa certa.  Quando saímos do filme, encontramos com Letícia e Pedro no shopping. Ela me arrasta por diversas lojas enquanto os dois sentam e conversam na praça de alimentação. Depois de me levar em todas as lojas possíveis e comprar só um batom, nós duas nos juntamos aos garotos para conversar. Não compramos nada, porque se tem uma coisa que falta para estudantes do ensino médio, é dinheiro. Mas é bom estar com amigos e nem sinto o tempo passar até que o celular de Thiago tocar, ele fica imediatamente tenso. Sei que é sobre sua mãe. Os pais dele estão se divorciando e ela não está aceitando muito bem. Thiago diz que precisa ir para casa e pergunta se tudo bem eu pegar um táxi, não me importo. Peço pra que me ligue quando tudo estiver bem. Vejo que já são nove horas e decido que devo ir também. Penso em ir andando, mas está tarde demais para isso. Então, pego um táxi. Quando paro em frente à minha casa, vejo um grupo de dez garotas gritando e chorando no portão de Bruno. Ele está acenando do segundo andar e nossos olhos se cruzam por alguns segundos. Tempo suficiente pra que ele me lance um sorriso que interpreto como: " dá pra acreditar nisso?" Entro em uma casa silenciosa e sei que mamãe ainda não chegou. Coloco Friends na televisão e assisto sozinha. Uma sensação de solidão me invade e tento afastá-la. Lembro da última vez que me senti sozinha. Esse não é um bom pensamento. A campainha toca. Não estou surpresa quando abro a porta e vejo Bruno parado lá. Dou espaço para ele entrar.  —  As fãs foram embora? —  Por enquanto sim. Nu nca se sabe quando vão voltar.  Ele se joga no sofá como se fosse dono do lugar. Eu acabo sorrindo ao lembrar de todas as outras vezes em que ele fez isso. —  Olha só, ela continua vendo Friends. Por que não estou surpreso? —  Sabe como é, algumas coisas nunca mudam.  Sento ao lado dele. —  Já vi esse episódio. Eu reviro meus olhos.  —  Você já viu todos os episódios.  —  Claro, você me obrigava.  —  Pare com isso. Você sabe que gostava. —  Eu nunca prestei muita atenção na série. —  Ah, não é?  —  Não. Eu gostava mais assistir a você assistindo a série. Ouvir sua risada, ver seus olhinhos vidrados e sentir sua respiração enquanto você estava deitada com a cabeça no meu peito. Eu o encaro. Meu estômago dá uma cambalhota indesejada.  —  Eu pensei que nós íamos evitar comentários desse tipo. —  Certo. Me desculpe  Decido mudar de assunto porque isso é melhor do que pensar no efeito que as palavras dele causam em mim. — Se você não quer ver Friends, a gente pode ver outra coisa, que tal? Eu tenho vários dvds ali. Me levanto pra buscar os DVDs, mas faço isso rápido demais. Uma tontura forte quase me faz cair no chão, mas os braços de Bruno são mais rápidos. —  Você está bem? Ele me força a sentar no sofá de novo. Fecho os olhos esperando que a tontura passe, mas não adianta. —  Mel? Você está me deixando nervoso.  Seus braços ainda estavam em volta de mim, como se estivessem me segurando, apesar de eu estar sentada.  —  Estou enjoada.  Ele levanta.  —  Vem, vou te levar no médico.  Balanço a cabeça.  —  Estou bem  —  Não, não está não. Anda Mel, eu vou ficar bem mais tranquilo sabendo o que você tem. E de repente, eu sei. Só não consigo entender como posso não ter sentido fome antes, mas não comi literalmente nada hoje. —  Acho que já sei. Não comi hoje. — Como não comeu? Você quer dizer nada? — Sim, nada. Com certeza é isso, não precisa se preocupar. Ele me lançou um olhar que dizia que era melhor eu não dizer à ele o que fazer. — Como você pode não ter comido o dia inteiro? —  Acho que me distrai.  Ele está ficando com raiva.  —  Como é que isso é possível? Não sei.  — Não sei. Acho que tive um dia cheio.  Ele respira fundo.  —  Isso está tão errado que nem sei por onde começar, Melanie. Ele está mesmo me chamando pelo meu nome inteiro? —  E seu namorado? Ele não percebeu isso?  —  Não meta ele nisso. Eu só me distrai, só isso. Ele senta ao meu lado de novo. —  Não faça mais isso, ok? Cuide sempre da sua saúde.  Sinto uma pontada no peito, mas ignoro.  —  Tudo bem. Não vai acontecer de novo. Não sei por que eu estava concordando. Não é como se eu fizesse isso todos os dias. Na verdade, isso nunca me aconteceu. Eu dou muito valor a comida. Bruno se levanta do sofá e vai para a cozinha. Eu o vejo abrir o armário como se tivesse toda a liberdade do mundo na minha casa. Talvez ele tenha.   —  O que está fazendo? — Vou fazer comida pra você.  Ele vai o que? Fico mexida com o gesto e por algum motivo isso parece íntimo demais. Como se fosse errado permitir que Bruno fizesse isso quando tenho Thiago. Penso em algo para responder, mas ele bate o armário e volta pra sala. —  Quer saber? Isso vai demorar muito. Vamos lá para casa, a janta com certeza já está pronta —  Eu não vou atrapalhar o jantar da sua família —  Para de dizer besteira. Minha mãe é capaz de dar uma festa quando te ver. —  Olha Bruno, eu ... Ele interrompe. — Mel não existe a menor possibilidade de eu deixar você essa noite antes de ter enfiado uma boa quantidade de comida no seu estômago. Então, vamos encurtar o papo e vem logo comigo O que é que eu poderia fazer? Levanto-me do sofá, as mãos de Bruno me amparam imediatamente e caminhamos juntos até a casa da frente. Quando entro e olho ao redor, uma sensação de nostalgia me invade. Não havia percebido como eu sentia falta daqui...
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