************* Capítulo 5 ************
************* Beatriz *************
Não tinha como fugir de um cerco tão unificado, fortificado. Todas as manhãs os leões permaneciam nas montanhas em volta da aldeia, a tarde era o momento dos tigres, a noite os lobos uivam anunciando seu plantão. Seus objetivos de me manter reclusa e livre ao mesmo tempo, estava surtindo efeito.
Eles eram unidos como uma verdadeira família, formado em clãs, somente para identificar os familiares. Cada família vivia na sua cabana, chalé ou tenda, e uma placa informava o sobrenome. Embora não fazerem distinção, eram como uma irmandade.
E durante minha estadia de uma semana nessas terras os via em bandos, nunca andavam sozinhos, e acima de tudo usavam roupas na parte inferior, cobrindo suas partes íntimas para não haver mais constrangimentos.
Caminhei sendo vigiada pelos animais ao derredor, enquanto os seres híbridos olhavam-me a cada passo dado. Andei sendo admirada por homens amáveis, eles me saudam respeitadamente. Agindo como os irmãos havia dito.
Desci para uma parte inferior, sempre acompanhada de longe por um grupo. Andei até uma ponte pequena de madeira, existiam pescadores fazendo seu artesanato, e navegantes em suas canoas. Todo o trabalho desses aldeões Shifter eram assim, manualmente.
Sentindo-me cansada parei olhando-os enquanto era olhada de volta, terminando a saudação com uma breve reverência, logo após retornam aos seus afazeres.
Qualquer mulher da cidade ficaria encantada com estes trabalhadores, aqui tinha de tudo; lenhadores levando toras pesadas para a contrução de uma capela, ou para fazer a manutenção de uma casinha. Construtores, velejadores, cozinheiros, carpinteiros, montadores de móveis e etc... Eles eram seres bons, embora em seus olhos masculinos denunciava a força emanada dela. A virilidade sempre presente em seus rostos, no comportamento, nas ações incrivelmente masculinas. Bea, você parou em uma harém no meio das montanhas, cercada por florestas fechadas.
Sentei na beirada da ponte de estrado, na pontinha, encostando os pés descalços no rio. Pensativa, tentando assimilar o destino que foi jogado sobre mim.
- Não devia andar por aí descalço fêmea dos irmãos Hangar.
Virei o rosto vislumbrando um homem parrudo, seu tórax era completamente largo, com gominhos além do que eu podia contar.
- Se... continuar reparando no meu peitoral, posso perfeitamente reivindica-la. Como líder...
- O senhor era desde aquela época?
- Não, e não precisa me chamar de senhor. Por favor. - Juntou as mãos. - Poderia sentar contigo? Prometo me comportar.
Sorri.
- Difícil de acreditar quando se é apresentada daquela forma para outras espécies. Mas pode se sentar sim.
Dei espaço vendo o homem se sentado feito um felino noturno. Nos encaramos de frente, não tive medo de mirar a íris cor chocolate misturada com nuances.
- Me chamo Teddy Sabida. Sou da geração de líderes dos Shifter. A paz era comandada pelo meu avô, a guerra pelo meu pai. Ele era um híbrido turrão, gostava de comandar da maneira mais arriscada. Invadindo tudo que encontrasse pelo caminho.
- E você puxou a quem? - Perguntei sem querer, vendo seu sorriso de canto crescer.
- Acho que sou metade de um e de outro. Entrei no estágio da pacificação, mas se precisar guerrear estou apto para liderar os guerreiros. Sabe... Meu pai pagou o preço pela sua petulância.
- Morrendo...
- Queimado vivo feito uma bruxa.
Fiquei chocada.
- Como líder ele ficava tomando conta das fêmeas no acampamento. A armadilha feita pelos caçadores de híbridos fizeram a todos nós sairmos do território. Um erro irreparável, que nos levou a ruína. - Ele virou a face olhando para o horizonte. - Tivemos perdas, uma ferida em nossos corações...
- Tinha uma esposa... Como Canatre.
- Sim.
- Filhos? Desculpe a intromissão.
- Não... Minha fêmea era... Defeituosa.
Sorriu voltando a olhar-me nos olhos.
— Ninguém da tribo a queria, Celina não menstruava, algo na sua genética atrapalhou essa particularidade feminina. Mesmo assim ganhou beleza, formas abundantes, pra mim era uma mulher completa e me apaixonei quando a conheci na tenda das flores, ela fazia lindas ornamentações.
Gostei de saber que eles realmente se apaixonam, e que nem sempre sexo para esses seres místicos eram somente para a procriação.
- Devia da-los uma chance. - Falou-me serenamente.
- Não tenho escolha além de ceder?
A voz saia triste, inconsolável.
- Tem.
O fitei com esperança renovada.
- Como chefe deles pode me libertar!
- Hum... Para onde iria Beatriz? Sabemos que mora numa quitinete, sem família. Por que não pode nos dar uma única chance?
Comecei a chorar.
- Quero minha vida de volta! - Virei o corpo totalmente, tirando meus pés gelados da água.
- Que p***a de vida era aquela!
Berrou em alto e bom som, pegando em meus ombros, dando-me um tremendo chacoalhado. Fazendo relembrar a minha existência solitária, naquele cubículo, comendo um hambúrguer frio na hora do jantar pois não tinha o dinheiro do gás. Aqui mesmo sem energia elétrica eles tinha geradores que eram ligadas pelo mais feroz deles, uma engenhoca, projetada por eles. A refeição no horário, quentinha, feito no fogão de lenha. Era imensamente paparicada, uma rainha entre os animais das montanhas.
Teddy soltou-me derramando suas lágrimas de dor, em seguida puxou-me para um abraço. Não era íntimo, mas sim mostrava sua fraternidade pelo seu povo. O abracei de volta e ficamos os dois chorando, sendo consolados por aquela amizade espontânea.
- Por favor.... Dei-me uma razão para existir, não tire isso de nós.
- Eu... eu.... não sei o que dizer. Só sei que estava juntando grana e fazia faculdade....
O grandalhão apartou-se do meu corpo, pegando nos meus braços, olhando diretamente em meus olhos.
- Pode ter uma casa só sua e fazer a graduação que quiser. És uma Deusa entre nós... Porém não me peça para deixá-la ir embora... - Senti sua mão indo para a frente da minha barriga, cheguei a dar um pulo.
- Não há nada aqui... Eu... Nos... Você sabe que nada aconteceu naquela cabana.
- Sei disso Beatriz. - Fungou abrindo um curto sorriso de tristeza. - Quando acontecer a matilha toda sentirá essa união.
- Nossa... Que reconfortante. - Ditei desanimada, todavia suas palavras ganhavam vasão em meu interior.
Também estava cansada de ficar sozinha nesse mundo.
- E do fruto desse acasalamento terei minha recompensa.
- O... Que?
Tirei sua mão asperamente.
- Nascendo uma menina... Será minha companheira. - Anunciou sério.
Levantei não gostando de saber dessa informação.
- Será apenas um bebê!
- Sim, e por isso só vira até a minha cabana depois de completar dezoito anos. Fique tranquila Bea, temos leis severas sobre essa questão. - Falou erguendo-se.
- E... Se ela não desejar?
Sorrindo respondeu.
- Irei conquistar o coração dessa fada. - Abriu os braços. - Sabemos ser românticos.
Mesmo contrariada consegui abrir um forçado sorriso.
Tentei miseravelmente não compreender, era loucura demais para processar. Sobretudo resolvi ser solidária a causa, se eles me derem o que eu precisar.... Meu cantinho.