QUATRO

1310 Words
ÂNGELO CACCINI — Ela é realmente bonita - Raul comentou. — Qual delas? - joguei fora a fumaça do cigarro que equilibrava entre os dedos. O filho da p**a estava me testando, eu sabia disso. — As duas, na verdade... - respondeu pensativo — Mas agora eu entendi por que quer tanto a mais velha. - ele me lançou um olhar cínico e eu revirei os olhos. — Se acabar se casando com a loirinha, eu vou ter todo o prazer em cuidar pessoalmente da outra. Viu como aquele vestido deixou a b***a dela? — Da próxima vez que falar assim dela não vai estar vivo para implorar por perdão, seu e******o. - ameacei e ele parou de rir no mesmo instante. Raúl sabia que eu não brincava e que não pensaria duas vezes antes de mata-lo, mesmo que ele fosse a coisa mais próxima que eu tinha de um amigo. Nossas famílias eram amigas há gerações e consequentemente, crescemos juntos, mas isso nunca me impediu de matar ninguém. E com ele não seria diferente. — Você já está agindo como um maridinho ciumento... - brincou após alguns instantes. — Preciso de um jeito de me livrar da garota mais nova sem começar uma guerra entre as máfias. - bufei. Não que manter a paz fosse do meu agrado, mas mamãe gostava das coisas da forma mais pacífica possível. Ela jamais começava uma briga, mas sempre as ganhava. — Apenas diga que quer a outra. - Raul deu de ombros outra vez. Para ele era tudo muito fácil, Raul levava tudo na brincadeira e mesmo que eu fosse igual, em alguns momentos eu queria que ele pensasse com a cabeça de cima. — Eles não podem negar. — Minha mãe disse que não podemos fazer isso - traguei o cigarro lentamente, tentando manter a calma e soltei a fumaça, assistindo-a desaparecer aos poucos — Sabe como todos são sensíveis, qualquer coisa, por mais i****a que seja, pode ser considerado desrespeito e acarretar mais guerra, o contrário do que viemos fazer aqui. — Então o que pretende fazer? — Fazer com que Virgínia me queira a ponto de brigar com a família por mim... — Ela não parecia nenhum pouco interessada em você. — Mas posso fazê-la ficar. - garanti, seguro de minhas palavras fazendo Raul rir acendendo o próprio cigarro. — Eu sempre consigo tudo o que eu quero, e com ela não vai ser diferente. - completei mentalmente. VIRGÍNIA LAURENT — O que você e a senhora Caccini realmente conversaram, Virgínia? - Flora perguntou novamente. Era a única coisa que estava em sua cabeça desde que chegamos em casa. — Nada, apenas me mandou escolher um vinho e foi o que eu fiz. - respondi igual das outras vezes. Contar para Flora que a senhora Caccini tinha sido amável comigo enquanto a tratou com certa grosseria durante todo o chá, não ia deixa-la feliz e eu não estava com cabeça para aguentar um de seus surtos. — Vocês demoraram demais para quem não conversou nada... - resmungou fazendo beicinho, rolando em minha cama, onde eu estava deitada tentando dormir pelo menos um pouco antes de descer para treinar. — A casa deles é enorme, Flora. — Tem certeza de que ela não disse nada importante? Nada sobre mim? - perguntou novamente, seus olhos claros estavam cheios de expectativas — Flora, eu teria te falado se tivesse acontecido. - respondi suspirando, me sentindo péssima por não conseguir dar a ela a resposta que Flora tanto ansiava. — Mas nada aconteceu, agora, me deixe dormir um pouco, estou cansada. — Certo, vou acreditar em você... - ela pulou da minha cama e desligou o abajur que havia ligado, antes de sair. Eu tentei dormir, mas não consegui, nem mesmo um pouco, então fiz a única coisa que me deixava em paz e relaxada; treinar. Colocar todos os sentimentos para fora socando um saco de pancadas como se ele tivesse pisado na patinha do meu cachorro era a melhor forma de colocar todos os meus pensamentos em ordem. Mais uma vez amanheci na sala de treinamento e acabei adormecendo em um dos bancos do jardim, havia algo me incomodando, mas eu não sabia dizer o que era, talvez fosse apenas stress, causado pelos últimos acontecimentos. *** — Eu falei com meu o pai e ele deixou que eu fosse na próxima missão. - disse para Ismael tentando conter minha animação. Eu estava cheia de pensamentos e uma confusão mental pairava sobre mim, sair em uma missão era o que eu mais precisava no mundo. Meu ex-treinador estava no ringue, cuidando de um novato que estava com o rosto todo machucado. No ringue, em uma das salas da área de treinamento, era onde aconteciam pequenas lutas entre os soldados, assim dividimos os melhores e mandavam os menos aptos para um treinamento mais pesado. — Todos os soldados já foram escalados, é uma missão de risco, apenas os melhores dos melhores, Virgínia. - Ismael disse concentrado em passar álcool com algodão na boca cortada do novato. — Eu sou a melhor entre os melhores. - falei irritada. Ismael não gostava que eu fosse em missões, sempre inventando desculpas, eu sabia que ele tinha medo que eu acabasse me machucando feio, morrendo ou sendo capturada pelo inimigo, mas isso era o risco que todos corriam e que eu queria correr também. Toda a adrenalina e perigo envolvidos me fazia sentir viva e livre, coisa que raramente acontecia. — Sim, mas existe outra missão tão importante que precisa de você... - ele disse eu não escondi a satisfação em ouvir isso. — Mesmo? Qual? - perguntei empolgada. — Os docinhos que vão servir na sua festa de casamento. - ele disse e o novato começou a rir, como se tivesse acabado de ouvir a coisa mais engraçada do mundo. — Eu não vou me casar, Ismael - quase rosnei. — Você sabe muito bem disso. — Bom, pois eu tenho certeza que você vai. - ele me olhou amigável. — Eu vou na missão. - falei o ignorando, cruzando os braços. Ismael estava apenas tentando me fazer perder o controle. Ele vivia dizendo que eu era muito explosiva e mais um monte de coisas em que eu devia melhorar. — Infelizmente os soldados recrutados já saíram, há uns... - ele olhou no relógio de pulso que sempre usava, haviam marcas no couro do acessório, assim como rachaduras pequenas no vidro. — Cinco minutos. Nunca vai alcança-los. Sem tempo para ouvi-lo, dei as costas tentando calcular se eu os conseguiria alcançar caso fosse rápida o suficiente e no fim das contas realmente consegui. Alguns homens fizeram cara feia quando eu entrei no carro onde estavam, mas outros sorriram simpáticos. Os soldados que estavam a mais tempo na minha família, me respeitavam, agora os novatos que se achavam superiores aos outros, não aceitavam que uma mulher fosse em uma missão com eles, mas eu adorava cala-los sempre que surgia uma oportunidade. Essa era de uma missão teoricamente simples, raptar um desgraçado que estava roubando de nossa família há vários meses. Ele era um homem poderoso dentro e fora da máfia, um político corrupto, por isso sequestra-lo da forma mais discreta possível era importante. Depois ele seria torturado e após assumir seus crimes contra nós, ele seria morto e colocaríamos a culpa em um adversário político, nos safando da culpa como em todas as outras vezes. Eu me sentia como uma justiceira, mesmo que nenhum civil soubesse disso, estávamos nos livrando de uma escoria que usava da boa vontade de toda uma população para roubar e cometer diversos outros crimes que nossa máfia repudiava, como p*******a e abuso s****l. Fazê-lo sofrer antes de morrer com certeza me deixaria feliz e me faria esquecer de qualquer merda irritante sobre minha vida, que agora, mais que nunca, estava uma completa bagunça.

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