PRÓLOGO
VIRGÍNIA LAURENT
Ser a irmã mais velha não é fácil, principalmente quando se se é uma Laurent. Ser treinada como o mais desprezível soldado, saber matar qualquer um que se aproximar de você, ter em mente que o futuro de toda uma família está em suas mãos, enquanto a mais nova apenas recebe amor e carinho, é doloroso, mas eu nunca culpei ou julguei minha irmã por isso. Eu era feliz por Flora não ter que passar pelo mesmo inferno que eu passava diariamente e era isso que eu mantinha em mente todos os dias para não desistir e todo aquele peso cair sobre suas costas.
Era nisso que eu estava pensando quando apenas concordei em me casar com um ser desprezível como Ângelo Caccini, para selar um acordo de paz entre nossas famílias, mas eu estava tentando me convencer se realmente valia a pena enquanto eu me arrumava para recebe-lo em minha casa junto aos seus parentes.
— Papai disse que logo os convidados estão chegando, Vivi - minha irmã mais nova disse entrando em meu quarto sem bater na porta. No auge dos seus dezessete anos, ela esbanjava beleza, alegria e nem tanta educação assim.
Flora era o retrato de nosso pai, tinha a genética original da família Laurent, cabelos amarelados e olhos verdes profundos, uma boca naturalmente rosada e bem desenhada, além de um corpo bonito que a fazia se destacar na multidão. Ela parecia mesmo uma boneca e talvez por isso, era tratada como uma.
Eu me parecia completamente com minha mãe. Minha pele era um pouco mais escura, assim como meus cabelos totalmente pretos e meus olhos escuros que às vezes pareciam cinza. Eu era simples e comum, não me destacava na multidão, mas saber matar como um assassino experiente me consolava, afinal, esse era meu trabalho.
— Estou descendo, Flora - respondi tentando não parecer tão desmotivada quanto estava.
— O que achou do meu vestido? - ela perguntou dando uma voltinha, fazendo a saia do vestido de estampa florido e saia rodada girar. — Mamãe me ajudou a escolher. É lindo, não é?
— Sim. - respondi abrindo um sorriso. Flora gostava de vestidos rodados e coloridos, ela ficava linda neles. Como uma princesa.
— Mamãe disse que não quis nenhum dos vestidos que ela comprou. - ela disse torcendo o lábio. — Vai mesmo usar esse vestido outra vez? É tão sem graça.
— Eu gosto dele - me defendi. Mamãe havia comprado um vestido vermelho apertado demais e acabou não servindo. — O pai disse que eu fico bem nele. - dei de ombros e ela revirou os olhos.
— Tomara que seu noivo não ligue para essas coisas. - ela brincou e dessa vez eu quem revirei os olhos. Ouvimos uma buzina e Flora arregalou os olhos verdes intensos. — Vamos? Se você se atrasar papai vai ficar bravíssimo.
Saímos do quarto juntas e seguimos para a sala de estar, que estava sendo lotada por italianos, afinal, era de onde meu noivo era. Um italiano de merda. Observei tudo ao redor. Haviam muitos homens, mas todos guardas costas, seguranças. A única pessoa importante ali era uma mulher, a qual minha mãe direcionava toda a sua atenção.
— É um prazer recebe-los. - ouvi minha mãe dizer gentil. Um tom de voz que apenas usava com Flora. Nossa relação não era muito boa e eu nunca entendi o motivo. — Virgínia está vindo.
— Estamos ansiosos para conhecer minha futura nora. - foi uma mulher quem respondeu. Provavelmente a mãe do meu noivo. Ela parecia ser bem mais velha que minha mãe, mas era charmosa e bem vestida.
— Estou aqui - disse ao chegar ao final da escada, chamando a atenção de todos. Eu não sabia bem como agir sendo o centro das atenções.
— Essa é Virgínia. - meu pai disse surgindo ao meu lado. — Minha filha mais velha e-
— Eu sou Flora - minha irmã fez uma reverência, como as dos filmes antigos e se levantou sorrindo — Piacere di conoscerti.
Sua fala em italiano não surpreendeu só aos nossos convidados, mas a mim também.
— Oh - a senhora de antes sorriu amável. — Ugualmente. São realmente duas jovens lindas.
— E Ângelo? - meu pai quem perguntou, ele estava impaciente, mesmo tentando fingir que não.
— Oh, ele ficou lá fora tomando um ar, mas esta vindo. - ela respondeu com um sorriso grande demais — Ele não é bom com viagens.
— Podemos preparar um chá para ele, ou você prefere um remédio? - minha mãe disse falsamente preocupada.
— Não é preciso - uma voz masculina ecoou pela sala e direcionei meu olhar a porta, pela qual um homem alto e de cabelos loiros entrava. Engoli seco. Conforme se aproximava, mais bonito ele parecia.
Os olhos intensamente azuis se colidiram com os meus e por alguns segundos nos encaramos sem nenhum pingo de vergonha, eu quis desviar, mas era como se eu estivesse presa a ele.
Fiquei imóvel.
— Esse é Ângelo - a senhora disse outra vez, nos fazendo desviar o olhar. — Se sentindo melhor, filho?
— Sim mamma, eu precisava apenas de um pouco de ar. - ele disse abrindo um sorriso largo pra mulher e por poucos instantes, ele voltou os olhos para mim outra vez.
— Que tal irmos todos para a sala de jantar? - sugeriu minha mãe. — Depois que estivermos todos saciados podem conversar com mais calma sobre o acordo de casamento.
A senhora Caccini olhou para o filho que assentiu discretamente antes de dar uma resposta a minha mãe.
— Claro, se preferirem assim.
Seguimos para a sala de jantar, depois de ter sido deixada para trás propositalmente com Ângelo, que limpou a garganta antes de se dirigir a mim.
— É um prazer finalmente conhecer minha noiva e ver que ela é così bello. - ele disse para que apenas eu pudesse ouvir e o encarei confusa. Eu não sabia nada de italiano, mesmo que estivesse tendo aulas desde que meu pai decidiu que eu iria me casar com um estrangeiro.
— O que disse? - indaguei e ele deu de ombros, seguindo os outros para a sala de jantar.
Meus pais e a senhora Caccini conversavam avidamente sobre negócios e sobre como a nossa união traria poder aos todos. Eu sempre senti que era como um objeto, mas aquela noite eu tive a certeza que era um.
— Flora? - chamei vendo que ela não tirava os olhos de Ângelo. Ela nem mesmo havia tocado em seu prato. — O que esta fazendo?!
— Eu tomei uma decisão - ela disse se levantando de repente, batendo as mãos na mesa.
— O que aconteceu, querida? - perguntou minha mãe preocupada.
— Isso não pode continuar...
— O que esta fazendo, Flora? - indaguei baixinho, puxando seu braço para que ela se sentasse outra vez, mas ela o puxou de volta e continuou.
— Eu não posso deixar minha irmã se casar contra sua vontade. Eu sei que esta fazendo isso por mim, Virgínia - ela se virou pra mim — Mas, não é sua obrigação. Eu decidi que vou tomar meu lugar original, como a noiva de Ângelo.
O quê?! Olhei para meus pais buscando ajuda, mas eles pareciam tão perdidos quanto eu.
— Todos sabem que eu sou mais adequada para este casamento - ela continuou - eu fui ensinada para ser a melhor esposa do mundo, não é justo que você assuma essa responsabilidade.
— Virgínia - meu pai disse tentando se controlar — Leve Flora para cima.
Flora saiu antes que eu fizesse algo e eu fui atrás dela, a encontrando na sala.
— O que diabos pensa que esta fazendo!? - tentei não gritar.
— Eu fiz um favor pra nós duas, Vivi. - disse erguendo o queixo.
— O que?
— Você não quer esse casamento, mas eu sim.
— Do que está falando, Flora? Isso não é brincadeira!
— Eu me apaixonei por Ângelo, Virgínia, me apaixonei por ele a primeira vista.
Ah, meu Deus.