Sofia chega em casa com um misto de sensações. Não esperava que Yuri fosse convidá-la para jantar, e o seu aparente interesse a estava deixando confusa. Ela o conhecia havia algum tempo, e em nenhum momento tinha notado o seu interesse por ela. Sofia se perguntava quando isso havia mudado, ou se era apenas coisa da sua cabeça. Não, aquilo não poderia ser sua imaginação; ele havia deixado claras suas intenções.
Sofia retirou os sapatos, calçando as suas pantufas de coelho — um presente de Mel. Achava-as infantis, mas sua irmã as havia dado com tanta empolgação que ela não conseguia deixar de usá-las. A casa estava vazia naquela noite; a sua governanta já devia estar dormindo. Sofia havia insistido com Ricardo para morar em um apartamento pequeno, mas seu irmão não cedeu. Ele comprou uma casa em um bairro nobre e a cercou de seguranças, o que às vezes era difícil de explicar para as pessoas ao seu redor.
Ela pendurou o casaco e deixou a bolsa no sofá antes de ir até a cozinha. Como sempre, havia um bilhete de Nora dizendo que o jantar estava na geladeira. Sofia abriu a geladeira, pegou o jantar e o colocou no micro-ondas para esquentar. Depois, sentou-se à mesa com uma taça de vinho nas mãos.
Naquelas horas, Sofia sentia falta da agitação da casa do seu irmão. Por mais discreta que fosse, gostava de observá-los conversando. Aquilo lhe dava paz e fazia pensar como seria sua família se o seu pai não tivesse sido um grande canalha. Pensar neles a fazia lembrar que fazia tempo que não ia para casa. Talvez estivesse na hora de visitar a sua família.
No caminho para casa, havia ligado para Ricardo. O seu irmão não gostou muito de saber que Yuri a tinha chamado para sair. Ricardo sempre fora protetor, e ela sempre amaria esse lado dele. Sofia terminou o jantar e subiu para o quarto. Tudo estava no seu lugar, impecável como sempre. Pegou-se pensando em Mel e em como o quarto estaria uma bagunça se a sua irmã estivesse lá com ela.
Sofia suspirou. Estava decidida a ir para casa depois daquele jantar com Yuri. Era hora de ver os seus amigos e a sua família, poder abraçar a sua sobrinha e enchê-la de beijos. Decidida, marchou para o banheiro, tomou um banho longo e demorado, e caiu na cama. Mas, quando pensava que o sono viria, o que apareceu na sua mente foi aquele par de olhos azuis que a fascinavam profundamente. Pelo visto, a sua noite estava perdida.
A noite de Sofia não tinha sido das melhores. Rolou de um lado para o outro até tarde, mas não conseguiu dormir. Yuri tinha dominado os seus pensamentos. Com um suspiro cansado, levantou-se da cama, tomou um banho e desceu para tomar café.
— Olá, menina, que casa é essa? — perguntou Nora ao vê-la desabar na cadeira à sua frente.
— Quase não dormi essa noite, Nora — disse enquanto se servia de um pouco de café.
— Tenho alguns chás que podem ajudar. Vou deixar sempre à vista caso precise — disse ela, indo até o armário e retirando um pacote de chá, que deixou na bancada.
— Obrigada, Nora — disse Sofia, com um sorriso no rosto.
As manhãs com Nora eram sempre agradáveis. A velha senhora a tratava com respeito, e mantinham conversas amenas quando estavam juntas. Eram como duas damas da sociedade conversando civilizadamente. Esse pensamento fez Sofia sorrir. Era assim que todos a viam: uma dama da sociedade, e com o nome do seu irmão rondando-a, as atenções sobre ela eram ainda maiores.
Sofia ouviu seu telefone tocar e, ao ver o nome de Ricardo piscando na tela, sorriu. Era raro um dia em que ele não ligava para saber como ela havia acordado.
— Olá, irmão — disse ela de forma polida.
— Bom dia, querida. Como está hoje? — perguntou ele.
— Bem, tive uma noite sem dormir, mas estou bem — respondeu ela.
— Mas está se sentindo bem mesmo, Sofia? Acho melhor ligar para o médico e pedir que a examine, só para garantir.
— Estou bem, Ricardo. Apenas perdi o sono, não precisa se preocupar tanto — disse ela, suspirando.
— Tudo bem, mas se sentir m*l, basta me ligar que resolvo tudo — disse ele. Sofia apenas suspirou, vendo Nora conter o riso à sua frente. — Encomendei algo para você na loja de joias do shopping. Eles ligaram avisando que chegou.
— Sabe que não precisa gastar comigo dessa forma — disse ela.
— Isso não é nada, e a minha irmã merece o melhor. Mel adorou as dela.
Sofia revirou os olhos. É claro que Mel teria adorado; ela amava qualquer coisa que viesse numa caixa.
— Obrigada, irmão. Vou passar lá para pegar.
— Espero que goste, querida.
— Sei que vou amar. Você me conhece bem demais para errar os meus gostos — disse ela, ouvindo a risada rouca do irmão na linha. A saudade apertou no seu peito. — Ricardo, estava pensando em ir visitá-los.
— Não fale assim, Sofia — disse ele, chateado.
— Como?
— Como se aqui não fosse sua casa. Você é minha irmã. A sua casa é aqui comigo e com os outros. Não precisa da minha permissão para vir. Quando quiser, basta avisar que mando o jato te buscar.
— Obrigada, irmão. Depois do jantar com Yuri, irei — disse ela, animada.
— Vou pedir para ele te trazer. Ele já estará vindo para o nosso encontro, de toda forma — disse Ricardo.
— Deixe-me adivinhar: churrasco? — perguntou ela, rindo.
— Os churrascos na Fênix são os melhores, querida. Já virou tradição — respondeu ele, rindo.
— Hora perfeita para voltar para casa — disse ela.
— Também acho. Se cuide, querida.
— Sempre, irmão — respondeu ela antes de desligar.
— Nunca vi um homem tão protetor em toda a minha vida, menina — disse Nora, rindo.
— Verdade. Ricardo é incorrigível — disse Sofia, levantando-se. — Vou sair. Não precisa me esperar hoje. Vou jantar fora e depois passar uns dias com o meu irmão.
— Tudo bem, menina. Não se preocupe. Vá e divirta-se — disse Nora, sorrindo.
Sofia subiu novamente para o quarto e trocou de roupa, colocando um vestido azul-claro que ia até os joelhos, uma sandália de salto branca e as suas joias mais discretas. Fez uma maquiagem simples e, com um sorriso, desceu as escadas. Estava ansiosa para ver o presente que o seu irmão havia lhe dado.