O quarto de Oksana parecia pequeno diante da quantidade de pessoas que estavam ali com ela e Aurélio. Todos mantinham a atenção fixa nos três berços que preenchiam o ambiente. Ninguém conseguia acreditar que os filhos deles eram praticamente cópias de Aurélio: os mesmos cabelos negros e os olhos azuis intensos que pareciam conter o céu.
— Eu me sinto uma verdadeira máquina de xerox. — brincou Oksana, arrancando risadas de todos.
— Eles são tão lindos, Oksana! — comentou Alicia, com os olhos brilhando de admiração.
— Verdade! Os seus bebês são as coisas mais fofas do mundo! — acrescentou Raira, com um sorriso encantado.
— Já podem marcar o batizado dos meus afilhados! — disse Síria, radiante. A promessa era antiga: assim que Aurélio tivesse filhos, Síria e Klaus seriam os padrinhos, e ao que parecia ela não o deixaria se esquecer disso.
— Sabe que isso não muda, Sí. Assim que eles estiverem maiores, vamos marcar. — respondeu Aurélio, firme, segurando a mão de Oksana. Ele não havia se afastado dela desde que a haviam levado para o quarto.
— E o Nerone? — perguntou Oksana, olhando para Aurélio com uma expressão curiosa.
— Ele estava em uma missão, meu amor, mas já está vindo. Deve chegar amanhã bem cedo. — disse Aurélio, tranquilizando-a. Ao longo dos meses, Nerone e Oksana haviam desenvolvido uma amizade especial, algo que alegrava Aurélio profundamente. Não que o seu irmão não tivesse tentado ficar longe da loira, mas ela era insistente o dobrando a suas vontades.
— Faz tempo que não o vemos, Aurélio. — comentou Charles. Ele sabia parte do que envolvia a vida de Nerone, mas optava por não interferir. O tempo que o irmão de Aurélio havia passado treinando com a Fênix fora intenso, e ele havia conquistado a aprovação de Ricardo com louvor.
— O garoto tem peito, isso eu preciso admitir. — disse Vito, que havia realizado algumas missões ao lado de Nerone e se impressionara com a sua determinação.
— Só espero que ele fique bem. — suspirou Síria, preocupada.
— Acho que isso ainda vai levar tempo, Sí. Mas ele precisa encontrar o próprio caminho. — disse Aurélio, demonstrando uma preocupação que raramente deixava transparecer. Ele sabia que algumas coisas Nerone teria que resolver por conta própria.
— Sei que todos estão animados, mas agora preciso que Oksana descanse um pouco. — avisou a médica ao entrar no quarto.
— Desculpe, doutora. Vamos nos retirar. — disse Ricardo, liderando os outros. — Qualquer coisa, é só chamar o Aurélio.
— Obrigada, Ricardo. Ficaremos bem. — respondeu Aurélio com um sorriso de gratidão.
— Aproveite o seu tempo trocando fraldas, Aurélio! — brincou Nico, ao sair pela porta.
— Esse cara... — murmurou Aurélio, irritado.
— Não ligue para ele, Aurélio. Se precisar de ajuda, é só avisar que te ensinamos. — disse Klaus, dando-lhe um tapinha nas costas.
— Se tem uma coisa que os homens da Fênix sabem fazer, é trocar fraldas! — comentou Xavier, deixando Aurélio surpreso.
— Até que pode não ser uma má ideia... — respondeu Aurélio, passando a mão pelos cabelos, enquanto os outros riam.
A sala foi se esvaziando aos poucos, restando apenas Oksana e Aurélio. Ele verificou os bebês, que dormiam tranquilamente, antes de se deitar ao lado dela, puxando-a para seus braços. Retirou os sapatos e a envolveu em um abraço protetor.
— Não está com nojo de mim? — perguntou ela, arqueando uma sobrancelha.
— Por que eu teria nojo de você? — ele respondeu, confuso.
— Estou suada, fedendo, e a minha barriga parece um maracujá velho, toda flácida. — desabafou ela, com um tom misto de humor e preocupação.
Aurélio sorriu diante das palavras da esposa. Ela m*l havia passado pelo parto e já se preocupava com o que ele pensava.
— Oksana... — disse ele, virando o rosto dela para encará-lo. Os seus olhos azuis brilhavam com intensidade. — Eu te amo, loira. Mesmo que você se torne uma ameixa seca, eu ainda estarei aqui.
— Aurélio! — respondeu ela, indignada, mas sem conter uma risada nervosa.
— Você me deu os maiores presentes da minha vida, Oksana. Eu vi tudo o que você passou nesses meses. Você é uma mulher incrível, forte. Trouxe os nossos filhos ao mundo em segurança. Como eu poderia sentir nojo de você? — As palavras dele a fizeram encher os olhos de lágrimas.
— Moreno... — murmurou ela, secando o canto dos olhos.
— Ei, não chore. Quero ver você sorrindo, querida. — disse ele, antes de beijar os seus lábios com ternura.
Oksana se aconchegou no peito de Aurélio, sentindo-se segura e em paz. Ele era seu porto seguro, sua força. Assim, ela permitiu-se relaxar e finalmente adormeceu, mergulhando no mundo dos sonhos. Aurélio a observou dormir, um sorriso leve nos lábios. Ele sabia que Oksana estava preocupada com as marcas deixadas pelo parto, mas, para ele, aquelas marcas eram como tatuagens que simbolizavam o maior amor que ele já havia conhecido.
Enquanto observava a sua família dormir Aurélio pensava em como a sua vida tinha dado uma guinada nos últimos meses. O seu irmão estava bem e estava se tornando alguém temido no meio deles, o seu primo finalmente tinha conseguido impor alguém respeito sobre os seus conselheiros, o que deixava Aurélio aliviado por não ter que resolver os seus problemas, e agora ele tinha a sua família completa.
Era de madrugada quando Aurélio ouve o choro dos seus pequenos, mas não era apenas isso, uma outra voz se faz ouvir no silêncio do quarto, uma voz que ele conhecia muito bem. Abrindo os seus olhos lentamente ele observa uma cena que jamais pensou ver em sua vida. O seu irmão estava sentado em uma poltrona no quarto com um dos seus filhos sobre o seu peito, ele cantava uma canção de ninar que Aurélio achava que estava perdido no tempo.
Aurélio sentiu a garganta apertar de emoção. Ali estava Nerone, despido das suas dores e máscaras, mostrando-se apenas como o tio amoroso e protetor que ele sempre soube que seria. Ele observou o choro do pequeno se transformar em balbucios antes de o bebê adormecer novamente. Nerone o manteve nos braços por mais alguns minutos, antes de colocá-lo de volta no berço.
— Ninguém jamais tocará em você. — disse Nerone, sua voz carregada de emoção. — Nem que eu tenha que enfrentar o mundo inteiro.