Yuri travou. Ele olhava para os olhos castanhos de Sofia, sem saber o que fazer naquele momento. Ele tinha sido pego.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou ela, sentando-se na cama assustada.
— Você tinha dormido no assento do jato, então te trouxe para descansar aqui — explicou ele, tentando sair daquela saia justa. Yuri queria que o chão se abrisse para que ele se enfiasse dentro de tão constrangido que estava.
— Não, o que está fazendo aí? — disse ela, apontando para onde Yuri estava abaixado ao seu lado.
— Apenas lhe dei um beijo de boa-noite — disse ele, passando a mão pelos cabelos, um sinal claro do seu nervosismo.
Sofia não acreditava no que estava ouvindo e vendo. Ela podia perceber que as bochechas de Yuri estavam vermelhas com aquelas palavras. Sofia havia acordado ao sentir uma presença ao seu lado. Quando abriu os olhos, encontrou o rosto de Yuri próximo ao seu, o que a assustou muito. Mas, depois da explicação dele, ela não sabia mais o que pensar sobre aquele assunto.
— Você me deu um beijo de boa-noite? — perguntou ela, chocada.
— Sim — disse ele, desviando o olhar do dela.
— Olha, Yuri, não quero que me toque. Se fosse o meu irmão, eu não diria nada, mas esse não é o caso — disse ela, encarando os seus olhos sem vacilar.
— Me desculpe, Sofia. Sempre dou um beijo de boa-noite na minha irmã quando a coloco para dormir. Não pensei que isso te deixaria chateada — disse ele, levantando-se.
A única coisa que Yuri não contou a ela foi que o beijo que havia dado fora nos seus lábios, e não na sua testa, como ela imaginava.
— Esqueça, Yuri. Apenas não faça isso novamente, está bem? — disse ela, balançando a cabeça.
— Tudo bem, me desculpe — respondeu ele, saindo do quarto e fechando a porta.
Sofia não sabia descrever os sentimentos que a tomavam naquele momento. Ao ver a forma como ele saiu, triste, pensou que talvez tivesse exagerado nas suas ações. Mas não estava acostumada com aquele tipo de contato com pessoas que não fossem seus irmãos.
Tentando ignorar o que havia acontecido, Sofia se deitou na cama e voltou a dormir. Queria estar descansada para poder aproveitar melhor o tempo com o seu sobrinho.
Yuri suspirou aliviado e deixou-se cair pesadamente sobre o assento. Por um momento, pensou que Sofia havia percebido o beijo que ele lhe dera. Passou a mão pelos cabelos de forma desesperada ao imaginar que poderia ter estragado tudo com ela porque não conseguia se controlar. A cada segundo que passava com Sofia, sentia o seu corpo ganhar vida própria, sempre querendo tê-la por perto, sentir a sua pele e o seu gosto. Ele se via enlouquecido por aqueles sentimentos que o dominavam.
O resto da viagem transcorreu em silêncio. Yuri, a cada momento, pensava no que tinha feito e já imaginava que Sofia se afastaria dele depois daquilo. Ela era arisca, e ele a havia deixado ainda mais. Quando faltavam apenas dez minutos para pousarem, ele foi até o quarto de Sofia e bateu na porta. Como ela não respondeu, ele abriu a porta lentamente, encontrando-a dormindo tranquilamente.
Ele parou ao lado dela e não a tocou, apenas a chamou em voz alta.
— Sofia... — chamou ele. Quando ela não respondeu, ele levantou um pouco mais a voz: — Sofia!
Ela despertou assustada. Ao ver Yuri parado próximo a ela, entendeu que ele devia tê-la chamado.
— Oi, Yuri.
— Precisa se sentar e colocar o cinto. Estamos quase pousando — disse ele de forma mais suave.
— Tudo bem, já estou indo — respondeu ela, sentando-se.
Yuri saiu do quarto em silêncio, mas não passou despercebido por Sofia que, dessa vez, ele não havia se aproximado dela.
Sofia calçou as pantufas e foi até onde Yuri estava. Assim que se sentou, ele se aproximou em silêncio e afivelou o seu cinto, tomando o máximo de cuidado para não tocá-la. Sofia percebeu que ele estava se esforçando para manter distância, e isso a fez pensar que talvez tivesse sido muito dura com ele.
— Yuri, sobre o que aconteceu...
— Está tudo bem, Sofia — interrompeu ele. — Foi erro meu, não acontecerá novamente. Tem a minha palavra.
Sofia percebeu que ele havia ficado magoado e não disse mais nada. Sabia que não adiantaria insistir.
O jato pousou minutos depois na pista da Fênix. Ricardo havia mandado construir uma pista de pouso no novo complexo, o que facilitou bastante as coisas para eles. O antigo hangar da Fênix agora era usado apenas para transporte de mercadorias e algumas missões.
Quando o jato parou completamente e o piloto os liberou, Yuri soltou o cinto de Sofia antes de pegar a própria mala e a dela, descendo do jato. A sua mente, o tempo inteiro, buscava uma forma de resolver aquele m*l-entendido entre eles, algo que ele mesmo havia criado.
Assim que desceu, encontrou o olhar de Ricardo fixo no seu rosto, atento a cada movimento seu.
— Como foi o voo? — perguntou Ricardo, pegando uma das malas de Yuri e colocando-a no carro.
— Cansativo, mas, fora isso, tudo tranquilo — respondeu Yuri com um sorriso forçado.
Quando Ricardo viu Sofia descendo, um largo sorriso se abriu no seu rosto. Ele foi até ela, puxando-a para um abraço apertado.
— Que saudade eu estava de você, querida! — disse ele, beijando a sua testa.
— Também senti sua falta, irmão — respondeu ela, sorrindo para ele.
— Vamos, os outros estão te esperando — disse Ricardo, levando-a até o carro e abrindo a porta para ela entrar. — Vamos, russo!
Yuri suspirou antes de caminhar até o carro e entrar na parte da frente, ao lado de Ricardo. Ele sabia que aquele final de semana seria cheio de surpresas e precisava estar atento. Afinal, seria naquele dia que Ricardo contaria a Sofia que ela lhe pertencia.