Mestre
-Não sou um cara cheio segredos, traumas e dramas, sou transparente nas atitudes, gosto do olho no olho e valorizo a lealdade.
-Como a maioria do povo sou de origem humilde, Dona Vitória Rossi minha mãe caiu na lábia do meu doador de esperma que meteu o pé assim que soube da gravidez.
-Ela foi a famosa "mãe solo", mas pelo que conheço da história ela peitou o B.O. ,minha véia Dona Marlene já era viúva mas agarrou na mão da filha e me criaram, com amor e muito esforço.
-Dona Vitória trabalhava num salão, ralava pra caramba, minha Véia era Doceira, virava dia e noite com barriga no fogão,guerreiras demais, pesavam na minha mente pra eu estudar, não abriam mão disso.
-Me criei na Favela da Matinha que faz parte do Complexo do Alemão, sempre que podia tava na rua soltando pipa, jogando futebol.
-Foi numa dessas que conheci o Roger vulgo Fera, uns moleques tentaram pegar ele na covardia, eu ajudei e hoje é meu irmão de outra mãe.
-Sempre fui bom de negócio desde novinho, sou ligado nas paradas, até pra negociar troca de figurinha com os parceiros levava a melhor.
-Queria melhoria, minha vó fazia uns doces bonzão, comprei umas embalagens bem maneiras, montava tipo um kit de doces, colocava uma roupa melhorzinha e ia vender no asfalto.
-Se tem uma coisa que aprendi é que quanto mais cheio de frescura, mais vende, rico gosta do diferente e caro, então com meus olhos azuis, educação e bom de papo ia no asfalto e conseguia vender por um valor que na favela nem teria como.
-Aos 16 anos já fazia um rolo aqui outro ali,fui juntando um dinheirinho, comecei a emprestar a juros com garantia de nota promissória, mas tinha quem bancava o esperto não pagava achando fácil enrolar um moleque novo.
-Foi aí que resolvi aprender a atirar e comprei uma arma sem intenção de usar mas pra impor respeito.
-Tempo depois descobri que nunca se lavanta uma arma se não tiver coragem pra atirar e nem se começa o que não vai terminar.
-Tava tudo indo bem, até que me chamaram na Boca principal, fui posturado quem não deve não teme, mas na real? Cueca devia tá até borrada.
-Messias o Dono do Complexo me deu um esporro daqueles de meter o apavoro, disse que eu não era ninguém pra fazer aquilo ainda mais sem permissão, que se me pegasse de novo ia me atravessar.
-Em seguida me fez a proposta de trabalhar pra ele porque me achou inteligente, ousado e via em mim coragem e potencial.
-Claro que não aceitei, nem era a minha, sem contar que em casa apanharia até perder o couro, ele me proibiu de fazer qualquer coisa desse tipo no seu Morro, falou que não ia me cobrar e deixar de exemplo porque sabia que eu ainda ia voltar e tinha grandes planos pra mim.
-Entrei mudo e sai calado, não sou covarde mas tenho amor a vida, deixar minhas rainhas sozinhas não era uma opção.
-Voltei a estaca zero, podia arranjar um emprego? Tinha preguiça? Não! Então qual o problema? Fora trabalhar que nem um condenado e ganhar uma esmola que não dá pra nada? Só rindo.
-Aos 18 ainda fazia uns esquemas leves mas com um parceiro do asfalto, nessa época minha mãe foi morar com o namorado, eu fiquei com a minha vó.
-Passei pra faculdade federal, comecei a cursar administração, tinha fé que um dia teria meu negócio e precisaria saber tocar o barco.
-Comecei a namorar a Vanessa, uma morena cacheada, lindona, gostava dela bastante era quase minha vizinha,pegava alguém aqui e ali sempre fui enjoado pra mulher, seletivo.
-Não deu certo com a Vanessa, foi minha primeira namorada, fui o primeiro em tudo, só que o sonho dela era casar logo, ter filhos, morar pra sempre na favela, viver de arroz e feijão, no máximo ir no pagode de domingo.
-Eu queria muito mais da vida, sabia que podia mais, deixei essa de relacionamento pra lá e foquei na minha vida.
--Quando me formei em seguida minha rainha, meu chão, meu tudo, Dona Marlene faleceu de infarto fulminante.
-Descobri que ela nem vinha tomando todos os remédios porque eram caros, como eu estava só finalizando a faculdade e fazendo estágio ela nem quis incomodar.