Sukuna Shinkai limpava o sangue que escorria de sua boca para o uniforme, já pensava na bronca que levaria de sua mãe ao ver a mancha de sangue. Não tinha culpa se um bando de delinquentes alfas queria lhe infernizar no caminho para casa.
Era sempre assim: Sukuna ia para à escola sem nenhum incômodo lhe atrapalhando, ele estudava, muito, diga-se de passagem, poderia ser um delinquente e rebelde, mas jamais seria um zé ninguém, dava duro na escola para ter um futuro que não precisasse de um alfa.
Na aula, ele sempre evitava brigar, tentava, ele jurava que tentava, mas a boca grande de Hinata Yamada sempre lhe infernizando e lhe enchendo a paciência não ajudava e quando percebia, já estava xingando a garota de inúmeros nomes. A grande verdade era que odiava todos daquela escola, mas não tinha condições de mudar para uma outra.
As únicas pessoas que prestavam, se ele podia de alguma forma chamar aqueles dois de pessoas boas, eram seus amigos ômegas que aguentavam seu jeito explosivo e não tentavam mudar sua personalidade. Eram amigos bem leais, que sempre ajudavam o loiro quando ele precisava.
Satoru Nakamura era um ômega alegre e bastante animado, cabelos em um tom roxo arrepiados e olhos pretos, Sukuna sempre achava estranho o tom de cabelo do amigo mesmo sendo natural, ele nunca ia entender o motivo dessa diversidade de novas cores para olhos e cabelos. O garoto fora o primeiro amigo que Sukuna fez na escola, no fundo ele não queria fazer amizade, mas Satoru foi bastante persistente e acabou conseguindo fazer com que ele o aceitasse como amigo.
Yoko Kato não sabia ao certo se podia chamar a mesma de amiga, estava mais para pessoa na qual ele suportava. Mas não podia negar que sempre que ele possuía algum tipo de conflito interno de ômega, era para ela que ele ia sempre perguntar, a garota de cabelos curtos enrolados, que iam até o ombro, em um tom castanho olhos azuis, que sempre estava a par de tudo. Era uma menina alegre, barulhenta e bastante divertida.
Os dois sempre estavam com Sukuna na escola, conversando ou até mesmo rindo, pelo menos, não por parte do ômega mais rebelde que preferia encarar os dois amigos rindo feito duas focas fora do zoológico. Podia reclamar o quanto fosse, mas jamais abriria a mão dos dois amigos que sempre estavam ao seu lado lhe apoiando e lhe fazendo companhia.
Mas era sair da escola que sua vida mudava, Shinkai não ia atrás de encrenca, por incrível que pareça, mas o caminho de volta para sua casa por algum motivo, sempre tinha uma quantidade considerável de alfas escrotos que sempre tentavam mexer com ele, logo acabou ganhando uma fama de brigão que se espalhou rapidamente.
No fundo, ele gostava daquela fama, era conhecido como o ômega mais forte e perigoso que nenhum alfa gostaria de entrar no caminho, sempre estava se metendo em confusão ou em alguma briga contra um grupo de alfas. E sempre conseguia sair vitorioso, com alguns hematomas e arranhões, mas vitorioso.
Andava com um sorriso de lado pela briga que tivera há poucos minutos, segurava sua mochila preta em apenas um dos ombros já que o outro estava um tanto dolorido. Para sua sorte o uniforme era completamente preto assim as manchas de sangue não chamavam tanta atenção assim na rua.
– Oh, Suki, você por aqui – falou uma voz muito conhecida para o ômega.
Shinkai praticamente rosnou ao escutar aquela voz. Sabia muito bem quem era aquela pessoa, ou como ele gostava de chamar: alfa babaca escroto filho da p**a. Ele havia lhe dado um apelido fofo e ridículo só pelo simples fato dele ser um ômega.
– Vai toma no seu cu, Debu – falou rosnando enquanto virava, encarando o alfa. Sempre o chamava assim já que o significado era ofensivo, sempre ficava em dúvida de qual caia melhor no alfa: seu porco, imundo ou gordo.
O alfa cujo Sukuna tinha um ódio mortal se chamava Kurama Oshiro, com seus 1,85 de altura, era forte, dono de belos cabelos um tanto cacheados em um tom castanho claro raspado atras e um pouco dos lados se olhos tão verdes que podiam ser confundidos com duas esmeraldas. O alfa era bastante calmo e sempre possuía um sorriso gentil nos lábios, gostava de provocar o ômega a sua frente.
– Simpático como sempre – deu uma risada.
Oshiro era mais velho que Shinkai, enquanto o ômega estava no primeiro ano do ensino médio, o outro já se encontrava no último ano. Cursava uma escola de prestígio para alfas muito disputada, apenas os melhores podiam entrar.
Você deve se perguntar como os dois se conheceram, ainda mais pelo fato de Oshiro— por incrível que possa parecer — não era um garoto de briga, mesmo que esse fosse um ótimo lutador e muito bom atleta. O garoto só usava sua força quando realmente era necessário ou não tinha como evitar, também em poucos casos quando Shinkai tentava em vão ganhar uma luta contra si. Sim, Sukuna jamais conseguiu ganhar de Kurama em uma luta.
O dia que se conheceram era um dia bem ensolarado, havia um tipo de feira acontecendo próximo à casa de Sukuna, ele passava sem se importar com nada, entretanto uma das barracas tinha um imenso ursinho de pelúcia verde como prêmio. Obviamente ele se encantou pelo urso e queria para si de qualquer jeito.
Mas havia um problema. A barraca era de tiro ao alvo, Shinkai tinha uma mira pior do que uma velhinha de 80 anos, mas ainda assim ele não desistiu, tentaria de alguma forma ganhar aquele urso, mesmo que tivesse que gastar toda sua mesada. Dito e feito ele gastou de fato toda a mesada, mas não conseguiu o urso.
Frustrado e um tanto triste, ele saiu da barraca com um pensamento de derrota, com passos lentos e com uma vontade enorme de chorar já que não conseguira o prêmio, que ficou sabendo na barraca que era uma edição limitada do urso verde já que fora um erro na produção o deixando daquela cor, logo a quantidade de ursos a venda era bem limitada. Aquilo só fez com que ele ficasse mais infeliz do que já estava.
Foi aí que ele apareceu, sem nenhum tipo de maldade Oshiro ganhou o urso e ofereceu para o ômega. Ele ficou vendo o menor tentar inúmeras vezes que acabou ficando com certa pena do garoto, ao ver que não havia conseguido o prêmio que tanto desejava, então com um ato de bondade o mesmo foi lá e ganhou rapidamente, afinal possuía uma ótima mira.
Só que ao contrário do que pensava, Shinkai simplesmente ficou enfurecido pela oferta. Se sentiu humilhado e mais derrotado do que já estava por ver um alfa conseguindo ganhar com tanta facilidade algo que ele queria, ele não ligava que o alfa estava lhe oferecendo o prêmio, ele queria conquistá-lo sozinho.
Ele recusou o urso, junto com inúmeros xingamentos e gestos, Kurama não pode deixar de notar o quão estranho e interessante era aquele ômega, não era todo dia que você via um ômega recusar um presente de um alfa. Desde então ele acha certa graça provocá-lo para ver as reações do mesmo, até havia lhe dado um apelido carinho, coisa que o ômega odiava.
Não importava o que Shinkai fizesse, o alfa não saia do seu pé, tentou até mesmo ganhar dele na briga, mas acabou apanhando feio, Kurama não teve piedade nenhuma na luta, mesmo que esse sempre fosse cheio de comentários fofos e carinhosos, não pensou duas vezes antes de dar um soco forte no rosto do rapaz.
Oshiro podia ser carinhoso, mas tinha seu respeito como alfa, não gostava de sair machucando os outros, mas quando Sukuna lhe pediu para não se segurar, ele fez a vontade do menor, só não sabia que acabaria ganhando tão fácil a luta, fazendo com que o ômega ficasse mais furioso.
– Não tem nada para fazer? Seu stalker de merda! – xingou encarando o alfa que praticamente lhe ignorava. – Que p***a de corte de cabelo é esse?
– Que fofo, você notou que eu mudei o cabelo? – falou com um sorriso, rindo dos xingamentos que o outro agora soltava, de fato ele tinha cortado um pouco mais o cabelo estava bem mais repicados, mas sem retirar todos os cachos, o deixando com um ar mais jovial ou como os ômegas gostavam de lhe dizer: selvagem e sensual. – Não fique tão cheio de si, Suki, estou apenas indo para minha lanchonete favorita, sabe como eu adoro o milk-shake de lá.
– Espero que se engasgue e morra! – falou irritado, fuzilando o alfa que apenas sorria. – Só assim para você sair do meu pé.
Então sem que o ômega notasse alguma coisa, um dos alfas que ele havia derrubado chegou com uma faca bem próximo de si, o ômega chegou a virar, mas não teria como desviar da faca que estava bem próxima de seu rosto. A única coisa que viu foi um vulto passar do seu lado e socar aquele alfa, fazendo com que o mesmo voltasse para o chão.
Sentiu algo quente na bochecha, notou que aquele alfa havia conseguido cortar seu rosto; ele rosnou bravo e reparou que Kurama tinha um olhar sério encarando o chão. O mesmo a havia ajudado a tempo, conseguiu impedir que a faca cortasse mais, se ele não estivesse ali, talvez não seria só um corte que teria no rosto.
– Seu rosto estava machucado – falou lhe encarando sério. – Deixa eu ver.
– Não foi nada – se afastou para que o mesmo não o tocasse, não queria que o outro ficasse preocupado com ele, não queria sentir aquela sensação estranha que sentiu quando viu o mesmo lhe oferecer o urso. – Não me toque!
– Não estou pedindo, me deixe ver o machucado – falou com uma voz mais rouca fazendo com que seus feromônios saíssem. – Essa merda pode infeccionar, que p***a, Sukuna!
O ômega tremeu, mesmo que negasse até a alma, Kurama tinha uma presença grande e poderosa, e tudo piorava quando o mesmo lhe chamava pelo nome, maldito dia que ele perdera para o mesmo que como prêmio pediu que lhe dissesse o nome. Se amaldiçoava todos os dias por aquela derrota.
Antes que pudesse fazer alguma coisa sentiu o alfa pegar seu pulso e sair o arrastando, a surpresa foi tanta que nem teve como reagir, quando notou, estava dentro daquela lanchonete onde o alfa pedia um pouco de álcool para um dos funcionários. Sentiu ser puxado novamente para fora, para atrás da lanchonete.
Ele pegou um lenço que tinha consigo e despejou uma quantidade generosa de álcool e sem nenhum tipo de aviso, colocou no machucado do menor que reclamou pela dor, fazendo com que fosse necessário segurar mais firme o lenço sobre o corte.
– Vá para casa e não arrume mais problemas com ninguém, você entendeu, Sukuna? – disse ainda irritado – Sua sorte era que eu estava lá, se não essa merda estaria bem mais profunda. Já falei pra parar de ficar arrumando briga com esses moleques.
– Você não manda em mim – reclamou sentindo o olhar pesado sobre si. – Eu sei me cuidar, teria conseguido derrotar aquele cara sem problemas. Não preciso de você cuidando de mim.
– Tsc – estalou a língua, se afastando e dando as costas para.
– Oe, pra onde você vai? – perguntou, ficando um tanto incomodado por ter ficado sozinho.
– Acho que ouvi bem que você não precisa de mim – disse ainda andando sem encara-lo.
– Desculpa – falou baixinho fazendo o alfa parar.
– Não ouvi, pode repetir? – perguntou ainda de costas.
– Desculpa – repetiu, falando entre dentes um pouco mais alto.
– Agora só falta me agradecer por ter lhe ajudado – falou com um sorriso de lado encarando o menor.
– Vai à merda!!! – respondeu irritado e um tanto envergonhado.
– "Obrigada, Kurama eu não sei o que seria da minha vida sem você" -falou o e com uma voz mais fina, como se imitasse Shinkai.
– Odeio você! ODEIO!! – falou irritado passando pelo alfa que ria.
– Tome cuidado no caminho para casa – falou ainda rindo, vendo o garoto mostrar os dois dedos para si, fazendo com que risse mais da situação.
Sukuna andava rápido com a mão sobre o lenço , andava de cabeça baixa para que de alguma forma ninguém notasse aquele leve rubor em suas bochechas, se xingava internamente por ter ficado daquele jeito por causa do alfa cuidando de si e preocupado com seu bem-estar. Sem sombra de dúvidas ele odiava Oshiro com todas as suas forças.