– Mãe, eu já disse, eu estou ótima – respondeu Letícia, tentando segurar o celular e dobrar roupas ao mesmo tempo. Não estava funcionando. Ela largou a camiseta que segurava e se sentou na cama para conversar com a mãe ao telefone.
– Ah, tenho uma ótima notícia - a garota anunciou, animada - Você não precisa mais me mandar dinheiro. Consegui um estágio, o dinheiro que eu estou ganhando é o suficiente. Não. Sim. Há uma semana, mais ou menos. Mãe, é um ótimo trabalho, juro. Use o dinheiro pra pagar a aula de karatê da Gabi. Aliás, posso falar com ela e com a Malu? Tô morrendo de saudade.
Letícia estava conversando ao celular com suas irmãs quando ouviu um barulho ensurdecedor. Parecia alguma coisa explodindo.
– Ah, meu Deus. - ela exclamou, desligando o telefone e correndo até a cozinha, de onde tinha vindo o barulho.
A garota chegou ao local e encontrou o microondas pegando fogo. A parede da cozinha estava num estado deplorável. Havia pedaços de coisas explodidas por todo o canto. No meio daquele cenário caótico, estava Daniel, fazendo uma cara bastante irritante de foi-m*l-aí-essas-coisas-acontecem. Letícia correu até o corredor, pegou o extintor de incêndio e apagou o fogo, tossindo.
– Daniel. Você devia saber que NÃO PODE COLOCAR ALUMÍNIO DENTRO DO MICROONDAS! QUER EXPLODIR O APARTAMENTO?
– Foi m*l. - ele respondeu, um tanto constrangido - Eu vou comprar outro microondas.
Letícia suspirou.
– Tudo bem, Daniel, mas eu quero que você tenha mais cuidado com o que está fazendo, porque nem tudo pode ser consertado com dinheiro, entende?
– É, nem tudo. Mas com certeza muita coisa. - disse Daniel, em um tom de voz bem-humorado.
Letícia revirou os olhos, rindo.
– Bem, já que você decidiu explodir a cozinha, você vai fazer com que ela volte a ser exatamente o que era. Vou me arrumar e ir pra aula.
– Ei, é isso mesmo? Você vai sair e eu vou ficar aqui, arrumando isso sozinho?
– Nossa, você é esperto. Entendeu direitinho o que eu quis dizer. Hoje é sexta-feira, o dia em que você não tem aula nenhuma e fica em casa mofando. Vai ser bom você ter alguma coisa pra fazer. - disse Letícia, dando uma olhada na parede que costumava ser branca, mas que agora estava parcialmente preta.
– Faça o favor de não destruir o resto do apartamento na minha ausência, OK? - recomendou a garota sorrindo, enquanto dava um tapinha nas costas dele.
Horas depois, quando Letícia voltou ao apartamento, o lugar estava impecável. A cozinha estava perfeita e já havia um microondas novo substituindo o que havia explodido. Daniel estava no sofá jogando videogame, mas assim que Letícia chegou em casa ele saiu correndo atrás dela para ver com que cara ela ficaria quando encontrasse a cozinha em perfeito estado.
– Isso é bastante impressionante, Daniel. - disse a garota, fingindo estar tremendamente admirada.
– Eu sei. - disse o garoto, estufando o peito - Você achou que eu não tinha a capacidade de...
– É de fato impressionante. As pessoas que você contratou pra arrumar aquela bagunça são muito boas. - disse Letícia, começando a rir.
– O quê? Você está insinuando...
– Admita, Daniel. Você m*l sabe lavar um copo. Você nunca poderia ter arrumado isso sozinho.
– Mas que absurdo! É uma falta de consideração da sua parte achar que...
– Daniel.
– Tá bom, eu chamei um pessoal pra me ajudar. - rapaz admitiu, enquanto Letícia ria.
– Por ajudar, subentende-se: o seu "pessoal" arrumou tudo enquanto você jogava videogame.
Daniel respirou fundo. Estava meio chateado. Seria legal se ela caísse na conversa de que ele tinha arrumado toda aquela bagunça sozinho. Daniel tinha certeza de que Letícia achava que ele não sabia fazer absolutamente nada além de se divertir, e isso o incomodava um pouco. Ele não gostava de pensar que Letícia sempre o enxergaria como um menino bobo. Aquela situação não era nada agradável. Por que Letícia tinha que ser tão difícil? Todo mundo gostava dele. Afinal, ele era bonito e popular. Tinha dinheiro e um carisma inegável. Desde a época da escola ele era o tipo de garoto pelo qual as meninas suspiravam. Por que somente aquela garota parecia achá-lo patético?
Mais tarde, Daniel aproveitou o momento em que ela estava lendo um livro sentada ao lado dele, no sofá, para anunciar uma coisa que ele vinha adiando há alguns dias:
– Letícia, amanhã é sábado, certo?
– Certo. - ela confirmou, sem tirar os olhos do livro.
– Então, eu ainda não te avisei, mas amanhã... - Daniel pensou na forma mais sutil de dar aquela notícia - Amanhã, nosso apartamento irá, digamos... Ser o local que abrigará uma pequena reunião social, onde teremos a oportunidade de...
Letícia virou o pescoço bruscamente em direção a Daniel e o encarou com um olhar fuzilador.
– VOCÊ VAI DAR UMA FESTA AQUI? - ela perguntou, desejando que ter entendido tudo errado, mas sabendo, no fundo, que era exatamente aquilo que ele tinha tentado dizer.
– Não é bem uma festa, exatamente. É tipo um happy hour, não chamei muita gente, só uns poucos amigos da faculdade.
– Você só pode estar brincando comigo. - murmurou a garota.
– Ah, Letícia, para de ser antissocial. Vai ser ótimo, meus amigos vão adorar te conhecer. Eles são super gente boa.
– Faço ideia do quanto eles devem ser legais. - disse Letícia, lembrando dos amigos que Daniel tinha no colégio. Os amigos dele eram tão legais que, uma vez, acionaram o extintor de incêndio em cima dos alunos do grupo de estudo do qual ela fazia parte. Letícia ficou dias tentando tirar ** químico do cabelo.
– É a sua chance de se divertir um pouco. Eu prometo que vai ser legal. - disse Daniel, sorrindo. Letícia tinha certeza de que aquela festa seria tudo, menos "legal".