"... Havana ooh na na... "

1770 Words
MARINA _ Não. Senhora!! – Marina revirava os olhos fazendo careta para as amigas que dividiam espaço com ela no Call Center onde trabalhavam – A senhora precisa "digitar" o número do telefone e não "agitar" o telefone para registrar o reparo... – Carolina parou na frente de onde ficava a sua mesa se apoiando na "baia" e fazendo sinal que estava indo tomar um café. – Anote por gentileza o número do nosso protocolo, senhora... Marina trabalhava na central de atendimento daquela multinacional de telefonia e havia sido promovida para a supervisão há pouco mais de ano. Dividia sua jornada de trabalho entre supervisionar uma equipe de 20 operadoras de telemarketing sob seu comando e rotinas administrativas. Eram diversas áreas de atendimento e dezenas de equipes de trabalho. Na estação de supervisão onde trabalhava, dividia espaço com mais três outros colegas trabalho, entre eles estava Carol. Claro que não era o emprego dos sonhos, todo mundo sabia quão árduo era trabalhar nesse ramo, mas foi o que apareceu num momento que mais precisou e ela era muito grata por isso. Encerrou seu horário de estar "logada" e decidiu fazer uma pequena pausa antes de partir para a segunda etapa do seu dia. Seguiu para o fundo do amplo salão repleto de divisórias onde funcionava o seu setor; lá ficavam a copa equipada com máquinas de café e lanches rápidos, além de micro ondas e refrigerador. Também ficava a "sala de troca" onde geralmente parava para fazer uma pequena pausa e saborear seu café, foi justamente nesse momento que seu amigo Gil que supervisiona uma equipe de monitoria em outro andar chegou trazendo dois copinhos de cappuccino e entregou um para ela. _Pausa Café! – desde os tempos em que ela havia sido operadora dele, aquela frase era usada para justificar as pequenas fugas em meio a rotina estressante e exaustiva. Havia entrado para trabalhar ali como operadora de telemarketing e Gilson tinha sido seu primeiro supervisor; terminaram se tornando amigos e ele a ajudara muito a entender como funcionavam as coisas na empresa. De de lá pra cá, havia conseguido subir de cargo algumas vezes e muito ela atribuía ao apoio dos amigos que havia feito ali. Sentaram se num canto da sala observando o ir e vir das pessoas. _Que vamos fazer hoje quando saímos aqui dessa "Gaiola das Loucas?– perguntou num tom conspiratório balançando a perna cruzada e degustando o cappuccino de máquina como se fosse de um bistrô de Paris. Alto, loiro e lindo, seu amigo era do tipo de homem que fazia qualquer mulher virar a cabeça para olhar para ele. Só vestia roupas de grife e andava sempre como se estivesse prestes a entrar numa passarela. Ao contrário dela que priorizava o conforto, comprava roupa em loja populares e preferia morrer do que chamar atenção. Gil era assumidamente gay, porém fazia questão de se manter discreto no ambiente de trabalho, apesar de ela achar que todo mundo meio que já sabia qual era a dele... Ela achava uma merda essa coisa, mas entendia o receio do amigo, afinal, ela bem sabia o quanto as pessoas podiam ser mesquinhas e cruéis...Para ela pouco importava se ele fosse gay, bi ou tri... o importante para ela é que ele, Sara e Carolina eram seus melhores amigos e formavam o que ela chamava de "Quarteto Fantástico". _Pretendo ir pra casa, me jogar no sofá com uma pizza de mercado e assistir série até dormir. – responde. _"Dona Cocota", saia desse corpo e deixe a minha amiga sair um pouco! – a provocação de que ela vivia como uma velha solteirona cheia de gatos sempre surgia e ela nem se importava mais – Já te falei milhões de vezes desse restaurante ma-ra-vi-lho-so que eu conheci e você nunca vai! – reclama. _ Já sei Gi!! O restaurante maravilhoso ou o "dono maravilhoso"? _Na verdade os dois. – admite balançando as pernas cruzadas – Mas não é disso que se trata. – e diante do olhar descrente dela, reforça – Sério!! Quero que VOCÊ conheça ele, sua trouxa! Carol entrou com seu mais de um metro e setenta com tentando prender a juba rebelde cor de avelã num coque frouxo. Mara achava a Carol a cara da Giovana Antonelli, mas sempre que ela lhe dizia isso, ela a mandava procurar um oculista. _ Hoje isso aqui está pela misericórdia divina! Aff! - Chegou revirando os olhos e observando duas novatas olhando de canto de olho para Gil e cochichando numa das mesas. - Mais duas para o seu fã clube, amigo. - falou apanhando uma garrafinha de suco na máquina e sentando juntinho dos dois. _Sabe de nada, inocente! – provocou Marina. _Calada, víbora! _Víbora é "Gilsonclei"? _Shiuuuu! Não me fale mais esse nome! _Oxi! É seu nome, meu filho! _É Mesmo? "Marina Morena"? – ele rebateu sabendo que ela odiava quem usassem seu nome composto - Me chame por esse nome novamente e eu cancelo você do meu evento! – ameaçou. _Me cancele para eu ver se não faço uma "live" aqui no meio da operação dizendo que você fala que é "loiro natural", mas, na verdade, faz luzes num salão lá no Jardim Cruzeiro...– ela ameaçou e seguiram com as provocações até encerrarem a "pausa café". De volta ao trabalho, quase no fim do expediente, agora Gilson implicava com a quantidade de coisas que ela mantinha em sua mesa de trabalho. _Parece uma banca de camelô! - reclama encostado na mesa esperando que ela terminasse de arrumar as coisas para irem embora. _Tá certo. O senhor é todo "minimalista" – ironizou fazendo um sinal de aspas com os dedos – Mas vive roubando minhas canetas e meus marca textos! – ela acusou rindo e se lembrou que a sua vingança viria em alguns dias quando ele abrisse o seu "presente" de aniversário: uma pequena réplica da Planta Carnívora do filme A Pequena Loja dos Horrores. Para piorar o troço ainda dançava!! Ele com certeza ia ter um treco!!! _Meninos, vocês já têm o roteiro de reparos da minha área? – Marta Valéria, uma outra "super" chegava com sua calça pantalona multicolorida e sua blusa transparente que trazia em detalhes de pedrarias bordadas a frase: "Hot. Sweet and Sexy". Mascando chiclete, como sempre e, como sempre, cada vez que ela passava, os homens ao redor esqueciam até onde estavam de tanto que "secavam" a criatura. _ Já encerrei o sistema. – Carol foi logo dizendo. _Tem mais de uma hora que mandei para a impressora Val. – informou Marina já terminando de arrumar suas coisas. Olhou para o técnico de TI que estava fazendo uns reparos em uma das máquinas em seu setor e reclamou - Dá um tempo, Francisco! O defeito da P.A. tá dentro do decote da Val, é? – ele havia praticamente parado o que estava fazendo para ficar olhando para os p****s da colega que havia acabado de chegar. Não sabia quem era mais s*******o: a Val com aquela roupa totalmente inapropriada ou o outro babando em cima dela. _Qual é Marininha! Não queima meu filme! – falou na maior cara de p*u piscando descaradamente para a loira chamativa – O que é que a Val vai pensar de mim? _Que você tem problemas? – frisou Gil – Ou talvez queira perder o emprego... – completou quando a outra se afastou em direção a impressora no fim do corredor de baias – Todo mundo sabe com quem ela está saindo... – Gilson alfinetou, pois, todos na empresa sabiam que ela tinha um caso com um alto figurão da diretoria. _Qual é parceiro! Até você! – Marina achava hilário os caras da empresa chamando Gil de "brother" e "parceiro" e a cara que ELE -fazia - A Maroca aí só faz jogo duro. O bodão aqui tem que procurar novos pastos, novas cabritinhas... _ Nossa Senhora! Chama o SAMU. Alerta de radiação pesaaaaada. – ironiza Carol. _Pelo que me recordo o "bodão" tem uma "patroa" em casa, não é mesmo? – ela fez questão de lembrar - Os homens são todos iguais mesmo...- concluiu desgostosa. ******** Faltava pouco tempo para o aniversário do amigo Gil e haviam combinado naquele fim de semana em passar no shopping para umas comprinhas. _ Ai Gil! Conta logo onde vai ser a festa desse ano, vai! Conta! Conta! – falava Carol empolgada – Vai ser "a festa". Comprei até look novo e, pasmem, a Marina também! _Mentira! – ele duvidou. _Look, não. Um retalho de pano que você chamou de vestido. – reclama - Eu não sei onde estava com a cabeça que deixei você e a Sara me convencerem a comprar aquilo! _ Bobagem. Você se veste como uma velha! – reclamou Sara – Pelo menos com aquele vestido vai dar pra ver que você tem um corpo! – rebate – Deixe de coisa que você vai ficar linda nele! Ainda mais que teve um desconto, ficou suuuper em conta! E vocês nem imaginam o look bafooo que eu consegui na permuta com a dona aquela loja... Sara além do trabalho no Call Center também fazia b***s como modelo plus size. Há alguns anos atrás havia sido convidada para um desfile de moda e em seguida surgiram mais e mais propostas; seu perfil nas redes sociais crescia a cada dia e ela até já cogitava largar o trabalho de supervisão e se dedicar de verdade em ser digital influencer plus size. Também, sua amiga era o empoderamento em forma de mulher: mesmo estando acima do peso por conta de um problema de saúde, ela não havia perdido as curvas que a faziam ser do tipo "mulherão". Usava e abusava de seus atributos. Sem se importar em ser fora do padrão ou não, ela contrariava mentalidade vigente de que pra ser sexy e atraente, tinha que ser magra e se encaixar nas medidas ditadas pela sociedade. Dona de um magnetismo pessoal impressionante, os homens viviam babando por ela e ela nunca ficava ter "alguns" carinhas correndo atrás dela.– "Solteira sim. Sozinha nunca, gata".- era seu lema. _ Então meninas? Vamos aproveitar para passar naquele restaurante incrível que falei para vocês? _Que nada! Estou morta! – respondeu Marina. _ Tenho que ir ver meus pais... – reclamou Carol contrariada. Ela escondia, mas a família de Carolina pertencia ao que chamavam de "família tradicional brasileira" e ainda era envolvida em política, ela detestava. _Tenho um encontro.- rebate Sara – Falando nisso vou até mandar mensagem para ele vir me pegar aqui... ❤Espero que tenham gostado! ❤Não esqueça do meu coraçãozinho (rs).❤
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