VIOLETTA PETROV
Depois do episódio de mais cedo, Marley me deixou em paz, quer dizer, ele não para de me olhar toda vez que estou no mesmo ambiente que ele, mas o que Andrey fez serviu para mantê-lo longe de mim. Das oito até as dez da noite as primas e esposas dos primos de Andrey me mostraram toda a fazenda e demorou tanto que nem deu tempo de ver o lago. Elas prometeram me levar amanhã, já que estamos no verão e quem sabe podemos aproveitar e dar uns mergulhos. Também ficaram de me mostrar a fazenda de dia, mas a beleza daqui durante a noite é inexplicável.
Andrey disse que iria comigo e que só deixou que as meninas me mostrassem a fazenda porque ele teve que cuidar das malas do carro; nem preciso dizer que as meninas protestaram, mas não posso fazer nada, ele é meu segurança particular, foi contratado para ser minha sombra e Andrey sempre foi rígido consigo mesmo em relação ao trabalho. Até o quarto dele é em frente ao meu exatamente por isso.
Ou não, né?
Saio dos meus devaneios com batidas na porta do meu quarto. Pego meu celular e dou uma breve olhada na hora. Já passa das duas horas da manhã.
Será que é o Andrey?
Me levanto para abri-la e logo vejo uma Benny com os cabelos presos em um coque, short e blusa curtos que acredito ser para dormir. Ela me encara com um sorriso no rosto e olhos negros brilhantes.
— Desculpa, é que estava sem sono. Decidi sair do quarto um pouco, vi que a luz do seu estava acesa e queria ver se quer companhia. — É difícil dizer não a ela, Benny é tão sincera quanto suas expressões faciais.
— Claro, também estou sem sono. — Dou passagem para ela entrar.
— Essa camisola é linda, o vermelho lhe cai bem. Isso é seda? — indaga me encarando.
— Sim, eu não acho que ela seja decente para dormir aqui, afinal, a casa não é minha e a camisola é bem curta. — Ela sorri.
— Olha, você está em seu quarto, então não tem problema, e mesmo se tivesse, a roupa é sua e ninguém tem nada a ver com isso. Seu corpo suas regras, baby. — Abro um sorriso.
— Você poderia me tirar uma dúvida? — Será que vai ficar estranho perguntar isso?
— Claro. — Ela se senta em minha cama e eu me sento perto dela.
— O Andrey... Ele sempre foi desse jeito?
— Chato? Mandão? Protetor demais?
— Mais ou menos isso. — Benny ri.
— Bom, meu primo teve um episódio r**m na vida dele que fez ele ficar assim, quer dizer, ele sempre foi bem chato e mandão desde pequeno.
— O que aconteceu?
— Ah, não sei se seria bom contar algo tão pessoal assim dele, quer dizer, isso foi algo esquecido propositalmente por todos nós, mas só meus pais, os pais do Andrey e eu sabemos o que realmente aconteceu.
— Oh, droga! Como você quer que eu não fique curiosa? Uma vez tentei arrancar isso dele, mas ele é muito fechado. Sinceramente esse jeito dele me incomoda porque acho que uma coisa r**m aconteceu para ele ser assim. — A cara que ela faz só confirma minhas últimas palavras.
— A única coisa que posso dizer é que ele perdeu uma pessoa muito especial na vida dele e se culpa por isso até hoje. — Merda!
— E ele é culpado? — Benny faz uma cara tão triste que ela nem precisa me responder.
— Vamos dizer que, por mais que digam que não, lá no fundo sabemos que ele teve culpa disso, mesmo indiretamente.
— Sabe que vou te encher o saco para me contar isso, não é?
— Eu vou lutar para não ser vencida pela sua insistência. — E pela primeira vez em anos eu ri com uma pessoa que não era nem meus pais ou funcionários, e ri de verdade.
— Sabe, é a primeira vez que converso assim com uma mulher, minhas colegas das escolas e faculdades era tão fúteis que só sabiam falar de homens ricos, dinheiro e casamento com homens ricos.
— E você é diferente do que dizem dos seus pais. — Abaixo a cabeça sem saber o que responder. — Oh, me desculpa, é que... Ah, merda! Às vezes eu falo demais. — O pavor dela me faz sorrir timidamente.
— Está tudo bem, eu sei como eles são e sei que a fama deles no quesito simpatia não é a melhor. Eles são superficiais demais e acham que devo me casar com um homem com o nível igual ao meu. Acho que se eu chegasse com um homem que eles julgassem ser um qualquer, além de me deserdarem, iriam fazer o possível para a vida dele ser reduzida a cinzas e eu jamais permitiria isso.
— Eu achava que você seria uma patricinha cheia de não me toque, já tinha um estoque pronto para atazanar sua vida aqui, mas vi que as aparências enganam.
Sim, realmente enganam; eu que o diga, já que caí nas garras de Marley acreditando na aparência de bom moço, quando, na verdade, ele era o ser mais desprezível do mundo.
ANDREY NIKOLAI
Todos reunidos na mesa do café da manhã, Benny e Violetta se aproximaram muito e conversam animadamente entre elas, o que me deixa feliz. Conheço um pouco de Violetta e sei que ela é bem diferente do que aparenta ser, nunca teve amigos de verdade e ver ela assim me deixa contente. Por outro lado, Benny sempre teve uma personalidade forte, fora que sempre se orgulhou da cor da sua pele, igual à do pai; dos três filhos que minha tia teve com Rick, ela foi a única que nasceu n***a e, quando crianças, éramos questionados por ela ser a única com essa cor, geralmente a gente xingava quem falava alguma besteira, mas hoje em dia passamos a ignorar, ela então nem se fala.
Já os cabelos dela são castanhos, longos e enrolados igual ao da minha tia; sinceramente ela é uma mulher linda, sempre que ia nos visitar na Rússia ou passar as férias lá, não tinha um que não olhasse.
Mas é uma pena que a fruta de que eu gosto ela chupa até o caroço... Sim, ela é lésbica e foi um choque quando revelou isso cinco anos atrás, mas nós, primos e irmãos, já sabíamos, então não foi algo novo, mas para os nossos pais foi algo inesperado. De uma forma bem positiva e surpreendente, todos a apoiaram e respeitaram o que ela é e isso a deixou tão feliz que nunca a vi chorar tanto como nesse dia.
— Sabe, sua protegida é uma linda mulher e o melhor, se deu bem com Benny, que quase não gosta de ninguém — murmura Marvin e Eduard concorda.
— Ela é filha do meu cliente mais importante, a estadia dela aqui tem que ser a mais perfeita possível e sem problemas com primos babando em cima dela o tempo todo.
— Difícil... Não sei como consegue ficar ao lado dela e não sentir nada. Eu amo minha esposa, Lisa, mas reconheço uma mulher bonita de longe — comenta Eduard.
— Essa é a primeira regra da minha agência então não, ela não me atrai. — Que p**a mentira hein, senhor Andrey!
— Então acho que ganhei a aposta. — Marvin diz estendendo a mão para Eduard, que n**a com a cabeça.
— Que aposta?
— A gente apostou se você é gay ou não, só um gay para não sentir nem sequer um pouco de atração por ela, nem que seja para ficar olhando de longe. — Olho para eles, incrédulo.
— Vocês são sujos, não sei como conseguiram se casar com mulheres tão boas.
— Temos o lado bonito da família, não resistiram a nós e até nossos filhos são perfeitos. — Marvin se gaba.
— Andrey, eles estão te enchendo, não é? — indaga Anne.
— Se me perturbarem muito, os jogo no fundo do lago. — Ela ri.
Anne é diferente do seu irmão, Marley, que nem está na mesa, que bom. Ela é boa, sensata e simples, sempre se contentou com pouco e sonha em se casar assim como os primos, mas por ter dezenove anos, ainda vive sob a rigidez do meu tio, Ford. Ela tem cabelo loiro, curto, olhos esverdeados, pele branca e um corpo esquio, nada muito exagerado, diferente de Benny que é cheia de curvas. Anne se acha simples demais e às vezes tenho pena dela por ser irmã de um ser tão i****a como Marley, que sempre fez de tudo para diminuir a irmã. Ela é a caçula de todos nós, então a proteção em cima dela é enorme, e eu sou o mais velho.
— Vamos ao lago, aproveitar esse sol aqui de Starkville — comunica Benny.
— Acho que seria bom todos irem e aproveitar, afinal, não é sempre que a família Russell está toda reunida. — Margot profere e todos concordam, menos eu.
— Por que você sempre é o estraga-prazeres? — Lisa diz, fazendo todos rirem.
— Sabem que não gosto muito dessas coisas — murmuro.
— O quê? De pessoas? A gente já sabe disso, conte uma novidade. — Tia Emma fala fazendo meu tio Rick quase engasgar com o suco, pois não conseguiu conter o riso.
Minha tia é um pouco louca, diz as coisas que vem à cabeça e sempre foi sincera, até demais.
— Já tem três filhos, nunca vai crescer? — Meu tio Ford diz, sério.
Ah, ele sempre foi o cabeça-dura dos irmãos Russell, sério e quase nunca sorri, mas no fundo tem um bom coração. Já meu pai é o equilíbrio entre eles e imagino como deve estar sendo difícil para meus tios aceitarem que o seu “equilíbrio” logo não vai estar entre eles.
— Bom, vou me arrumar, vamos Violetta? — A encaro e falo.
— Violetta vai?
— Claro, por que não iria?
— Ela não pode ficar sozinha, mesmo estando aqui com vocês, sou p**o para ser a sombra dela. — Vejo Violetta revirar os olhos.
Queria que revirasse em outras circunstâncias. — O quê? Para com isso, maldito Andrey.
— Andrey, estamos dentro da propriedade da sua família, acha mesmo que se alguém quiser me matar ou sequestrar iria entrar aqui, com o tanto de peão que tem aqui?
— Sei que isso é chato, acha que para mim também não é? Mas foi para isso que seus pais me pagaram e pagam; se algo acontecer, a culpa vai ser minha. — Isso não, de novo não, nunca!
— Está bem, então venha conosco. — Ela caminha em direção às escadas. Me levanto da mesa.
— Violetta, não torne tudo mais difícil, você não vai e ponto. — Ela me encara com as mãos na cintura e com o rosto visivelmente irritado.
Por que ela precisava ser tão teimosa?
— Você é meu segurança, não meu pai, então nós vamos e isso vai te fazer bem, vive de terno e gravata e nunca tira isso. Meu Deus, isso deve estar colado no seu corpo.
— Se você sair dessa casa sem que eu esteja junto, eu conto para seus pais do apartamento. — Sim, isso é jogar sujo, mas parece que ela não entende nada que aconteceu com sua família no decorrer desses anos.
— Andrey...
— Você não vai! — Minha voz sai um pouco mais alta que o normal, fazendo todos me olharem surpresos.
— Você é um i****a controlador que uma hora diz para eu enfrentar meus pais e depois, na primeira coisa que faço porque eu quero, quer ligar para eles. Ok, se quer agir como um carrasco, tudo bem, mas saiba que consigo ser pior do que imagina. — Ela sobe as escadas correndo, extremamente p**a, e quando olho em volta, todos me encaram com olhar de reprovação.
— Que estraga-prazeres, hein?— murmura Benny, ela sai da mesa e vai até as escadas, creio que atrás de Violetta e vejo Anne fazer o mesmo.
— Você foi rude demais com a moça. Não é porque você não quer ir a algum lugar que ela tem que se privar disso. — Meu pai me repreende.
— E jogou sujo em relação a esse tal apartamento que, creio eu, a moça não quer que os pais dela saibam. Se você sabe, é porque ela confiou em você. — Minha tia Emma completa.
— Foi um erro ter vindo para cá. — Saio da mesa irritado e vou até o celeiro e, depois de anos, eu monto. No começo fico sem jeito, mas logo me acostumo e disparo com o cavalo para longe da casa.
Sim, eu sei andar a cavalo e Violetta não precisa saber que menti sobre quase não ter vindo à fazenda, quando na verdade, minha infância, adolescência e começo da vida adulta foi toda aqui.
Fecho meus olhos por alguns segundos e aquela frase me vem à cabeça novamente.
“— Você não protegeu nem ela e nem o seu filho”.