Prólogo
— Steffano, o que me diz? Você sabe que não pode continuar com essa vida de Don Juan barato, não sabe? — A voz do meu pai soa como um eco na minha cabeça, porque, no fundo, eu sei que isso não é uma pergunta de verdade. Ele está deixando bem claro o que ele quer: uma nora.
Eu sabia desde o início que o meu velho não ia deixar isso barato. Não. Ele teve muito trabalho para resolver o casamento de Bella, principalmente por conta do i*****l que resolveu se meter no relacionamento da minha irmã e até mesmo tentou matar Thomas — talvez tenha sido por isso que ele me deixou livre por tanto tempo — então, como era a minha vez, ele não ia pensar duas vezes antes de me empurrar para um casamento.
Tive esperanças de que pudesse continuar a minha vida sem problemas, ao menos por algum tempo, enquanto ele relutava em casar a minha irmã Donna, mas claro, como herdeiro direto, meu pai estava bem mais preocupado em me enfiar em um casamento do que em garantir a Donna um marido que a suportasse. E Deus, como eu temia pela pobre alma que tivesse Donna como sua noiva, porque eu sabia que ela teria tudo, menos sanidade.
Os meus casos não eram tão preocupantes assim, mas para uma família como a nossa, que estava tão envolvida na máfia siciliana, era problemático que algumas… senhoras estivessem propensas a se divorciar, com a vã esperança de que eu as tomasse como minha futura esposa. Então, tudo que o senhor Henry desejava, era que alguém conseguisse me manter sob rédeas curtas, e claro, isso seria um problema, caso ele chegasse a conseguir tal feito.
Eu já tinha decidido, anteriormente, que me concentraria em manter casos sigilosos e discretos em todos os âmbitos, mas considerando o meu longo histórico e o quão m*l-humorado o meu pai parecia estar, esse decerto não era um bom argumento a se usar; então, pigarreei, procurando por uma forma de me livrar daquela pergunta e, claro: do que ela representava. O fim da minha vida pacífica e simplória.
Estávamos na casa da minha irmã, Bella, já que sempre jantávamos em sua casa aos sábados. Era uma espécie de ritual, para manter a família unida, mesmo que agora Bella fosse uma Kuhn.
Estávamos sentados à mesa a essa altura e eu sabia que ele tinha aproveitado o momento em que Bella saiu para avisar o restante da família, para me pressionar.
— As coisas não são tão simples assim — tentei começar e ele bufou, enquanto sustentava o meu olhar com nítida frustração.
— O que tem de tão difícil em se casar? Você já tem 25 anos! Eu esperei que ao menos fosse discreto, mas nem isso, Steffano! Olhe os escândalos nos quais você se envolve?! Sempre uma mulher diferente! Sempre um casamento arruinado! — Sibilou, a ponto de uma veia saltar em sua testa, deixando óbvio, até demais, o quanto ele estava irritado com tudo aquilo.
— Em minha defesa… eu nunca pedi para que elas se divorciassem — resmunguei, virando a taça de vinho à minha frente, em uma tentativa de escapar. Porque se não havia uma forma de fugir daquilo de um jeito literal, eu ao menos poderia me embriagar.
— Seu moleque! É isso que você chama de responsabilidade? — rosnou, os olhos me fulminando, como se eu houvesse cometido um pecado incorrigível, e por mais que de pecado eu entendesse muito bem, ainda me irritava toda aquela situação.
— Não seja tão dramático, pappa. Eu sou um homem adulto e arco com as consequências dos meus atos.
— Arca? Você acha que é assim que um Capo[1] deve agir?
Os dentes dele estavam trincados à essa altura, e eu sabia que já não tinha como fugir daquilo, ao menos até ver a minha mãe entrar ao lado de Bella na sala de jantar.
— Acho que você deveria diminuir o tom, ou vai acabar irritando a mamma[2] outra vez — murmurei, dando a ambas as mulheres da minha vida o meu melhor sorriso, enquanto esperava que me servissem outra taça de vinho.
Meu pai, por sua vez, continuou a resmungar, deixando claro que aquela conversa não ia acabar tão facilmente assim, mas, ao menos por um momento, eu poderia evitá-la e isso era suficiente para mim, ou foi o que eu pensei.
Fui um t**o, admito. Afinal, não pensei que aquele ninho de cobras, que chamo de família, se uniria para me jogar no fundo do poço.
— Eu ouvi o papai, Steffano, e sinceramente, concordo com ele — Bella foi a primeira a me trair, quando finalmente pensei que estava a salvo, e a nossa mãe suspirou pesadamente com uma das mãos sobre a cabeça.
— Eles têm razão, meu filho. Cada dia um escândalo diferente não faz bem para a imagem da família — murmurou, e o fato de ela estar tão preocupada, me deixava numa saia justa.
— Mamma… eu te garanto, não é tão r**m quanto os tabloides dizem — tentei argumentar —, na grande parte das vezes, são apenas amigas — menti e Bella bufou, parecendo prestes a me cozinhar vivo.
— Agora prostituta mudou de título? Acho que vou ter que começar a tomar cuidado com as amigas do Thomas — ela sibilou e eu suspirei, perguntando-me o porquê da minha irmã não estar do meu lado dessa vez.
— Chamar de prostituta é um pouco demais — murmurei — te garanto que nenhuma delas me cobrou.
— Esse não é o ponto, Steffano! — o nosso pai rosnou. — O ponto é que você deve se casar de uma vez por todas.
Massageei as têmporas, sentindo o peso da preocupação que estava prestes a me atingir.
— E a Donna? Ela ainda não está casada e, até onde me lembro, temos a mesma idade. Antes de me pressionar, não deveriam arrumar a ela um marido? Bella se casou aos 19! — resmunguei, usando a minha irmã gêmea como a minha última isca. Donna provavelmente tentaria me matar por isso, mas antes ela do que eu.
— Bella e Thomas eram prometidos! Era uma aliança necessária — nosso pai sibilou — e Bella sempre pode recusar, assim como Donna recusou e cancelou seus noivados por bons motivos, mas você…
Ele trincou os dentes e eu já sabia onde isso ia parar.
Eu nunca tive uma noiva ou cogitei a ideia de aceitar um acordo que me levasse ao altar, porque, como futuro Capo da família McNight, eu queria tudo, menos me prender a alguém pelo resto da minha vida.
Sinceramente, eu considerava traição algo sem o menor cabimento, e mesmo que soubesse que muitos homens poderosos se estabeleciam em casamentos e mantinham amantes por toda parte, eu não pretendia fazer algo tão absurdo como isso. Então, que m*l teria em continuar a minha vida de solteiro, ao menos até que fosse necessário um casamento. Até que encontrasse alguém com quem gostaria de partilhar a minha vida.
Eu não buscava algo como amor, porque genuinamente não acreditava em algo assim, mas se houvesse no mundo uma mulher que me atraísse e me desafiasse o suficiente para que eu jamais viesse a me cansar; alguém que pudesse me instigar todos os dias a viver ao seu lado… bom. Eu certamente me casaria e seria fiel à essa mulher.
Ela seria a única em minha cama e ao meu lado.
O único problema nisso era que essa mulher não existia, e o meu pai não dava a mínima. Então, eu estava fadado a estar em um casamento fracassado com uma mulher que certamente me cansaria antes dos cinco primeiros anos de casado.
— Ao menos me dê um tempo para pensar… — praticamente implorei, mas o meu pai não parecia nem um pouco disposto a negociar.
— Você já teve tempo demais — resmungou —, agora tem seis meses para encontrar uma noiva, ou eu te garanto, entrego a família McNight para o filho de Bella, mas não a deixo para você!
Sibilei.
— Ele já é o herdeiro dos Kuhn! — lembrei-o, e o meu pai sorriu de forma maliciosa.
— Ele pode unir as famílias de uma vez, nesse caso — praticamente zombou e eu senti meu corpo tremer com a raiva dentro de mim.
— Você não faria isso…
— Não faria? — Ele bufou. — Eu te garanto… eu dou um jeito de viver até essa criança ter 50 anos! Até que você morra de velhice! Mas não deixo você herdar a família e nem o meu cargo nas empresas!
Maldito velho teimoso!
— Certo… — resmunguei, contrafeito — em seis meses… eu me caso.
— Mas em seis meses… parece loucura — minha mãe disse, enquanto encarava o meu pai com uma expressão preocupada — não poderia dar a ele mais tempo?
— Não, mamma… eu me casarei em seis meses, assim, Bella poderá ter mais tempo para a família e também para se dedicar como senhora da casa Kuhn — murmurei, sentindo minha cabeça latejar.
— Como pretende fazer isso, i****a? Você nem tem uma namorada, não me diga que pretende se casar com uma daquelas vagabundas com quem anda saindo? — Donna me alfinetou, e eu soube naquele exato momento, que ela havia escutado quando a joguei na fogueira para tentar me salvar.
— Isso não importa, só preciso encontrar alguém que aceite o meu pedido e garanto que isso não será difícil — resmunguei, mas o meu pai estalou a língua no céu da boca, me fuzilando com os olhos.
— Se não houver amor, não aceitarei o casamento.
Pisquei, aturdido com aquela regra absurda.
— Amor? Desde quando isso é requisito? Bella e Thomas tiveram um casamento arranjado! — protestei, e minha mãe, que deveria estar do meu lado, negou com a cabeça.
— Eles se amavam antes mesmo de se casar. Se apaixonaram, tiveram sorte, na verdade — ela argumentou e eu bufei de raiva.
— Mas isso…
— Eu não vou correr riscos, Steffano! Não seja bobo! Se casar com alguém que pode vir a te trair não é algo aceitável na máfia! Por acaso pretende ter um casamento arruinado? Você precisa de uma esposa ao seu lado e de uma em quem confie — ele concluiu e eu sibilei de raiva.
— Posso confiar sem amar!
— Não! — Ele me encarou. — Não é negociável! Se o casamento não for por amor, não será válido!
Decretou.
Aquilo tudo era uma palhaçada, mas quando o meu velho decidia alguma coisa, era impossível fazer com que ele mudasse de ideia, então me dei por vencido naquele momento, já que não havia como continuar.
— Certo… — me ouvi sibilar — então irei me casar. Em seis meses, vocês conhecerão a minha noiva, e garanto que irei me casar… por amor.
Afirmei, mas a verdade era que eu não fazia a menor ideia de como diabos eu ia conseguir um feito como esse.