II
A minha rotina nos dias de escola era simples, acordava as 6h30, levava o nosso cão a rua, acordava a Carol e depois de lhe dar o pequeno almoço e esperar que ela se despacha-se para ir para a escola ficava a tratar da casa, por volta das 10h começava a trabalhar, mas tudo se perdeu quando as seis e meia da manha comecei a receber uma mensagem de kevin.
-Bom dia bê, está na hora, dormiste bem?
-Sim e tu, como dormiste? O que fazes acordado tão cedo?
-Queria apenas dar-te o bom dia....
Ele fazia-me sorrir, dava-me mimos, atenção, carinho, comecei a perceber que sorria sem pensar enquanto falávamos, e ele deixava-me realmente animada.
Eu sempre fui feliz, independente, uma lutadora, mas.... não sabia que aproximar-me tanto de alguém me faria sentir assim...
As mensagens não paravam, ficávamos todo o dia a partilhar memorias e dividir conversas.
-Posso te ligar?
-Para quê?
-Vá lá, quero ouvir a tua voz... fazes-me companhia?
-Hummm..... xim xim...
Rapidamente o i********: tocou e eu atendi, sorrisos atrapalhados sem motivos, olhares constrangidos sem razão e nós ali a conversar...
Ele colocava videos e assistiamos os dois, falavamos de musica constantemente, sorriamos os dois juntos, Kevin mostrava as raparigas que lhe davam conversa e riamos das parvoices que ele respondia, as vezes ficava surpreendida com o facto de elas serem tão oferecidas e mandarem fotos tão abusadas e quase despidas...
Era apenas uma amizade improvável, sabia que ele se sentia sozinho e viu em mim algum apoio, alguma companhia.
O problema é que por mais que não admitisse, o que fazíamos não era correto, porque escondíamos até de Carol.
Quando ela chegava a casa desligávamos e falamos por mensagens....
Apartir daquele dia, as chamadas começaram a ser frequentes, contei toda a minha vida e ele a dele, foi ai que entendi que ele apenas era um homem que estava a crescer e não tinha tido o melhor pai, entendi que estava dependente do irmão mais velho e que ele era o seu maior orgulho, queria ser amado, queria a relação perfeita, queria um bom carro, roupas de marcas mas não se mexia para nada. Percebi que metade das coisas que contava exagerava só para me deixar feliz. Percebi que vivia mais de aparências e de ilusões do que da própria realidades, mas mesmo sabendo que nunca seria alguém que devesse confiar, não consegui deixar de fazer parte da sua vida, o carinho que tinha por ele era tão grande que parecia que tínhamos um íman que nos ligava um ao outro, uma conexão irreal que por mais impossível que fosse estava a acontecer e preenchia-me por completo.
Kevin começou a ser mais divertido, a estar mais animado, a sentir-se feliz, todas as suas inseguranças começaram a desaparecer aos poucos, e estava feliz por conseguir ajuda-lo a melhorar a si próprio.
Começou a identificar-me nas fotos que postava e sentia-me bem, sentia-me realmente importante na vida de alguém e deixei-me levar, éramos amigos, que m*l faria...
Sempre que a noite chegava ele fazia parte da minha rotina, ligava-me todas as noites, víamos um filme juntos e quando não nos apetecia, ficávamos a conversar, nunca ficávamos sem assunto, éramos tão parvos que estávamos sempre a rir...
Os planos começaram ai, numa noite enquanto estávamos em chamada dissemos que quando ele viesse no Verão de férias íamo-nos conhecer, ele viria ter com a Carol e finalmente poderíamos ver-nos, combinamos ir a praia, que ele podia ca passar uma semana de férias.
Ele perguntava-me onde podia dormir e e respondia que na cave para ficar longe da minha filha porque sabia bem o quanto era safado....
Estava a ficar tarde, ele teria colégio no dia seguinte e a muito custo resolvemos terminar a chamada, mas por mais que desligássemos, as mensagens continuavam...
-Porque dizes que sou safado bê?
-Porque tu és....
-Mas sabes que tu é mais...
-Kevin tenho idade para ser quase tua mãe ... menos...
-Mas não és, acredita que não és nada como mãe para mim...
-Não sejas tonto...
-Acredito qe não ias conseguir deixar-me atrapalhado com uma mensagem...
-Se eu quisesse sabes bem que te deixava mais que atrapalhado..
-Hummm será? Não gostas de perder apostas... nunca perdes uma, aposto contigo que não ias conseguir.
Aquele era um dos meus pontos fracos, não gosto de perder desafios nem apostas, mas tentei não entrar no seu jogo, não ia ceder aquela provocação, mesmo sabendo que era na brincadeira.
Respondi:
-Não estou a perceber o que queres dizer Kevin... nunca poderia provocar-te, nós não somos assim, somos amigos...
-Hmmm... e se e te dissesse que tenho vontade de te agarrar e despir, virar-te de costas , morder-te o pescoço lentamente... o que me irias responder...
-Para Kevin... não te posso responder a isso...
-Bem me parece que não conseguirias , desafio-te a me provares que és melhor que eu a provocar, ou vais perder a aposta?
Não pensei, foi automático e cedi sem dar conta...
-Se me virasses de costas ia virar-me para ti, despir-te lentamente, sentar-te em cima duma cadeira e sentar-me-ia em cima de ti, não te ia deixar que me tocasses, ia só rebolar bem devagar, e quando te senti-se cheio de vontade saia de cima de ti só para perceberes quem manda...
-humm.... não ia deixar, ia beijar-te intensamente enquanto te pegava nos cabelos com uma mão, ia dizer-te o quanto és gostosa e me deixas doido, finalmente a minha mão ia passar pelos teus seios.... ias gemer quando eu te tocasse...
-Ia morder-te os lábios a meio do beijo, descia para o teu pescoço, desapertava-te o zip das calças enquanto me vias a descer e ficar de joelhos a tua frente, quando te sentisses dentro da minha boca ias querer fechar os olhos e eu ia parar, avisava-te que se o fizesses ia parar, ficavas a olhar para mim, gemendo e controlando-te para não cederes a vontade de te vires assim... entrava e saia bem rápido deixando engasgar-me e ver-te completamente louco....
-Damn bê.... estás-me a deixar cheio de vontade....
Naquele instante percebi o que tinha acontecido, eu não poderia ter feito aquilo, como é que fui tão burra.... Completamente envergonhada enviei mensagem...
-Desculpa, eu não o devia ter feito, não sei porque raio fui brincar com isto, mas, apostaste e eu... desculpa... eu não sei porque fiz isto...
-Cala-te não peças desculpa... posso responder a tua mensagem...
-Não... vamos parar por aqui, foi um erro e não devia ter dito aquelas coisas, desculpa...
-Para de me pedir desculpa, se não me deixas responder não ganhas-te, mas que és safada és e deixaste-me bem empolgado..
-Não vamos voltar a falar disto ... por favor... esquece...
-Não dá para esquecer...
Passamos um limite naquele dia, não respondi mais, apenas fiquei sem saber o que fazer, eu sei que ele é namorado virtual da minha filha, eu devia ter dito não ao invés de ter continuado, mas naquele momento nem eu sei como respondi daquela forma.
O que eu posso fazer se ele me provocou daquela maneira e eu respondi?
Já estava feito, mas eu não sinto nada e ele também não. Foi apenas uma brincadeira...só isso, fiquei horas sem lhe responder e quando peguei no telemóvel tinha varias mensagens.... primeiro a dizer que era uma das mulheres mais interessantes que tinha conhecido, depois que estava a brincar, a seguir a pedir para responder, até que pediu desculpa e para ficar descansada que não falaríamos mais do que se tinha passado.
Ao que respondi
-Eu sinto-me mesmo culpada pelo que aconteceu, não devia ter deixado que tudo se passasse desta forma, és o namorado da minha filha e não te quis provocar, apenas estava a ganhar a aposta e... epa... desculpa mas isto não aconteceu...
-Conhecer a tua filha foi a melhor coisa que me aconteceu...
-Eu sei, por isso vamos esquecer isto...
-Porque te conheci a ti bê....
Quando li aquelas palavras o meu coração parou.... eu não queria aquilo, e não queria que nada daquilo se passasse, eu não fiz nada para que acontecesse, eu estou perdida .... como posso não querer algo e estar feliz de ter lido aquilo. Que mãe sou eu? Que mulher sou eu....
-Kevin se voltares a dizer isto deixamos de falar... somos amigos... não voltes a dizer isso...
-Queres que te minta?
-Não... mas não quero que magoes a Carol, mais importante do que a minha felicidade é a dela, entendes?
-Ok... só promete que não vamos deixar de falar... eu gosto de estar contigo, eu sinto-me bem a falar contigo... entendes?
-Sim... mas vamos esquecer o que se passou... sim?
-Se é isso que queres...
-Boa noite Kevin... dorme bem, amanha tens colégio...
-Dorme bem bê....
Cai na cama, sentia uma vontade enorme de gritar, estava completamente em pânico, como é que em dois meses comecei a sentir esta dependência, como nos envolvemos desta forma, como deixei que isto acontecesse?
Isto é tudo impossível, vai passar, e vou afastar-me aos poucos e daqui a uns tempos já esquecemos..
Nessa noite não consegui dormir, girava para um lado e depois para o outro e kevin não saia da minha cabeça.
É difícil quando falamos com uma pessoa e não a conhecemos, porque na verdade criamos uma ilusão agregada a perfeição que essa pessoa transparece. O pior disto é que eu sei que ele não presta, não porque é mau, mas porque nunca aguentaria uma relação a distancia ate puder vir para Portugal, ele precisa de carinho e está a confundir tudo, quando aparecer alguém que viva perto dele, vai apaixonar-se e magoar quem se apaixonou por ele rápido demais.
Tenho de pensar na Carol, óbvio que não sinto nada por Kevin, isto foi só um imprevisto que aconteceu e nenhum dos dois queria. Vou afastar-me, vou conseguir.