CAPÍTULO 5

1959 Words
Maria Eduarda Estou paralisada vendo a família que entra com seus narizes empinados pela porta da sala de reunião. — Pergunto-me porque de tantas pessoas na face da terra para comprar esse mercado tinha que ser logo a família do Dennis? Com eles no poder sei que nem terei a chance de tentar ficar nesse emprego e hoje mesmo a minha carta de demissão será assinada. Droga! A senhora Gertrudes passeia pelo local com aquele ar de superioridade ao lado do seu marido Patrick, Dennis entra após ao lado da Tamara, porém não estão de mãos dadas, então acredito que ele ainda não assumiu um relacionamento com ela. — Apresento a vocês a família Bailey, eles são os novos donos do supermercado, peço que os recebam com uma enorme salva de palmas. — o gerente Paul do supermercado avisa e todos batem palmas, com exceção de mim porque ainda estou paralisada encostada no canto da sala. — Vou deixar eles se apresentarem a vocês agora e tenho certeza que vamos ter um excelente ano. Excelente ano? Impossível! — penso. Percebo que eles ainda não me notaram no canto e quem sabe se não me verem, eu continue trabalhando aqui. Doce engano dos meus pensamentos. — Boa tarde! — o senhor Patrick é o primeiro a começar a se apresentar. — Sou Patrick Bailey, o novo proprietário deste estabelecimento, esses são minha esposa Gertrudes e meu filho Dennis. Essa é Tamara, será a nova supervisora de vocês e é uma grande amiga da família. Amiga da família? Ela realmente nunca foi assumida. — pensei enquanto um sorriso se formava no canto dos meus lábios sem eu nem mesma perceber. — O que está mulher faz aqui? — escuto a voz da Gertrudes e quando olho percebo seu olhar direcionado a mim, me analisando de cima a baixo com os olhares de desprezo. — Não é possível que esse mundo seja tão pequeno a ponto de fazer uma pessoa tão desqualificada vir trabalhar conosco? — percebo seu descontentamento, assim como o olhar confuso de todos os empregados na sala, tentando entender o que está acontecendo. — O que você faz aqui? — Dennis pergunta surpreso. — Olha... Ela conseguiu um emprego?! Incrível! — Tamara fala com desdenho. Percebo todos os olhares direcionados a mim e fico constrangida mesmo tentando disfarçar, eles realmente vão querer me humilhar diante de todas essas pessoas? — pensei em choque. — A senhorita Santos é operadora de caixa, Sr. Bailey, e uma das melhores. — o gerente Luke fala sem entender nada do que está acontecendo. — Não importa que tipo de funcionária ela seja, meu mercado não está contratando pessoas como ela. — Patrick fala com o ar de superioridade e desprezo. — Não mesmo, ei garota, pode sair agora mesmo você está demitida. — Gertrudes diz movendo os seus dedos como se eu fosse um inseto qualquer e vejo um sorriso se formar nos lábios da Tamara enquanto Dennis me olha sem falar nada. Todos os meus colegas de trabalho começam a cochichar, e eu sinto o meu rosto pegar fogo. Inspiro profundamente, tentando me controlar para não fazer uma cena aqui, até porque na última eu acabei me ferrando quando perdi a cabeça. Saio do canto da sala com a minha cabeça erguida enquanto guardo o folheto da boate em meu bolso e digo: — Agradeço a oportunidade de trabalhar com uma equipe tão maravilhosa, vocês são incríveis, desejo boa sorte com seus novos patrões, porque sei que vocês vão precisar. A família do Dennis me olham chocados, enquanto eu começo a passar pela porta. — O que ela quis dizer? — do corredor escuto a voz da Gertrudes indignada. Assim que entro no vestiário vou pegar minha bolsa, mas quando fecho a porta do armário, tenho o desprazer de encontrar com Tamara lá dentro me olhando com um sorriso enorme. — Olha, se não é garota mais rodada da Filadélfia trabalhando em Nova Iorque. — sua voz vem carregada de ironia. Ela só está fazendo isso para me irritar. Suspiro enquanto abro a minha bolsa para ver se todos os meus pertences estão dentro dela sem dar créditos para o que Tamara falou. — Você não vai falar comigo? — ela pergunta irada. — Desculpe, senhorita, mas eu não te conheço. — faço o mesmo que ela fez comigo há anos atrás e vejo os seus olhos pegarem fogo por estar sendo ignorada. — Você acha que é alguma coisa para me ignorar assim? Acha que porque veio morar em Nova Iorque é alguém? — ela ri. — Você não passa de uma garota pobretona que ganha à vida como uma operadora de caixa e olha vejo que engordou. — ela me olha de cima a baixo com desprezo. — Não é mais aquela magrela, porém suas gorduras estão bem desproporcionais, acredito que foi por dar à luz aquelas crianças sem pai e... Ela nem termina de falar porque eu seguro o seu braço com força. Tamara me olha assustada. — Você pode falar o que quiser de mim, Tamara, nada disso vai me atingir, mas se vim falar qualquer coisa relacionada aos meus filhos, eu não vou me importar de arrancar esse seu cabelo falso diante de todas essas pessoas. E já digo, você se gaba tanto, mas não vejo Dennis te assumir, para a família dele você continua sendo uma simples amiga da família e não a senhora Bailey, então Tamara no patamar de não valer muita coisa para aquela família nós somos iguais. Só que diferente de você eu não aceito ser qualquer opção, porém o que esperar de alguém que nem se quer personalidade tem, porque a única coisa que sabe fazer de melhor é humilhar os outros. — solto o seu braço com força. Ela me olha irritada e vejo que está a um ponto para perder o controle. — Eu vou cuidar para que você não consiga nem um emprego nessa cidade. — Tamara diz. Eu solto uma gargalhada. — Quem você pensa que é para conseguir fazer isso Tamara? Você não manda em Nova Iorque inteiro, e pra começar pelo que vejo somente a família do Dennis tem dinheiro e não você. — digo a encarando e vejo uma veia de ira pulsar na sua testa, mas antes que ela responda alguém fala no lugar dela. — Justamente por eu ter dinheiro que irei cuidar para que não consiga trabalhar em outro lugar, até porque uma garota como você nem deveria ter conseguido emprego em uma cidade tão requisitada como essa. — a senhora Gertrudes entra no vestiário com um sorriso grandioso. Fecho minhas mãos em punhos irritados por estar mais uma vez diante de uma mulher que sempre teve o prazer de me humilhar. — Isso mesmo, Sra. Bailey, olha o que ela fez no meu braço, essa mulher é uma selvagem. — Tamara fala mostrando o braço a Sra. Bailey. — Você é uma menina horrível, ainda bem que meu filho terminou com você. — Gertrudes fala chocada vendo o braço vermelho da Tamara. Abro um sorriso enorme enquanto guardo meus pertences na bolsa, quando termino eu volto a olhar para as mulheres na minha frente. — Sra. Bailey, seu filho fez um grande favor ao me trair com Tamara, ele me libertou de um futuro horrível ao lado de vocês. Ela abre a boca chocada com a minha resposta já que eu sempre abaixava a cabeça para ela, porém anos se passou e eu precisei ter forças para conseguir passar por todas adversidades do mundo, e ainda assim sustentar meus filho. ‘’filhos muda a gente’’ — Tenho certeza que você só queria se aproveitar do meu filho, uma pobretona como você estava louca para dar o bote em um homem com as condições do meu menino, mas ainda bem que não conseguiu. — ela diz querendo rebater as minhas palavras. Meu sorriso se amplia e respondo: — Eu jamais ia querer qualquer coisa do seu filho, Sra. Gertrudes, mas você tem alguém ao seu lado que quer tudo dele, porém ela não consegue né, já que não tem o patamar de vocês, então continuará sendo uma ótima supervisora. — digo olhando para Tamara que me fuzila furiosa. — E outra eu não sou mais aquela menina que a senhora sempre humilhou, então tome cuidado com o que fala para mim, porque eu não vou aceitar calada vendo a senhora me distratar. — digo olhando fixamente para ela. Gertrudes me olha desacreditada. — É vejo que você se tornou uma menina totalmente sem educação, mas o que esperar de alguém como você? Já era esperado você ser assim, mas quer saber saía agora do meu estabelecimento comercial, você não faz mais parte dessa equipe e vou fazer jus a minha palavra, nessa cidade você não vai conseguir nenhum emprego, nem mesmo de faxineira em qualquer supermercado. — ela exclama. — E nem tente se aproximar do anjo do meu filho, ele não vai mais voltar com uma garota como você. Aceno com cabeça negativamente e respondo: — Sra. Gertrudes, acredito que como está chegando hoje em Nova Iorque você não tem poder para me impedir de trabalhar, mas tudo bem. Eu desejo que a senhora tenha um excelente ano e não se preocupe, pode dar o anjo do seu filho para Tamara, ela faz bem o tipo dele e aguardo meus dias trabalhados na minha conta. Adeus! Nem espero a resposta dela, saio do supermercado de cabeça erguida, mas claro que com olhar de alguns funcionários. Assim que virei à esquina do supermercado, longe de todos os olhares, as lágrimas começam a cair sobre o meu rosto, ao me dar conta da minha situação, estou demitida de novo! E ainda com três filhos pequenos! Eu tentei ser forte diante daquela família, mas ainda assim as palavras deles me machucaram e eu realmente estou com medo de não ser contratada mais por mercado nenhum. Aceno com a cabeça negativamente enquanto ando pelas ruas da cidade sem rumo. A vantagem de estar em uma cidade tão grande como Nova Iorque é que ninguém te nota, porque estão preocupados demais com suas próprias vidas. Após alguns minutos caminhando pego um ônibus para o bairro onde eu moro, mesmo morando em Nova Iorque não estou residindo no centro dela e nem tem como, já que o valor dos aluguéis é um absurdo. Sentada no ônibus fico olhando para fora da janela e pensando onde eu posso conseguir um emprego tão rápido? Onde, onde, onde? — pergunto-me várias vezes. ‘’Se eles mandarem a gente embora pelo menos tem uma boate aqui próxima contratando.’’ Lembro-me das palavras da Ashley e eu rapidamente mexo no bolso da minha calça, nem me lembrava de que havia colocado o folheto da boate aqui. Quando olho o nome Ricci, fecho meus olhos e suspiro fortemente, a última vez que estive em uma boate a minha vida deu uma grande reviravolta, mas dessa vez eu vou atrás de emprego e nada pode dar errado, certo? Quando olho para fora do ônibus, vejo que está na hora de eu descer, levanto e dou o sinal, mais alguns minutos de caminhada eu chego em frente ao apartamento que estou morando, passo por um grupo de homens que eu nunca tinha visto aqui antes, eles me olham fixamente e eu apertei a minha bolsa com força devido ao medo, tanto que nem percebi que amassei o folheto da boate que ainda estou segurando. Solto o ar que nem percebi que havia prendido quando chego em frente ao apartamento, mas assim que as portas se abrem eu sinto meu coração parar de bater dentro do meu peito, meu Deus o que está acontecendo aqui? Continua...
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