Vitória ☘️
Ainda não acredito que minha irmã me fez contar tudo, desde o início. Assim que saímos do cinema, ela me fez várias perguntas.
"Como o conheceu? Onde o viu pela primeira vez? Como foi a sensação de abraçá-lo ou pegar na sua mão? A pele dele é macia e cheirosa? Qual o tipo de perfume que ele usa?" Coisas que tenho certeza que nunca vou saber.
"Vamos, Vitória", diz Bia.
Não entendo como ela convenceu nossos pais a faltar aula hoje para me acompanhar ao hospital para retirar os pontos.
"Já estou pronta", digo assim que chego à sala.
"Vamos então", diz Beth.
"Só se for agora", responde Bia, empolgada.
"O que deu nela?", pergunta Beth.
"Eu não sei", digo.
"Vamos logo, estou afim de ver aquele gato de novo", diz Bia.
"Que gato?", pergunto.
"Como assim que gato, o doutor, é claro", olho para Beth, que estava rindo.
"Só você mesmo, Bia", diz ela ainda rindo.
Graças a Deus, chegamos. Eu não aguentava mais a Bia falando do Igor o tempo todo.
Quando estou próxima da recepção, com a intenção de dar meu nome, vejo-o um pouco afastado de nós no corredor. Mas assim que ele nos vê, vem em nossa direção.
"Bom dia, senhoritas Vitória, Beth e Bia", diz assim que está próximo de nós.
"Bom dia, doutor."
"Olha, vejo que se lembrou do meu nome", diz Bia.
"Com toda certeza", responde ele sorrindo de lado.
Então ele volta a me olhar, esperando que eu o cumprimente de volta.
"Bom dia, doutor", digo, envergonhada pela forma como me olha.
"Podem me acompanhar, senhoritas", diz.
"Espera, doutor, a Vick ainda não entregou seu documento para a recepcionista. Temos que guardar nossa vez de ser atendidas", diz Bia.
Ainda bem que ela se lembrou.
"Claro, me dê o seu documento, Vitória", diz, estendendo a mão para que eu coloque sobre ela o que ele está pedindo.
Depois de fazer isso, vejo-o saindo assim que o documento está em sua mão. Ele vai até a recepção, fala alguma coisa por alguns minutos e depois volta para onde estamos. Ainda bem que hoje tem pouca gente.
"Me acompanhem, senhoritas", diz assim que para perto de nós novamente.
"Claro, doutor", responde Beth.
Então o acompanhamos até a enfermeira.
"Posso ver sua mão, mocinha?", pergunta.
"Pode", respondo.
Mas assim que sua mão toca a minha, sinto um choque percorrer todo o meu corpo.
O que foi isso?, pergunto para mim mesma.
"Vou tirar a atadura agora", diz e começa a fazer seu trabalho.
Mas quando ele vai tirar o primeiro ponto, eu o paro.
"Espera", digo.
Ele me olha sem entender.
"Quero perguntar algo", respondo nervosa.
"Pode falar", diz, olhando para mim.
"Estou com vergonha de perguntar", digo, um pouco constrangida.
Ele solta minha mão e me coloca sentada em uma cadeira, olha para Beth e Bia.
"Será que vocês podem nos dar alguns minutos a sós?", pergunta a elas.
"Claro", respondem as duas juntas.
"Vai ser rápido, não vou demorar", diz.
"Tudo bem, doutor, vamos esperar aqui fora", diz Beth.
Então vejo as duas saírem da sala.
"Então, anjo, o que você quer perguntar que te deixou com vergonha?", pergunta, se aproximando de mim.
"Estou com medo", digo, envergonhada, olhando para baixo.
Foi quando sinto sua mão no meu rosto e ali ele faz um carinho.
"Você está com medo de quê?", pergunta, olhando nos meus olhos.
"Estou com medo de sentir dor", digo baixo.
"Dor de quê?", pergunta, sem entender.
"Aqui, o", mostro minha mão para ele.
"Você quer saber se vai doer quando eu tirar os pontos?", assinto com a cabeça.
"Eu prometo que não vai doer, anjo", diz ele e continua.
"Você só vai sentir um leve desconforto e nada mais."
"Tem certeza?", pergunto.
"Tenho, anjo", ele faz um carinho no meu rosto e isso aquece meu coração ❤️.
Acho que ele não deveria fazer isso, já que está em seu local de trabalho.
"Posso tirar agora os pontos?", pergunta ele.
"Pode sim", respondo.
Então ele faz seu trabalho, mas para me distrair, continua conversando comigo.
"Pronto, moça", diz assim que termina.
"Obrigada, doutor, nem senti nada", digo sorrindo.
"De nada, meu anjo. Agora venham, vou levá-las até sua irmã e a Beth", diz.
Saímos da sala.
"Aqui está o anjo de vocês", diz assim que avistamos elas sentadas do lado de fora.
"Obrigada, doutor, por cuidar dela", diz Bia.
"É o meu trabalho", diz.
"Tchau, o trabalho me chama", diz se despedindo.
"Tchau, doutor", digo tímida.
Depois que ele sai, as duas me olham.
"Quero saber de tudo."
"Eu também", diz Beth.
"Vamos, mocinha, você tem muito o que contar."
Elas não vão me deixar em paz tão cedo.
continua.......