| Jane Johnson |
O bip do despertador hoje não tocou. Atrasada e com uma tremenda ressaca.
Meus pés tocam o chão gelado e eu corro até o chuveiro. Estou h******l.
Sei que não deveria nem sair da cama hoje, mas eles precisam de mim, eu tenho tantos originais para selecionar. Não posso esquecer os óculos.
Saio do banheiro e pego a primeira roupa que encontro no guarda roupa. Tudo bem, não foi a primeira.
Uma calça social preta, a camisa do departamento e o par de scarpin bege. O crachá. m***a! Cadê o crachá? j**k o guarda me barra toda vez na entrada quando eu o esqueço - todo dia - mas ele já até me conhece, Jane maluca, é o que ele diz sempre chego correndo de salto revirando a bolsa em busca do crachá.
Corro pela casa á procura dele e tropeço em algumas garrafas de vodca espalhadas pelo chão. Estou com tanta dor de cabeça...
– Ai está você! – sorrio vitoriosa para o crachá jogado no sofá ao lado de meu sobretudo. Visto o mesmo, recolho a bolsa e a chave do carro em cima do balcão da cozinha.
Nada de pensar em Addam, nada de pensar em Addam. Ele te traiu, você bebeu e pronto! Acabou, para de pensar nele e tire essa aliança. Aliás... m***a! Por que eu ainda estou usando essa aliança?!
– Argh!! – rosno para mim mesma arrancando a aliança do dedo e bato no volante do carro que insiste em não pegar – por favor, senhor carro, estou tããão atrasada! – choramingo encostando a testa no volante – por que aquele cretino acabou com tudo? – soco o volante me descabelando – o casamento estava praticamente todo planejado, nós teríamos dois filhos e ele acabou com tudo – percebo que o carro buzina por conta da pressão na minha testa na buzina, então bufo olhando a hora no relógio de pulso.
Merda, eu me esqueci de pegar meu relógio!
Piso no acelerador e dirijo o mais depressa que consigo, segurando firmemente o couro do volante.
Mabel vai me m***r se eu me atrasar mais uma vez nessa semana, logo hoje, na reunião com o chefe que eu nunca vi.
Eu simplesmente amo trabalhar naquela editora. Por conta da minha paixão pela leitura, sempre quis ser paga para ler, e agora que eu consegui esse estágio, preciso agarrá-lo com unhas e dentes, mesmo que Mabel tenha dito que talvez hoje o chefão, do qual elas sempre comentam sobre - talvez faça um corte de funcionários por conta da crise em que a editora está vivendo.
Acontece que hoje em dia tem muito livro igual. Tem muito personagem se conhecendo no corredor de faculdade e se apaixonando. Tem muito ídolo conhecendo fã e se apaixonando, e isso fez com que os leitores enjoassem. Apesar de eu amar histórias assim, parece que o chefe sentiu no bolso as poucas vendas e talvez tenha visto que a outra editora está vendendo mais e eu sei, isso é culpa de quem está selecionando os livros, e bem, é nessa área que eu trabalho, então, a reunião é com o nosso departamento, e por eu não ter nem três meses trabalhando lá sendo uma simples estagiária, acho isso uma injustiça, já que, não sou eu quem tomo as decisões por lá.
Fecho os olhos fortemente com este pensamento e buzino apressando o motorista da frente que me xinga me olhando pelo retrovisor.
Nova York está um caos, de vez em quando há engarrafamentos e motoqueiros buzinando pedindo espaço entre as faixas para passarem, sem contar nos pingos grossos de chuva que caem do lado de fora.
Ninguém disse que segunda feira era o melhor dia para ir trabalhar.
Sinto meu celular vibrar dentro da bolsa e na pressa para atender, deixo a bolsa cair no assoalho do carro. Alguns carros buzinam desviando da direção que paro o carro para pegar a bolsa.
Assim que pego o celular, vejo o nome de Mabel, minha supervisora no visor da tela e suspiro.
– Já estou chegando – digo assim que atendo, tentando controlar minha respiração ofegante.
– Jane, era para você estar aqui há meia hora, se esqueceu da reunião com o chefe?! – Mabel berra do outro lado da linha.
– E-Eu, já estou virando a esquina – na verdade não, eu praticamente ainda estou em casa – o despertador não tocou – assumo e vejo que ela ainda faz silêncio para que eu continue – peguei Addam na cama com outra, eu bebi e me atrasei, satisfeita? – suspiro quando ela não responde – Mabel, por tudo o que é mais sagrado, eu vou chegar, não precisa me mandar embora.
– Jane, essa é a sua última chance, o carro do Senhor Whitmore quebrou, então ele deixou o carro e está vindo correndo para não atrasar a reunião, você precisa chegar antes dele – ela diz duramente e eu assinto mesmo sabendo que ela não pode ver.
– Eu vou chegar Mabel, eu juro – digo e ela desliga depois disso e eu jogo o celular no banco de trás do carro, ligo o ar quente sentindo calafrio e enquanto os pára-brisas se mechem para lá e para cá, para que eu possa enxergar lá fora.
Não posso perder esse emprego agora. Não agora que vou alugar outro apartamento e deixar Addam.
Voltar para a casa de minha mãe está fora de questão.
O farol logo a frente sinaliza que está prestes a se fechar, então eu acelero mais buzinando, porém antes que todos os pedestres possam atravessar a rua com seus guarda-chuvas, meu carro se choca contra um rapaz de terno que atravessa a rua.
Prendo a respiração por alguns segundos com os olhos arregalados e meus cabelos ruivos cobrem metade do meu rosto por conta da freada brusca.
Em segundos milhares de pessoas começam a se aproximar e três homem que estavam ali próximos, gritam comigo, para que eu saia do carro para prestar socorro.
Eu tiro o cinto e abro a porta receosa enquanto um círculo de pessoas curiosas nos cerca. Caminho até onde o rapaz está no chão mordendo o maxilar e de olhos fechados fortemente, como se estivesse se esforçando para não gemer de dor.
– Meu Deus, – é o que eu digo, me abaixando junto a ele receosa para tocá-lo – V-você, você está bem? – pergunto tocando seu braço, mas ele não responde.
Olho para os lados, para as pessoas cochichando coisas do tipo –nossa ela atropelou ele– –meu Deus, logo hoje, em plena chuva– –olha a cara dela, ela nem sabe o que fazer– – eles comentam como se eu não estivesse presente.
–Moço? – chamo tocando sua barba rala com as pontas dos dedos e a essa altura meu cabelo já está escorrendo por conta da chuva e por Deus, o paletó dele está encharcado e a testa sangra, e ele não me responde.
– Eu acho que ele morreu – alguém comenta e eu arregalo os olhos levando a mão á testa.
–Alguém me ajuda, por favor – me desespero ali diante ao moreno que desacordado parece não respirar.
O dono de uma padaria sai de seu estabelecimento e abre espaço entre as pessoas para me acudir. Ele leva dois dedos ao pescoço do moreno desacordado e sorri para mim como se me quisesse tranquilizar – Ele está respirando. Você precisa levar ele para o hospital, agora – eu franzo cenho.
–Mas eu estou atrasada para...
–Como você se chama? – Ele faz uma pausa para que eu diga meu nome.
–Jane, eu sou a J-Jane – digo e ele assente.
–Precisa levar ele agora Jane – ele diz e faz sinal para que os três caras que estavam me xingando se aproximem, eu me levanto – Vamos colocar ele no carro rapazes – ele orienta e o três caras obedecem me olhando f**o.
Observo o moreno ser colocado no banco de trás do meu carro, e eu tento acalmar meus batimentos cardíacos e minhas mãos que tremem enquanto eu dirijo até o hospital em silêncio, ás vezes dando uma olhada no banco de trás, colocando os dedos no pescoço da minha vítima para ver se ele ainda respira.
Ouço o som de o meu celular tocar, mas quando vou em busca dele, lembro-me que o tinha jogado no banco de trás e agora ele vibra com a música da Britney Spears, toxic, bem embaixo do corpo do moreno de cílios grande, barba rala, testa sangrando, e POR DEUS e se ele morrer dentro do meu carro?
–Ãh, – um gemido de dor ecoa rouco do banco de trás do meu carro e eu deixo o carro morrer no meio da rua antes de passar na lombada.
–Moço? Tá tudo bem? Desculpa tá, eu.... Você não vai morrer tá, já estamos chegando, e você não vai morrer – digo o olhando para trás e encontro pelo caminho o par de olhos cor de mel que se arqueiam ao me ver e se fecham fortemente – Moço? Fica acordado – peço como se ele pudesse decidir entre ficar vivo ou não.
Ele respira com dificuldade e eu arregalo os olhos assim que ele abre os dele minimamente.
–Desculpa moço, por Deus, desculpa, por favor não morre – peço e ele morde o maxilar fechando os olhos fortemente.
–Fique quieta e olhe para o volante, eu não vou morrer, só preciso de um médico.